Despesas militares 2020: em aumento

Sim, tá bom, o Covid, a “pandemia”… mas as armas são sempre as armas, como resistir ao perverso fascínio dum míssil balístico intercontinental? Ou até duma simples granada.

Eis portanto que o relatório anual do SIPRI (Stockholm International Peace Research Institute) mostra como a despesa militar global continuou a aumentar em 2020, apesar da “pandemia” e do grande declínio das economias globais. Menos dinheiro? Sim, mas mais armas. E são satisfações.

No ano passado, as despesas militares do planeta ascenderam a cerca de 1.650 mil milhões de Euros, um aumento de 2.6% enquanto o produto interno bruto global caia 4.4%. Faz todo o sentido. Faltam ventiladores ou camas nas terapias intensivas? Sim, mas temos mais armas letais: é uma outra forma de reduzir o número dos infectados.

Algumas nações, como o Chile ou a Coreia do Sul, redireccionaram parte do que estava previsto para as despesas militares para responder à crise sanitária. Mas admitimos: não são homens à sério. E para boa sorte são excepções.

Diego Lopes da Silva, um dos investigadores da Sipri:

Podemos dizer com certeza que a pandemia não teve um impacto significativo nas despesas militares globais em 2020. Resta saber se os Países irão manter ou diminuir estes níveis durante o segundo ano da pandemia.

Esperemos que os níveis não caiam, o mundo precisa de armas. O caminho é apontado pelos Estados Unidos: um aumento de 4.4%, até 778 mil milhões de Dólares investidos em armas: sozinhos os EUA conseguem 39% da despesa global. Três anos de aumentos encorajados pela presidência Trump, enquanto a nova Administração de ZomBiden não deu até agora qualquer indicação de cortes nas despesas militares. Afinal também ZomBiden é homem de barba rija.

Outro boa notícia é que o aumento das despesas militares foi o mais significativo desde 2009, a fase mais aguda da crise financeira e económica mundial. Normal: é nas alturas mais complicadas que reconhecem-se os verdadeiros homens. Os cinco maiores investidores em 2020 (no total 62% da despesa global) foram EUA, China, Rússia, Índia e Reino Unido. As despesas militares de Pequim cresceram pelo 26º ano consecutivo, atingindo 252 mil milhões de Dólares, o gasto maior depois aquele dos EUA.

Mas os 12 Países da NATO não ficam atrás: gastaram mais 2% do PIB com as forças armadas. A França, o oitavo maior gastador a nível mundial, ultrapassou o limiar dos 2% pela primeira vez desde 2009.

Infelizmente nem todos têm vontade de mostrar os músculos: o Brasil, por exemplo, teve de cortar o seu orçamento militar inicial. E a mesma coisa aconteceu na Rússia.

Mais em pormenor, eis as despesas por regiões, em biliões de Dólares constantes (2019), nos três últimos anos (a tabela original com o período 2010 – 2020 pode ser encontrada neste link):

A ovelha negra é a América do Sul com a queda mais importante: uma descida de 1.1 biliões de Dólares, que vai somar-se à descida do ano anterior. Deveriam mas é ter vergonha, até a África subsariana fez melhor, está tudo dito.

A seguir os dados de todos os Países, sempre dos últimos três anos, em percentagem do PIB: valor muito significativo pois representa a fatia de riqueza que cada governo destina às despesas militares. A tabela completa (com os dados desde 1988) pode ser encontrada neste link.

Em azul os dados estimados pelo SIPRI, em vermelho os dados incertos.

Na linha da frente do continente africano encontramos dois Países aparentemente “calmos”: Argélia e Marrocos (este último empenhado na guerra no Yemen ao lado da Arábia), seguidos pelo Botswana, um dos locais mais pobres do planeta. Significativas as despesas nas zonas “quentes” de Chad, Congo, Mali, Namíbia, Mauritânia e Tunísia (este um País com uma crescente instabilidade interna).

