A colocação geopolítica do Irão – Parte III

Terceira e última parte da conferência dedicada ao Irão.
A primeira parte pode ser encontrada aqui enquanto a segunda é disponível aqui.

Boa leitura!

As eleições presidenciais de 2009

Vamos então a segunda parte desta exposição, que abrange as eleições presidenciais iranianas de 2009. Em particular, tentamos compreender se é que foram manchadas pela fraude ou se a vitória de Ahmadinejad pode ser considerada como verdadeira. Apoiamos os resultados numa minha pesquisa pormenorizada, da qual serão apresentados só os dados mais importantes, omitindo os cálculos intermédios e outros argumentos auxiliares.

Estes são os resultados oficiais das eleições disputadas. A primeira coisa que salta aos olhos são os mais de 11 milhões de votos de diferença entre Ahmadinejad e o segundo classificado, Musavi. Num País onde cada mesa de votação tem visto vários observadores independentes e candidatos (incluindo os derrotados: em particular, Musavi tinha mais observadores do que Ahmadinejad) parece altamente improvável, senão impossível, pensar numa intervenção maciça dos boletins de voto já nos assentos. Não por acaso, os mesmos críticos que denunciaram a suposta fraude de Ahmadinejad estão mais inclinados a considerar que os resultados foram simplesmente reescritos pelas autoridades. Mesmo que a re-contagem parcial dos votos em alguns dos distritos mais controversos tenha confirmado os resultados iniciais, a possibilidade de fraude manteve um amplo crédito em todo o mundo.

No entanto, os resultados das eleições foram em linha com o que tinha sido previsto pela maioria dos observadores e das sondagens. Mesmo sem confiar nas sondagens iranianas, há uma, muito significativa, que foi efectuada com todo o rigor científico por três importantes organizações dos Estados Unidos: o centro Terro Free Tomorrow (não suspeitos de “ser bom” com Ahmadinejad, tendo entre os seus conselheiros também o senador John McCain), o prestigiado instituto New America Foundation e a empresa de pesquisa KA, entre os líderes mundiais do sector. Este inquérito, apesar de registar um elevado número de indecisos, mostrou uma tendência de voto relativamente a Ahmadinejad superior daquela de facto foi verificada nas eleições.

Há um outro dado muito importante. Ao substituir Musavi de 2009 com o candidato Rafsanjani, que em 2005 desafiou Ahmadinejad nas urnas, poderíamos descobrir que os resultados das duas últimas eleições presidenciais no Irão são quase coincidentes. Repare-se que em 2005 governava Khatami o qual, nas últimas eleições apoiou Musavi, tal como Rafsanjani.

Segundo alguns comentadores, uma “prova” da fraude sistemática nas eleições de 2009 seria a excessiva uniformidade de votos nas várias províncias. A evidencia aritmética, no entanto, mostra que a votação de 2009 foi mais “deformada” localmente do que em 2005 (que, lembre-se, realizou-se sob um governo de “reforma”, governado pelos adversários políticos de Ahmadinejad).

As discrepâncias locais na votação do Irão em 2009 é significativamente superior, por exemplo, a registada nas eleições italianas de 2008, as quais nem por isso foram acusadas de estar falsas.

Ali Ansari, um pesquisador da Chatham House de Londres, identificou 10 províncias (de um total de 30), em que os votos obtidos por Ahmadinejad seriam improvável em relação aos resultados de 2005. Ansari, como muitos defensores da tese de fraude, adopta como referência para comparar a primeira rodada de 2005. Isso é incorrecto, porque o contexto político era completamente diferente. Primeiro, em 2005 não houve um candidato presidente cessante, que em 2009 foi o mesmo Ahmadinejad, e assim a competição parecia ser mais plural: cinco candidatos em 2005 ultrapassaram o 10% dos votos no primeiro turno. A situação registada em 2009, com apenas quatro candidatos e uma aguda polarização dos votos em dois dos candidatos, faz lembrar o segundo turno e não o primeiro de 2005. Ao refazer os cálculos de Ansari com base precisamente na comparação com o escrutínio de 2005, e reconhecendo a Ahmadinejad 61,75% de novos eleitores (ou seja, a percentagem que obteve em 2005), observamos que em duas das 10 províncias Ahmadinejad até está em declínio .

Em um outra 4 teve aumentos inferiores a 10%; em apenas quatro os seus votos aumentaram em mais de 10%, com um pico de 17,72% em Lorestan. É preciso esclarecer aqui dois pontos: os votos obtidos nestas quatro províncias, mesmo admitindo que todas fossem fraudulentas, somam pouco mais de meio milhão de votos no total, em comparação com um deficit de Musavi de mais de 11 milhões de votos. Em segundo lugar, não há garantia de que, mesmo assim, ganhos significativos não possam ser verdadeiros. Os fluxos eleitorais existem e não significam automaticamente fraudes.

Acaba aqui a transcrição da intervenção de Daniele Scalea, editor de “Eurasia” e autor de O Desafio Total (Ed. Fuoco, Roma 2010), na conferência “O Irão e a estabilidade do Oriente Médio”, realizada em Trieste (Italia) na Quinta-feira 3 de Junho de 2010.

Ainda uma vez, os links para a primeira e a segunda parte:

A colocação geopolítica do Irão – Parte I
A colocação geopolítica do Irão – Parte II

Fonte: Eurasia 
Tradução: Informação Incorrecta

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