Pedofilia e Poder: das origens aos nossos dias – Parte III

Terceira parte da investigação acerca do caso Epstein com as suas profundas conexões. Cada parte desta investigação é constituída por numerosas páginas, cuja tradução subtrai bastante tempo. Razão pela qual não há podcast. Doutro lado, uma vez iniciado é boa regra acabar e o assunto também merece.

Amanhã, 1º de Novembro, é feriado em Portugal e em Italia (Dia de Todos os Santos; no Brasil são mórbidos e festejam o dia 2, Todos os Mortos) mas, mesmo assim, o bom Max tentará heroicamente publicar a IV e última parte, dedicada maioritariamente aos Clinton.

Boa leitura. 

 

Mega Group, Maxwells e Mossad: a spy-story no coração do escândalo de Jeffrey Epstein

 

Enquanto as partes I e II desta série concentraram-se na natureza generalizada das operações de chantagem sexual na recente história americana e nos seus laços com o poder político americano e a comunidade dos serviços secretos dos EUA comunidade, um aspecto-chave da operação de chantagem e tráfico de Epstein que merece ser examinada são os laços de Epstein com os serviços secretos israelitas e os seus laços com a facção filantrópica “informal” pró-Israel, conhecida como o “Grupo Mega”.

O papel do Mega Group no caso Epstein chama atenção pois o principal patrocinador financeiro de Epstein por décadas, a bilionária Leslie Wexner, foi co-fundadora do grupo que une vários empresários conhecidos por terem uma propensão em favor de Israel e etno-filantrópica (isto é, filantropia que beneficia um único grupo étnico ou etno-religioso). No entanto, como este relatório mostrará, outro factor de união entre os membros do Mega Group é o profundo vínculo com o crime organizado, especificamente com a rede de crime organizado discutida na Parte I desta série, liderada em grande parte pelo conhecido mafioso americano Meyer Lansky.

Em virtude do papel de muitos membros do Mega Group como principais doadores políticos nos EUA e em Israel, vários dos seus membros mais notáveis ​​têm estreitos laços com os governos dos dois Países e com as comunidades da intelligence. Como este relatório e o subsequente relatórios mostrarão, o Mega Group também tinha estreitos laços com dois empresários que trabalharam para o Mossad, Robert Maxwell e Marc Rich, bem como com os principais políticos israelitas, incluindo antigos e actuais ministros com profundas ligações com comunidade dos serviços secretos de Israel.

Um desses empresários que trabalha para o Mossad, Robert Maxwell, será discutido detalhadamente neste relatório. Maxwell, que era parceiro de negócios do co-fundador do Mega Group, Charles Bronfman, ajudou a bem-sucedida trama do Mossad para estabelecer um conjunto de softwares criados nos EUA e que foi vendido a governos e empresas em todo o mundo. O sucesso dessa trama deveu-se, em grande parte, ao papel de um colaborador próximo do então Presidente Ronald Reagan e de um político americano próximo de Maxwell, que mais tarde ajudou Reagan no encobrimento do escândalo do Irão-Contra.

Anos mais tarde, a filha de Maxwell (Ghislaine Maxwell) se juntaria ao “círculo interno” de Jeffrey Epstein ao mesmo tempo em que Epstein financiava um programa de software semelhante que agora estava a ser comercializado para infraestruturas electrónicas críticas nos EUA e no exterior. Essa empresa tem conexões profundas e preocupantes com os serviços secretos militares israelitas, associados ao governo Trump e ao Mega Group.

Epstein parecia ter laços com a intelligence israelitas e tinha ligações bem documentadas com políticos israelitas influentes e o Mega Group. No entanto, essas entidades não são isoladas, pois muitas conectam-se também à rede do crime organizado e aos poderosos supostos pedófilos discutidos nas anteriores partes desta série.

Talvez a melhor imagem de como as conexões entre muitos desses protagonistas frequentemente se fundam possa ser encontrada em Ronald Lauder: um membro do Mega Group, ex-membro do governo Reagan, doador de longa data do Primeiro Ministro israelita Benjamin Netanyahu e do partido Likud de Israel, bem como um amigo de longa data de Donald Trump e Roy Cohn.

 

De herdeiro de cosméticos a actor político

Um cliente e amigo de Roy Cohn, muitas vezes esquecido mas famoso, é o herdeiro bilionário da empresa de cosméticos The Estée Lauder Companies Inc., Ronald Lauder. Lauder é frequentemente descrito pela imprensa como um “líder filantropo judeu” e é o presidente do Congresso Judaico Mundial, mas as descrições dos media tendem a deixar de fora o seu passado político.

Numa declaração dada por Lauder à repórter do New York Times, Maggie Haberman, em 2018, o herdeiro observou que conhece Trump há mais de 50 anos, desde pelo menos o início dos anos 1970. De acordo com Lauder, o seu relacionamento com Trump começou este Trump era aluno da Wharton School na Universidade da Pensilvânia, que Lauder também frequentava.

Donald Trump e Ronald Lauder em 28 de Dezembro de 2016 em Palm Beach, Florida. Foto de Evan Vucci – AP

Embora a natureza exacta da amizade inicial não seja clara, é evidente que eles compartilhavam muitas das mesmas conexões, inclusive com o homem que mais tarde os contrataria como seus clientes, Roy Cohn. Cohn era particularmente próximo da mãe de Lauder, Estee Lauder (nascida Josephine Mentzer) e esta foi considerada uma das amigas mais famosas de Cohn no obituário publicado pelo New York Times.

Surgiu um pequeno vislumbre acerca do relacionamento entre Lauder e Cohn num artigo de 2016 em Politico sobre um jantar de 1981 realizado na casa de fim de semana de Cohn em Greenwich, no Connecticut. A festa contou com a presença dos pais de Ronald Lauder, Estee e Joe, além de Trump e da sua então esposa Ivana, que passaram um fim de semana numa casa a apenas três quilómetros de distância. Essa festa tinha sido realizada logo após Cohn ter ajudado Reagan a garantir a presidência e ter assim atingido o auge da sua influência política. Na festa, Cohn ofereceu brindes a Reagan e ao então Senador de New York Alfonse D’Amato, que mais tarde insistiria para que Ronald Lauder concorresse a um cargo político.

Dois anos depois, em 1983, Ronald Lauder (cuja única experiência profissional até a altura era o trabalho na empresa de cosméticos dos pais) foi nomeado para servir como vice-Secretário Adjunto da Defesa dos Estados Unidos para os Assuntos Europeus e a Nato. Logo após a sua nomeação, serviu no Comité de Homenagem num jantar oferecido pela organização fraterna judaica e fortemente pró-Israel B’nai B’rith, a organização-mãe da controversa Liga Anti-Difamação (ADL), em honra de Roy Cohn’s. honra. O influente pai de Cohn, Albert Cohn, foi o presidente de longa data da poderosa secção New England-New York da B’nai B’rith e o próprio Roy Cohn era membro do Banking and Finance Lodge da B’nai B’rith.

O jantar procurou especificamente homenagear Cohn pela defesa deste em favor de Israel e pelos seus esforços para fortalecer a economia de Israel; os presidentes honorários incluíam o magnata dos media Rupert Murdoch, Donald Trump e o então chefe do banco de investimentos Bear Stearns, Alan Greenberg, todos conectados à Jeffrey Epstein.

Durante o seu serviço como vice-Secretário Adjunto da Defesa, Lauder também foi muito activo na política israelita e já tinha-se tornado um aliado do então representante israelita nas Nações Unidas e do futuro Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Lauder continuaria a ser um dos indivíduos mais importantes na ascensão de Netanyahu ao poder, particularmente durante a derrota eleitoral de 1996, e um grande financiador do partido Likud, da Direita israelita.