No continente americano, como é óbvio, o topo da lista pertence aos Estados Unidos e a seguir à colónia deles, a Colômbia. Equador e Uruguay completam a lista dos Países mais gastadores. Costa Rica, Haiti e Panama são a vergonha da Humanidade e deveriam ser varridos dos mapas. Interessante o caso do Peru: apesar de ter sido um dos Países mais atingidos pela “pandemia”, as despesas militares aumentaram de uma décima.

Incrivelmente, na Ásia o microscópico Brunei é o País que mais gasta em proporção: pequeno mas robusto, muito bem! A seguir o Paquistão (por razões conhecidas) e outro mini-País: Singapura. Obviamente não são conhecidos os dados da Coreia do Norte tais como aqueles dos regimes comunistas do Vietname e do Laos, enquanto aumentam as despesas de Índia, Myanmar e Cambodja.

As maiores despesas no Velho Continente correspondem às zonas de elevada instabilidade: Rússia, Ucrânia, Arménia, Azerbaijão. Mas no geral todas as despesas aumentam com apenas três descidas: Bulgária, Sérvia e Letónia. Que envergonham a Europa toda.

O Médio Oriente apresenta as maiores fatias do PIB que ficam destinadas aos gastos militares. Se o Estado nazi de israel não surpreende, o 10.9 % do Omã e o 6.5 % do Kuwait são percentagens que orgulham. Desconhecidas as percentagens de Qatar e Emirados Árabes Unidos, dois Países empenhados ao lado da Arábia Saudita na guerra do Yemen.

Portanto, destes dados podemos aprender duas coisas.

A primeira é que ainda há homens à maneira e são eles que mandam na maior parte dos Países. As armas aumentam e esta é uma notícia boa para o futuro do planeta e de todas as outras espécies animais, menos boa para nós. Mas quem é causa do seu próprio mal…

A segunda é que há um sentimento de instabilidade, bastante marcado: se as despesas subiram apesar da forte contracção da economia significa que algo pode estar a ferver na panela. E não limitaram-se a subir: foi o maior aumento em mais de uma década. Pode ser apenas uma reacção perante a queda dos mercados e o risco duma maior instabilidade? Pode ser um aumento determinado pelas crescentes fricções entre EUA, China e Rússia? Pode.

No entanto, excluindo os Países envolvidos em conflitos, as maiores subidas aconteceram em Países que baseiam as suas economias na extracção e na exportação de petróleo e/ou gás. É o caso do Omã (+2.3%), do Azerbaijão (+1.5%), do Kuwait e do Brunei (+ 1%), da Argélia (+0.7%). E não é um acaso. Ou alguém acha que a revolução “verde” será de graça?

 

Ipse dixit.

Imagem de abertura: Nara

3 Replies to “Despesas militares 2020: em aumento”

  1. Portanto , existe uma percepção quase generalizada de que estamos no limiar de eventos internacionais em que será necessário recorrer ao uso da força. E se esses eventos não se concretizarem ? Certamente os vendedores de armas terão de continuar a ” estimular ” o mercado … isto deixa nos muito pouco espaço para optimismo. Outro factor importante a analisar seria o investimento também crescente não apenas em Forças Armadas mas também em Forças de Segurança e mais uma vez … Ou estamos todos muito nervosos …Ou sabemos que a sociedade se vai descontrolar a curto / médio prazo .

  2. Olá: suponho que quem fabrica armas são empresas privadas, mas quem financia o fabrico são os Estados.
    Empresas poderosas não investiriam dependendo dos “incentivos” no mercado (gostei desta) sem garantia de retorno.
    De todos modos a guerra é a forma de reposição dos estoques e uso do material tecnologicamente superado.
    O caos social é um momento propício para utilização dos produtos… eu suponho que os Estados policiais vão se multiplicar.
    O Brazil é um exemplo desta preparação que vem de longe, com um certo juiz brasileiros e seus patrões a espera da próxima governança. Mais armas serão compradas para manter a “segurança”, e o Estado deverá investir mais a custa do lombo dos dóceis compatriotas.

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