A CIA, a Jamaica e Bob Marley

Que tem a ver a CIA com a Jamaica?
E com Bob Marley?

Talvez muito.
Não será o melhor artigo de Global Research, mas ajuda a perceber qual o clima na ilha das Caraíbas.

Esqueçam o reggae ou o atletismo: na Jamaica há outra realidade, feita de violência e droga. E a Shower Posse é só uma na constelação das posses e gangs que disputam o controle do mercado da droga.
Na página Wikipedia inglesa podem encontrar uma lista não exaustiva de todas as bandas em circulação na ilha.
Como possam existir e conviver todos estes criminosos numa ilha de apenas 240 quilómetros de comprimento e 85 de largura é um mistério. Mas assim é.

Poderia faltar a CIA no meio de tudo isso?

Como a CIA criou a mais notória organização criminosa

Com a recente onda de violência na Jamaica (passada quase despercebida aqui na periferia do Império, NDT) e da controvérsia sobre o alegado senhor da droga, Christopher “Dudus” Coke, muitas pessoas falam da famosa jamaicana Shower Posse e do bairro Tivoli Gardens, onde tem a sua base. O que tem sido praticamente ignorado pelos meios de comunicação é o papel que o governo americano e a CIA têm no treinar, armar e conferir poder aos Shower Posse.

É interessante que os Estados Unidos estão a acusar Christopher “Dudus” Coke, o actual líder dos Shower Posse, de tráfico de drogas e de armas, tendo em conta que a CIA foi acusada de contrabando de armas na Jamaica e facilitou a venda de cocaína da Jamaica para os Estados Unidos na década de ’70 e ’80. Duma certa forma, Dudus estava apenas a continuar uma tradição de corrupção política, tráfico de drogas, armas e violências que começou com a ajuda da CIA.

O pai de Christopher “Dudus” Coke era Lester Coke, também conhecido como Jim Brown, um dos fundadores do Shower Posse e uma pessoa campeão e protector do bairro pobre de Tivoli Gardens, em Kingston. Coke era um guarda-costas e partidário político de Edward Seaga, o líder do Partido Trabalhista da Jamaica.

O adversário Seaga, Michael Manley, tinha começado a tomar posições “socialista”, tinha começado a criticar abertamente a política externa americana e tinha encontrado o inimigo dos Estados Unidos, Fidel Castro, nos anos ’70. Tendo em conta a Guerra Fria dos EUA com a Rússia, a CIA não quis uma Jamaica amiga dos comunistas.

De acordo com o livro de Gary Webb, “Dark Alliance”, Norman Descoteaux, o chefe da CIA estacionado na Jamaica começou um programa de desestabilização do governo de Manley no final dos anos ’70. Parte deste plano eram os mortos, o dinheiro para o Partido Trabalhista da Jamaica, o descontentamento dos trabalhadores, a corrupção e o tráfico de armas para o inimigo de Manley, Lester “Jim Brown” Coke.

O escritor Daurius Figueira escreve no seu livro, “Tráfico de cocaína e heroína nas Caraíbas”: de facto significativa que o tráfico ilícito de drogas ligado ao Partido Trabalhista da Jamaica tinha sido integrado num canal ilícito e  criminoso de armas e de drogas da CIA” .

O ex-agente da CIA Philip Agee, disse que “a CIA estava a usar o Partido Trabalhista da Jamaica como um instrumento na luta contra o governo de Michael Manley, eu diria que a maioria da violência veio do Partido Trabalhista da Jamaica, e atrás dela estava a CIA para a aquisição de armas e investimento de dinheiro.”

Um dos colegas de Lester Coke, Celil Connor, declarou que ele tinha sido levado pela CIA para combater as guerras políticas para o Partido Trabalhista da Jamaica com assassinatos e espionagem. Connor teria manipulado as urnas e intimidado os eleitores para ajudar o Partido Trabalhista da Jamaica em ganhar as eleições. Connor teria continuado a ser um criminal político como parte do cartel jamaicano internacional de cocaína conhecido como Shower Posse. Ele testemunhou contra Lester Coke e o seu seguidor Vivian Blake, apenas para voltar à sua terra natal, St. Kitts, e tornar-se o líder da droga que mantinha a maioria do País como refém.

O pai de Christopher “Dudus” Coke, Lester Coke, também tinha sido acusado de colaboração com a CIA. Timothy White especula na sua biografia de Bob Marley, “Catch a Fire”, que Jim Brown fosse parte dum grupo de homens armados que tentou matar Bob Marley, grupo liderado por Carl “Byah” Mitchell, apoiante do Partido Trabalhista. Os autores Laurie Gunst e Vivien Goldman fazem as mesmas declarações nos livros “Born Fi Dead” e “The Book of Exodus”. O manager de Marley disse que um dos assaltantes de Marley foi capturado e confessou que a CIA havia concordado em pagar-lhe cocaína e armas, desde que Marley tivesse morrido.

Lester Coke foi executado mais tarde numa cela da prisão Jamaicana, enquanto aguardava a extradição para os Estados Unidos. Muitas pessoas declararam que foi morto para que não pudesse revelar os seus segredos que tinham a ver com a CIA, o Jamaican Labour Party e as suas actividades criminosas.

Nos seus esforços para desestabilizar o Governo da Jamaica nos anos ’70, a CIA criou um grupo de contrabando de drogas, armas e criminosos políticos. Através do tráfico de drogas, estes criminosos acabariam por tornar-se mais poderosos dos políticos com que estavam ligados. O programa de desestabilização da CIA não só desestabilizou a Jamaica dos anos ’70, mas também a Jamaica dos 40 anos que se seguiram.

Considerando o sigilo da CIA e da sociedade da Jamaica, não é possível saber ao certo qual foi o papel da CIA na criação das Shower Posse. Entregaram armas? Cocaína? Instrucções acerca de como contrabandear drogas? A CIA usou as Shower Posse para tentar matar Bob Marley? A CIA deveria responder à estas perguntas.

Se o que foi alegado sobre a CIA for verdade, então eles são parcialmente responsáveis pelo ciclo de tráfico de armas, contrabando de armas e violência que afligem hoje a Jamaica. Se os EUA podem extraditar o filho dum dos apoiantes políticos da CIA com a acusação de tráfico de drogas e cocaína, não deveria a CIA ser investigada por ter ensinado aos Jamaicanos como conduzir uma guerra política, ter dado armas, cocaína e ajuda-los a vende-la?

Tendo em conta a revelação segundo a qual a CIA permitiu aos traficantes de drogas do Nicarágua de vender nos Estados Unidos para financiar a revolução deles contra o governo comunista, não é assim forçado acreditar que tivesse armado os Jamaicanos para combater os comunistas da Jamaica.

Fonte: GlobalResearch
Tradução: Informação Incorrecta

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