Crise da Democracia e abstencionismo: causas e soluções

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No dia de Domingo, em Portugal foi dia de eleições legislativas. Os resultados dos vários partidos aqui não interessam, melhor focar-se num outro dado: o abstencionismo. 45.5% dos eleitores não foi ás urnas. Pensamos um pouco acerca deste número: 45.5% significa quase metade dos eleitores. Na verdade, qualquer próximo governo, de qualquer cor, será legitimado apenas por pouco mais de metade do eleitorado. Quase metade deste eleitorado simplesmente não quis saber da classe política, dos programas dela, das suas promessas, das soluções oferecidas.

E é importante realçar outro aspecto. Nunca antes em Portugal uma campanha eleitoral tinha visto a mesma importância dos partidos assim chamados “menores”, como o PAN (o Partido dos Animais ou como Iniciativa Liberal), alguns dos quais conseguiram eleger os seus deputados. Pelo que, o eleitorado tinha até mais opções de escolha. Mesmo assim, quase metade dos eleitores não quis saber e os convites dos políticos para ir ás urnas foram ineficazes. Aliás, há cada vez mais portugueses que optam por não escolher como querem ser representados no parlamento, um total, aquele dos abstencionistas, que não pára de crescer desde 1979 e que neste Domingo atingiu o valor mais elevado de sempre. E aqui nem são contabilizados os votos em branco, que representam outra forma de protesto e que neste Domingo somaram outro 2.54 pontos percentuais.

No anterior podcast Os cinco erros da Democracia vimos quais os principais problemas deste sistema político segundo um diário económico, o italiano Il Sole 24 Ore. No seguinte Democracia Directa: um sistema possível? vimos o ataque do Huffington Post contra aquela que bem pode ser encarada como uma solução, a Democracia Directa, que existe apenas num País, a Suíça, mas que funciona decididamente bem há mais de 170 anos.

A ideia era aquela de continuar hoje tentando ampliar o discurso. Só que depois encontrei uma entrevista que obriga a repensar o roteiro.

Ontem, no Jornal das 8 da emissora portuguesa TVI, houve uma intervenção de João Miguel Tavares, cronista, comentador político, escritor e ex-jornalista. João Miguel Tavares, entrevistado por Pedro Pinto, falou das recentes eleições e fez algumas considerações bastante perturbadoras.

(no podcast o trecho da entrevista)

Segundo ele, os abstencionistas erram: quem não vota é também quem não paga as taxas. Votar é um direito e um dever.

Portanto, eleitores subdesenvolvidos, que preferem votar nos cafés e nas redes sociais, e eleitores ladrões também: quem não vota não paga impostos. É uma interpretação verdadeiramente básica, algo que em nada contribui para tentar encontrar a raiz do problema. Também porque parte dum axioma errado: “votar é um direito e um dever”. Não, não é.

Votar é um direito de quem acredita na Democracia e tenciona, com o seu voto, participar na vida democrática dum País. Mas quem não consegue rever-se na actual classe política? Quem até não partilha a visão democrática? Somos todos obrigados a idolatrar a Democracia? Por exemplo, pessoalmente já disse que tenho cada vez mais dúvidas acerca da estrutura democrática: mas, mesmo assim, sou obrigado a votar?

A afirmação segundo a qual “só temos direitos” é falsa. Na verdade, ninguém tem o direito de não viver num regime que não seja democrático. Somos obrigados a viver numa Democracia. Nenhum País democrático prevê a possibilidade do cidadão “sair”, por assim dizer, deste sistema político. O que é perfeitamente normal: nenhuma monarquia prevê a possibilidade do cidadão não obedecer ao rei, nenhuma ditadura prevê a possibilidade de não obedecer ao ditador. Neste aspecto a Democracia não é uma excepção: obriga o cidadão a ser democrático sem prever uma qualquer possível alternativa.

Simplifiquemos: se eu não gostar da Democracia, não é correcto que goze dos direitos democráticos. Pelo que, deveria haver a possibilidade duma alternativa, por exemplo transferir-me para uma zona do País gerida de forma diferente ou até transferir-me num monte para viver em cima duma árvore, recusando qualquer contacto com o Estado democrático. Ficar no Estado democrático, pelo contrário, significaria ser obrigado a participar nas eleições porque se eu aceitar os benefícios da Democracia, tenho também que contribuir para o bom funcionamento dela. Neste caso o voto é um direito e um dever também.

