O Financial Times admite: Keyens aveva ragione (MMT)

O Capitalismo é a surpreendente convicção
de que o mais maligno dos homens
fará o mais maligna das acções
para o máximo bem de todos

John Maynard Keynes

 

FT Alphaville é o blog do [wiki]Financial Times[/wiki], o diário económico mais prestigiado do planeta e arredores. Durante esta última semana, Alphaville publicou um artigo extremamente importante: America has never worried about financing its priorities (“A América nunca se preocupou em financiar as suas prioridades”). Extremamente importante porque, de forma definitiva e directa, promove a moderna teoria monetária (MMT), a mesma que foi amplamente tratada e apoiada nestas páginas. Não é o caso de dar os parabéns, pois por aqui nada foi feito a não ser “descobrir a água quente”, algo que já era conhecido há muito: a MMT, em boa verdade, não traz muitas novidades quando comparada com as teorias que circulam desde o final de 1800.

Mas antes vamos ler o que escreve o Financial Times, pode ser?

Não há nada intrinsecamente socialista sobre o que é a dívida pública. Um governo pode emitir dívida para pagar o que quiser: lutar numa guerra, baixar os impostos, mitigar os efeitos de uma recessão. Os Estados Unidos, por exemplo, sempre emitiram dívida para pagar por essas coisas. Os políticos dizem que a dívida pública assusta o investimento privado, que é insustentável e transforma o País numa Argentina, Grécia ou numa Venezuela. Mas, independentemente do que dizem, os políticos americanos sempre acabam por usar a dívida.

Os defensores da Moderna teoria Monetária  argumentam que, para um País soberano que tem a sua própria moeda, não existe um nível intrinsecamente insustentável de dívida pública, que é como dizer que não há limites para além dos quais o País começa a entrar em colapso, seja 90 % ou 200% do PIB. A qualquer momento, o governo pode apropriar-se dos recursos que julgar necessários para financiar as suas políticas domésticas, independentemente das receitas.

Um tradicionalista consideraria tal política intrinsecamente inflacionaria, argumentando que, como com qualquer outra mercadoria, aumentar a oferta de dinheiro reduz o seu valor. Os defensores da Moderna Teoria monetária argumentam que a inflação ocorre somente quando a economia real – empresas, máquinas, trabalhadores – não são mais capazes de absorver a despesa do governo. Como resultado, os gastos devem ser dissociados da tributação. Um governo pode gastar até que todos os recursos reais de uma economia sejam usados ​​e recorrer a impostos apenas para esfriar a inflação, uma vez que a economia atinja o seu máximo potencial.

Nós de FT Alphavile acreditamos que [a MMT, ndt] não é marxista nem estranha. É simplesmente uma maneira diferente de olhar para a política fiscal, uma maneira de descrever as reais restrições aos gastos públicos. Com um olhar mais minucioso, a maneira como a MMT analisa os gastos públicos é muito próxima de como os políticos de Washington encaram os gastos públicos. Atenção: não estamos a falar sobre o que eles dizem, mas sobre o que eles fazem.

O Congresso dos EUA gasta regularmente em deficits por coisas que considera importantes. Nos últimos quarenta anos, cobriu os seus gastos com impostos apenas por um curto período, no final dos anos noventa. Exatamente como a MMT afirma, o Congresso gasta até que os recursos reais sejam escassos [isto é, até o limite além do qual a inflação é gerada]. Esse limite nunca foi alcançado nas últimas duas décadas.

Quando Washington quer algo – combater uma guerra, cortar os impostos -, autoriza os gastos necessários e pronto, sem se preocupar com a receita. Portanto, as discussões sobre a necessidade de equilibrar o orçamento não são sobre restrições financeiras, mas sobre prioridades. Os programas considerados importantes são financiados, sempre e em qualquer caso. Programas que não são considerados importantes devem ser financiados com impostos. Quando alguém em Washington diz: “Não podemos permitir isso”, na verdade quer dizer “não acho que seja prioritário”.

Em outras palavras, [os políticos americanos, ndt] já seguem as exigências da MMT, mesmo que não o admitam.

