Morte: ida e volta

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O que aconteceria na Terra se todos os seres humanos desaparecessem repentina e misteriosamente amanhã de manhã? Não é necessário imaginar asteróides, pandemias ou guerras nucleares. Não importa a causa, é um exercício mental justo para transcorrer alguns minutos num clima de alegria.

Pensem nisso. Num amanhecer aparentemente comum, sem o sinal de qualquer apocalipse, o ruído da humanidade é silenciado, todas as nossas máquinas ficam desligadas, automóveis e comboios parados, aviões em terra, navios à deriva. Não há mais ninguém nos postos de comando. Fábricas abandonadas, lojas vazias, ruas desertas, jardins de infância e escolas tristemente silenciosas. E depois as casas abandonadas, os computadores desligados, os telemóveis silenciosos: o fim da grande conversa planetária, nada mais de gatinhos sorridentes que circulam no Facebook. E os centros comerciais finalmente desertos e ainda mais desolados de quando estavam cheios de pessoas. Olhem, quase quase começo a gostar…

Agora vamos perguntar: o que restaria de nós, da gloriosa arquitectura humana, dos arranha-céus, das catedrais e dos outros restos, como as substâncias plásticas e os resíduos tóxicos? Mais cedo ou mais tarde, não sobrará nada: nada ficará das obras daqueles que eram considerados génios eternos. Nenhum artista para interpretá-los, nenhum cientista para estudá-los.

Sem manutenção, implodirão rapidamente todas as fábricas, as barragens e as centrais nucleares.

Na verdade, mundo depois (e sem) de nós é um lugar literário já frequentado. No entanto, já há algum tempo também tornou-se um modelo científico. Muitos pesquisadores aventuraram-se na tarefa de calcular qual seria o destino do planeta na nossa ausência, depois de uma semana, um mês, um ano, depois de séculos ou até milénios. E isso com resultados surpreendentes e reveladores.

Acontece que, em breve, a vegetação voltaria a para recuperar os espaços dos quais foi retirada. Em poucos meses e anos, o mar iria corroer os edifícios e as estruturas humanas, engolindo a camada de cimento com a qual arruinámos as costas. A enorme biomassa de animais nas quintas seria exterminada pela fome e pelos predadores. No prazo de alguns séculos, praticamente todas as nossas obras que hoje proporcionam orgulho ficariam em ruínas, boas para visitas de arqueólogos alienígenas. Os objectos de cerâmica, as estátuas de bronze, as peças de ferro fundido e as grandes catedrais de pedra ou as pirâmides resistiriam um pouco mais.

Se deixarmos passar milhares de anos, ainda será possível encontraremos plásticos e microplásticos espalhados por toda a parte, até mesmo infiltrandos nas profundezas do oceano. As bactérias que podem digerir esses polímeros ainda não existem e será preciso muito tempo antes que consigam fazê-lo.

Deixamos passar uns 2 milhões de anos ou pouco mais e eis que mesmo os mais habilidosos arqueólogos alienígenas terão dificuldade em encontrar vestígios fósseis da humanidade nos sedimentos. Com a ajuda de geólogos, no entanto, ainda será visível a assinatura que deixamos nas camadas rochosas correspondentes ao período de 1945-1963: uma precipitação radioactiva global, desde o primeiro teste no Novo México até as duas bombas atómicas lançadas no Japão, somadas a todos os dispositivos nucleares produzidos e irresponsavelmente feitos brilhar na superfície e no subsolo (estima-se que tenham sido mais de 500). Alguns isótopos radioactivos antes da decadência permanecerão em circulação, como uma nossa sinistra impressão digital, por centenas de milhares de anos, outros até durante 15 milhões de anos. Este será o sinal geológico que provavelmente será utilizado para fixar o ponto de partida do Antropoceno, o um termo usado para descrever o período mais recente na história do Planeta Terra, quando as actividades humanas começaram a ter um impacto significativo no funcionamento dos ecossistemas. E deixar como cartão de saudações alguns isótopos radioactivos não é uma despedida tão gloriosa.