Mas na altura em que não existe uma alternativa, na altura em que sou de facto obrigado a viver numa Democracia, então o voto não pode ser uma obrigação porque, se assim for, este torna-se apenas um voto obtido com a força, a força da ditadura democrática.

A sucessiva intervenção de João Miguel Tavares é iluminante:

(no podcast o trecho da entrevista)

Deveria fazer-se como no Brasil: quem não vota é penalizado.

Eis o paraíso democrático: o Brasil. Aí, quem não vota é punido pelo Estado democrático. Um Estado que não está interessado na opinião do cidadão, que não quer saber se o cidadão estiver ou não interessado na Democracia. A única coisa que interessa a este Estado “democrático” é que o cidadão participe no processo eleitoral. Paradoxalmente (mas nem tanto), é a mesma atitude que podemos encontrar nas ditaduras, onde o voto é coercitivo: bom exemplo disso eram os Países do bloco soviético, onde a afluência às urnas ficava sempre perto do 100%.

Podemos argumentar que naqueles Países, e nas modernas ditaduras, os eleitores na realidade não tinham a possibilidade de escolher os seus representantes. Mas na Democracia podemos? Ou será que o cidadão pode escolher apenas entre um leque extremamente limitado de opções? Não será esta também uma das razões pelas quais o abstencionismo está a crescer? Não será uma forma de rejeição, de saturação, até de enjoo provocado por uma classe política, democraticamente eleita, incapaz de propor uma qualquer visão alternativa, algo que seja mais apelativo do que um sistema “democrático” feito de corrupção, de leis aplicadas de forma discriminada, de privilégios limitados a particulares sectores da sociedade, de conivência entre políticos e criminalidade?

E temos a obrigação de reparar num curioso detalhe: estas corrupções, leis discriminadas, privilégios de casta, nepotismos… tudo isso nasce e prospera também no seio da Democracia. Não apenas na Democracia, mas também nela.

E isso significa que a Democracia está longe de ser um sistema perfeito. O que não admira: a Democracia é feita de homens. Mas mesmo por esta razão, a Democracia deve ter a coragem de dar um passo atrás, de pôr-se em causa: uma Democracia totalitária, como aquela esperada por João Miguel Tavares, uma Democracia que obriga ao voto, que castiga quem ousa pensar de forma diferente, é apenas um regime destinado ao fracasso, o destino de todos os regimes. Se a Democracia quer sobreviver a si mesma, não pode ignorar os abstencionistas e, mais no geral, as vozes contrárias. Pelo contrário: deve partir daí, analisando as causas e tentado ir ao encontro dos desejos do cidadão, não obrigando o cidadão a participar em algo no qual não acredita. O abstencionismo é um sintoma: qual médico pode pretender tratar dum paciente ao ignorar os sintomas da doença?

No actual sistema “democrático”, onde apenas a Democracia é permitida e onde as forças políticas em jogo são apenas aquelas “democráticas”, o voto não pode ser uma obrigação. E a abstenção é uma forma legítima de protesto. Repito: sem uma possível alternativa, não pode haver o “dever” do voto.

Há quem diga: “Mas se hoje podes falar desta forma é só porque estás numa Democracia”. O que é verdade. Mas também é verdade que eu não rezo para que volte uma ditadura: a questão é que há vida além da Democracia, desta Democracia. Achar que a nossa sociedade tenha atingido o seu máximo grau de desenvolvimento porque democrática, significa negar a possibilidade de que possa haver futuros desenvolvimentos. O que é um erro crasso. E é exactamente este o maior erro da actual Democracia: assumir-se como algo “definitivo” e “eterno”.

Eu, por exemplo, neste Domingo não fui votar. Uma forma de protesto? Não, é que sou cidadão italiano, não sou português, só isso…

E voltemos a falar de Democracia. Embora não seja simples porque raciocinar sobre a Democracia significa antes de tudo admitir um paradoxo. Por um lado, no século XXI, a Democracia parece ser a única forma política cuja legitimidade ninguém ou quase ousa questionar: pode ser interpretada de maneiras diferentes, mas, de qualquer forma, a Democracia é percebida como um valor político pelos defensores das mais diversas visões ideológicas.

Por outro lado, porém, deve-se reconhecer que a Democracia está a passar por uma fase bastante crítica, marcada por desconfiança, desconforto, com muitos cientistas políticos que observaram este fenómeno.

