É um longo discurso que decidimos dividir em 3 partes:
- a primeira trata da colocação geopolítica do Irão
- a segunda dos recursos energéticos da região
- a terceira é uma análise das últimas eleições no Irão.
Vale a pena ler para perceber as razões profundas dos recentes acontecimentos no Médio Oriente e os possíveis desenvolvimentos próximos.
As imagens são as mesmas que foram projectada na sala e acompanharam a intervenção original, obviamente traduzidas por Informação Incorrecta.
Esta intervenção é composta de duas partes distintas. A primeira, e principal, é uma visão geral do Irão no ambiente geopolítico global e da Eurásia em particular. O segundo irá abordar o problema das últimas e contestadas eleições presidenciais na República Islâmica.
Começamos com a primeira parte e, portanto, com a posição geopolítica do Irão.
O mundo segundo a geopolítica clássicaEste mapa, retirado dum volume do geógrafo britânico Halford John Mackinder, mostra como os clássicos geopolíticos, especialmente anglo-saxão, costumassem vir o mundo. A geopolítica clássica focaliza a própria atenção no continente euro-asiático: de facto, na Eurásia, se encontram a maioria das terras, da população e dos recursos; e sempre na Eurásia surgiram as grandes civilizações da história.
O mundo está dividido em três faixas, cada uma das quais irradia concêntrica a partir do centro da Euroásia. Aqui é a área “pivot” ou “terra-coração” (Heartland), cuja característica é ser impermeável ao poder do mar. Não tem litoral (excepto para o Árctico, que todavia não pode garantir as ligações com o resto do mundo), nem há ligação fluvial com o mar, pois os principais rios acabam no Árctico ou em mares fechados. No Heartland, portanto, o poder continental não é combatido por via marítima.
Heartland é envolta por uma segunda faixa, a “crescente interior” (Inner Crescent), que percorre toda a margem continental Eurasiática, desde a Europa Ocidental até a China através do Médio Oriente e o Sul da Ásia: por esta razão é chamada também “terra-margem” (Rimland). Aqui os poderes continental e marítimo tendem a compensar-se mutuamente.
Por fim, fora da Eurásia, está a terceira e última faixa, a “crescente externa” (Outer Crescent), que compreende as Américas, África, Oceania e também a Grã-Bretanha e Japão. Esta é a sede natural da potência marítima, onde a continental não pode ameaça-la.
Segundo Mackinder, que escreveu no início do século XX, o advento da ferrovia teria compensado a maior mobilidade do transporte marítimo, equilibrando a situação do poder em favor da potência terrestre (continental). John Spykman, meio século depois, diminuiu o peso das ferrovias, argumentando que a potência marítima manteve a sua vantagem: Heartland é difícil para a talassocracia (a hegemonia sobre os mares), mas não pode ameaçar esta última se ocupar primeiro a terra-margem (a segunda faixa). Tarefa da talassocracia, que, naqueles anos, assim como hoje, eram os EUA, é de excluir Rimland do poder continental (então a URSS).
A estratégia de contenção durante a Guerra Fria corresponde à visão do mundo da geopolítica clássica. Contra um adversário que ocupava a Heartland (a referência é obviamente para a URSS), os talassocráticos EUA têm operado um dispositivo para manter sob controle Rimland, impedindo a Moscovo de chegar à costa e projectar-se no mar. Deste dispositivo fazem parte a Nato na Europa Ocidental, a Cento no Médio Oriente, a Seato no Sudeste Asiático e a aliança com a Coreia do Sul e o Japão (e mais tarde com a China) no Extremo Oriente.
Da Cento, ou Pacto de Bagdad, fazia parte também o Irão, assim como Turquia, Iraque, Paquistão e Grã-Bretanha (como ex dono colonial). Com o mapa é fácil identificar CENTO como um elo da cadeia de confinamento que corre ao longo do Rimland.
Este mapa mostra, simplificando um pouco, a situação: as partes em jogo nas primeiras décadas do conflito bipolar no Médio Oriente. Se Egipto, Síria e Iraque aproximaram-se à URSS, na região os EUA baseavam-se na tríade das potências não-árabes: Israel, Irão e Turquia.
A Revolução Islâmica de 1979 encerra a aliança entre o Irão e os EUA, sem deslocar Teheran para o campo soviético. Isso reforça o peso dos dois pinos sobreviventes, Turquia e Israel, e também o crescente apoio que Washington fornece a ambos os Países, especialmente a Tel Aviv. Por seu lado, todos os Países árabes, excepto a Síria, o Iraque e o Yeêmen do Sul, após a mudança egípcia tomam mais ou menos uma posição morna a favor dos Estados Unidos da América. Esperam que uma aproximação com Washington possa quebrar o “relacionamento especial” entre a Casa Branca e Tel Aviv, e, portanto, receber uma mediação mais justa em relação ao estado judeu. Esperança que ficar não atendida.
Esta imagem, tirada do The Grand Chessoboard de Zbigniew Brzezinski, mostra a visão do continente eurasiático pelos herdeiros do clássica geopolítica norte-americana. A Federação da Rússia continua a manter uma posição central, embora menor do que o regime soviético, enquanto a terra-margem (Rimland) é dividida em três áreas. Para cada uma Brzezinski recomenda uma política regional de Washington.
O Ocidente, na Europa, é o que Brzezinski chama de “uma ponte para a democracia”, que a o pied-à-terre da talassocracia dos EUA na Eurásia. A integração europeia constitui um desafio para os EUA: se tivesse que falir e devolver uma Europa fragmentada e briguenta, ou se pelo contrário, tivesse um grande sucesso através da criação de um Espaço Europeu monolítico e estrategicamente independente, em ambos os casos a presença americana na região seria colocada em discussão. A solução proposta por Brzezinski é de chefiar a integração europeia e direcciona-lo para que não prejudique os interesses dos EUA; exactamente o que aconteceu com a expansão da Nato para preceder e dirigir a da UE, que demandou a própria segurança e orientação estratégica para as chefias americanas.
No Oriente os EUA têm bases avançadas no Japão e na Coreia, que devem manter a qualquer custo. Mas Brzezinski, levando em conta um dos movimentos que decidiu a Guerra Fria, também aconselha a cultivar as relações com a China, que poderia tornar-se um segundo ponte americano na Eurásia.
Finalmente há o Sul, correspondente ao Médio Oriente, desde o Mediterrâneo até a Índia.
Nesta área, Brzezinski considera que os aliados naturais, embora muitas vezes não intencionais, da geo-estratégia dos EUA são o Irão e a Turquia. Podem contrabalançar a influência russa e frustrar a tentativa de reconquistar as regiões na sua área de influência. Esses interesses “competitivo” entre Turquia, Irão e Rússia, identificados por Brzezinski, mais reflectem a situação da década de 90 do que da última década na qual os três Países têm-se centrado na solução “cooperativa” e não “competitivo”.
Acaba aqui a primeira parte.
A segunda parte está disponível nesse link, enquanto a terceira aqui.
Fonte: Eurasia
Tradução: Informação Incorrecta