Vamos exagerar? E vamos com um salto de 50 milhões de anos depois da nossa partida silenciosa. Nesse futuro muito distante, qualquer observador com os instrumentos apontados para o terceiro planeta do sistema solar não será capaz de ver qualquer sinal residual da passagem humana; nada restará da história do mamífero bípede que o habitou ao longo de duzentos milénios. No entanto, em outras partes do universo, não será assim. Para encontrar um vestígio humanos será preciso olhar para longe do nosso planeta.

As pequenas sondas espaciais que lançámos décadas atrás, com as Pioneer e as Voyager, ainda estarão em viagem fora do sistema solar. Mas no espaço enviámos muito mais do que sondas: qualquer sinal rádio e vídeo atirado para a atmosfera abandona o nosso planeta e viaja pelo espaço. Lentamente, todos os sinais afastam-se do planeta, como uma bolha que continua a crescer, uma bolha nascida quando Guglielmo Marconi enviou o primeiro sinal rádio no dia 8 de Dezembro de 1895. Nos próximos 50 milhões de anos, alguém algures será capaz de interceptar as nossas transmissões a partir duma galáxia tão distante. E imaginem a satisfação dele em poder assistir às toneladas de publicidade, aos concursos televisivos, às conversas insignificantes.

Obviamente, este exercício de imaginar a Terra depois de nós pode ter um gosto um bocado cínico, mas esta seria uma interpretação errada: a verdade é que a Terra já esteve sem nós durante a maior parte da sua história; e, se formos tão estúpidos a ponto de nos extinguir, pode muito bem continuar sem nós. Aliás, talvez consiga continuar melhor. Somos uma espécie jovem e não devemos ser tomados pela presunção de dominar ou controlar o sistema terrestre. Entre outras coisas, sem o fim de outros seres que existiram antes de nós, especialmente dos grandes répteis que dominavam o planeta até 66 milhões de anos atrás, hoje não estaríamos aqui para conversar e escrever sobre isso. Resumindo: a ideia duma terra sem seres humanos não deveria ser uma ocasião triste ou de indiferença, mas deveria representar a ocasião para tomar consciência da oportunidade única que tivemos de estar aqui, no final de um intrincado caminho (talvez) evolutivo. As coisas poderiam ter sido diferentes: os dinossauros poderiam ainda vaguear pelos continentes e, acreditem, não seria simples convencer um Tiranossauro a deixar livre o seu espaço para construir uma bomba de gasolina. A história da Terra ensina que não somos indispensáveis, que temos sorte em estar aqui e que é nossa responsabilidade cuidar não apenas de nós mas também duma coisa que não é nossa, que foi simplesmente emprestada: a Terra.

O Antropoceno mostra que por algumas dezenas de milénios conseguimos mudar os ecossistemas ao nosso redor para torná-los mais adequados às nossas intenções expansivas. Uma tendência que foi acelerando nos últimos par de séculos. Fizemos isso como  fogo, com a agricultura, depois com a nossa evolução cultural e tecnológica. Mas depois? O que será a seguir? Temos as ferramentas para intervir neste processo, sem histerias climatéricas.

Primeiro, devemos entender que somos uma espécie imperfeita, dotada dum assinalável poder tecnológico. Salvar o planeta também significa salvar a nossa espécie e o futuro dos nossos descendentes. Nisso os nossos interesses e os interesses da Natureza coincidem; precisamos duma ecologia cientificamente informada. A Natureza não é boa nem má, simplesmente faz o seu trabalho e continuará a fazê-lo mesmo sem a nossa presença. Anunciar catástrofes climatéricas, pontualmente desmentidas pelos factos, não ajuda, porque criam habito e paramos de acreditar. Será necessário recorrer a outras fontes de motivação. A escolha de evitar uma Terra sem seres humanos depende apenas de nós, das nossas capacidades culturais, políticas e morais colectivas. Que, para sermos honestos, nesta altura não parecem grande coisa. Mas isso exigirá uma mudança no estilo de vida e uma transformação dos nossos padrões de desenvolvimento e de consumo em favor duma economia não sem dióxido de carbono mas sim sustentável, com justiça ambiental e social.