Portanto, parece necessário perguntar quais são as causas, ou as razões que determinam esse estado de insatisfação generalizada, quais são os pontos críticos. Sem repetir o que já foi dito nos podcast anteriores, é preciso reconhecer que o panorama é extremamente variado e complexo.

O que afirmo neste artigo é que a desconfiança dos cidadãos perante a actual Democracia é bem fundamentada. Estamos diante de um processo de regressão oligárquica da Democracia, que pode ser observado sob diferentes pontos de vista. Se, por exemplo, observarmos a cadeia eleitor  – partido – parlamento – governo, fica imediatamente claro como as respostas democráticas conseguiram desgastar-se nas últimas décadas. Com o fim dos partidos ideológicos, que estavam fortemente estruturados e enraizados no território, as possibilidades dos eleitores em participar da vida interna das organizações partidárias foram reduzidas, com uma dinâmica de liderança que transformou os partidos em organismos conduzidos de maneira mais ou menos autocrática pelas chefias. Também não há necessidade de lembrar quanto estes processos de lideranças fortes tenham sido reforçados (ou até parcialmente causados) pela cobertura dos órgãos de comunicação e da relativa espetacularização televisiva.

Mas a questão nesta altura mais relevante é que até os executivos, os governos, os Primeiros-Ministros hoje têm margens de manobra reduzidas em favor das instituições supranacionais, particularmente daquelas económicas. E seria um erro considerar este apenas como um problema europeu: a economia cada vez mais arroga-se o direito de poder ditar directamente a agenda dos governos.

E aqui chegamos ao fenómeno que sempre existiu durante a História, mas nunca de forma tão evidente e radical: a total subordinação das decisões políticas e a selecção de funcionários do governo aos ditames provenientes das tecnocracías supranacionais que operam de acordo com o gosto dos mercados financeiros. Jürgen Habermas, o filósofo e sociólogo alemão que dedicou a sua vida ao estudo da Democracia, afirma:

Isso nunca aconteceu. Os governos eleitos pelo povo foram substituídos sem hesitação por pessoas directamente porta-vozes dos mercados: pensemos em Mario Monti ou em Loukas Papademos. Enquanto a política está sujeita aos imperativos do mercado, assumindo como certo o aumento da desigualdade social, os mecanismos sistémicos fogem progressivamente das estratégias jurídicas estabelecidas pela Democracia.

Portanto, é claro que os processos de expropriação do poder democrático dos cidadãos estão a destacar-se e sem contestação. Como podemos ficar surpreendidos, portanto, se os cidadãos acreditam cada vez menos no exercício da soberania popular através das práticas da Democracia representativa?

Essas dinâmicas também podem ser observadas de outro ponto de vista. A função da política democrática no século XX foi em grande parte aquela de representar e articular a pluralidade conflituosa dos interesses sociais, sobretudo na dialéctica entre os pólos da Direita e da Esquerda. Mas esta dialéctica, que era uma das condições para o funcionamento efectivo da Democracia do século passado, hoje perdeu muito da sua eficácia e do seu significado. O esquema já não funciona como antes. Por exemplo, foi quebrado o relacionamento de representação que ligava grandes sectores da classe operária aos partidos de Esquerda.

Isso aconteceu por várias razões, mas sobretudo, na minha opinião, porque a maioria das forças políticas (incluindo aquela de Esquerda) acabou por aceitar, embora de maneiras diferentes e com muitas distinções, a agenda dominante da globalização neoliberal. Hoje ninguém questiona o “livre mercado”. No Brasil, por exemplo, os governos de Lula e de Dilma Rousseff nunca questionaram a participação do País no grande jogo do “livre mercado”, mesmo sabendo que este era, ainda é e cada vez mais será dominado pelas grandes corporações. Após a queda do Muro de Berlim, qualquer grande projecto alternativo apareceu de repente como impensável, portanto, houve uma convergência nos resultados da agenda neoliberal: com as palavras de ordem quais “redução dos gastos públicos”, “privatização”, “redução do bem-estar social”, etc.

A consequência disso foi que os amplos sectores sociais vítimas das políticas neoliberais ficaram essencialmente não representados; e isso contribuiu amplamente para espalhar a desconfiança na política e, ainda mais, o ressentimento e hostilidade em relação à Democracia. É assim que nasce o rótulo de “populista” para todos aqueles partidos que tentam encontrar uma resposta perante as perguntas insatisfeitas dos eleitores. O “populismo”, tal como o abstencionismo, é um sinal de alarme: algo na Democracia está a falhar. Mas a Democracia parece incapaz de interpretar estes sinais, limita-se a denegri-los e a rotula-los como “antidemocráticos” sem ir além disso.

