Acabaram as festas da Páscoa, o Dia da Ressurreição para os Cristãos e o Dia do Juízo para os cabritos. Muito bem, tempo de retomar a nossa viagem.
Resumo dum artigo de Il Sole 24 Ore, diário económico acima de qualquer suspeita, sendo um dos campeões da Finança internacional. Título: “O que têm em comum a Pfizer, BlackRock, Facebook e bancos?” Pois, o que podem ter?
A Pfizer, uma entidade de 214 mil milhões de Dólares, é a terceira maior empresa farmacêutica do mundo. Comecemos por dizer que entre os accionistas da Pfizer encontramos alguns gigantes do investimento como Vanguard, BlackRock e Wellington, que detêm, respectivamente, 8.12%, 7.46% e 4.22% do gigante farmacêutico norte-americano. Não precisam de qualquer apresentação mas, para que conste:
- BlackRock é a empresa de investimento mais poderosa e rica do mundo, gere activos de mais de 8 triliões de Dólares e tem sido chamada de “banco-sombra mundial”.
- Vanguard Group é outra empresa de investimento dos EUA, tem activos de mais de 5 triliões de Dólares e, em termos de negociação de fundos, fica apenas atrás apenas da BlackRock.
- A mais “pequena” do grupo é a Wellington Management Company, outra empresa de investimento americana, com uma gestão de cerca de 1.500 mil milhões de Dólares. A Wellington, na verdade, está está intimamente relacionada com a Vanguard.
Acontece que a BlackRock e a Vanguard são também os maiores investidores institucionais de Facebook: BlackRock com 6.59%, Vanguard com 7.71%; na prática, são os dois primeiros accionistas de Facebook. E Wellington? Não está certamente a observar, uma vez que, por sua vez, está dentro do BlackRock com 3.36%.
Além disso, Vanguard e Wellington estão presentes na participação da Pfizer também através de fundos mútuos: Vanguard-Wellington Fund 0.96%, Vanguard Specialized Health Care Fund 1.31%, Vanguard 500 Index Fund 2.05%, Vanguard Total Stock Market Index Fund 2.80%. Lembramos: Facebook é aquela empresa que tem vendido dado dos utilizadores a Spotify, Netflix, Amazon e Microsoft. À luz da comprovada ligação financeira entre os sectores farmacêutico, financeiro e das redes sociais, existem pelo menos algumas dúvidas sobre o mecanismo de controle.
Entre os maiores accionistas da Pfizer encontramos também os grandes bancos: Bank of America, Deutsche Bank, Morgan Stanley, JP Morgan etc.
Vamos espreitar a situação da AstraZeneca? Nada muda. A BlackRock possui 7.7%, Wellington 5.9% e Vanguard 3.5%, juntamente com o sector bancário habitual.
Como curiosidade: BlackRock, Vanguard e Wellington têm sólidas participações na maioria das multinacionais que produzem armas, entre as quais podemos mencionar a Lockheed Martin Corporation, Raytheon RTN, Bae Systems, Northrop Grumman Corporation & Orbital ATK e General Dinamics. Lembram-se dos stress-tests no sector bancário, decididos pela European Banking Authority (EBA) em 2016 e 2018? BlackRock e Vanguard eram as empresas responsáveis pela consultoria de supervisão e, ao mesmo tempo, detinham (e ainda detêm) participações nos bancos a serem controlados.
Até aqui o artigo de Il Sole 24 Ore. Mas afinal quem é o Blackrock? É o primeiro accionista da Microsoft, o segundo da Amazon, o terceiro de Facebook. E, obviamente, está empenhada no NetZero, ou seja “construir uma economia que não emita mais dióxido de carbono do que aquele que remove da atmosfera até 2050, o limiar cientificamente estabelecido necessário para manter o aquecimento global bem abaixo de 2ºC”.
Vamos espreitar um pouco mais? E vamos.
Como nasce BlackRock
BlackRock nasce numa época de desregulamentação galopante, começando por Margaret Thatcher e Ronald Reagan, impulsionados pelos mega-bancos que estão a inventar novos produtos financeiros e com o objectivo de eliminar todas as barreiras a fim de reforçar a sua supremacia e expandir o seu domínio sobre o mundo. Nascem e florescem fundos de cobertura, fundos de risco especulativo, empresas de investimento, muitas vezes ligados a bancos, principalmente anglo-saxónicos. Em 1986, a City de Londres foi completamente desregulamentada.
Dois actos fundamentais, ambos sob a presidência do democrata Bill Clinton no final dos anos ’90, que levam à conclusão da desregulamentação neoliberal das finanças. A segunda menos conhecida do que a primeira.
1. A abolição da Lei Glass-Steagall que, desde a década de 1930, separava os bancos comerciais dos bancos de investimentos, desejada pelo Presidente F.D.Roosevelt para reduzir o poder excessivo de Wall Street na origem da Grande Crise de 1929. A sua abolição “foi como substituir os cofres dos bancos por roletas”, brincava o jornalista de investigação Greg Palast.
2. O cancelamento simultâneo pela WTO (ou OMC, a Organização Mundial do Comércio) dos regulamentos que poderiam dificultar o comércio dos derivados, o novo jogo de alto risco que os megabancos estavam desesperados por jogar. Foi a abolição de qualquer controlo sobre os derivados que abriu os mercados aos produtos negociados “fora da Bolsa”, incluindo os activos tóxicos; foi “inspirada” pelo então Secretário do Tesouro Larry Summers e pelos principais mega-bancos, que foram mesmo convidados a fazer lobby tendo em vista a votação decisiva.
É interessante realçar como em ambos os casos estas medidas “selvagens” foram tomadas com o endosso dos Democratas de Clinton.