Caso contrário? Fiquem descansados: caso contrário, nada de irreparável. Haverá qualquer outra espécie que tomará o nosso lugar. As baratas, por exemplo, são particularmente resistentes: são nojentas? Sim, são, mas não poluem o ambiente. Em qualquer caso, a biodiversidade voltará a prosperar em novas formas e a nossa civilização fornecerá material para qualquer museu alienígena, provavelmente com uma sala dedicada ao melhor blog alguma vez nascido. Escusado será fazer nomes.

Frankestein & C.

Alguns meses atrás, a conceituada revista Nature publicou um estudo que falava da “reactivação” dos cérebros de porcos mortos. Com uma tecnologia chamada BrainEx, os pesquisadores restauraram a microcirculação no cérebro dos animais decapitados pouco antes. Ao que parece, novamente alimentado e oxigenado (mesmo que de maneira artificial), algo aconteceu no cérebro. As células param de morrer e começam a alimentar-se, mas o mais surpreendente é que alguns neurónios retomam a actividade eléctrica. Pelo menos no cérebro dos porcos.

Tudo isso não significa que os pesquisadores tenham “derrotado” a morte cerebral: os porcos decapitados nunca recuperaram a consciência, e nem era este o objectivo do experimento. A descoberta pode servir para desenvolver tratamentos para lesões cerebrais como o derrame. De certeza, não serviu muito aos porcos.

E, no entanto, mesmo com todas essas distinções e com as objecções dos porcos, ao longo de algumas semanas após a notícia foi possível discutir as implicações éticas e sociais de uma possível “tecnologia da ressurreição”.

Já houve ressurreições ao longo da história? Será que alguém conseguiu trazer de volta um morto?

Segundo os Evangelhos, o primeiro ressuscitado foi Jesus que passou algumas horas numa cruz, foi transportado numa gruta e finalmente ressuscitou. Admitimos: como experiência científica não foi muito significativa pois é provável que ser filho de Deus proporcione algumas vantagens neste sentido. Mas se o regresso do reino dos mortos é um elemento recorrente em outras narrativas religiosas e no folclore antigo de numerosas culturas, no mundo real não há evidências de que um homem morto tenha voltado à vida, apesar de não terem faltados tentativas.

Estamos na Inglaterra de 1650, precisamente no Oxfordshire. Zona bonita, muito verde, lugar tranquilo. Perto do final do ano, Anne Greene, de 22 anos, é acusada de ter assassinado o seu filho recém-nascido. Na realidade, a criança tinha nascido morta e a mulher tinha sido violada pelo sobrinho do seu empregador; mas em 1650 a justiça consegue funcionar de forma quase pior do que acontece agora e Anne é rapidamente condenada ao enforcamento. Após a execução é declarada morta e o corpo é destinado à dissecção. Mas quando chega à mesa dos anatomistas, estes percebem que a mulher dá sinais muito fracos de vida e começam a fazer o possível para que sobreviva. Anne é submetida a desnecessários sangramentos, sinal que também o sistema de saúde funcionava quase pior do que o nosso, mas é mantida quente e massajada: e Anne Greene recupera completamente. Não só: até é perdoada e torna-se a protagonista de alguns livrinhos da época, os chamados pamphlets.

Segundo a opinião das pessoas da altura, o perdão era um dever: obviamente a mulher enforcada tinha sido salva por Deus, apesar de ninguém ter conseguido vê-Lo na zona. Segundo os médicos, pelo contrário, isso devia-se à ciência deles. Não querendo contrariar estas opiniões, é provável que Anne tenha tido apenas muita sorte. Mas o seu caso é memorável, também porque a mulher viveu outros quinze anos depois de ter sido enforcada. No entanto não foi o único caso, pois as execuções da época eram muito ineficientes: a vítima ficava simplesmente pendurada, por exemplo numa árvore, e a morte ocorria por estrangulamento após um certo intervalo. Para acelerar o processo, os carrascos costumavam puxar os enforcados pelos pés, mas se ainda hoje pode não ser fácil para um médico declarar uma pessoa como morta, é possível imaginar quão primitivo era o diagnóstico no século XVI e com que frequência houvesse casos de aparente ressurreição.