Em 1986, ano em que Roy Cohn morreu, Lauder deixou o seu cargo no Pentágono e tornou-se Embaixador dos EUA na Áustria, onde o seu mandato foi moldado pelos confrontos com o então Presidente austríaco e ex-colaborador nazista Kurt Waldheim. O interesse de Lauder pela política austríaca continuou também nos últimos anos, culminando em acusações segundo as quais ele tentou manipular as eleições austríacas em 2012.

Depois de deixar o cargo de Embaixador, Lauder fundou a Fundação Ronald S. Lauder em 1987 e depois concorreu para o cargo de Presidente da Câmara de New York contra Rudy Giuliani em 1989. Lauder foi incentivado a concorrer pelo então Senador Alfonse D’Amato, que mantinha estreitos laços com Roy Cohn e com o seu parceiro de longa data, Tom Bolan, que era consultor de D’Amato. No mencionado jantar da B’nai B’rith, em 1983, em homenagem a Cohn, D’Amato foi o orador em destaque.

A provável razão desta corrida à Câmara foi que Giuliani, embora outrora aliado da “máquina de Roy Cohn”, na época era profundamente detestado pelos associados de Cohn por Giuliani ter processado o ex-parceiro de Direito de Cohn, Stanley Friedman, por extorsão, conspiração e outras acusações. Giuliani também tinha um histórico de desentendimentos com o Senador D’Amato. A campanha de Lauder, apesar de mal-sucedida, destacou-se pela rudeza e o custo, pois consumiu mais de 13 milhões de Dólares.

Alguns anos depois, no início dos anos ‘90, Lauder juntou-se a um grupo recém-formado que há muito evita o escrutínio dos media, mas que recentemente tornou-se interessante por causa das conexões com o escândalo de Jeffrey Epstein: o Mega Group.

 

Lauder, Epstein e o misterioso passaporte austríaco

Antes de falar do Mega Group, vale a pena observar um acto alegadamente realizado por Lauder enquanto Embaixador dos EUA na Áustria, algo que recentemente veio à tona em relação à prisão de Jeffrey Epstein, uma descoberta relatada pela primeira vez pelo jornalista Edward Szall. Quando a polícia descobriu um passaporte austríaco com a foto de Epstein e um nome falso após as pesquisas na sua residência em Manhattan, a origem e o objectivo do passaporte foram alvo de escrutínio por parte dos media.

De acordo com a Associated Press, os advogados da defesa de Epstein argumentaram especificamente que “um amigo deu-lhe [o passaporte] na década de 1980, depois que alguns judeus-americanos foram sugeridos de maneira informal a trazer uma identificação com um nome não-judeu quando viajavam no estrangeiro, durante um período em que os sequestros eram mais comuns.” Essa alegação parece estar relacionada a preocupações que se seguiram ao sequestro do voo 139 da Air France em 1976, quando reféns israelitas foram separados dos outros reféns com base principalmente nos passaportes em sua posse.

Dado que Epstein não conseguiu atender os requisitos convencionais para obter um passaporte austríaco (incluindo a residência de longa duração na Áustria e o facto de falar alemão), parece-lhe que a única maneira de adquirir um passaporte austríaco fosse por meios não convencionais, ou seja, com a assistência de um funcionário austríaco bem conectado ou de um diplomata estrangeiro com influência na Áustria.

Ronald Lauder (dir.) e o Chanceler austríaco Viktor Klima com estudantes da Lauder Chabad School in Viena, Austria, em 1999. Foto de Martin Gnedt – AP

Lauder, então Embaixador na Áustria do governo Reagan, estaria bem posicionado para fornecer aquele passaporte; além disso, o passaporte tinha sido emitido em 1987, quando Lauder ainda servia como Embaixador. Mais: Lauder estava bem conectado ao ex-patrono de Epstein, o ex-chefe do Bear Stearns Alan Greenberg que tinha contratado Epstein no final da década de 1970 imediatamente após este último ter sido demitido da Dalton School, e a Donald Trump, outro amigo de Lauder e Greenberg, que iniciou a sua amizade com Epstein em 1987, no mesmo ano em que o passaporte austríaco falso foi emitido. Em 1987, Epstein também iniciou o seu relacionamento com a sua principal financiadora, Leslie Wexner, que também está intimamente associada a Lauder (embora algumas fontes afirmem que Epstein e Wexner se conheceram em 1985, mas que o forte relacionamento comercial não foi estabelecido até 1987).

Embora o advogado da defesa de Epstein tenha-se recusado a revelar a identidade do “amigo” que lhe forneceu o falso passaporte austríaco, Lauder estava bem posicionado na Áustria para obtê-lo e também estava profundamente conectado ao Mega Group, co-fundado pelo patrono de Epstein, Leslie Wexner, com a qual Epstein tinha muitas conexões. Essas conexões com o governo austríaco e com o mentor de Epstein tornam Lauder a pessoa mais provável que adquiriu o documento em nome de Epstein.

Além disso, Epstein e os laços do Mega Group com o Mossad também sugerem que Lauder estivesse envolvido na compra do passaporte, tendo em vista os seus estreitos relacionamentos com o governo israelita e o facto de que Mossad tem um histórico de utilizar embaixadores no estrangeiro para obter passaportes falsos para seus agentes.

O próprio Lauder é acusado de ter laços com o Mossad, pois ele é um financiador de longa data da IDC Herzliya, uma universidade israelita intimamente associada ao Mossad e aos seus recrutadores, bem como aos serviços secretos militares israelitas. Lauder chegou a fundar a Escola de Governo, Diplomacia e Estratégia da IDC Herzliya.

Além disso, Lauder co-fundou a rede de radiodifusão da Europa Oriental CETV com Mark Palmer, ex-diplomata dos EUA, assessor de Kissinger e redactor dos discursos de Reagan. Palmer é mais conhecido por ter co-fundado o National Endowment for Democracy (NED), uma organização frequentemente descrita como um acessório da intelligence americana e cujo primeiro presidente confessou ao Washington Post que “muito do que fazemos hoje foi feito secretamente há 25 anos pela CIA.” Um relatório de 2001 no Evening Standard observou que Epstein afirmou que, durante os anos ‘80, ele trabalhou para a CIA, apesar do mesmo Epstein ter de seguida desmentido essa afirmação.

 

As origens da Máfia Mega Group

O Mega Group, um grupo secreto de bilionários aos quais Lauder pertence, foi formado em 1991 por Charles Bronfman e Leslie Wexner, o último dos quais recebeu um considerável atenção por parte dos media após a prisão do seu ex-protegido Jeffrey Epstein. Os perfis dos media acerca do grupo o classificam como “um clube pouco organizado de 20 dos empresários judeus mais ricos e influentes do País”, focado em “filantropia e judaísmo” com uma quota de adesão superior a 30.000 Dólares por ano. No entanto, vários dos seus membros mais proeminentes têm laços com o crime organizado.

Os membros do Mega Group fundaram e/ou estão intimamente associados a algumas das organizações pró-Israel mais conhecidas. Por exemplo, os membros Charles Bronfman e Michael Steinhardt formaram a Birthright Taglit com o apoio do então e actual Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu. Steinhardt, ateu, afirmou que a sua motivação na fundação do grupo era promover a sua própria crença de que a devoção e a fé no estado de Israel deveriam servir como “um substituto para a teologia [judaica]”.

Outros grupos conhecidos associados ao Mega Group incluem o Congresso Judaico Mundial (cujo ex-presidente, Edgar Bronfman, e o actual presidente, Ronald Lauder, são ambos membros do Mega Group) e a B’nai B’rith, em particular o seu spin-off conhecido como a Liga Anti-Difamação (ADL). Os irmãos Bronfman foram os principais doadores da ADL, com Edgar Bronfman que actuou como vice-presidente honorário da ADL por vários anos.

