Sliding doors: Jens Stoltenberg

Se é verdade que as elites governantes no mundo ocidental liderado pelos anglo-saxónicos constituem uma enorme constelação de poder financeiro, político e de alta tecnologia entrelaçada com o sistema militar, Jens Stoltenberg, actual chefe da NATO, constitui um óptimo exemplo disso.

Stoltenberg, o comunista contra a NATO

Stoltenberg é um economista de Esquerda. Antigo jornalista do diário trabalhista Dagsavisen, foi líder da Arbeidernes ungdomsfylking (a Juventude Trabalhista): era a altura em que Stoltenberg consumia cannabis e participava nas marchas de protesto contra a guerra no Vietnam cantando “Noruega fora da NATO“. Mais tarde começou a distinguir-se no meio político ao tornar-se líder do Arbeiderpartiet (o Partido Trabalhista da Noruega) na secção da capital Oslo.

A seguir foi nomeado Ministro do Ambiente (1990-1991), Ministro da Indústria (1993-1996), Ministro das Finanças (1996-2000) e, finalmente, Primeiro Ministro (2000-2201), líder do Partido Trabalhista (2002-2014), novamente Primeiro Ministro (2005-2013) numa coligação que via reunidos o mesmo Partido Trabalhista, o Partido da Esquerda Socialista e Partido do Centro.

Assim que terminou esta função, em 2014, foi escolhido como 13º Secretário-Geral da NATO, cargo que desempenhará até 1 de Outubro de 2022. E, em Fevereiro de 2002, foi oficialmente apresentado como candidato para o cargo de Governador do Banco Central da Noruega (Norges Bank).

Stoltenberg e Bill Gates 

Na carreira multifacetada de Stoltenberg, não falta o sector da saúde. No intervalo entre a sua primeira e segunda tarefa como Primeiro Ministro, Stoltenberg dirigiu a fundação da GAVI Alliance, ou seja, a Aliança Global que trabalha para promover e difundir vacinas e imunização a nível mundial, criada e financiada principalmente por Bill Gates.

Stoltenberg também como Primeiro-Ministro sempre manteve uma relação muito estreita com Gates e a Aliança Gavi, da qual tem sido um incansável promotor e para a qual tem canalizado muito dinheiro dos contribuintes noruegueses para as iniciativas de vacinação de Bill. Eis o relato o da norueguesa The Nordic Page acerca dum encontro entre os dois em Londres, no dia 13 de Junho de 2011:

Stoltenberg e Gates discutiram formas de reforçar os esforços para vacinar as crianças do mundo. Há anos que trabalham de perto para reduzir a mortalidade infantil nas regiões pobres do mundo. (…) “A Noruega é um líder mundial no desenvolvimento socioeconómico e os noruegueses deveriam estar orgulhosos da sua generosidade”, disse Gates.

Bill Gates acrescentou também que as vacinas poderiam ter salvado quatro milhões de vidas até 2015, assegurando que as crianças de todo o mundo teriam acesso a vacinas que salvam vidas se mais Países seguissem o exemplo da Noruega. E Stoltenberg:

Estou muito satisfeito por fazer uma parceria com Bill Gates e a Fundação Bill & Melinda Gates para aumentar o financiamento de vacinas. O empenho, a inovação e a eficiência são as marcas registradas da abordagem de Gates ao desenvolvimento. A vacinação é o instrumento mais eficaz para a saúde pública. Portanto, mais países deveriam investir mais dinheiro na vacinação.

Portanto, a multifacetada carreira de Stoltenberg passou das marchas contra a guerra, dos ideias marxistas-leninistas (partilhados com a irmã Camilla, já Directora-Geral do Instituto Norueguês de Saúde Pública, agora co-directora da Biobank Norway), para as forças da NATO, as salas almofadadas do Banco Central da Noruega e os laboratórios de vacinas de Bill Gates.

Obviamente, na carreira de Stoltenberg não faltou uma cadeira na ONU: serviu como enviado especial das Nações Unidas para as alterações climáticas, e presidiu o Grupo Consultivo de Alto Nível sobre Financiamento das Alterações Climáticas.

