Verde é bonito e barato (talvez um pouco quente também)

Que época terrível aquela

onde idiotas governam cegos

William Shakespeare, Rei Lear

 

Nas últimas semanas, ocorreram graves incêndios em depósitos de autocarros eléctricos em várias cidades da Alemanha. Aparentemente, os autocarros eléctricos incendiaram-se e provocaram grandes fogos.

Um exemplo disso é o incêndio num depósito de autocarros em Estugarda, no passado dia 30 de Setembro, quando 25 autocarros pertencentes aos serviços municipais foram completamente destruídos. Como relata o diário Die Welt, a recarga de um e-bus (um autocarro 100% eléctrico) pode ter desencadeado o desastre: os danos materiais ascendem a milhões de Euros.

Testemunhas oculares relataram o incêndio por volta das 20 horas, de acordo com um porta-voz da polícia. Em fotos e vídeos pode ser vista uma grande coluna de fumo e chamas a leste de Estugarda e os ruídos das explosões que se ouviam na zona da cidade provinham do rebentamentos dos pneus. Um helicóptero sobrevoou a cidade durante muito tempo e foi pedido aos residentes do complexo industrial que mantivessem as suas portas e janelas fechadas, que desligassem os seus sistemas de ar condicionado e ventilação e que evitassem a área afectada.

Quando o incêndio deflagrou, muitos autocarros ainda estavam a ser utilizados e houve sorte também porque se o incêndio tivesse deflagrado várias horas mais tarde, o depósito teria ficado cheio e mais veículos teriam sido afectados. Um total de 210 bombeiros estiveram em serviço para extinguir as chamas.

Mas aquele de Estugarda não tem sido o primeiro caso. No início de Junho, houve um incêndio num depósito de autocarros em Hannover: cinco autocarros eléctricos e dois híbridos destruídos, com as baterias a representarem um desafio particular para os bombeiros porque irradiam calor extremamente elevado.

A 1 de Abril houve um incêndio no depósito de Rheinbahn, em Düsseldorf: um total de 38 autocarros e o armazém onde estavam estacionados foram destruídos, com danos na casa de vários milhões de Euros. Em Junho, os peritos do Ministério Público de Dusseldorf chegaram à conclusão de que o incêndio tinha tido uma causa técnica.

Em Berlim não houve incêndios até agora, mas os problemas são outros: os novos autocarros eléctricos da Berliner Verkehrsbetriebe (“Companhia de Transportes Berlinense”, inteiramente pública) solicitados pelo local governo vermelho-verde, só podem ser utilizados durante meio dia. Depois disso têm de regressar ao depósito à hora do almoço, onde são carregados durante muitas horas. A partir daí são os autocarros a gasóleo que asseguram o serviço.

Obviamente esta situação tem custos: já por si a conversão para um sistema de autocarros 100% eléctricos está associada a despesas consideráveis. Depois há o custo da aquisição: os 15 autocarros eléctricos escolhidos pelas autoridades de Berlim, movidos unicamente por acumuladores, são produzidos pela Evo-Bus (do grupo Mercedes) e pela polaco-espanhola Solaris.

Os 15 autocarros da EvoBus, incluindo a tecnologia de carregamento, custaram 18 milhões de Euros, o que corresponde a um preço unitário de 600.000 euros. Os 15 autocarros da Solaris, sempre com infra-estrutura de carregamento, custaram 14 milhões de Euros. Isto corresponde a um preço médio de compra na casa do milhão de Euros.

Quanto custa um autocarro diesel? Entre 250.000 Euros (autocarros de 15 metros) e 450.000 Euros (autocarros de dois andares).

Portanto, a Berliner Verkehrsbetriebe parece ter feito um óptimo negócio: pagou cada autocarro mais do que o dobro (o que não é um grande problema: afinal são os contribuintes que desembolsam) mas agora tem a satisfação de ter veículos 100% eléctricos que percorrem cerca de 140 quilómetros por dia e que à noite funcionam como meios de iluminação (infelizmente: mono-uso). Isso enquanto os normais autocarros a gasóleo custam menos e percorrem 600 a 700 quilómetros por dia, cerca de cinco vezes mais: mas não iluminam as noites dos alegres moradores deste novo mondo verde.

 

Ipse dixit.

Imagem: os autocarros queimados no depósito de Hanôver no início de Junho, foto dpa-infocom GmbH via De Welt

Notícia encontrada no blog de Maurizio Blondet

2 Replies to “Verde é bonito e barato (talvez um pouco quente também)”

  1. “e que à noite funcionam como meios de iluminação (infelizmente: mono-uso)”

    hahahahahaha

    Ó Max, bela maneira de começar o dia.
    O senão foi as pessoas à minha volta pensarem que eu me passei dos carretos, visto ter começado a rir sozinho de forma maníaca!

  2. Os que podem, por aqui, acho que os brasileiros em geral, que amam carros, só pensam em adquirir o tal elétrico.
    Já tem vários em Sto. Amaro, e os condutores estão muito felizes.
    Será que vou ter de me cuidar no trânsito de mais uma coisa? Até aqui a imprudência dos outros, a velocidade em estradas que não são próprias para alta velocidade, agora quem sabe, um desses alegres passa por mim e explode na minha cara. Faltava essa.

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