O antigo Presidente de Israel, Shimon Peres (segundo de esq.) com Edgar Bronfman em 1995. De esquerda: Laurence Tisch (Presidente da CBS), Peres, o Embaixador de Israel nos EUA Rabinowitz e Bronfman. Foto: David Karp – AP

Quando Edgar Bronfman morreu em 2013, o director de longa data da ADL, Abe Foxman, disse: “Edgar foi por muitos anos presidente da nossa Divisão da Indústria de Bebidas, presidente do nosso New York Appeal e um de nossos benfeitores mais significativos.”

Outros membros do Mega Group que podemos encontrar como doadores e grandes apoiantes da ADL são Ronald Lauder, Michael Steinhardt e o falecido Max Fisher. Como mencionado anteriormente, o pai de Roy Cohn era um líder de longa data da influente filial de New England-New York da B’nai B’rith e Cohn mais tarde foi um membro da sua loja bancária e financeira.

Além disso, os membros do Mega Group também foram actores-chave na lobby pró-Israel nos Estados Unidos. Por exemplo, Max Fisher, do Mega Group, fundou a Coalizão Nacional Judaica, agora conhecida como Coalizão Judaica Republicana, o principal grupo de lobby político neoconservador pró-Israel, conhecido pelo apoio às políticas hawkish, e cujos actuais patrocinadores principais, Sheldon Adelson e Bernard Marcus, estão entre os principais doadores de Donald Trump.

Embora o Mega Group exista oficialmente apenas desde 1991, o uso da “filantropia” para cobrir actividades de lobby ou de negócios sem escrúpulos foi iniciado décadas antes por Sam Bronfman, pai dos membros do Mega Group Edgar e Charles Bronfman. Enquanto outras elites norte-americanas como J.D. Rockefeller já tinham utilizado doações filantrópicas como forma de branquear as suas reputações, a abordagem de Bronfman à filantropia era única porque concentrava-se em doar especificamente a outros membros da sua própria etnia e religião.

Sam Bronfman, como foi detalhado na Parte I desta série, tinha profundas ligações de longa data com o crime organizado, especificamente com o sindicato do crime organizado de Meyer Lanksy. No entanto, a ambição privada de Bronfman, de acordo com aqueles próximos dele, era tornar-se um membro respeitado da alta sociedade. Como consequência, Bronfman trabalhou duro para remover as manchas que suas associações incómodas tinham deixado na sua reputação pública no Canadá e no exterior. Ele conseguiu isso ao tornar-se um líder no movimento sionista do Canadá e, no final da década de 1930, era chefe do Congresso Judaico Canadense, começando a destacar-se como filantropo nas causas judaicas.

No entanto, mesmo activismo e filantropia de Bronfman tinham indícios da reputação de mafioso que tanto tentava remover. Por exemplo, Bronfman esteve ativamente envolvido no envio ilegal de armas para paramilitares sionistas na Palestina antes de 1948, especificamente como co-fundador da Conferência Nacional de Reabilitação Judaica e Israelita que contrabandeava armas para o grupo paramilitar Haganah.

Ao mesmo tempo em que Bronfman incentivava o contrabando ilegal de armas para a Haganah, os seus associados no submundo do crime estavam a fazer o mesmo. Após a Segunda Guerra Mundial, assessores próximos de David Ben-Gurion, que mais tarde se tornaria o Primeiro Ministro de Israel e que foi fundamental na fundação do Mossad, forjaram estreiras relações com Meyer Lansky, Benjamin “Bugsy” Siegel, Mickey Cohen e outros criminosos judeus da altura. Eles usaram as suas redes clandestinas para estabelecer uma vasta rede de contrabando de armas entre os Estados Unidos e os assentamentos sionistas na Palestina, armando os grupos paramilitares Haganah e Irgun. Como observado na Parte I deste relatório, ao mesmo tempo em que esses criminosos estavam a ajudar os paramilitares sionistas, estavam a fortalecer os seus laços com a intelligence dos EUA que tinha sido formalmente estabelecida (embora secretamente) na Segunda Guerra Mundial.

Max Fisher, no centro, com Henry Kissinger (dir.) encontra os líderes das organizações judaicas em 1975. Foto: Henry Burroughs – AP

Após a fundação de Israel, Sam Bronfman trabalhou com o futuro Primeiro Ministro israelita Shimon Peres para negociar a venda de armamentos canadianos pela metade do preço para Israel, a compra de armas de barganha foi paga inteiramente por um jantar de angariação de fundos oferecido por Bronfman e sua esposa. Muitos anos depois, Peres iria apresentar outro futuro Primeiro Ministro de Israel, Ehud Barak, a Jeffrey Epstein.

O resto da marcha da família Bronfman no “caminho da respeitabilidade” foi realizada pelos filhos de Bronfman, que casaram-se com famílias aristocráticas como os europeus Rothschilds e a “realeza” de Wall Street dos Lehmans e Loebs.

A nova respeitabilidade dos Bronfmans não significava que a sua associação com o império criminoso liderado por Lansky se dissolvera. De facto, membros proeminentes da dinastia foram criticados nas décadas de 1960 e 1970 por causa da estreita associação com Willie “Obie” Obront, uma figura importante no crime organizado canadiano, a quem o professor canadense Stephen Schneider chamou de Meyer Lansky do Canadá.

No entanto, Edgar e Charles Bronfman dificilmente foram os únicos membros do Mega Group com laços profundos e antigos com o sindicato nacional do crime, liderado por Lansky. De facto, um dos membros proeminentes do grupo, Michael Steinhardt, gestor de fundos de hedge, falou sobre as suas ligações familiares com Lansky na autobiografia No Bull: My Life in and out the Markets, onde observou que o seu pai, Sol “Red McGee” Steinhardt, era a uma das jóias escolhidas por Lansky e um dos principais actores do submundo do crime de New York. Sol Steinhardt também foi o primeiro cliente do seu filho em Wall Street e o ajudou a iniciar a sua carreira na Finança.

Os laços entre o Mega Group e o sindicato do crime não param por aí. Outro membro proeminente do Mega Group vinculado a essa mesma rede criminosa é Max Fisher, que foi descrito como mentor de Wexner e que também teria trabalhado com a Purple Gang (a “Gangue Roxa”) de Detroit durante a Proibição e além disso. A Purple Gang fazia parte da rede que contrabandeava o licor Bronfman do Canadá para os Estados Unidos durante a Proibição, e um dos seus fundadores, Abe Bernstein, era um associado próximo de Meyer Lansky e Moe Dalitz. Fisher foi um conselheiro-chave de vários Presidentes dos EUA, começando com Dwight D. Eisenhower, foi um conselheiro tal como foi Henry Kissinger.

Além de com Fisher, Ronald Lauder, membro do Mega Group, estava ligado a Roy Cohn e Tom Bolan, os quais estavam intimamente associados a essa mesma rede de crimes liderada por Lansky (ver Parte I e Parte II) e que regularmente representavam as principais figuras da máfia no tribunal. Além disso, outro membro do Mega Group, o realizador Steven Spielberg, é um conhecido protegido de Lew Wasserman, o magnata dos media e apoiante de longa data de Ronald Reagan e da sua carreira política, discutida na Parte II desta série. .

Uma conexão surpresa com Cohn envolve o membro do Mega Group e ex-presidente da empresa americana de armas General Dynamics, Lester Crown, cujo cunhado é David Schine, confidente (e suposto amante de Cohn) durante as audiências de McCarthy, cujo relacionamento com Cohn ajudou a promover a queda do movimento conhecido como Macarthismo.

Outro membro do Mega Group digno de nota é Laurence Tisch, dono da CBS News por vários anos e fundador da Loews Corporation. Tisch é notável por causa do seu trabalho no Escritório dos Serviços Estratégicos (OSS), o precursor da CIA, onde Donald Barr, que contratou Epstein na Dalton School, também serviu e que estabeleceu laços com o império criminoso de Lansky durante a Segunda Guerra Mundial.

