Crise a W?

Conta o diário “i” que segundo o principal exorcista da Santa Sé o diabo anda pelo Vaticano.

“O Diabo está a trabalhar dentro do Vaticano”, diz o padre Amorth (apelido interessante) que, segundo o jornal, terá lidado já com 70.000 possuídos…

Talvez tivesse sido mais oportuno dedicar mais espaço às palavras de Nouriel Roubini, um dos poucos economistas capaz de prevêr a crise dos subprime enquanto o mundo mergulhava na gordura das especulações imobiliárias.

Crise a W

De RGE Monitor (Roubini Global Economics) reportamos um interessante artigo acerca da crise a W que parece constituir o cenário mais provável para o futuro próximo, no meio desta falsa retoma que muitos acham ser uma verdadeira retoma.

Antes, todavia, alguns dados económicos.

Portugal: crescimento negativo

O INE, Instituto Nacional de Estatística, informa que Portugal registou uma queda de 1% no último trimestre do ano passado, face ao período homólogo de 2008, e caiu 0,2 por cento face ao terceiro trimestre do ano passado, interrompendo dois trimestres de crescimento.
Ao longo de 2009 o PIB (Produto Interno Bruto) recuou 2,7%. Interessante observar quais as componentes que foram as causas do deslize: “uma redução acentuada do investimento”,  “uma redução moderada do consumo final das famílias” e “um aumento do consumo final das administrações públicas”.

Traduzindo: menos dinheiro para todos, menos investimentos para as empresas, menos compras para as famílias, mais gastos da administração pública. O INE revê assim em baixa a previsão inicial de estagnação nos últimos três meses do ano passado, “reflectindo sobretudo nova informação sobre o comércio internacional (valores nominais e deflactores)”. Problemas para as previsões governamentais de crescimento para 2010.

Mas Portugal não está sozinho…

UK, produção manufactureira em baixo em Janeiro

Pela primeira vez em 5 meses o indicador é negativo.O dado é contrário às previsões dos economistas que apontavam um + 0.2%.

Alemanha: exportações em baixa em Janeiro, – 6,3%

As exportações da Alemanha caíram em Janeiro e, com surpresa, registaram um queda de 6,3% se confrontadas com os dados de Dezembro 2009. Naquele mês o valor apontava para um positivo +3,4%.

Os analistas estavam à espera dum saldo positivo para as exportações, na ordem do 0,5%.

E agora as palavras de Nouriel Roubini.

Crise V, U & W

Uma vaga de dados económicos preocupantes nas últimas semanas sugere que a economia americana esteja a dirigir-se, no melhor dos casos, numa crise a U. As noticias macro-económicas., incluindo os indicadores de confiança dos consumidores, vendas de imóveis, novas construções e ocupação, sugerem o risco concreto de uma descida da já anémica retoma de 2,7% que o RGE tinha previsto em relação ao primeiro trimestre.

Os efeitos positivos do estímulo fiscal de dimensões históricas estão para acabar este ano e os Estados Unidos terão que encarar um segundo trimestre com um crescimento máximo de 1,5%, demasiado próximo duma recessão a W para ficar descansados..

Um duro debate está em curso nos EE.UU. acerca da retoma económica poder ser a V (com rápida retoma), a U (retoma muito lenta) ou a W (retoma seguida de segunda crise e sucessiva retoma).

O grupo de pesquisa JP Morgan opta pelo primeiro caso, com retoma rápida, enquanto entre os apoiantes duma retoma mais lenta (a U) encontramos RGE Monitor, Goldman Sachs e PIMCO, o maior gestor de fundos de obrigações.

Em Agosto de 2009, num editorial do Financial Times, preocupava-me com o risco duma recessão a W, embora segundo os nossos estudos o risco duma crise a W ainda é um evento de baixa probabilidade (20%), contra uma probabilidade de 60% para uma retoma a U.

Os recentes dados EE.UU.

Desde a última vez que falámos duma crise a U ou V, no dia 22 de Fevereiro, uma vaga de dados macro-económicos ficaram disponíveis

No geral são escassos, alguns péssimos

  • A confiança dos consumidores caiu
  • As vendas de casas novas estão em queda outra vez.
  • Também as vendas de casas existentes estão em queda.
  • As construções de carácter residencial e comercial estão muito em baixo.
  • As ordens para bens duráveis são baixas (o que indica pouco investimento e desconfiança no presente e futuro a curto prazo, NDA)
  • O nível dos stocks ficou na mesma (o que significa que as pessoas não gastam muito. Pensem na loja de calçado: se de repente o armazém fica vazio é porque os clientes compraram muito, se o armazém fica cheio é o contrário, NDA)
  • O indicador ISM da produção industrial, que mesmo assim indica uma progressão sendo acima do valor 50, perdeu um par de pontos e os indicadores de novas ordens estão em queda também
  • As vendas de carros ficaram medíocres.

Zona Euro, queda da procura em chegada?

A crise da dívida da zona Euro pode significar para a Europa um acentuado risco para uma depressão a W, em particular pelo clima de austerity fiscal (veja-se o PEC Português, NDA).

Mesmo que a zona Euro não entrasse numa W, o crescimento da procura interna (que indica a capacidade dos europeus de adquirir, NDA) será limitada como a procura dos EE.UU., se não mais.

Esta situação representará uma potencial ameaça pela exportação dos EE.UU. (e isso porque se os europeus têm menos dinheiro compram menos produtos europeus mas americanos também, NDA)

Ficarão os cortes à despesa pública, a perda de confiança, a ameaça do desemprego, o corte dos ordenados no sector público e uma contracção do privado.

Uma contracção análoga pode ser possível no Reino Unido, por causa das preocupações acerca da sustentabilidade da politica fiscal e a ameaça duma crise da Esterlina.

A Europa terá sérias dificuldades perante a oferta de exportação dos EE.UU. e pode alimentar uma queda global da procura, contribuindo assim à ameaça duma crise a W para os Países mais ricos.

Acaba assim a análise de Roubini.

E ainda acham que o problema maior é o diabo na Santa Sé?

Ipse dixit.

Fonte: Informazione Scorretta 
Tradução: Informação Incorrecta

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