No século seguinte, o mundo científico começou a abordar seriamente o problema da fronteira entre a vida e a morte. E não era só uma questão puramente filosófica e teológica, mas experimental, prática. O raciocínio era o seguinte: se há um estado em que a morte é apenas aparente, então pode haver também um espaço de manobra amplamente inexplorado para a medicina: o espaço da ressuscitação. Em 1774, foi fundada a Royal Humane Society, uma associação britânica que ainda hoje recompensa aqueles que salvam ou tentam salvar vidas. Mas na fundação, e nos dois primeiros anos de actividade, a associação tinha um nome mais específico: Sociedade para a Recuperação das Pessoas Aparentemente Afogadas.

Frequentemente, as pessoas declaradas mortas por afogamento não estavam realmente mortas, e estavam a afirmar-se as primeiras técnicas de reanimação, como a ventilação artificial. A associação foi um sucesso e a cultura de ressurreição começou a espalhar-se. Todavia há sempre dois pontos de vista: neste caso, começou a espalhar-se entre o público a fobia de ser enterrados vivos, algo que não é nada agradável.

Mas para encontrar os primeiros “ressuscitadores”, na prática os pais de Frankestein, é preciso esperar ainda um pouco e dar um salto até os séculos XVIII e XIX, não acaso altura em que Mary Shelley escreveu o seu célebre Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818). Mary Shelley tinha com certeza noção das experiências que estavam a ser conduzidas com a electricidade, cuja natureza ainda não era conhecida e que fazia contrair os músculos dos animais mesmo após a morte.

É provável que a escritora tenha ouvido falar de Giovanni Aldini, que realizava as experiências do  tio dele, Luigi Galvani, coma electricidade. Aldini não limitava-se aos sapos, como o tio, e depois de experimentar os efeitos do galvanismo (como era chamado) nas cabeças de touros, cães e gatos, passou aos cadáveres de seres humanos. Não é por acaso que Aldini era membro honorário da Royal Humane Society e o cientista trouxe as suas conferências para a Inglaterra: o ponto alto destaque dessas exibições era a animação da cabeça dum touro ou de outra cabeça de gado, fresca do matadouro. Mas, na noite de 18 de Janeiro de 1803, Aldini apresentou-se no Colégio Real dos Cirurgiões aplicando as mesmas técnicas aos restos mortais do criminoso George Forster, recém enforcado e,a o que parece, Aldini conseguiu fazer que o pobre Forster se mexesse.

Tudo isso pode parecer macabro, mas estava inteiramente de acordo com o espírito científico da época e outros “ressuscitadores” estavam prontos para seguir este caminho.

Entre eles estava o escocês Andrew Ure, que por sua vez usou o cadáver de um homem executado a quem conseguiu induzir uma respiração completa com a electricidade. Karl August Weinhold, um médico alemão que alegava ter feito caminhar o cadáver de um gatinho decapitado, substituindo a medula espinal com uma mistura de prata e zinco; e finalmente Andrew Crosse que em meados de 1800, enquanto tentava cultivar cristais de quartzo com electricidade, notou que pequenos animais, os ácaros, estavam a crescer. Crosse nunca disse que os tinha criados, no entanto isso ajudou a ideia da geração espontânea, a mesma tão querida ao avô do evolucionista Darwin, Erasmus Darwin .

Mas mesmo com todas estas intoxicações de Positivismo e de sugestões góticas, ninguém conseguia ressuscitar um morto. Apesar dos insucessos, outros tentaram quebrar este limites e experimentos ao “estilo frankenstein” foram conduzidos, por exemplo, na União Soviética na primeira metade do século XX. Um nome destaca-se entre outros, o nome de Sergei Bryukhonenko.

Bryukhonenko, na verdade, seguia os passos dos pioneiros Alexis Carrel (mais tarde vencedor do Prémio Nobel) e Charles Claude Guthrie, que tinham transplantado a cabeça de um cachorro para outro cachorro; mas Bryukhonenko tinha entendido algo: era fundamental a conexão dos vasos sanguíneos. Desta forma, as partes de um corpo poderiam permanecer funcionais mesmo após a morte do proprietário e, com uma prática correta, poderiam ter salvado a vida de outras pessoas. Bryukhonenko inventou uma máquina primitiva de pulmão-coração com a qual conseguia manter isolados os órgãos vitais, e dizia-se que conseguia manter vivas até as cabeças de cães decapitados.