 

As mansões de Wexner e o assassinato de Shapiro

Leslie “Les” Wexner, o outro cofundador do Mega Group, também tem vínculos com o crime organizado. Os laços de Wexner com Jeffrey Epstein foram objecto de escrutínio após a prisão deste último, pois Wexner era o único cliente reconhecido publicamente do suspeito fundo de hedge de Epstein, a fonte de grande parte dessa riqueza, e o anterior proprietário da masão de 56 miolhões de Euros ocupada por Epstein em Manhattan, local que Wexner transferiu para Epstein de forma gratuita.

Antes de Epstein receber a casa, Wexner parece ter usado a residência para alguns propósitos não convencionais, como observado num artigo do New York Times de 1996 sobre a residência, que incluía “um banheiro remanescente dos filmes de James Bond: escondido debaixo de uma escada forrado com chumbo para fornecer abrigo contra ataques e fornecido de televisão com circuito fechado e telefone, ambos escondidos num armário abaixo da pia”. O artigo do Times não especula quanto ao objectivo desse equipamento, apesar da alusão ao famosos super-espião James Bond sugerir que pode ter sido usado para bisbilhotar convidados ou conduzir vigilância eletrônica.

O artigo de 1996 do Times também observava que, depois de Wexner ter comprado a residência por 13.2 milhões de Dólares em 1989, gastou milhões com decoração e mobilia, incluindo a adição de equipamentos eletrônicos no banheiro “estilo James Bond”, para aparentemente nunca morar no local. O Times, que entrevistou Epstein para a peça, citou Wexner ao dizer que “Les nunca passou mais de dois meses lá”. Epstein disse ao Times que identifica-se como o “protegido” e “um dos consultores financeiros” de Wexner e que a casa, naquele altura, já lhe pertencia.

Naquele mesmo ano, Epstein encomendou obras de arte para a mansão de Wexner no Ohio. Um recente artigo do Times observou que:

No verão de 1996, Maria Farmer estava a trabalhar num projecto artístico para Epstein na mansão de Wexner no Ohio. Enquanto ela estava lá, Epstein a agrediu sexualmente, de acordo com uma declaração que Farmer apresentou no início deste ano no tribunal federal de Manhattan. Ela disse que fugiu da sala e chamou a polícia, mas que a equipe de segurança de Wexner recusou deixá-la sair durante 12 horas.

O relato da Farmer sugere fortemente que, dado o comportamento da equipe de segurança pessoal na mansão após o suposto ataque de Epstein, Wexner estava bem ciente do comportamento predatório de Epstein em relação a mulheres jovens. Isso é agravado pelas alegações de Alan Dershowitz, um ex-advogado e amigo de Epstein que também foi acusado de estuprar meninas menores de idade, segndo o qual Wexner também foi acusado de estuprar meninas menores de idade exploradas por Epstein em pelo menos sete ocasiões.

A presença do equipamento eletrônico no banheiro da casa, outras curiosidades relacionadas à casa de New York e os vínculos entre Epstein e Wexner sugerem que haja mais para Wexner, o qual desenvolveu com sucesso a imagem pública de respeitável empresário e filantropo, tal como outros membros proeminentes do Mega Group.

No entanto, fragmentos dos segredos privados de Wexner ocasionalmente surgiram, apenas para serem submetidos a rápidos encobrimentos de “difamação” contra o poderoso e bem-conectado bilionário “filantropo”.

Em 1985, Arthur Shapiro, advogado de Columbus (Ohio), foi assassinado em plena luz do dia à queima-roupa, no que foi amplamente definido como “assassinato no estilo da máfia”. O homicídio ainda permanece sem solução, provavelmente devido ao facto de que o então chefe da polícia de Columbus, James Jackson, ordenou a destruição dos principais documentos da investigação do seu departamento sobre o assassinato.

A ordem de destruição dos documentos por Jackson veio à luz anos depois, em 1996, quando ele estava sob investigação por corrupção. De acordo com o Columbus Dispatch, Jackson justificou a destruição de um relatório “viável e valioso” porque achava que “estava tão cheio de especulações selvagens sobre líderes empresariais importantes que era potencialmente difamatório”. A natureza dessa “especulação selvagem” era que “empresários milionários em Columbus e Youngstown estavam ligados ao ‘assassinato no estilo da máfia’”.

Leslie Wexner com a esposa Abigail. Foto: Jay LaPrete – AP

Embora os esforços de Jackson visassem manter esse relatório “difamatório” longe da vista do público, o documento foi obtido por Bob Fitrakis, advogado, jornalista e director executivo do Instituto Columbus de Jornalismo Contemporâneo, depois que lhe foi “acidentalmente” enviado uma cópia do relatório em 1998 como parte de uma solicitação de registros públicos.

O relatório, intitulado Shapiro Homicide Investigation: Analysis and Hypothesis, nomeia Leslie Wexner como ligado “a associados que são considerados figuras do crime organizado” e também lista os nomes do empresário Jack Kessler, ex-presidente do Conselho Municipal de Columbus, o associado de Wexner, Jerry Hammond, e o ex-membro do Conselho Municipal de Columbus, Les Wright, como envolvidos no assassinato de Shapiro.

O relatório também observa que o escritório de advocacia de Arthur Shapiro (Schwartz, Shapiro, Kelm & Warren) representava a empresa de Wexner, The Limited, e afirma que “antes da sua morte, Arthur Shapiro gerria essa conta [a de The Limited] para o escritório de advocacia”; também observou que, no momento da sua morte, Shapiro “era alvo de uma investigação da Receita Federal, porque não havia apresentado declarações de imposto de renda há sete anos antes e havia investido em alguns “escudos fiscais” questionáveis. Também afirmou que a morte impediu que Shapiro desse depoimento planeado numa audiência do júri sobre esses “escudos fiscais” questionáeveis.

Quanto aos supostos vínculos de Wexner com o crime organizado, o relatório concentra-se na estreita relação comercial entre The Limited e Francis Walsh, cuja empresa de camiões “tinha feito mais de 90% dos negócios da Limited no momento do assassinato de Shapiro”. De acordo com o relatório, Walsh foi nomeado em 1988 como “co-conspirador” do chefe da família criminosa Genovese, Anthony “Fat Tony” Salerno, cujo advogado de longa data era Roy Cohn; e o relatório do assassinato de Shapiro afirmou que Walsh “ainda era considerado um associado da família criminosa Genovese/LaRocca, e que Walsh ainda fornecia transporte de camião por conta da The Limited”.

Notavelmente, a família criminosa Genovese há muito faz parte do sindicato nacional do crime, pois o seu ex-chefe, Charles “Lucky” Luciano, co-criou a organização criminosa com o seu amigo Meyer Lansky. Após a prisão de Luciano e a subsequente deportação dos Estados Unidos, Lansky assumiu as operações do sindicato nos EUA e a sua associação com os sucessores de Luciano continuou até a morte de Lansky em 1983.

 

O Mistério “Mega” e o Mossad

Em maio de 1997, o Washington Post divulgou uma história explosiva, há muito esquecida, com base num telefonema interceptado entre um funcionário do Mossad nos EUA e o seu superior em Tel Aviv, telefonemas no qual se discutiu os esforços do Mossad para obter um documento secreto do governo dos EUA. Segundo o Post, o funcionário do Mossad afirmou durante o telefonema que “o Embaixador de Israel Eliahu Ben Elissar perguntou se ele podesse obter uma cópia da carta dada ao [líder palestino Yasser] Arafat pelo [então Secretário de Estado Warren] Christopher em 16 de Janeiro, um dia após o acordo de Hebron ter sido assinado por Arafat e pelo Primeiro Ministro israelita Binyamin Netanyahu. ”

O artigo Post continuou:

De acordo com uma fonte que viu uma cópia da transcrição da conversa da NSA, o oficial de intelligence, falando em hebraico, disse: ‘O Embaixador quer que eu vá ao Mega para obter uma cópia desta carta’. A fonte disse que o supervisor em Tel Aviv rejeitou o pedido, dizendo: ‘Não é para isso que usamos o Mega’.