Desculpem o tom mas… porra, até que enfim! O Financial Times reconhece algo que foi pensado no final do 1800, foi amplamente utilizado após o final da Segunda Guerra Mundial e gerou enorme riqueza em todos os Países até meados dos anos ’70, quando a doutrina liberal-conservadora de [wiki title=”Margaret Thatcher”]Margareth Thatcher[/wiki] antes e de [wiki]Ronald Reagan[/wiki] a seguir começou a criar aqueles problemas que temos de enfrentar ainda hoje.

A MMT nada tem de “marxista”, nem sei como pode uma pessoal normal conceber um pensamento tão estúpido como este. Pelo contrário, o Marxismo faz parte daquele industrialismo que vê nos meios da produção a única maneira para gerar riqueza: é a mesma base da qual surgiu o turbo-capitalismo de hoje.

Em vez de escrever acerca de [wiki]Reptilianos[/wiki], [wiki title=”Terra plana”]Terra Plana[/wiki] e outros delírios, os chamados “conspiracionistas” deveriam concentrar-se na única, grande e verdadeira conspiração activa há décadas, que é a conspiração económica. É com a economia que somos mantidos escravos, é obrigando a trabalhar com a ameaça da Dívida Pública que são cortados todos os discursos acerca do revisionismo económico, é com a austeridade que somos empobrecidos, é com as taxas que são retirados até os trocos das nossas carteiras. E que seja uma “conspiração” está escrito no artigo de Alphaville: os Estados Unidos fazem festinhas aos vários [wiki]Milton Friedman[/wiki], [wiki]Alan Greenspan[/wiki] ou [wiki title=”George Joseph Stigler”]George Stigler[/wiki] (da [wiki title=”Escola de Chicago (economia)”]Escola de Chicago[/wiki], uma derivada da [wiki]Escola Austríaca[/wiki]), exportando também as ideias destes (Friedman implementou a sua doutrina no Chile de [wiki title=”Augusto Pinochet”]Pinochet[/wiki], com efeitos catastróficos), mas nos factos aplicam a MMT porque sabem que esta é a única maneira para resolver aquela que é uma visão velha, ultrapassada e que já demonstrou todos os seus limites.

Para saber um pouco mais acerca da MMT aconselho ler os seguintes artigos publicados em Informação Incorrecta:

E glória para [wiki]John Maynard Keynes[/wiki], um dos poucos economistas capazes de ver além do seu próprio nariz. Voltaremos a falar do assunto.

 

Ipse dixit.

Fonte: Alphaville

5 Replies to “O Financial Times admite: Keyens aveva ragione (MMT)”

  1. Revisionismo na economia é o que mais falta faz no Brazil. O ministro da economia do “governo bolsonaro” é um dos Chicago boys, que também atuou no Chile e agora opera sem restrições no Brazil. E até a mídia alternativa aqui usa mais tempo para criticar as estupidezes patéticas da ministra dos direitos humanos e do ministro do exterior, do que analisar de forma entendível para todos, não apenas os efeitos dessa política econômica (reformas trabalhistas e da previdência social, esgotamento das riquezas naturais e empresariais pela privatização total inclusive das aposentadorias e pensões dos não privilegiados, Estado mínimo, incalculáveis perdas para a população…), mas exatamente em que consiste este modelo, que em nosso caso implica, na minha interpretação, equivalente à mudança de regime. Trata-se de demonstrar que já tivemos coisa semelhante nos governos FHC, que acabou em 60 milhões de pessoas na pobreza ou extrema pobreza. E aqui, meus amigos, quando se fala em pobreza, está se falando de comida, teto, sobrevivência física.

    1. Esse ainda se safa e não diz nenhuma mentira,mas o Salvini a quem está ligado, com alianças com o mais retrógrado tipo Polónia ou pior é um facho e não passa disso. Aliás sendo o Max Italiano porque se houve tanto o fascista pouco o Di Maio e menos ainda o Conti? Não devia ser ao contrário?
      A liga do norte antes era pela Padania ou o raio que os partisse, o 5 estelle não arranjava melhor que uma união com estes tipos?
      https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Liga_Norte
      Direita ok mas Extrema direita?

      N

  2. Os EUA pode se dar ao luxo de imprimir moeda a revelia, por ser moeda de reserva de outras nações, logo ele está sempre a exportar a “inflação”. Como já dizia Alan Greenspan, os EUA jamais entrarão em default, pois pode imprimir moeda para pagar qualquer dívida.

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