E há mais uma questão, pois a legitimidade dos sistemas democráticos da Europa Ocidental no período pós-Guerra Fria estava baseada também em dois pilares igualmente importantes: a liberdade pluralista dos cidadãos e o constante crescimento do bem-estar económico, um factor absolutamente fundamental de legitimidade e coesão social. mas tudo isso já não existe. Aliás, como já vimos, um País que democrático de certeza não é, como a China, consegue resultados económicos que um Ocidente em boa parte ainda refém duma crise económica nem consegue sonhar-se. O cidadão trabalha, paga os seus impostos, até vota mas pede algo em troca: um Estado que funcione, que invista no futuro, que proteja quem mais necessita, que assegure um direito básico como são aqueles da saúde e da educação. Se o Estado não conseguir isso, por qual razão o cidadão tem que continuar a legitima-lo?

Mas até aqui vimos os sintomas. Tentamos ver quais as possíveis soluções.

Se hoje queremos dar um novo impulso à Democracia, devemos colocar o problema de uma nova agenda democrática e colocar os principais problemas na mesa.

No âmbito da Democracia representativa (da qual eu não gosto), acredito que o ponto básico é começar a pensar na necessidade de reconstruir os elos de representatividade e responsabilidade democrática. Como? Reactivando a reflexão sobre quais devem ser os objectivos democráticos.

Quais devem ser estes objectivos? Em primeiro lugar, como reza o artigo nº 3 da Constituição Italiana, “remover os obstáculos de natureza económica e social” que limitam a liberdade e a igualdade dos cidadãos. É aqui que temos um enorme problema hoje porque estas liberdades e igualdades não existem. As ferramentas para influenciar e condicionar os processos políticos são distribuídas de maneira absolutamente desigual, e o poder económico condiciona em mil formas o poder político, por exemplo através dos órgãos de informação. Esta é a grande contradição que intensificou-se nas últimas décadas, que viu o crescimento das desigualdades e a concentração dos impérios da riqueza e da comunicação.

A simples e crua realidade é que o actual sistema económico impede o correcto funcionamento de qualquer tipo de Democracia representativa. Se o desejo for a realização duma Democracia representativo, a única solução passa por uma mudança do actual sistema económico. Por exemplo, entregando mais força económica ao Estado. Isso assusta? Faz lembrar os regimes comunistas? Nada disso: há uma mentira na questão do “livre mercado” e a mentira é que o mercado está aberto a todos mas não aos cidadãos reunidos num Estado democrático. O Estado tem que ser um participante no âmbito do mercado, porque o Estado somos nós, os cidadãos.

Há assuntos que não podem ficar nas mãos dos privados: a saúde, a educação ou a segurança não são “activos”, não são negociáveis, não podem acabar num leilão na Bolsa dos Títulos. Os cidadãos que pagam os impostos têm o direito de ver satisfeitas estas exigências básicas.

Na Europa: eliminação do Euro qual moeda privada. O Euro não tem que desaparecer mas este Euro como moeda privada é já por si uma entidade absolutamente anti-democrática. Ou formos capazes de transformar o Euro numa moeda de todos os europeus, ou então melhor voltar para as antigas moedas nacionais. Estas últimas seriam um passo muito arriscado numa era globalizada como a nossa, mas seriam mais livre e “democráticas” do que um Euro como actual, mero instrumento de enriquecimento da Grande Finança internacional.

Quanto ao resto: retirando do discurso saúde, educação e segurança (que devem ser geridos unicamente pelos cidadãos e não pelos privados), o Estado tem que poder participar no livre mercado com as mesmas regras que valem para as empresas privadas. Portanto: nada de monopólios, sejam públicos sejam privados.

Qualquer “revolução” da Democracia representativa que não contemple uma ré-leitura do actual sistema económico é destinada ao fracasso. Este é o único ponto de partida possível porque a economia como é entendida hoje estrangula a Democracia. Então falar do abstencionismo, dos pequenos partidos, da Direita ou da Esquerda não passa dum mero exercício oratório. A História demonstra claramente que a Democracia pode funcionar só quando acompanhada por ambientes económicos e sociais dinâmicos. São estes ambientes que geram continuamente desigualdades políticas e é apenas aí que podem ser encontradas novas ideias.

