Catástrofe ambiental no Mediterrâneo: israel censura a investigação

As autoridades israelitas fecharam quilómetros de praias numa área que se encontra no meio do “mais grave desastre ecológico dos últimos anos'” devido a um derrame de petróleo.

Inicialmente falava-se de um derrame a partir dum navio não especificado ao largo da costa israelita. Uma nota preliminar divulgada mais tarde pelo Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu e pelo Ministro do Ambiente Gila Gamliel liga o desastre a “dezenas, se não centenas de toneladas de petróleo derramadas de um navio, no porto de Ashdod”.

O Ministério da Protecção Ambiental de israel indicou que o alcatrão “está a sujar e a contaminar as praias” a partir da última Quarta-feira. Está em curso um grande esforço de limpeza e conservação, que tem incluído o apoio dos militares israelitas.

Também não se sabe há quanto tempo se verifica o derrame de petróleo. Especula-se que seja uma semana ou possivelmente mais mas até agora o governo de Tel avive não tinha lançado o alarme.

A área afectada por estes derrames de petróleo ultrapassa os 100 quilómetros e inclui a costa da Faixa de Gaza e a costa sul do Líbano. Segundo as autoridade israelitas:

A catástrofe a que estamos a assistir nos últimos dias nas praias de israel é a catástrofe ecológica mais grave dos últimos anos, e as suas consequências veremos mais tarde.

Entretanto, algo invulgar relatado pela cadeia americana Fox News: um juiz israelita emitiu uma ordem de censura sobre a investigação e quaisquer detalhes relacionados com a mesma, incluindo o nome ou identidade dos suspeitos, os navios envolvidos, o destino e o porto de partida.

Maya Jacobs, CEO da Zalul, uma ONG israelita que protege os mares e os cursos de água do País, apelou ao levantamento desta censura para que seja realizaçada uma investigação transparente:

As empresas que causam riscos ambientais, como as companhias petrolíferas e de navegação, têm grande influência sobre o governo israelita.

Centenas de tartarugas marinhas, aves e outras criaturas foram mortas pelo desastre, enquanto milhares de voluntários se apressaram a salvar a vida selvagem ferida pelos grandes glóbulos de alcatrão.

O presidente israelita Ruvi Rivlin visitou a praia de Herzeliya para ver os danos causados pelo derrame:

O que vemos aqui é uma dor para os olhos e o coração […] Estas vistas são uma chamada de despertar. É um dever nacional que não devemos descurar. Só assim podemos proteger o futuro dos nossos filhos e netos para que vivam num ambiente seguro, limpo e não poluído.

O envolvimento do Líbano e da Faixa de Gaza pode ter implicações económicas e sociais ainda mais devastadoras. O Líbano já está a atravessar uma crise económica exacerbada pela explosão no porto de Beirute em Agosto passado, enquanto Gaza já enfrenta restrições à pesca por parte do regime israelita.

O derrame de petróleo atingiu as costas do sul do Líbano em dois dias, lugar onde se encontram algumas das mais valiosas reservas naturais do País e Beirute já deu o alarme: ao longo da linha costeira desde Ras Naqoura até Tyre, bolas negras semelhantes a alcatrão invadiram estes pontos protegidos, populares tanto entre os locais como os turistas, formando uma espécie de linha suja e pegajosa que aponta para norte.

Se a origem do acidente foi apurada, existem ainda dúvidas sobre a verdadeira extensão do desastre, a natureza do tipo de produto petrolífero e o seu volume. Todos os elementos em torno dos quais se concentram as investigações dos cientistas libaneses. Mouïn Hamzé, secretário-geral do Conselho Nacional de Investigação Científica do Líbano (CNRS-L), declarou ao diário libanês L’Orient-Le Jour:

Estamos actualmente a analisar as amostras recolhidas. Não podemos comentar neste momento sobre a componente da matéria poluente que chegou a Tiro, nem sobre a forma como pode ser tratada.[…] Nesta região as correntes marítimas circulam de sul para norte. Esta é a razão pela qual a partir do porto de Ashdod se dirigiu para o sul do Líbano. E poderia continuar a sua viagem para norte a menos que se dirija para o mar alto, uma opção preferível em comparação com um depósito no fundo do mar.

Não faltam acusações de Beirute sobre a falta de aviso por parte das autoridades israelitas, da ONU e do Plano Bleu, o organismo do Programa Ambiental Mediterrânico da ONU.

Existe uma total falta de transparência na comunicação israelita em torno deste incidente […] a fim de evitar a responsabilização e o pagamento de indemnizações, diz ele. Mas vamos continuar a análise e pedimos a assistência de uma organização internacional, a fim de formar um caso sólido a ser apresentado à ONU na próxima oportunidade, com vista a incriminar os responsáveis. […] É verdade que não se pode fazer muito contra um derrame de petróleo mas teríamos pelo menos tentado contê-lo e preparar-nos. Sem esquecer que um desastre desta magnitude implica também uma assumpção de responsabilidade.

Hassan Hamza, director da Reserva Natural Marinha de Tyre, salienta que:

Pelo menos seis locais já foram afectados pelo derrame de petróleo, ou seja, 80% da linha costeira entre Ras Naqoura e Tyre. Agora temos de nos preparar para um esforço de limpeza que promete ser longo.

Confirma o presidente do município de Tyre, Hassan Dabbouk:

A nossa linha costeira está em perigo tal como as muitas espécies que habitam a reserva natural local.

Yehoshua Shkedy, o cientista chefe da Autoridade de Natureza e Parques de Israel, advertiu que a fuga causou danos sem precedentes ao ecossistema, e os esforços de limpeza levarão anos.

 

Ipse dixit.

Imagem: Reuters/Aziz Taher

One Reply to “Catástrofe ambiental no Mediterrâneo: israel censura a investigação”

  1. Não tem problema é só pegar as informações com o governo brasileiro. Ele tem todo procedimento para tratar situações como esta, graças ao know-how adquirido quando do derramamento de petróleo na costa nordeste brasileira em Agosto de 2019. Os israelitas não precisam se preocupar com relação a possíveis prejuízos no setor pesqueiro, porque nas palavras do Secretaria de Agricultura e Pesca: “o peixe é um animal inteligente”. Importante também foi a informação passada pelo presidente, sobre o comportamento das tartarugas e golfinhos diante desses acidentes.

    https://www.youtube.com/watch?v=HGEI7vc1Xh8

    #forabozo

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