Ninguém mexa nos bancos!

Quanto custaram até agora os planos de ajuda dos bancos?

Muito, mas muito mesmo: cerca de 4.000 biliões de Euros no total, ao considerar os bancos europeus e americanos.

Um oceano de dinheiro público (isso é, dinheiro dos contribuintes, de todos nós) que não evitou nacionalizações, falências dum lado, mega-salários e bónus do outro.

E tudo isso enquanto a bolha especulativa continua como se nada tivesse acontecido.

Após da França, Alemanha e Grã-Bretanha terem proposto uma taxa com base nos lucros dos bancos, a ser aplicada com características diferentes, dependendo das condições económicas e fiscais de cada País, e com a União Europeia que ainda explora a possibilidade dum imposto global para as operações financeiras, pode ser útil fazer o ponto da situação sobre as intervenções públicas nos bancos e nas instituições financeiras ao longo dos últimos dois anos, na Europa e nos Estados Unidos, com base no último relatório semestral preparado pela RS-Mediobanca.

Ao que parece a ajuda total, em termos de injecções de capital e de prestação de garantias, atingiu 1.518,7 bilhões (de Euros) para a Europa e 2.593,2 bilhões (de Dólares) nos EUA.

Em detalhe, é interessante notar como no Velho Continente os mais atingidos pela crise financeira foram a Alemanha e a Grã-Bretanha, com uma média de 362,5 e 792,5 bilhões de Euros de ajuda pagos, com a segunda também protagonista da nacionalização de dois bancos, Northern Rock e The Bradford & Bingley. Considerando também as operações no capital social feitas pelo Governo britânico em favor do Royal Bank of Scotland e Lloyds TSB Group (totalizando cerca de 700 bilhões de Euros), falar de um livre mercado na casa de Adam Smith e David Ricardo, fundadores da economia política, parece agora muito surreal.

Nos Estados Unidos o apoio governamental, pelo contrário, concentrou-se em cinco grandes grupos financeiros, os gigantes do crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, Aig, Bank of America e Citigroup.

Para as duas primeiras, colocadas em administração controlada a partir de Setembro de 2008, foram concedidas ajudas directas que ascenderam aos 200 bilhões e garantias de 1.450 bilhões de Dólares. Aig, agora chamada Aiu, conta com quase 70 bilhões em ajuda, enquanto o Bank of America e Citigroup são os únicos casos significativos de dinheiro (47 bilhões) e garantias (419) que foram devolvidos quase completamente ao governo, respectivamente em Setembro e Dezembro de 2009.

Mais do que pelos desembolsos totais, o que diferencia a situação na Europa e nos EUA é o número de instituições financeiras e de crédito envolvidas nos planos de resgate, onde na primeira atingem o total de 115, enquanto nos EUA são bem 1.095, dado que testemunha uma crise profunda e generalizada no sector.

Enquanto isso, a Federal Reserve realizou um estudo sobre o comportamento de 28 dos maiores bancos americanos, concluindo que incentivos e bónus concedidos aos executivos permanecem aos níveis exorbitantes de antes e que os gestores das operações especulativas de alto risco continuam a operar normalmente. Pena que essa relação provavelmente não seja tornada pública antes do próximo ano, enquanto no final de 2009 a bolha dos produtos financeiros derivativos, depois de uma redução nas fases iniciais da crise, chegou a 213 triliões (615 triliões em todo o mundo, com um aumento anual de 12%). O medo da insolvências está a minar a confiança entre os próprios bancos que hesitam até perante a concessão de crédito entre eles: a prova é o aumento constante e progressivo da taxa LIBOR, a taxa de referência para os créditos de curto prazo entre os bancos.

Tudo isso, óbvio, com os bancos. Pois aos cidadãos são pedidos austeridade e sacrifícios.
Parece justo.

Ipse dixit.

Fontes: CPEurasia

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.