Depois, claro está, qualquer Democracia deve sempre estar ciente da sua imperfeição, uma consciência que obriga a Democracia a permanece em tensão: uma Democracia que vê si mesma com algo perfeito, imutável e máxima aspiração dos seres humanos não passa dum regime que, como vimos, tem um futuro bastante limitado.  o poder de poucos que marca com sua presença tantos aspectos de nossa sociedade. Democracia é um conceito dinâmico. O objectivo da Democracia é o crescimento social e cultural de todos os indivíduos; mas este é exactamente o contrário do objectivo do nosso actual sistema económico. Sem entender isso, então é inútil escandalizar-se perante o abstencionismo ou invocar a política brasileira como exemplo universal.

 

Ipse dixit.

Fontes:

Música:

Edge Of Night by Ron Gelinas Chillout Lounge, https://soundcloud.com/atmospheric-music-portal, music promoted by https://www.free-stock-music.com, Creative Commons Attribution 3.0 Unported License, https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.en_US

5 Replies to “Crise da Democracia e abstencionismo: causas e soluções”

  1. Nestas eleições não votei, sou um abstencionista pelas razões apontadas no post, e que subscrevo. Aliás já sou abstencionista há muitos anos e os motivos permanecem válidos. Parece que aos olhos da política sou um abstencionista activo.
    George Carlin, no seu sketch sobre políticos, assumia esta posição de abstencionista dizendo que não servia para nada, pois o país tinha sido vendido, comprado e pago há muito tempo.
    A Grécia, com a vitória do Syriza, demonstrou a falsa importância do ‘poder’ político. Independentemente de quem estiver em funções, o jogo está de tal forma condicionado que o resultado final será invariavelmente o mesmo.
    Sou da opinião que o poder político deve ser esvaziado de algum/bastante poder para que os cidadãos possam finalmente experimentar o verdadeiro significado de democracia.
    Quanto aos comentários do Miguel Sousa Tavares, eles são o costume, básicos e impulsivos. Ou é maneira dele, ou então não pode ser.

  2. “…aquela que bem pode ser encarada como uma solução, a Democracia Directa, que existe apenas num País, a Suíça, mas que funciona decididamente bem há mais de 170 anos. …”

    “…Qualquer “revolução” da Democracia representativa que não contemple uma ré-leitura do actual sistema económico é destinada ao fracasso…”

    “…é inútil escandalizar-se perante o abstencionismo ou invocar a política brasileira como exemplo universal. … ”

    Perante as afirmações retiradas do texto pela mesma ordem de apresentação, continuo com uma dúvida : Se a Suiça não vive de relógios nem de chocolates, vive de lavagem de dinheiro internacional das piores patifarias e carnificinas que se cometem no planeta. ( ponto) e funciona como transcrito do texto ” decididamente bem” ( ponto)

    Então a re-leitura necessária do actual sistema económico não engloba o Suiça ? Está tudo bem lá ?

    E perante essa dúvida pergunto :

    A Democracia directa da Suiça que funciona financiada pela lavagem de dinheiro é um exemplo para o mundo ?
    Ou consegue-se demonstrar que a Democracia Directa da Suiça funcionava se o pais fosse financiado pela agricultura ou pelo turismo ? ( ou qualquer outra modalidade económica moralmente aceitável )

    P.S. Nada tenho contra a Democracia directa , mas o exemplo do desenvolvimento económico da Suiça dá-me vómitos, obviamente uma fraqueza minha…

  3. O aumento da abstenção nestas Eleições Legislativas de Outubro de 2016, não aconteceu por os cidadãos não se identificarem com a Democracia e a sua forma de governo, mas sim pelo facto de não se reverem nos programas eleitorais apresentados pelos partidos políticos.

    A questão de fundo que se coloca, é que não existe alternativa, os cidadãos sabem perfeitamente que o Partido Social Democrata (PSD) ou o Centro Democrático Social (CDS), por exemplo, são partidos declaradamente neoliberais, que trabalham para servir os interesses do poder financeiro e clerical, mas também sabem que os chamados partidos de «esquerda» trabalham igualmente para servir esses mesmos interesses (do poder financeiro/clerical); não são democratas nem tão pouco praticam e defendem os direitos laborais, o progresso económico/social, a cultura, a promoção da ciência, educação, saúde. São claramente, impostores.