Em 1940, foi produzido um documentário, Ėkspetimenty po oživleniju organizma, que mostrou o potencial da máquina de Bryukhonenko. Além de mostrar a cabeça de um cachorro, aparentemente conectada apenas à máquina e que respondeu a diferentes estímulos, o filme mostra outro cão que parece regressar à vida. Mas o vídeo era mais propagandístico do que científico (a propósito, para aqueles que desejam vê-lo, o filme é agora de domínio público. Eu comecei a vê-lo mas tive que interromper pois Leonardo reconheceu um dos seus avós e ficou bastante impressionado). A opinião geral é que o que é mostrado nos vinte minutos do documentário é irreal, tal como a história segundo a qual em 1943 Bryukhonenko conseguiu ressuscitar durante dois minutos um homem que tinha cometido suicídio três dias antes.

E no século XXI, o que fazem os ressuscitadores? Porque estes não desapareceram. Por exemplo, há alguns anos, a imprensa divulgou a ideia da empresa Bioquark que pretendia “reverter” o estado de morte cerebral dentro de 15 dias. A empresa ainda existe e continua a trabalhar mas o problema principal parece ser a falta de voluntários e não, não é uma piada.

Depois há pelo menos um outro tipo de ressuscitadores: aqueles que propõem a criopreservação para uma ressurreição futura. Nesse caso, a questão é congelar um corpo humano recentemente falecido, na esperança de que possa ser preservado por um período de tempo indefinido até o dia em que a tecnologia for avançada o suficiente para ressuscita-lo. O frio e a sobrevivência estão realmente conectados um ao outro. Lembram-se de Anne Greene, a enforcada de 1650? Uma das razões da sua sobrevivência pode ter sido o facto de que a execução ocorreu em Dezembro, num dia particularmente frio e chuvoso. E sabemos que a hipotermia tem um efeito neuroproctetor e pode ser usada em medicina para reduzir os riscos de cirurgias complexas. Também sabemos que em alguns mamíferos há a hibernação, um estado de metabolismo reduzido, onde a temperatura corporal pode cair muito, o que permite superar períodos com recursos limitados.

Talvez um dia será até possível induzir um estado semelhante à hibernação num ser humano e, quem sabe, até ser ressuscitado. Hoje, no entanto, a criopreservação é uma realidade apenas no caso de embriões e amostras de tecido, portanto algo pequeno e que pode ser congelado muito rapidamente com nitrogénio líquido, evitando a formação de gelo (vitrificação) e preservando as células. Talvez no futuro próximo seja possível usá-lo também para preservar os órgãos dos falecidos, mas actualmente é impensável “congelar” um cadáver sem danificá-lo.

Pelo que, até lá, a coisa melhor é aceitar a morte como parte natural do ciclo da vida. Doutro lado: alguém quer viver para sempre? E para fazer o quê? Acham mesmo que o Estado estaria disposto a pagar-lhe a reforma até o fim dos tempos? Mais vida significa não apenas menos espaço para os recém-nascidos, mas também mais trabalho, mais taxas, mais filas no trânsito… como reza o ditado italiano: il bel gioco dura poco, o jogo bonito não dura muito.

 

Ipse dixit.

Fontes: este artigo tem como fontes os trabalhos de pesquisa de Telmo Pievani, filósofo e historiador da Biologia do Departamento de Biologia da Universidade de Padova, e do jornalista e comunicador científico Stefano Dalla Casa.

Músicas:

Melancholia (Goth/Emo Type Beat) by e s c p & YellowTree, https://escp-music.bandcamp.com, music promoted by https://www.free-stock-music.com, Attribution 4.0 International (CC BY 4.0), https://creativecommons.org/licenses/b

Motivational Piano Background Music by Nikita Lukyanov, https://soundcloud.com/lukyanovnikita, music promoted by https://www.free-stock-music.com, Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 Unported, https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/deed.en_US