A comunicação interceptada originou uma investigação que procurava identificar um código individual chamado “Mega” que, segundo o Post, “pode ​​ser alguém no governo dos EUA que forneceu informações aos israelitas no passado”, uma preocupação que posteriormente gerou uma investigação do FBI com resultados infrutíferos. Mais tarde, o Mossad afirmou que “Mega” era apenas uma palavra de código para indicar a CIA dos EUA, mas o FBI e a NSA não estavam convencidos com essa alegação e acreditavam que fosse um alto funcionário do governo dos EUA envolvido no trabalho com Jonathan Pollard, o ex-analista de intelligence naval dos EUA, mais tarde condenado por espionagem por conta do Mossad.

Quase um ano após o escândalo de espionagem “Mega”, o Wall Street Journal foi o primeiro media a relatar a existência de uma organização de bilionários pouco conhecida que foi “informalmente” chamada Mega Group, fundada anos antes de 1991. O relatório não mencionava o escândalo de espionagem que tinha espalhado preocupações com a espionagem israelita nos EUA apenas um ano antes. No entanto, o termo “informal” do grupo e as conexões dos seus membros com o Mossad e com políticos israelitas de alto escalão, incluindo Primeiros Ministros, levantam a possibilidade de que “Mega” não seja um indivíduo, como acreditavam o FBI e a NSA, mas um grupo.

Benjamin Netanyahu e a sua esposa com Ronald Lauder em 1997. Foto: Reuters

Em 1997, quando o escândalo de espionagem “Mega” estourou, Netanyahu tinha-se tornado Primeiro Ministro de Israel após uma vitória perturbada, uma vitória que foi amplamente creditada a um apoiante de Netanyahu em particular, Ronald Lauder. Além de ser um grande doador, Lauder contratou Arthur Finklestein para a campanha de Netanyahu em 1996, cujas estratégias foram creditadas pela vitória de Netanyahu. Netanyahu estava perto o suficiente de Lauder para alistar pessoalmente Lauder e George Nader para servir como enviados de paz na Síria.

Nader, que estava conectado à campanha de Trump de 2016 e também ao fundador da Blackwater, Erik Prince, foi recentemente atingido por acusações federais de tráfico sexual de crianças, logo após Jeffrey Epstein ter sido preso sob uma acusação semelhante. Na época em que Nader foi escolhido para trabalhar com Lauder em nome de Netanyahu, já tinha sido preso por posse de grandes quantidades de material pornográfico infantil em duas ocasiões distintas, primeiro em 1984 e depois em 1990.

Essa forte conexão entre Netanyahu e Lauder durante o escândalo de espionagem “Mega” de 1997 é importante, considerando que o Mossad responde directamente ao Primeiro Ministro israelita.

Outra possível conexão entre o Mega Group e o Mossad deve-se aos laços do Mega Group com a rede criminosa de Meyer Lansky. Conforme detalhado na Parte I, Lansky tinha estabelecido profundas ligações com a intelligence dos EUA após a Segunda Guerra Mundial e também estava conectado ao Mossad através do espião Tibor Rosenbaum, cujo banco era frequentemente utilziado por Lansky para lavar dinheiro. Além disso, Lansky colaborou em pelo menos uma ocasião com o famoso superespião do Mossad, Rafi Eitan, que ajudou a adquirir equipamentos electrônicos sensíveis, possuídos apenas pela CIA, mas cobiçados pelos serviços secretos israelitas. Eitan é mais conhecido nos EUA por ser o manipulador de Jonathan Pollard por conta do Mossad.

Notavelmente, Eitan foi a principal fonte das alegações (bastante duvidosas) de que a palavra-código “Mega” usada pelos funcionários do Mossad em 1997 refere-se à CIA e não a uma fonte potencial no governo dos EUA ligada às actividades de espionagem de Pollard.

Dado que a rede de crime ligada ao Mega Group tinha vínculos com a intelligence dos EUA e de Israel, a palavra de código “Mega” poderia plausivelmente ser referida a esse grupo secreto de bilionários. Mais evidências de apoio a essa teoria vêm do facto de que membros proeminentes do Mega Group eram parceiros comerciais de agentes do Mossad, incluindo o magnata dos media Robert Maxwell e o trader de commodities Marc Rich.

 

Os misteriosos Maxwells

A família Maxwell tornou-se uma fonte de interesse renovado dos media após a prisão de Jeffrey Epstein, já que Ghislaine Maxwell, há muito descrita pelso órgãos de comunicação como pertencente à alta soceidade britânica, foi citada publicamente como a namorada de longa data de Epstein e as vítimas de Epstein, assim como ex-esposas dos amigos de Epstein, afirmaram que ela era a “chula” (cafetã no Brasil) de Epstein e que contratava meninas menores de idade para as suas operações de chantagem sexual. Ghislaine Maxwell também teria se envolvido no estupro das meninas que comprou para Epstein e as usou para produzir pornografia infantil.

Ghislaine era a filha mais nova e favorita do magnata dos media Robert Maxwell; este, nascido Jan Ludvick Hoch, tinha-se juntado ao Exército Britânico na Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, de acordo com os autores John Loftus e Mark Aarons, influenciou bastante a decisão do governo da Tchecoslováquia de armar paramilitares sionistas durante a guerra de 1948, o que resultou na criação de Israel como Estado, e o próprio Maxwell também esteva envolvido no contrabando de peças de aeronaves para Tel Avive.

Nessa época, Maxwell foi abordado pela equipa dos serviços secretos britânicos, o MI6, foi-lhe oferecida uma posição que Maxwell recusou. O MI6 classificou-o como “sionista leal apenas a Israel” e fez dele uma pessoa de interesse. Mais tarde, tornou-se um agente do Mossad, de acordo com vários livros, incluindo Robert Maxwell: Israel’s Superspy , de Gordon Thomas e Martin Dillon. Além disso, The Samson Option: Israel’s Nuclear Arsenal and American Foreign Policy de Seymour Hersh alega conexões entre Maxwell e a intelligence israelita.

Segundo Victor Ostrovsky, um ex-agente do Mossad:

O Mossad estava a financiar muitas das suas operações na Europa com dinheiro roubado do fundo de pensão dos jornais de Maxwell. Eles puseram as mãos nos fundos quase assim que Maxwell comprou o Mirror Newspaper Group com dinheiro emprestado pelo Mossad.

Em troca dos seus serviços, o Mossad ajudou Maxwell a satisfazer o seu apetite sexual durante as suas visitas a Israel, fornecendo-lhe prostitutas, “um serviço mantido para fins de chantagem”. Mais tarde, foi revelado que o hotel em que Maxwell residia em Israel estava cheio de microfones e câmeras, permitindo que o Mossad adquirisse “uma pequena biblioteca de vídeos de Maxwell em posições sexualmente comprometedoras”. Como na CIA, o uso de chantagem do Mossad contra amigos e inimigos é bem documentado e conhecido por ser extenso.

Maxwell também era um colaborador próximo e amigo de Rafi Eitan, super-espião israelita, que, como mencionado anteriormente, era o manipulador de Jonathan Pollard e que já tinha trabalhado directamente com Meyer Lansky. Eitan soube de um novo software revolucionário que estava a ser usado pelo governo dos EUA, conhecido como Promis, através de Earl Brian, um assessor de Ronald Reagan que sucessivamente adquiriu a agência de notícias United Press International (UPI). Promis é frequentemente considerado o precursor do software Prism usado hoje pelas agências de espionagem e foi desenvolvido por William Hamilton, que alugou o software ao governo dos EUA por meio da sua empresa, Inslaw, em 1982.

