Kaspersky e os vírus de amanhã

“Em cinco anos a Covid será apenas uma memória distante”. Palavra de Evgeny Kaspersky. Será? São lícitas algumas dúvidas…

A Kaspersky Lab é uma empresa tecnológica russa especializada na produção de softwares de segurança, conhecida em todo o mundo em particular pelas soluções contra vírus. Fundada em 1997 por Eugene Kaspersky e tem sede na Rússia, com escritórios regionais em todos os continentes do mundo.

Com 55 anos de idade, Kaspersky tem as ideias bastante claras: a ameaça iminente mais perigosa é aquela dos vírus cibernéticos, recebeu o jornalista da RAI (a televisão italiana) no seu apartamento em Moscovo.

“Estou loucamente apaixonado pelo que faço. Não conheço nenhuma outra forma de ser feliz”. Poucas pessoas sabem que, antes de se tornar um dos líderes mundiais em sistemas de protecção informática, há 30 anos, Evgeny Kaspersky tinha acabado de terminar os seus estudos no Instituto Militar de Criptografia e Informática. Havia ainda a União Soviética, o País já se encontrava em ruínas. Um dia, o seu computador foi atacado por Cascade, um dos primeiros vírus. Em vez de o remover, isolou-o, estudou-o, e depois aperfeiçoou e comercializou o seu primeiro anti-vírus. Este foi o início.

Hoje o Grupo Kaspersky tem um volume de negócios de quase mil milhões de Dólares, na sua maioria gerados fora da Rússia. Em tempos de pandemia e coronavírus, é impossível resistir à tentação de perguntar o quanto a Covid e os vírus informáticos têm em comum?

Muito mais do que as pessoas pensam. É por isso que todos lhes chamamos “vírus”. Mas cuidado: os vírus informáticos já não atacam apenas os computadores. Isso já foi há muito tempo. Hoje em dia proliferam em todo o lado, em smartphones, na Internet das Coisas, em sistemas industriais… O seu comportamento é completamente idêntico ao dos vírus biológicos. Mas com uma diferença colossal. Embora sejam hoje muito mais complexos do que há 20 ou 30 anos atrás, os vírus informáticos não podem competir com os seus primos biológicos muito poderosos. Se a Covid fosse um vírus informático, acreditem, não teríamos demorado mais de 24 horas aqui para o isolar e produzir um antídoto. E o mundo seria livre. Não é assim com o Coronavírus, receio. Fala-se muito de inteligência artificial. Mas aquela que conhecemos hoje é milhões de vezes menos complexa do que a biológica.

Anteriormente explicou-me que em tempos de Covid os ataques informáticos triplicaram e que todos os dias isola uma média de 450.000 novos vírus. Não receia que o efeito combinado da pandemia e dos ciber-vírus possa pôr em risco as liberdades económicas, as liberdades civis e até a liberdade de circulação?

Não me parece. Sabe que livro li quando a pandemia começou? Não vai acreditar: o Decameron de Boccaccio. É ambientado durante a peste, em Itália, na Idade Média. Existem semelhanças assombrosas com o comportamento humano de hoje em dia. E especialmente o medo. Mas cuidado: isso é medo biológico, é instinto de sobrevivência. Como todas as coisas, este Coronavírus acabará por desaparecer. Claro, agora estamos todos em choque. Mas temos de aguentar um pouco mais. Uma vez vacinados, tudo desaparece. Como a gripe de Hong Kong há 50 anos atrás. Quer apostar que em cinco anos não nos vamos lembrar da Covid? Que haja um risco de perda das liberdades sociais, económicas e políticas, posso concordar. Mas não depende da pandemia. Depende mais de guerras, locais, regionais, globais, guerras comerciais, propaganda no ciberespaço. Mas como vêem, eu sou russo. Na minha vida, tive que fazer reset pelo menos 2 vezes. O futuro não me assusta.

Quais são os desafios que esperam a humanidade nos próximos anos?

Estamos no século da cibernética. O verdadeiro e grande desafio é desenvolver tecnologias e sistemas que sejam impermeáveis aos hackers. Vemos as cibertecnologias tornarem-se cada vez mais instrumentais em todos os aspectos da vida. No passado, podemos ter tido uma na nossa secretária. Agora, temo-las em todo o lado, nos nossos bolsos, no escritório, no espaço, nos sistemas industriais, na Internet das Coisas… Olha à tua volta: o sistema de alarme é cibernético. Até as câmaras de segurança. Num futuro que está mesmo ao virar da esquina, o mesmo acontecerá com a máquina de café, o frigorífico, o aspirador de pó, as próprias casas. Tudo será inteligente. Os carros serão autónomos, ligados à nuvem, e os sistemas de navegação optimizarão a circulação. Mesmo os cuidados de saúde serão automatizados. O elemento “cibernético” tornar-se-á prevalecente sobre o factor humano. Estamos a correr nessa direcção. Mas ainda não se entende o quão vulneráveis são todos estes sistemas. Sabe porque é que o cibercrime se está a tornar cada vez mais agressivo? Porque os sistemas, e as aplicações que utilizamos, são vulneráveis. Se alguém for capaz de os atacar e destruir, então o nosso mundo inteiro está em risco. É como se tivéssemos chegado às portas do céu e ainda não conseguíssemos entrar. O meu objectivo é inventar, desenvolver sistemas que tornem o mundo cibernético imune.

