Coronavirus V – Os números

Na internet circulam dados acerca da mortalidade do Coronavirus. São dados falsos. Totalmente falsos. No máximo, tanto para sermos bons, podemos afirmar que são dados “provisórios”. Muito “provisórios”. E entende-lo é muito simples.

Em primeiro lugar distinguimos entre Taxa de Mortalidade e Taxa de Letalidade.

A Taxa de Mortalidade é o índice demográfico que reflecte o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, numa determinada região em um determinado período de tempo. Assim, uma taxa de mortalidade de 5,5 numa população de 100.000 pessoas significa 550 mortes por ano em toda aquela área estudada.

A Taxa de Letalidade é a proporção (expressa em percentagem) entre o número de mortes por uma doença e o número total de doentes que sofrem dessa doença ao longo de um determinado período de tempo.

O que interessa (e o que está alegadamente a ser difundido pelos media) é a Taxa de Letalidade. Como é calculada? É calculada com a seguinte fórmula:

L = N/P ∗ 100

onde:

L = Taxa de Letalidade (em percentagem)
N = número total de óbitos pela doença
P = popolação total de contagiados por tal doença.

O problema está tudo em P: não é possível nesta altura estabelecer o número de contagiados. No máximo são possíveis estimativas mas nada mais do que isso. Não é possível, durante um surto epidémico, fornecer em tempo real a Taxa de Letalidade duma doença porque ninguém sabe ao certo qual o número de indivíduos contagiados. E dado que o número de contagiado é um incógnita, qualquer Taxa de Letalidade “em tempo real” é destinada a flutuar grandemente.

É por esta razão que, em epidemiologia, as Taxa de Letalidade são sempre fornecidas depois da epidemia ter acabado, geralmente após dois ou três anos (desfrutando, por exemplo, os dados das investigações ou através dos censos).

Massimo Galli, especialista em doenças infecciosas e chefe do hospital Sacco em Milano:

O número real de pessoas infectadas é maior que o número oficial, porque a famoso zaragatoa [o teste, ndt] é feito apenas em pacientes com Coronavírus que mostram uma infecção sintomática. Portanto, esse índice de mortalidade de 6.6% leva em consideração apenas um denominador.

Não é um pormenor. Pegamos numa Taxa de 10%, calculada num total de 1.000 contagiados. Se estes fossem não 1.000 mas 10.000, a taxa iria baixar para 1%. E se os contagiados fossem 100.000, a taxa iria cair até 0.1%. Tudo isso sem considerar as pessoas sem sintomas, que não são poucas: ao considera-las, a Taxa baixaria ainda mais.

Cada Inverno, alguns milhões de italianos ficam vítimas da gripe: por isso desconfio que o número total de contagiados esteja já perto do milhão ou até mais do que isso (considerado que o vírus já teve mais de um mês para propagar-se, um só milhão bem pode ser um total redutivo).

O facto de não conhecer o número real dos contagiados provoca uma grande disparidade nas percentagens. Eis alguns dados acerca Taxa de Letalidade na situação italiana segundo alguns media ao longo dos últimos 10 dias:

Business Insider, 08/03/2020: 3.8%

Sputnik, 08/03/2020: 4.96%

Il Fatto, 08/03/2020: 4.25%

Il Giornale, 11/03/2020: 6.6%

France Info, 12/03/2020: 6.2%

El País, 14/03/2020: 5.8%

Libero, 14/03/2020: 8.2% (em Lombardia)

Focus, 15/03/2020: 6.8%

BBC, 16/03/2020: entre 4.5% e 5%

Yahoo, 18/03/2020: 7.4%

Il Tempo, 18/03/2020: 7.7%

Il Giornale,18/03/2020: 7.9%

No prazo de 10 dias, a mesma doença passou duma Taxa de Letalidade de 3.8% para uma de 7.9%, com um (alegado) pico de 8.2 na região da Lombardia. Ou seja: quanto mais o tempo passar, tanto mais o vírus parece tornar-se feroz. Sempre segundo estes números, em Lombardia já estaríamos aos níveis da SARS. E a situação melhora pouco ao considerar a vizinha Espanha:

El Español, 16/03/2020: 3% (6% em Madrid)

El Independiente, 17/03/2020: 4%

Ok Diario, 18/03/2020: 4.3%

Também aqui, quanto mais passar o tempo, mais o vírus mata. Ainda uma semana e a Taxa de Letalidade do Coronavirus alcançará aquela da SARS (11%). Para já, queria realçar como, considerando os números acima relatados, o Coronavirus tem ultrapassado a Gripe Suína (letalidade de 0.1%), a Gripe Espanhola (2.5%), o Cólera (3.2%), a H1N1 (3.7%), o E. Coli (4%) e está a aproximar-se à SARS (9.6%). O Coronavirus pior do que a Gripe Espanhola de 1918?!? Ao ler os dados fornecidos a resposta é “sim, é bem pior”.

Como explicar as Taxas de Letalidade apresentadas pelos media? Duma forma bastante simples. Os testes são realizados primariamente entre as categorias em risco (pessoas idosas, possivelmente com patologias pré-existentes), pacientes internados ou voluntários (que desconfiam ter entrado em contacto com o Coronavirus). Sobretudo entre idosos com patologias e pacientes internados é mais lógico que haja uma mortalidade mais elevada.

Vice-versa, não há ninguém entre os meus conhecidos ou as pessoas que encontro diariamente que tenha efectuado o teste (nem aqui nem na Italia): mas quantos entre eles terão já contraído o vírus? Ninguém sabe. Até eu posso já ter tido a síndrome gripal provocada pelo Coronavirus, mas posso ter sido um paciente assintomático. Doutro lado, porque deveria enfiar-me num hospital ou num cento de saúde, onde é mais provável que haja o vírus e onde é preciso fazer a fila, para fazer um teste se a minha saúde estiver em boas condições? (diferente seria o caso em que eu estivesse em contacto com categorias em risco: aí o teste seria um dever).

Pessoalmente continuo firme nas minhas convicções: o Coronavirus é pouco mais de que uma gripe e está a ser explorado por outros fins (hoje em Portugal foi declarado o Estado de Emergência…). Não sou médico, portanto posso bem estar errado. Mas gosto de raciocinar com factos e números: e até agora ninguém apresentou provas contrárias (isso é: dados fidedignos. Não seria tão complicado: alguns (poucos, infelizmente) começam a distinguir o total dos óbitos segundo as faixas etárias e eventuais doenças já presentes. É um primeiro passo. Mas a grande maioria dos media continua a apresentar números “absolutos” com a evidente intenção de assustar, e assustar ainda mais.

De certeza não posso considerar de forma sérias números como aqueles apresentados pela comunicação social, números literalmente dados ad minchiam (que parece latim mas não é. E não, é melhor se não vou traduzir…).

 

Ipse dixit!

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