Ariel Sharon (dir.) com Robert Maxwell em Jerusalém, 20 de Fevereiro de 1990. Foto: AP

De acordo com o autor e ex-jornalista de investigação da BBC Gordon Thomas, Brian estava zangado com o facto do Departamento de Justiça dos EUA ter usado com sucesso o Promis para perseguir as actividades do crime organizado e a lavagem de dinheiro, e Eitan sentiu que o programa poderia ajudar Israel. Na época, Eitan era o director da agora extinta agência israelita de inteligência militar Lekem, que reunia informações científicas e técnicas no exterior de fontes públicas e secretas, especialmente em relação ao programa de armas nucleares de Israel.

Foi traçado um plano para instalar uma backdoor no software e comercializar o Promis em todo o mundo, fornecendo ao Mossad informações valiosas sobre as operações dos seus inimigos e de aliados também, além de fornecer a Eitan e Brian grandes quantidades de dinheiro. De acordo com o testemunho do ex-oficial do Mossad, Ari Ben-Menashe, Brian forneceu uma cópia do Promis para a inteligência militar de Israel, que entrou em contacto com um programador israelita-norte-americano que mora na Califórnia e que implementou a backdoor no software. Mais tarde foi dito que a CIA instalou a sua própria backdoor no software, mas não se sabe se o fizeram com uma versão do software já alterado pelo Mossad e qual atitude foi adoptada em relação à versão dos serviçso secretos israelitas.

Depois da backdoor ter sido inserida, o problema passou a ser a venda da versão alterada do software para governos e empresas privadas em todo o mundo, principalmente em áreas de interesse. Brian primeiro tentou comprar as empresas Inslaw e Promis e depois usou a sua empresa Inslaw para vender a versão alterada.

Sem sucesso, Brian dirigiu-se ao seu íntimo amigo, o então Procurador Geral Ed Meese, cujo Departamento de Justiça recusou abruptamente fazer os pagamentos à Inslaw estipulados pelo contrato, usando essencialmente o software gratuitamente, o que a Inslaw alegava ser um roubo. Alguns especularam que o papel de Meese nessa decisão foi moldado, não apenas pela sua amizade com Brian, mas pelo facto de a sua esposa era uma grande investidora nos empreendimentos comerciais de Brian. Meese, mais tarde, se tornaria consultor de Donald Trump quando este foi eleito Presidente.

A Inslaw foi forçada a declarar falência como resultado das ações de Meese e processou o Departamento de Justiça. Mais tarde, o tribunal concluiu que o Departamento liderado por Meese “pegou, converteu e roubou” o software através de “truques, fraudes e enganos”.

Uma vez arrumada a Inslaw, Brian conseguiu vender o software em todo o mundo. Mais tarde, Eitan recrutou Robert Maxwell para tornar-se outro vendedor do Promis, o que ele fez muito bem, chegando a vender o software para a intelligence soviética e conspirando com o Senador republicano John Tower, para que o software fosse adoptado pelo laboratório do governo dos EUA em Los Alamos. Dezenas de Países usaram o software nos seus sistemas de computador mais cuidadosamente protegidos, sem saber que o Mossad agora tinha acesso a tudo o que o Promis tocava.

Enquanto a antiga tecnica utilizada pelo Mossad para colectar informações baseava-se nas mesmas tátcicas usadas pelos serviços secretos do EUA e de outros Países, a ampla adopção do software Promis, principalmente através das acções de Earl Brian e Robert Maxwell, deu ao Mossad uma maneira de reunir não apenas um grande número de dados de contrainteligência, mas também chantagear outras agências e figuras poderosas.

De facto, a backdoor do Promis e a adopção por parte dos serviços secretos de todo o mundo essencialmente proporcionaram ao Mossad acesso a tesouros de chantagem que CIA e FBI tinham adquirido entre amigos e inimigos aolongode mais de meio século. Estranhamente, nos últimos anos, o FBI tentou ocultar as informações relacionadas com a conexão entre Robert Maxwell e o escândalo do Promis.

Segundo o jornalista Robert Fisk, Maxwell também esteve envolvido no sequestro por parte do Mossad de Vanunu Mordechai, o israelita que falou publicamente do nuclear israelita. Mordechai tentou fornecer aos media informações sobre a extensão do programa de armas nucleares de Israel, o que acabou sendo publicado pelo Sunday Times de Londres. No entanto, Mordechai também entrou em contacto com o Daily Mirror, sendo o Mirror um negócio de propriedade de Maxwell e cujo editor estrangeiro era um associado próximo de Maxwell e um alegado activo do Mossad, Nicholas Davies. O jornalista Seymour Hersh alegou que Davies também estava envolvido em acordos acerca de armas israelitas.

Ghislaine Maxwell (dir.) segue a chegada em Jerusalém do corpo do pai em 8 de Novembro de 1991. Foto: Heribert Proepper – AP

De acordo com Fisk, foi Maxwell quem contactou a Embaixada de Israel em Londres e contou sobre as actividades de Mordechai. Isso levou ao aprisionamento de Mordechai por uma agente do Mossad que o seduziu como parte de uma operação de “armadilha de mel” que levou ao sequestro e, posteriormente, à prisão em Israel. Mordechai cumpriu uma sentença de 18 anos, 12 dos quais em confinamento solitário.

Depois, há a questão da morte de Maxwell, amplamente citada pelos grandes media e pela media independente como suspeita, um potencial homicídio. Segundo os autores Gordon Thomas e Martin Dillon, Maxwell selou o seu próprio destino ao tentar ameaçar os principais oficiais do Mossad com a exposição de certas operações se eles não o tivessem ajudado a resgatar o seu império mediático das dívidas e das dificuldades financeiras. Muitos dos credores de Maxwell, que ficaram cada vez mais descontentes com o magnata dos media, eram israelitas e vários deles esctavam alegadamente ligados ao Mossad.

Thomas e Dillon argumentam ena biografia da vida de Maxwell que o Mossad sentiu que Maxwell se tinha tornado mais um passivo do que um activo e o matou no seu iate três meses depois dele ter exigido a ajuda. No outro extremo, estão as teorias que sugerem que Maxwell cometeu suicídio por causa das dificuldades financeiras que o seu império enfrentou.

Alguns consideraram o funeral de Maxwell, realizado em Israel, como a confirmação “oficial” do País do serviço de Maxwell ao Mossad, pois foi comparado a um funeral de Estado e contou com nada menos que seis entre ex-chefes e chefes activos da intelligence israelita. Durante o funeral em Jerusalém, o Primeiro Ministro israelita Yitzhak Shamir elogiou-o e declarou: “Ele fez mais por Israel do que se pode dizer hoje”. Outros elogios foram entregue pelos futuros Primeiros Ministros Ehud Olmert (então Ministro da Saúde) e Shimon Peres, com este último que também elogiou os “serviços” de Maxwell em nome de Israel.

 

Nadar no mesmo pântano

Enquanto estava a construir o seu império comercial, e até tornar-se membro do Parlamento inglês, Maxwell também esteva a trabalhar por conta dos serviços secretos israelitas, pois várias das empresas israelitas nas quais ele investiu tornaram-se fachadas do Mossad. Além disso, ao tornar-se um magnata dos media, Maxwell desenvolveu uma amarga rivalidade com Rupert Murdoch, um amigo íntimo de Roy Cohn e uma figura influente nos media americanos e britânicos.

Maxwell também fez parceria com os irmãos Bronfman, Edgar e Charles, figuras-chave do Grupo Mega. Em 1989, Maxwell e Charles Bronfman uniram-se para fazer uma oferta ao diário Jerusalem Post e o Post descreveu os dois homens como “dois dos principais financiadores judeus do mundo” e o seu interesse no empreendimento como “desenvolvimento do Jerusalem Post e expansão da sua influência no mundo judeu”. Um ano antes, Maxwell e Bronfman tinham-se tornado os principais accionistas da empresa farmacêutica israelita Teva.