A BlackRock nasceu e cresceu clima. Com sede em New York, começou a funcionar em 1988 e tornou-se imediatamente um actor principal nas Finanças internacionais. Com uma hábil estratégia de expansão das actividades que a levou a adquirir posições onde quer que estivesse interessada, comprando pequenas quantidades de acções em bancos e empresas. Pequenas mas em crescimento: BlackRock entrou no mercado tanto das vendas de activos como das compras de activos, ao ponto de gerir 8 triliões de Dólares em acções, obrigações, títulos públicos, propriedades: superior ao PIB da França e Espanha juntos.
E BlackRock faz política. Normal.
BlackRock entra no capital de duas das principais agências de rating, Standard & Poors (5.44%) e Moodys (6.6%), obtendo a capacidade de influenciar a determinação dos títulos soberanos, acções e obrigações privadas e de poder afectar o preço e o valor dos activos que compra ou vende.
Começa a operar na análise de risco, a venda de “soluções informáticas” para a gestão de dados económicos e financeiros torna-se o sector principal do seu negócio, processando dados que, ao contrário dos das agências de notação, também incorporam pesados elementos políticos.
Explora a crise de 2007-8 para fortalecer-se como para acreditar-se no âmbito do poder político americano. Em 2009, o Secretário do Tesouro Geithner consultou pela primeira vez a BlackRock, pedindo-lhe que avaliasse os activos tóxicos de uma série de instituições como Bear Stearns, AIG e Morgan Stanley. Em 2009, BlackRock também conseguiu um grande golpe, comprando o Barclays Investment Group com a sua imensa carga de participações em grandes multinacionais.
BlackRock utiliza a plataforma Aladdin, pelo menos 6000 computadores em 12 sítios mais ou menos secretos (4 dos quais de recente construção) aos quais 20.000 investidores em todo o mundo recorrem. Portanto, desenvolve a capacidade de informar, formar e, se necessário, manipular os seus clientes, utilizando técnicas e software não muito diferentes dos utilizados pela Google (da qual detém 5.8%) ou pela NSA para sondar os estados de espírito das pessoas.
Cria um centro de estudos de excelência, o BlackRock Investment Institute, que elabora análises qualitativas que também têm em conta variáveis político-estratégicas. Cada vez mais um grande fundo de investimento interessado no lucro, mas também na estabilidade, segurança e prosperidade dos Estados Unidos. Gasta 1 milhão de Dólares por ano em lobbying.
O fundador e líder Larry Fink não faz segredo de ser um fervoroso democrata e em bom relacionamento com o Presidente Obama. Fink é simplesmente a figura mais importante nas Finanças mundiais.
Os donos da BlackRock
Mas quem são os accionistas de BlackRock?
Ao procurar a resposta entramos num labirinto de caixas chinesas, um terreno opaco.
Apenas uns exemplos: o primeiro accionista da BlackRock é a Vanguard, cujo segundo accionista é a Microsoft. E o primeiro accionista da Microsoft é BlackRock.
O quarto accionista da BlackRock é a State Street, um banco de investimentos. Entre os accionistas do State Street encontramos a Vanguard (que é o principal accionista da BlackRock) e a mesma BlackRock (segundo accionista da State Street).
O sexto accionista da BlackRock é Bank of America, cujo segundo accionista é a Vanguard e terceiro é a BlackRock. Entendido o joguinho?
Bom, na verdade o “joguinho” é um pouco mais complicado. Pegamos no caso das farmacêuticas: no fundo de investimento Vanguard Global Wellington Fund Admiral Shares (Vanguard: primeiro accionista da BlackRock, Wellington sétimo accionista da BlackRock) encontramos a Johnson & Johnson (primeiro accionista do fundo), a Microsoft (primeiro accionista da qual é a BlackRock) e a Novartis. E no Wellington Global Health Care Equity Fund (da Wellington) temos a Pfizer, os laboratórios Abbott e a AstraZeneca.
Complicado, não é? Pois. E não é um acaso.
De quem são as principais vacinas?
Voltando à questão das vacinas, o que interessa é o seguinte:
- Quem é o maior accionista da Pfizer? Blackrock: o maior fundo de investimento do mundo.
- Quem é o terceiro maior accionista da Astrazeneca? Blackrock.
- Quem é o terceiro maior accionista da Moderna? Blackrock.
Ou seja: de quem são as principais vacinas experimentais administradas no mundo? Para quem biliões de indivíduos estão a desenvolver o papel de cobaia? A resposta é clara.
Mais nada.
Ipse dixit.
O que são OITO trilhões de Dólares ? , existe isso ?
Boa pergunta! E a resposta é: não, não existe. Não é dinheiro físico, são “activos”, que podem incluir acções, obrigações, etc. Não existe, mas eu ficava contente já com 1 trilião. E até estou disposto a abdicar dum dos zero: um bilião e negócio fechado 🙂
Max, um dia, quando estiver ai sem ter muito o que fazer, investigue mais a fundo a IA Aladdin. É chocante.
IA Aladdin? Olha, vou espreitar. Obrigado 🙂
Não existe nomes de pessoas físicas, acionistas são instituições enredadas umas nas outras e sempre as mesmas. Não existe dinheiro, fundos, inversões…Mas existe lucros estratosféricos num mundo de “segredo”, que escorre para uma compreensão mais profunda, quase intocável. Fantasmas, mãos sem identidade sufocam a humanidade e produzem o seu extermínio.
Não se precisa inventar reptilianos e assombrações do gênero BlackRock é dona da nossa existência.
Parabéns pelo artigo. Li para tomar conhecimento. Reli para compreender o jogo sinistro.
E fiquei pensando que se humanos fizeram tudo isso em relativamente pouco tempo histórico, tem de haver humanos que possam desfazê-la.