Vê-se a si próprio como uma espécie de salvador da Humanidade.

Sim, é verdade. O meu objectivo é construir um mundo melhor. Vou repetir. Eu sou russo. Nasci na União Soviética. Tenho medo do meu passado. O futuro não me assusta em nada…

Salvadores da Humanidade são coisas que não faltam nesta altura. Curiosamente (mas nem tanto), os mais em vista vêm do sector tecnológico-informático. Bill Gates vem da informática, é filantropo (como Kaspersky) e quer salvar todos com as vacinas. Elon Musk da Tesla vem da informática, é filantropo e quer transferir todos para Marte. Jeff Bezos da Amazon vem da informática, é filantropo, ajuda os imigrantes ilegais e espalha a palavra das “energias verdes”. Mark Zuckenberg de Facebook vem da informática, é filantropo e ajuda a Bill and Melinda Gates Foundation nas vacinas. Larry Page e Sergey Brin da Google vêm da informática, são filantropos e empurram o mundo para a condução autónoma e a Internet das Coisas.

Podemos pensar: “São todos hebraicos”. Sim, verdade: são. Mas há muitos hebraicos espalhados pelo mundo, alguns deles são particularmente ricos também. Há algo mais: estas são as principais caras mediáticas não apenas do comparto high-tech mas do mundo das comunicações, das compras, da saúde, do futuro. Constituem uma referência a nível global. E são todos informáticos.

Espelho dos tempos? Sim, sem dúvida, mas também uma séria indicação acerca do caminho escolhido para o futuro. Não uma inevitabilidade, mas uma opção. Da assim chamada “elite”? Sim, mas não só. Quem utiliza Google? Facebook? Amazon? Tesla? Kaspersky?

E o condicionamento mental? Existe, claro, e voltaremos a falar disso. O mercado e as “democracias” são tudo menos que livres: as nossas escolhas são condicionadas. Mas não podemos continuar a utilizar este álibi para sempre. Para ficar no âmbito informático: quantos Leitores utilizam (e pagam) Windows mesmo havendo centenas de sistemas operativos alternativos, gratuitos e igualmente funcionais? É só condicionamento mental?

Para já: todos informáticos, todos hebraicos. Todos peões.

 

Ipse dixit.

Imagem: Kaspersky

14 Replies to “Kaspersky e os vírus de amanhã”

  1. Utilizo o Kaspersky no telefone e recomendo, é um bom anti-vírus, para mim o melhor e quem for utilizador do sistema operativo Windows da Microsoft, tem no Kaspersky uma excelente solução.

    «…quantos Leitores utilizam (e pagam) Windows mesmo havendo centenas de sistemas operativos alternativos, gratuitos e igualmente funcionais?…»

    Graças ao blogue Informação Incorrecta pude finalmente ficar a saber como instalar o Linux no computador via usb, e estou a referir-me ao primeiro artigo que o Max escreveu sobre o assunto.

    A partir desse momento nunca mais utilizei o sistema operativo Windows e finalmente comecei a desfrutar do Linux, ficando para trás todos os problemas inerentes ao Windows da Microsoft como os vírus, spyware, malware, lentidão, etc..

    Actualmente (e outra vez graças ao blogue) utilizo o MX Linux, que tem tudo aquilo que um sistema operativo deve ter, como leveza, segurança, e rapidez.

    P.S.: Custa-me a entender como é que em pleno Século XXI alguém ainda utilize o Windows.

    1. Kaspersky é bom de facto. E MX é na altura um dos melhores sistemas operativos: muito sólido. Esperamos se mantenha assim.

        1. Juro, não entendi a pergunta, peço desculpa.

          Windows e Android são dois sistemas diferentes, o segundo é só para smartphone (há também uma versão para computador mas na prática é inútil). Quem utiliza Linux no computador já não instala Windows (que é apagado mesmo do disco rígido).

          No meu caso, tenho dois discos rígidos no computador: um, no disco mais velho e pequeno, é Windows; o outro disco é Linux. Linux é o meu sistema principal, aquele que utilizo para ver o correio, para publicar aqui no WordPress, para espreitar a conta do banco, por exemplo. Windows é utilizado para jogar e fazer experiências. Mas não é um sistema dento dum outro sistema: são dois sistemas em paralelo.

          Mas não sei se esta é a resposta da qual Pedro estava à espera, sorry!