Stoltenberg chefe da NATO e do Banco da Noruega

Jens Stoltenberg, Fonte NATO (CC BY-NC-ND 2.0)

No Outono do ano passado começou-se a especular-se sobre a nomeação de Stoltenberg para o cargo de Governador do Banco Central da Noruega. O assessor de imprensa de chefe da NATO, Sissel Kruse Larsen, disse ao Dagens Nærlingsliv no começo de Novembro que ainda era demasiado para uma decisão: Stoltenberg não sabia o que poderia ter feito uma vez regressado à Noruega.

Em 14 de Dezembro já sabia: confirmou ter-se candidatado ao cargo mas especificou que tinha dito ao Ministério das Finanças que não podia aceitar antes do termo do seu mandato como Secretário-Geral da NATO, em Outubro de 2022.

A sua nomeação foi controversa já antes de ser oficialmente anunciada, devido às suas ligações ao Partido Trabalhista, a amizade com o actual Primeiro Ministro Jonas Gahr Støre (também ele trabalhista e membro da organização de George Soros International Crisis Group) e as preocupações com a independência do Norges Bank. A medida foi contrariada por todos os partidos da oposição, com o apoio apenas dos partidos do governo e do Partido Democrata Cristão.

Banco da Noruega que, a propósito, é tudo menos uma instituição financeira de segunda categoria. De facto, através do fundo soberano norueguês (Government Pension Fund Global), faz investimentos em todo o mundo e nos primeiros seis meses de 2021ganhou cerca de 100 mil milhões de Euros graças ao desempenho dos mercados bolsistas após a crise da Covid-19, tal como o próprio banco anunciou.

O valor do fundo em 30 de Junho subiu para 11.673 mil milhões de Coroas (1.117 mil milhões de Euros); no primeiro semestre do ano passado teve um rendimento de 9.4%, (um ganho de 990 mil milhões de Coroas, 94.7 mil milhões de Euros) graças principalmente aos investimentos em acções, que representam 72.4% da sua carteira e tiveram um crescimento global de 13.7%.

Como explica Nicolai Tangen, Director Geral do Norges Bank Investment Management, o ramo do Banco Central que gere o fundo:

Os investimentos em acções deram a maior contribuição para o retorno no primeiro semestre do ano, particularmente os investimentos nos sectores da energia e das finanças. Os investimentos em empresas de energia devolveram 19.5%.

Os sectores da saúde e da tecnologia tiveram retornos sólidos durante a pandemia e o aumento continuou no primeiro semestre do ano.

O Banco da Noruega, tal como a americana Federal Reserve, investe directamente em acções e obrigações. Pelo que não surpreende encontrar frequentemente o banco norueguês ao lado de BlackRock e Vanguard, os principais fundos de investimento globais, em muitas participações em empresas estratégicas em todo o mundo.

Sliding doors

O caso de Stoltenberg é paradigmático e deveria suscitar uma séria reflexão sobre o fenómeno das sliding doors (“portas giratórias”), o mecanismo que permite que certas figuras se movam de um para outro dos pontos-chave do poder com a máxima descontracção. Fenómeno bem conhecido em Portugal também.

As sliding doors são algo bem mais perigoso do que poderia parecer. Não se trata apenas de políticos que exploram amizades partidárias para alcançar posições de prestigio e bem remuneradas: são um mecanismo com o qual certos indivíduos seleccionados têm, como no caso de Stoltenberg, o poder de mexer-se entre as posições de topo dos grandes centros do poder globalizado. O risco (ou melhor: a certeza) é aquele do condicionamento que centros, completamente afastados do controlo “democrático”, exercem sobre as instituições democráticas.

No caso de Stoltenberg, temos um trabalhista já Primeiro Ministro do seu País, “sócio” de Bill Gates, partner da ONU, agora chefe da NATO e proximamente guia dum Banco Central com o qual participará num mercado onde operam multinacionais do calibre de BlackRock e Vanguard.

 

Ipse dixit.

Imagem: Wikipedia Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International

5 Replies to “Sliding doors: Jens Stoltenberg”

  1. “vacinas poderiam ter salvado quatro milhões de vidas até 2015, assegurando que as crianças de todo o mundo teriam acesso a vacinas que salvam vidas”
    Um prato de comida e um litro de agua teria feito mais efeito em salvar as tais 11 pessoas que morrem de fome por MINUTO no mundo.