Maxwell também trabalhou com o irmão de Charles Bronfman, Edgar, no final dos anos ‘80, para convencer a União Soviética a permitir que os judeus soviéticos imigrassem para Israel. Os esforços de Edgar a esse respeito receberam mais atenção, pois foi um momento decisivo da sua presidência de décadas no Congresso Judaico Mundial, da qual Ronald Lauder é atualmente presidente. No entanto, Maxwell também fez um uso considerável dos seus contatos no governo soviético nesse esforço.

Maxwell também entrou nos círculos da rede descritos anteriormente nas partes I e II desta série. Um importante exemplo disso é a festa de Maio de 1989 que Maxwell organizou no seu iate, o Lady Ghislaine, assim baptizado em honra da sua filha mais nova e futura “namorada” de Epstein. Os participantes da festa incluíram o protegido Donald Roy, protegido por Roy Cohn, e o seu parceiro de longa data Tom Bolan. Também estava presente um amigo íntimo de Nancy Reagan, o jornalista Mike Wallace, assim como o agente literário Mort Janklow que representou Ronald Reagan, e dois dos amigos mais próximos de Cohn: os jornalistas William Safire e Barbara Walters.

O CEO daquela que em breve se tornaria a Time Warner, Steve Ross, também foi convidado para o evento exclusivo. A presença de Ross é notável, pois ele construiu o seu império comercial em grande parte por meio da sua associação com os senhores do crime de New York, Manny Kimmel e Abner “Longy” Zwillman. Zwillman era amigo íntimo de Meyer Lansky, pai de Michael Steinhardt, e de Sam Bronfman, pai de Edgar e Charles Bronfman.

Outro participante no iate de Maxwell foi o ex-Secretário da Marinha e ex-funcionário de Henry Kissinger, Jon Lehman, que associou-se ao controverso think tank neoconservador, Project for a New American Century. Antes de ser Secretário da Marinha, Lehman tinha sido presidente da Abington Corporation, que contratou o arquiteto Richard Perle para gerir o portfólio dos traficantes de armas israelitas Shlomo Zabludowicz e do filho Chaim, que pagavam a Ablington 10.000 Dólares por mês. Um escândalo surgiu quando esses pagamentos continuaram depois que Lehman e Perle ingressaram no Departamento de Defesa de Reagan e enquanto Perle estava a trabalhar para convencer o Pentágono a comprar armas de empresas ligadas aos Zabludowicz. Perle fazia parte da equipa de transição de Reagan juntamente com o amigo de longa data e sócio de Roy Cohn, Tom Bolan (outro hóspede do iate de Maxwell).

Além de Lehman, outro ex-funcionário de Kissinger, Thomas Pickering estava presente na festa no iate de Maxwell. Pickering desempenhou um papel menor no caso Irão-Contra e, na época da festa nos iate, era Embaixador dos EUA em Israel. O senador John Tower (R-TX), que supostamente conspirou com Maxwell na questão do software Promis com backdoor do Mossad para os laboratórios de Los Alamos, também estava presente. Tower morreu poucos meses antes de Maxwell num acidente de avião suspeito.

Ghislaine Maxwell também esteve neste evento bastante notável. Após a misteriosa morte do seu pai e o suposto assassinato no mesmo iate que leva o nome dela em 1991, rapidamente fez as malas e mudou-se para New York. Lá, logo conheceu Jeffrey Epstein e, alguns anos depois, desenvolveu estreitas ligações com a família Clinton, algo que será discutido no próximo capítulo desta série.

 

Jeffrey Epstein e o novo Promis

Depois que foi revelado que Epstein havia evitado da sentença mais rigorosa em 2008 devido aos seus conhecimentos no âmbito da intelligence”, foram os laços do pai de Ghislaine Maxwell com o Mossad que levaram muitos a especular que a operação de chantagem sexual de Epstein estava a compartilhar informações incriminatórias com o Mossad. O ex-produtor executivo da CBS e actual jornalista do canal Narativ, Zev Shalev, afirmou desde então que conseguiu confirmar de forma independentemente que Epstein estava ligado directamente ao Mossad.

Epstein era amigo de longa data do ex Primeiro Ministro israelita Ehud Barak, que tem laços antigos e profundos com a comunidade da intelligence de Israel. A sua amizade de décadas tem sido a fonte de recentes ataques políticos contra Barak, que concorreu nas eleições de Israel em Setembro de 2019 contra o actual Primeiro Ministro Netanyahu.

Barak também está perto do patrono e chefe de Epstein e membro do Grupo Mega, Leslie Wexner, cuja Fundação Wexner deu a Barak 2 milhões de Dólares em 2004 para um programa de pesquisa ainda não especificado. De acordo com Barak, foi apresentado a Epstein pelo ex-Primeiro Ministro israelita Shimon Peres, que elogiou Robert Maxwell no funeral deste e que teve laços de décadas com a família Bronfman, desde o início dos anos 50. Peres também foi um frequente participante dos programas financiados por Leslie Wexner em Israel e trabalhou em estreita colaboração com o Mossad durante décadas.

Donald e Melania Trump com Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell em Palm Beach, Florida, em 2000. Foto: Davidoff Studios

Em 2015, alguns anos após a libertação de Epstein da prisão após a sua condenação por solicitar sexo a um menor (condenação de 2008), Barak formou uma empresa com Epstein com o objectivo principal de investir numa empresa israelita então conhecida como Reporty. Essa empresa, agora chamada Carbyne, vende o software para os serviços de emergência 911 call, para os prestadores dos serviços de emergência e também está disponível para os consumidores sob forma de uma app que fornece serviços de emergência com acesso à câmera e ao local do chamante e que também identifica a identidade de qualquer chamante através de bases de dados governamentais ligadas. Em particular, esta app (disponível gratuitamente na loja Google Play), obtem a autorização para:

  • ler os contatos presentes no smartphone
  • ler o ID do dispositivo e as informações de chamadas
  • ler o status e a identidade do telefone
  • ver as conexões Wi-Fi
  • conectar e desconectar do Wi-Fi
  • ler o conteúdo armazenado
  • modifica ou exclui o conteúdo armazenado
  • acede a fotografias, multimedia e arquivos
  • efectuar directamente telefonemas
  • tirar fotos e vídeos
  • obter a localização precisa do dispositivo
  • gravar audio
  • receber dados da Internet
  • emparilhar dispositivos Bluetooth
  • alterar as configurações de áudio
  • controlar a vibração
  • impedir que o dispositivo entre em stand by

O software foi especificamente comercializado pela própria empresa israelita como uma solução, por exemplo, para tiroteios em massa nos Estados Unidos e já está a ser usada por pelo menos dois condados dos EUA.

Os media israelitas informaram que Epstein e Barak estavam entre os maiores investidores da empresa. Barak investiu milhões e foi recentemente revelado pelo diário Haaretz que uma quantidade significativa dos investimentos totais de Barak em Carbyne foi financiada por Epstein, tornando-o um “parceiro de facto” na empresa. Barak agora é o presidente de Carbyne.

A equipa executiva da empresa é formadas por ex-membros de diferentes ramos dos serviços secretos israelitas, incluindo a unidade de intelligence militar de elite, a Unidade 8200, que é frequentemente comparada ao equivalente de Israel à Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA. O actual CEO da Carbyne, Amir Elichai, serviu na Unidade 8200 e convocou o ex-comandante da Unidade 8200, Pinchas Buchris, para servir como director da empresa. Além de Elichai, outro co-fundador da Carbyne, Lital Leshem, também serviu na Unidade 8200 e depois trabalhou para a empresa de espionagem israelita Black Cube. Leshem agora trabalha para uma subsidiária da empresa de Erik Prince, Frontier Services Group.