          1. Não era sobre sistemas operacionais minha pergunta, era sobre sistemas de controle, era uma pergunta filosófica no caso. Não se preocupe em responder, já imagino sua resposta após estes anos de leitura.

            Mas sua resposta está excelente do ponto de vista didático, obrigado por tirar o tempo para responder.

  2. “Olha à tua volta: o sistema de alarme é cibernético. Até as câmaras de segurança. Num futuro que está mesmo ao virar da esquina, o mesmo acontecerá com a máquina de café, o frigorífico, o aspirador de pó, as próprias casas. Tudo será inteligente. Os carros serão autónomos, ligados à nuvem, e os sistemas de navegação optimizarão a circulação. Mesmo os cuidados de saúde serão automatizados. ”

    Tudo ligado…
    Pergunta: Ligado ao quê?
    Resposta: Á Internet, á nuvem.
    Pergunta: E de quem quem são os servidores?
    Resposta: …
    Pergunta: E quando ligar ao cerebro, liga-se a que servidor? E de quem?
    Resposta: …
    Alguem sabe a resposta dos …

  3. No meu caso, uso o celular , PC e notebook como ferramentas de trabalho. Uso os aplicativos para acessar o estoque e fazer pedido para as fábricas, que por sua vez, me mandam tabelas do Excel e arquivos PDF, as quais repasso aos clientes. Os clientes também me mandam suas cotações e pedidos nesse formato. Por isso, tenho medo de migrar para outra plataforma e me tornar incompatível com o formato deles.
    Tenho razão ou estou enganado ? ( sem sarcasmos )

    1. Não sou exemplo e contra mim falo mas como se diz por cá, “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”:
      Ou arranjas um utensílio alternativo para o “conhaque”, ou tentas a solução compartilhada, o que implica instalar 2 SO’s no mesmo PC (tens de criar partições independentes para cada um dos SO’s), fazendo boot conforme pretendido.
      Tens de aprender a faz-lo e bem ou arranjas alguém de confiança que o faça por ti, caso contrário podes estragar o SO de origem… obrigatório ter um backup e uma pen para reboot caso a coisa corra mesmo mal.

  4. No PC, desde 2016 que utilizo Linux Ubuntu, e tenho um telemóvel Linux Ubutu Touch, coisa rara neste país.
    Não tenho até agora, problemas com vírus e velocidade.
    No sistema Linux, para quem precisa, existe muito software compatível com windows. Agora, do ponto de vista empresarial tudo dependerá do tipo de programas que utilizamos.
    Excel, Word, Pdf’s e tudo isso, a compatibilidade é muito boa.
    Existe um programa Linux chamado WINE que roda software windows em ambientes Linux.
    Nada como testar

    1. Certo Krowler.

      Um coisa que utilizo muito quando estou no escritório , é o WhatsApp Web. Assim posso visualizar no PC as mensagens que chegam no celular, facilitando a transferência e troca de arquivos, videos , tabelas. Faço isso, porque algumas operações no ambiente Android são mais demoradas para se fazer ( pelo menos para mim, que sou das antigas ) além da limitação de espaço.

      Tenho vontade de migrar para outro sistema , mas a minha pergunta, é se valeria a pena. O que eu ganharia com isso ?

  5. Já que este tópico está-se a usar para debater sistemas e suas trocas, por acaso sabem que quase a totalidade dos telemoveis android permitem usar uma Custom Rom quase todas presente no Github, livre das GAPPS/Bloatware/outros pózinhos e ainda ganham uma autonomia de bateria no mínimo o dobro?
    Cada um tem a sua forma de o fazer pelo que não é especifica as instruções, requer paciência e autoestudo, mas acreditem que compensa e muito.
    No geral, estudar, estudar e ter a certeza e confirmar que a versão é mesmo para o seu telemovel:
    – Desbloquear o Bootloader (só prosseguir de der para desbloquear. Alguns estão desbloqueados, outros desbloqueiam-se por software, outros por pedido ao fabricante, como os Xiaomi)
    – Instalar uma Recovery alternativa (tipo TWRP ou Orange)
    – Instalar a Custom Rom desejada para a versão do telemóvel, por incrivel que pareça pode ter a ultima versão do android num telemovel que já acabou a actualização, por exemplo, acabou na versão 7 pode ter a 11 a rodar sem problemas, mesmo aqueles telemovel velhos arrumados na gaveta ganham outra vida que nem os novos.
    – Opcional instalar um Kernel alternativo para a versão do telemovel
    Para alem de terem um sistema limpo, podem ter acesso root, permitindo instalar uma firewall a bloquear todos os acessos para a net, mesmo de programas do sistema, instalar apenas software open-source (F-Doid), usar apps apk da Play, pelo Apkmirror ou outros, se precisar dos serviços (que nem precisam) instalar a GAPPS ou MicroG. Em resumo ficam com menos dependências.
    Começar numa consulta ao Dr. G e ir ao hospital das 3 letras.

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