Há dois dias, em 21 de Abril Domingo de Páscoa, três igrejas e cinco hotéis no Sri Lanka foram o palco de explosões provocadas por bombistas suicidas. A seguir, explosões menores ocorreram num complexo habitacional e num motel, matando principalmente policiais que estavam a investigar. Cerca de 300 pessoas morreram, incluindo 27 estrangeiros; 500 feridos.
Os autores do massacre? Membros da National Thowheeth Jama’ath, um grupo extremista islâmico local. Um grupo que até pouco tempo atrás tinha dado nas vistas para decapitar algumas estátuas do Budda. Agora mata centenas de fieis. Um salto notável.
Um ataque coordenado e bem planeado, que exigiu recursos significativos e, acima de tudo, habilidades que só podem vir do exterior: esta é a opinião das autoridades, que ficaram impressionadas pelo facto de todos os sete bombistas terem realmente explodido, todos na altura certa. É normal, nas tentativas iniciais do terrorismo islâmico, haver falhas: cintos explosivos que não explodem, que explodem mais cedo ou mais tarde… aqui uma eficiência geométrica, possível apenas com uma boa dose de experiência. Juntamos o uso de explosivos militares, inacessíveis aos civis, e os 80 ou mais detonadores.
Não é precisa muita fantasia: é o modus operandi de Al Qaeda, do Isis, de Al Nusra. Será preciso lembrar que o Mossad está de casa no Sri Lanka?
The Other side of Deception, livro de 1994 escrito pela ex-espia israelita Victor Ostrovsky, explica bem isso. Nas décadas de luta entre os Tigres Tâmeis (Tigres de Libertação do Tamil Eelam) e o governo do Sri Lanka, Tel Avive apoiou ambos os lados com grandes lucros: venda de armas, aconselhamento táctivo, treino. Basta digitar “Mossad” e “Tamil Tigers”: o Google apresenta dezenas de artigos que refrescam a memória.
Entre os resultados, podemos encontrar quanto acontecido em 20 de Maio de 2009: uma bomba atingiu um autocarro, matando 23 pessoas e ferindo 67. Os Tigres treinados pelo Mossad tinham alcançado um novo patamar de eficiência. O Mossad quis que os combates do Sri Lanka se tornassem os mais sangrentos: aldeias inteiras foram canceladas, mais de 100.000 (no mínimo) as vítimas.
O objectivo deste autêntico genocídio? Antigamente era o dinheiro. Ao treinar e armar os dois lados, os lucros subiam constantemente. Bónus: o comércio local de estupefacientes, que ajudava a pagar essas armas, era abastecido sempre pelo Mossad. O meio? A Zim Shipping, a grande agência israelita de transporte antigamente sediada no World Trade Center de New York. Escritórios que abandonou uma semana antes do 11 de Setembro. Tinha que ser: o governo de israel possui 49% da Zim Shipping, os negócios são negócios.
A presença do Mossad no Sri Lanka tinha começado em 1983, quando o Presidente Junius Jayawardene trouxe 50 agentes do serviço secreto para treinar as suas forças de segurança contra os Tigres. Nada disso era mistério, os jornais da altura falavam do assunto e da base do treino, Maduru-Oya.
O Mossad entendeu bem a situação: aquela guerra civil era uma mina. Em 1991, Victor Ostrovsky disse a um jornal indiano que o Mossad tinha transferido muitos Tigres para israel durante os anos de 1984 e 1985. Era parte do trabalho israelita levá-los aos campos de treino e certificar-se de que recebessem o treino. Pouco depois, Tel Avive foi contactada pelo RAW, o equivalente indiano da CIA: Nova Deli apoiava os Tigres, então era eles que escolhiam os combatentes e organizavam as deslocações para israel. O Mossad compensava o RAW com contas abertas no banco BCCI (Bank of Credit and Commerce International, com sede no Luxemburgo: um banco simpático que tinha entre os seus clientes nomes como Saddam Hussein, Manuel Noriega, Hussain Muhammad Ershad, Samuel Doe, os cartéis de Medellin, Abu Nidal e, obviamente, o Mossad).