A empresa também inclui vários vínculos com o governo Trump, como por exemplo o fundador da Palantir e aliado de Trump Peter Thiel, um investidor da Carbyne. Além disso, o conselho de Carbyne inclui o ex-funcionário da Palantir Trae Stephens, membro da equipa de transição de Trump, além do ex-Secretário da Segurança Interna Michael Chertoff. O doador de Trump e o desenvolvedor imobiliário de New York Eliot Tawill também faz parte do conselho da Carbyne, ao lado de Ehud Barak e Pinchas Buchris.

O portal Narativ, que escreveu em primeira mão acerca da Carbyne após a prisão de Epstein, observou que o governo chinês usa um aplicativo para smartphone muito semelhante ao Carbyne como parte do seu sistema de vigilância em massa, mesmo que o objectivo original do aplicativo fosse melhorar as notificações de emergência. Segundo Narativ, o equivalente chinês de Carbyne “monitora todos os aspectos da vida de utilizador, incluindo conversas pessoais, uso de energia e rastreamento dos movimento de um utilizador”.

Dada a história de Robert Maxwell (pai da “namorada” de longa data de Epstein e madame de aquisições de garotas, Ghislaine Maxwell) na promoção da venda do software Promis, que também foi comercializado como uma ferramenta para melhorar a eficácia do governo mas que, na verdade, era uma ferramenta de vigilância em massa para o benefício da intelligence israelita, a sobreposição entre Carbyne e Promis é preocupante e merece uma investigação mais aprofundada.

Também é importante notar que as startups de tecnologia conectadas à Unidade 8200 estão a ser amplamente integradas nas empresas dos EUA e desenvolveram laços estreitos com o complexo industrial militar norteamericano, com a Carbyne que é apenas um exemplo dessa tendência.

Como relatado pela MintPress, as figuras ligadas à Unidade 8200, como o Team8 que contratou recentemente o ex-director da Agência de Segurança Nacional (NSA) Mike Rogers como consultor sênior, ganharam posições proeminentes na Silicon Valley, incluindo o ex-CEO do Google, Eric Schmidt, como investidores. Muitas empresas de tecnologia americanas, da Intel àa Google e à Microsoft, uniram-se a várias startups conectadas à Unidade 8200 nos últimos anos e deslocaram muitos empregos e operações importantes para Israel com o apoio de doadores republicanos como Paul Singer. Muitas dessas mesmas empresas, principalmente Google e Microsoft, também são contratadas pelo governo dos EUA.

 

Para quem Epstein realmente estava a trabalhar?

Embora Jeffrey Epstein pareça ter tido laços com o Mossad, esta série revelou que as redes às quais Epstein estava conectado não eram exclusivas da agencia de espionagem israelita, pois muitos dos indivíduos próximos de Epstein (Lesie Wexner, por exemplo) faziam parte de um grupo de oligarcas ligados a EUA e Israel. Como foi discutido na Parte I desta série, o compartilhamento da “intelligence” (ou seja, a chantagem) entre agências de espionagem e a mesma rede do crime organizado conectada ao Grupo Mega remonta há décadas. Com Leslie Wexner, do Grupo Mega, como principal patrocinador de Epstein, em oposição a um financiador com vínculos directos com o Mossad, é lícito perguntar qual tipo de relação seja mais provável no caso das operações de chantagem sexual que Epstein executava.

Dado que as agências de intelligence, nos EUA e em outros lugares, frequentemente realizam operações secretas em benefício de oligarcas e de grandes corporações, em oposição ao “interesse pela segurança nacional”, os vínculos de Epstein com o Grupo Mega sugerem que esse grupo possui um status e uma influência únicos nos dois Países, nos governos dos EUA e de Israel, bem como em outros Países (por exemplo, a Rússia) que não foram tratados neste relatório. Isso deve-se ao seu papel nas doações para políticos importantes nos dois Países, bem como ao facto de que vários membros possuem empresas ou instituições financeiras poderosas nos dois Países. De facto, muitos membros do Grupo Mega têm laços profundos com a classe política de Israel, incluindo Netanyahu e Ehud Barak, bem como com figuras já falecidas como Shimon Peres e com membros da classe política americana.

Por fim, a imagem pintada pelas evidências não está directamente ligada a uma única comunidade de serviços secretos, mas a uma rede que liga os principais membros do Grupo Mega, políticos e funcionários tanto nos EUA quanto em Israel, e uma rede de crime organizado com negócios e profundas conexões de espionagem em ambas as nações.

Embora esta série se tenha concentrado até agora nos laços desta rede com os principais afiliados do Partido Republicano, a próxima e última parte revelará os laços desenvolvidos entre essa rede e os Clintons. Como será revelado, apesar da disposição dos Clintons em abraçar negócios ilegais durante o período das suas carreiras políticas, o relacionamento principalmente amigável com essa rede permitia-lhes usar o poder da chantagem sexual para obter certas decisões políticas favoráveis ​​aos seus interesses pessoais mas não à reputação política ou às agendas dos Clintons.

 

Ipse dixit.

Fonte: Government by Blackmail: Jeffrey Epstein, Trump’s Mentor and the Dark Secrets of the Reagan Era 

O artigo original contém todas as ligações para as fontes utilizadas durante a investigação (frases ou palavras em amarelo, são dezenas: é só clicar para acedere à fonte).

3 Replies to “Pedofilia e Poder: das origens aos nossos dias – Parte III”

  1. Ufa: coisa mais comprida que esperança de pobre…e já esqueci o começo. Faltava aqui um mapa de relações, tipo aquelas que se faz para procurar culpados num emaranhado de interesses. O Max vai dizer que de posse do artigo qualquer um pode desenhar o mapa que quiser. No meu caso a preguiça não deixa.
    Mas vamos ao valor do trabalho de divulgação.É muito grande e, desde já convido aos colegas comentaristas/leitores a divulgar esses posts o máximo possível. Para combater a pedofilia? Não, para as pessoas perderem a inocência de uma vez por todas. Toda fortuna em bens e poder é ilegal, ilegítima, podre do início ao fim. Os não inocentes os tem a todos como inimigos viscerais, com bases racionais, não emocionais. E ponto.
    Um comentarista de II surpreende-se com a constatação de tantos judeus envolvidos em m.. Ma parece compreensível. Por um lado, essas simpáticas pessoas tem razões religiosas e morais para lidar sem preocupações com carne não judia (são todos gentios, não merecem nada). Por outro lado, sempre foram mestres da usura, das chantagens e canalhices mais ousadas. Os que se tornaram poderosos, por certo sobem ao pódio da fortuna aos montes, reproduzindo-se entre si e tornando-se imbatíveis no reino da canalhice e hipocrisia
    Outro comentarista de II, faz pouco, perguntava-se se os americanos do norte seriam capazes de investir contra os próprios compatriotas por ocasião do 11 de setembro deles. Meu amigo querido: se me permite o conselho, e por favor não leve a mal, tire tudo que estiver dentro da sua cabeça com os filmes de Hollywood e leia 10 vezes esses últimos posts do Max.

  2. É… ficou grande. O tamanho não foi o maior problema e sim os diversos entrelaçamentos.

    Max, faltou um PowerPoint.

    Brincadeiras a parte, só temos que enaltecer o trabalho do Max.

    O sexo é uma das forças mais intensas da natureza humana. O motivo, deixo para os estudiosos da área explicarem. Particularmente acho que seu poder sobre o homem, provem do principio da reprodução, que visa a sobrevivência da espécie. Como administrar essa energia, fica a critério de cada um.

    Ao longo da existência, acostumamos com o fato do sexo virar moeda através da prostituição. Quando desceu ao nível da bizarrice, virou fonte de poder.

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