A colocação geopolítica do Irão – Parte II

Segunda parte da transcrição da conferência dedicada ao Irão. 
A primeira parte pode ser encontrada neste link.
Boa leitura. 
  Eurasia: concentração dos recursos energéticos

Agora vamos tratar do quadro energético. O mapa resume a situação da energia na Eurásia, identificando quatro regiões de importação (Europa, Ásia Oriental, Ásia Meridional e Sudeste Asiático) e quatro regiões exportadoras (Rússia, Ásia Central, Irão, Médio Oriente). As quatro regiões produtoras poderiam ser substancialmente reduzidas a duas: a Ásia Central não tem acesso ao mar, depende dos Países vizinhos para vender os próprios recursos, nomeadamente a Rússia devido à rede de gasodutos e oleodutos herdados da época soviéticas; o Irão exporta muito menos do seu potencial, como veremos em breve. Por isso sobram a Rússia e o Médio Oriente, mas este último é dividido em várias nações, muitas vezes politicamente, economicamente e socialmente frágeis. É por isso que a Rússia pode ser identificada como a maior potência energética do continente eurasiático (e mundial).

 Eurasia: oleodutos e gasodutos

Esta imagem mostra como a rede de energia existente tenha centro no território da Federação Russa. Em particular, a Ásia Central depende quase inteiramente da Rússia para a exportação de seu petróleo até a Europa.

 O oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan

Os EUA tentaram inserir-se na conexão Ásia Central – Rússia – Europa. Na verdade, esta ligação cria uma relação de interdependência entre as três partes. Em particular, Moscovo recebe importantes alavancas estratégicas inerentes os Países europeus e da Ásia Central. O plano de Washington é construir novas rotas energéticas da Ásia Central para a Europa que contornem a Rússia. O primeiro projecto importantes nesse sentido foi o oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan. Inaugurado em 2006, teve um efeito perturbador menos importante de quanto previsto pelos Estados Unidos: de facto recebeu o petróleo do Azerbaijão, mas apenas marginalmente o dos Países da Ásia Central.

 Os projectos de gasodutos rivais com destino Europa

Nos últimos anos o gás natural tornou-se cada vez mais importante no cabaz energético, e por isso os projectos mais recentes têm incidido sobre o transporte do “ouro azul”. Os EUA lançaram o ambicioso projecto Nabucco que, desde a Turquia, deve chegar na Áustria, representando um canal alternativo para o trânsito no território russo. Moscovo não ficou a olhar: os Russos já começaram a construção do Nord Stream e estão a preparar o lançamento do South Stream: e os dois gasodutos, passando respectivamente sob o Mar Báltico e o Mar Negro, ignoram a Europa Oriental (que criou vários problemas para o trânsito do gás russo) e irão aumentar significativamente o volume de fornecimentos da Rússia para a Europa Ocidental.

 O Nabucco e o Irão

O Nabucco tem uma grave deficiência: a incerteza sobre as explorações a partir do qual captar o gás. Além do gás do Azerbaijão, é provável que receberá o do Egipto e do Iraque. No entanto, isto pode ser insuficiente em relação às ambições com as quais será criado. Além disso, a sua óbvia finalidade geopolítica é a de roubar gás da Ásia Central (Turcomenistão em particular), ao trânsito russo. Mas o gás do Turcomenistão tem apenas duas maneiras de chegar até Erzurum: uma conduta hipotética trans-Cáspio (que tem a oposição de duas nações ribeirinhas , a Rússia e o Irão, e acerca da qual permanecem muitas dúvidas técnicas), ou o trânsito através do território iraniano.

Mas o papel do Irão com relação ao Nabucco não pode ser apenas de um simples canal de trânsito de gás do Turcomenistão. O País persa já é um grande exportador de petróleo, mas mostra um potencial ainda maior em relação ao gás natural, com reservas provadas que são as segundas maiores do mundo. E embora seja o quinto maior produtor do mundo de gás, o Irão é pouco mais de vigésimo nono enquanto exportador. Isto porque a maioria do gás produzido é consumido internamente. Esta é uma das principais razões para o programa nuclear iraniano: satisfazer a necessidade de energia interna com o nuclear e a libertar grandes quantidades de gás para a exportação. Exportações que poderiam passar mesmo pelo Nabucco, se houvesse uma distensão com a Nato.

 O gasoduto Irão-Paquistão-Índia

Também para evitar essa eventualidade, a Rússia esforçou-se para patrocinar o gasoduto Irão-Paquistão-Índia. Dirigindo para Oriente o gás iraniano, Moscovo pode continuar a ser a principal e essencial fornecedor de energia da Europa. Teheran e Islamabad já começaram a construir, enquanto a Nova Deli, também cúmplices as pressões de Washington, ainda é hesitante. Os paquistaneses têm oferecido aos chineses o lugar dos indianos, mas por enquanto Pequim não aceita nem rejeitada.

 Médio Oriente: a situação atual

Nesta fase, o Médio Oriente parece estar a experimentar uma nova polarização. Em comparação com a Guerra Fria, o papel estratégico dos actores externos é menor do que o dos País local, mas não desprezível. A ascensão do Irão assusta muitos Países árabes, especialmente os do Golfo, que junto com a Jordânia e o Egipto já formaram uma aliança “não oficial” com Israel, obviamente, abençoada pelos EUA. O Irão, além do aliado Síria e um par de Países incertos (Iraque e Líbano) também parecem poder contar com a Turquia: um País que tem ambições de hegemonia regional, mas que nesta fase escolheu a cooperação com o Irão. Este segundo bloco cultiva boas relações com a Rússia e a China.

E aqui acaba a segunda parte.
A primeira pode ser lida aqui, enquanto a terceira está disponível aqui.

Fonte: Eurasia
Tradução: Informação Incorrecta

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