Pelo que, o Mossad treinava simultaneamente os Tigres e as forças governativas. O treino começava com um curso básico de duas semanas na base israelita de Kfar Sirkin, perto de Tel Aviv. Depois, os combatentes dos Tigres eram enviados para Atlit, uma base naval secreta em Haifa, enquanto as forças do governo do Sri Lanka eram treinadas na base de Kfar Sirkin. Uma vez acabado o treino, os Tigres eram transportados para casa enquanto as forças de governo eram feitas entrar na base de Atlit onde aprendiam a neutralizar todas as técnicas que os israelitas tinham acabado de ensinar aos Tigres.
Os custos? Elevados: israel cobrava por cada um dos 60 seguranças governamentais 300 Dólares por dia, 18.000 Dólares no total. Um curso completo de três meses custava 1.6 milhões. Além disso, israel cobrava 6.000 Dólares por hora para o aluguer dum helicóptero (com até 15 helicópteros usados em média por cada exercício). Os israelitas também cobravam as munições: um foguete de bazuca, por exemplo, custava cerca de 220 Dólares enquanto os morteiros pesados chegavam a 1.000 Dólares cada. Todos valores de meados dos anos ’80.
Desta forma, israel ajudou a criar a STF VIP Division, a divisão do Sri Lanka especializada na luta anti-terrorismo com técnicas… poucos ortodoxas, tanto para utilizar um eufemismo. Vendeu também os aviões Kfir à aviação do País e os veículos de assalto Dvora e Shaldag à Marinha. A guerra civil do Sri Lanka era um excelente negócio.
Pena: a guerra civil acabou em 2001. Mas tranquilos: retomou logo em 2006, porque, como já lembrado, os negócios são negócios. E nada pode travar um negócio tão lucrativo. De acordo com os arquivos do governo, nos distritos de Mullaiththeevu e Ki’linochchi a população era de 429.059 unidades em Outubro de 2008: em Maio de 2009 eram 282.380. As restantes 146.679? Desaparecidas. Wikipedia continua a falar de 100.000 vítimas desde o começo das hostilidades, em Julho de 1983, até o fim em Maio de 2009.
Entretanto, o Primeiro Ministro do Sri Lanka, Ratnasiri Wickremanayake, encontrou tempo para visitar israel (Março de 2009) e reunir-se com importantes fornecedores de armas para obter mais ajuda militar. Tel Avive continua a fornecer armas e treino militar ao Sri Lanka, mesmo depois dos Estados Unidos e o Reino Unido terem interrompido o fornecimento ao País por flagrantes violações dos direitos humanos. Nada que consiga perturbar os israelitas.
O Mossad continua a recrutar agentes entre o grande contingente de trabalhadores do Sri Lanka no estrangeiro, em particular nos Estados árabes do Golfo Pérsico. Há informações de que os israelitas continuam a fornecer armas e treino aos guerrilheiros islâmicos para manter vivo um “mercado” de excelência para os fornecedores de armas israelitas.
Este é o pano de fundo contra o qual fica o massacre perfeitamente coordenado e preparado no dia de Páscoa. Não conhecemos as razões do ataque: a enésima encenação do inexistente conflito de religião, a tentativa de revigorar os antigos ódios no seio da sociedade cingalesa… Em qualquer caso, talvez fique mais clara a razão pela qual o governo do Sri Lanka, apesar de ter recebido informações sobre os iminentes ataques, decidiu não actuar.
Ipse dixit.
Aqui onde eu vivo começa a se construir os ingredientes fundamentais desta sopa: nos mandantes subalternos ao verdadeiro mando, corrupção em grandíssima escala do legislativo, judiciário, executivo e privados mais destacados.Estado mínimo e todo poder aos bancos que são os grandes lucradores na gestão dos negócios. Nos mandados predomínio da fé e do medo. Fé religiosa ou política e medo da miséria econômica que se vende a qualquer preço para superá-la, medo dos outros que potencializa em qualquer um a violência, medo da solidão que se vende por qualquer preço ao pertencimento em qualquer grupelho, medo do anonimato que igualmente se vende por ganho de projeção a custa mesmo que seja da própria vida.
Esta sopa está cozinhando alimentada por interesses nacionais e externos. Pelos meus cálculos o banho de sangue cozinha por uns 10 anos por aqui. Por sinal, israel não está perdendo tempo no Brazil.