4 Replies to “Morte: ida e volta”

  1. Meu caro, confesso que me agasta ter de comentar amiúde desta forma, mas o exercício mental sugerido parece não contemplar as nossas piores maquinas, as cerca der 500 centrais nucleares elétricas e os milhares de outros engenhos nucleares no mundo que exigem cuidados permanentes, e sem a manutenção humana, mesmo “ desligados” se é que essa palavra se pode usar aqui, entrariam em fusão e criariam uma catástrofe nuclear inimaginável a verdade é que o animal humano tomou o planeta como refém pela via nuclear pelo que o exercício mental parte de um pressuposto a meu ver: errado.
    Estranhei também que seja considerado Jesus Cristo como o primeiro ressuscitado segundo os Evangelhos, creio que o primeiro ressuscitado terá sido Lázaro … o primo…ressuscitado pelo próprio Jesus Cristo, epá, mas compreendo que seja difícil de acreditar em historias da ressurreição contadas por um velho marreta o melhor é ver por si mesmo em João 11:1-46 e assim caso discorde terá de discutir isso com o tal de João e eu fico de fora …eu nem gosto de polemicas…
    Porém apesar da exaustiva lista de notáveis ressuscitadores creio ter ficado de fora da sua dissertação um outro tipo de ressuscitador ( Tcha-ra-ra-rammm ) uma espécie que surgiu no ciberespaço no inicio do Sec. XXI … nem mais! O ressuscitador de Blogs !
    Veja o “modus operandi” o homem cria o blog…depois decide acabar com o blog e vem de lá um coro de norte coreanas a chorar que nem madalenas o fim anunciado da interação com o seu querido líder, a malta lamenta-se, chora baba e ranho, pessoal que nunca tinha comentado sai das trevas digitais e comenta qual “Ne me quitte pas de Jacques Brel”, e por fim quando tudo parece perdido, num apogeu digno de um encerramento de congresso de um qualquer partido politico, eis que o ressuscitador em toda a sua gloria traz de volta do reino dos blogs mortos o afamado blog agora na versão 2.0 melhorado e com podcast !!! HOOOO… um coro de anjos celestiais ecoa agora por todo o mundo digital …
    Ok , Ok pode parecer um final feliz … mas eis que algo parece errado com esta versão ressuscitada do blog, qual Frankestein do ciberespaço o blog parece estranho, parece que perdeu o sentido de humor e o gosto pela discussão, deixou de responder aos desafios dos leitores mais reguilas … enfim… como reza o ditado italiano: il bel gioco dura poco
    No entanto adorei o artigo, e adorei o facto de ser extremamente longo por isso mesmo só consegui comentar hoje, ontem mal o li já de soslaio, cai nos braços de Morfeu… só por isso não vou descontar nenhum ponto, por isso e também porque me sinto intimidado com o espectro de um, Frankestein do ciberespaço.

  2. Nem me fala da possibilidade de voltar para cá só cabeça ou corpo inteiro, falhado ou não, como experimento. Sim, porque voltar à vida direitinho, inteirinho e saudável, só para os milionários. Imagina a quantidade de experiências malogradas que farão com os animais e conosco, pobres mortais, que assemelhados a animais, nada mais somos que burros de carga.
    Eu nem vejo filmes do tipo para não ter pesadelos porque sei que a humanidade caminha para mais esse espetáculo dantesco, antes de extinguir-se.
    Eu não temo as verdadeiras revoluções, não temo as pequenas explosões nucleares, que mais cedo ou mais tarde virão, como forma de intimidação, eu não temo a morte nestas condições. Eu temo é o uso que podem , na mais doce paz mundial, fazer da minha vida, do meu corpo, dos meus míseros neurônios, do que terei de tomar conhecimento e/ou assistir antes de morrer.
    Eu temo o aqui e agora, o futuro próximo ou remoto, sabendo que, se a humanidade inteira desaparecesse, fosse como fosse, viria em pouco tempo a catástrofe nuclear, dizimando todo o planeta. Mas o tempo geológico é muito mais sábio do que o nosso. E, não tardaria , no tempo geológico, para a vida ter uma nova oportunidade no planeta, que acredito seja melhor que a nossa, que idiotamente, nos consideramos donos do que não nos pertence. Somos inquilinos maldosos que cada vez mais ficamos devendo o aluguel, estragamos a propriedade,aniquilamos a vizinhança,e chamamos isso de civilização.

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