    1. Para um ser humano normal isso seria óbvio, mas considerado que o Maduro tornou a vacina para a covid obrigatória a cada 4 meses para os seus famintos cidadãos e considerando que pessoas que se acham inteligentes e altruístas tem a coragem o descaramento e a pouca vergonha de idolatrar aquele monte de merda e vem aqui auto classificar-se como pessoas de pensamento alternativo… Eu nem queria dizer isto, mas parece me que a humanidade está condenada …

  2. Olá Max e todos:
    Eu aconselharia esse sujeito do artigo umas boas doses de cigarro de maconha, um pouquinho de cocaína super pura e ópio para relaxar.
    Mas não tenho qualquer ilusão com a cura. Estas pessoas que nascem com um dedo podre, ao longo da vida vão deixando apodrecer quase todos. Onde tocam, contaminam, e sentem um irresistível prazer de arruinar o mundo.
    Mas reconheço que são pessoas ideais para comungar com as forças poderosas do poder. Com um pouco de sorte, por lá transitam a vida inteira, mas sempre procurando mais, e ansiosos porque desejariam ser os verdadeiros mandantes, coisa que nunca alcançam, porque uma vez executivo, sempre executivo.
    E aqueles que, com a mesma doença dos dedos não têm sorte, passam a vida a remoer-se. São perigosos porque na lama em que chafurdam, tornam-se delatores, pequenos espiões, fazem tarefas de peões no mundo da canalhice.
    Que pena, né!?
    Felicidade que nem todos nascem já apodrecidos. É com tantos deles que encontrei por aqui, que me viciei em II.

  3. Olá Max e todos: Este sujeito, que descreves a vida “profissional” no artigo, precisaria voltar a consumir maconha, um pouco de cocaína puríssima e ópio. Claro está que não vai recuperar-se, mas vai relaxar., evitar o câncer e ataques cardíacos
    Infelizmente há pessoas, como esse cara, que nasceu com um dedo podre. E ao longo da vida, deixou-se pestear, de forma a apodrecer quase todos os dedos. Passa a vida contaminando o que toca, luta incessantemente por tornar-se o que nunca será, aqueles que na sombra mandam nele. Tem sorte, sempre um cargo mais abrangente, mas de executivo visível, nunca passará, porque nesta vida, uma vez executivo, sempre executivo.
    Aqueles sem sorte, mas nascidos pestilentos, passam a vida a corroer-se, ansiando por lugares onde possam trazer a peste ao mundo, viram um tanto perigosos também. A maior glória de um pestilento menor consiste em delatar, espiar, acompanhar, vestir várias máscaras ao mesmo tempo. São escorregadios como peixes, mas medíocres. Levarão a vida como soldadinhos com ou sem farda, peões, rastejando aos pés de um manda chuva. Também menor..
    Felizmente se encontra gente que brilha, limpa, como vários que encontrei em II. Daí que me viciei em comentar. E quando estiverem cansados dos meus pitacos, é só pular, deixem pra lá.

    1. Sem dúvida, tens toda a razão ” Aqueles sem sorte, mas nascidos pestilentos, passam a vida a corroer-se, ansiando por lugares onde possam trazer a peste ao mundo”

      Imagina agora que atingiam esses lugares de poder pessoas que pensam assim :

      “…e Putin cometeu um erro, penso eu. Atacou de leve, poupando os civis…” 01/03/2022 às 16:11

      E que acham razoável :

      “…,a Rússia usará armas nucleares limitadas antes que os EUA o façam, na busca da liberdade e da democracia…” 06/03/2022 às 14:53

      Stolterberg é apenas um espelho dos muitos Stolterbergs desta vida… os que alimentam a máquina do ódio e que acham bonita a apologia de crimes de guerra … que se convencem a si mesmos da cassete que não param de ouvir …a busca da liberdade e da democracia… matar civis miseráveis …usar armas nucleares… na busca da liberdade e da democracia …
      “…Levarão a vida como soldadinhos com ou sem farda, peões, rastejando … “

      Os Stolterbergs desta vida…

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