    Em Portugal, fala-se muito e de forma mal-intencionada que o problema está na Constituição, o que é mentira, o principal problema não é a Constituição nem as Leis do Estado Direito, mas sim o Estado e os seus diversos organismos/departamentos terem sido capturados à 44 anos pelo poder financeiro e clerical (conforme se sucedeu durante a ditadura do Estado Novo), a única diferença é que agora essa oligarquia e os seus lacaios estão filiados directa ou inderectamente nos partidos políticos desde o PSD, CDS, PS, PCP/PEV, BE, e demais forças políticas minoritárias com acento parlamentar ou não.

    Quanto aos comentários do sr. Tavares, não são nada de novo e estão ao nível do seu fraco intelecto e dos valores bafientos nos quais foi educado, sendo o próprio um anti-democrata e um oportunista, assim como o foram Francisco Tavares e Sofia Tavares:

    «…E a Sophia de Mello Breyner Andersen de Sousa Tavares (o seu a seu dono) ela tem estes nomes todos. Tareco não usa (oh, diabo!) porque é só do marido.
    Sousa Tavares falta. Sousa Tavares rola, rola, rola, rola… Sousa Tavares nunca está onde está a oposição! No verão quente de 75, onde estava Tareco? Em Madrid, a beber copos, fazendo várias “revoluções” na capital espanhola… Alguém o viu em manifestações contra o Gonçalvismo? Quando o camarada Vasco estava no Poder, alguém viu o Tareco do Norte, onde o “possível” explodir da guerra civil estava latente em cada esquina?
    Mas onde estava o Tareco, logo após a invasão da Índia em 1961? Na rua, à frente duma manifestação, chorando a perda de Goa, Damão e Diu. A manifestação era a favor das teses do governo: manter as colónias. Sousa Tavares está sempre onde está o governo…» – Vera Lagoa in «A Cambada»

  4. Lutou-se pelo direito de votar quando se acreditava que isso fazia alguma diferença. Hoje a maioria no mundo democrático global percebe que não faz diferença alguma porque os políticos são vendidos ao poder econômico neo liberal. Maravilha, afinal o povo pensa, ora, ora. Então a abstenção cresce cada vez mais em todo lugar, inclusive no Brasil com o direito obrigatório de votar, o que facilmente sabotado. Votamos nulo muitos de nós. Ou “justificamos o voto” expressão absurda para informar a região eleitoral onde nos encontramos nas datas de votação que não é nosso colégio eleitoral, ou seja, onde o título eleitoral foi expedido. Quanto mais o movimento abstencionista cresce mais declaramos que não estamos de acordo com o funcionamento do estado democrático vigente.
    Mas as vezes esse sentimento de rejeição manifesta-se de forma distorcida. Então elegemos aqueles que nos parecem arredios ao sistema. É o espaço aberto para os neo fascistas apoderarem-se do poder. E isso não acontece somente entre os povos atrasados como nós. Mais uma vez a completa confusão das ideias, fomentadas febrilmente por agências especializadas como mídia e agência de inteligência voltadas para a dominação completa do planeta conseguem tirar vantagem de uma perspectiva popular alvissareira.
    Será que a experiência é capaz de ensinar os distraídos? No nosso caso acho duvidoso porque Jânio, Collor e Bolsonaro já somam 3 experiências em pouco tempo. Jânio caiu fora depois de uma tentativa frustada de ser chamado de volta. Collor caiu fora depois de desastres sobre desastres políticos e econômicos. Bolsonaro é o retrato do que existe de pior em matéria de desastre, mas está aprendendo como se segurar no poder. Mais uma vez a situação pende em favor dos falsos destruídores do sistema. Tem solução ? Acho que tem, mas fora dos cânones da democracia e em favor da revisão total da economia, da soberania, e de um Estado não dependente, a nível nacional ao mesmo tempo que o aprendizado longo e local da anarquia, coletividades anárquicas em escala humana.
    Dirão todos que é uma ideia absurda, em que uma coisa contradiz a outra!? Nâo foi testada, ninguém sabe se é, nem eu. Apenas considero que valeria a pena investir nela.

  5. Eu não votei porque vote-se- em quem se votar, os donos do sistema, que ninguém vê, continuam os mesmos.
    Vota-se numa máscara diferente, mas a face por detrás, seja lá de quem for, continua a mesma.
    E se precisa de máscara, já de si é mau sinal.

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