A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte V

A acabamos com coisas bem práticas, tangíveis.
Por exemplo: trocas.

Trocas!

Porque utilizar o dinheiro? Porque não trocar?
Não se trata de fazer uma campanha contra o dinheiro, não é isso que está em causa (o dinheiro em si não é “mau”). O ponto é aplicar tudo o que vimos nas capítulos anteriores: reduzir a pegada ecológica, inserir-se numa comunidade, aprender a viver (pelo menos parcialmente) de forma diferente.

E sim, depois há as observações de Humberto: a ideia do dinheiro não é mal, mas: “Um órgão saudável não é um problema, mas quando ele está com um tumor, passa a ser parte do problema e vale o questionamento sobre continuar com ele ou não”. Absolutamente correcto: de instrumento “neutral”, como deveria ser, o dinheiro de hoje é o instrumento para o enriquecimento de poucos.

Por isso, vamos com as trocas.
O quê trocamos? Tudo.
Eis algumas sugestões, sem uma ordem específica mas tais como encontrada na internet:

  • BookMooch: portal de troca de livros. 250.000 membros no mundo. Nada mal, eh?
  • Banco de Trocas: um projecto português que, por enquanto, funciona apenas no País.
  • Xcambo: portal brasileiro, onde é possível trocar tudo.
  • Berlinda: comunidade portuguesa em Berlim que optou para uma rede de troca de serviços.
  • EcoD: magazine online do Brasil com mercadito para trocas.
  • Troca-se, Trocasonline, Troca aqui em Portugal.
  • Freecycle para em todo o mundo
  • Homeexchange para trocar até de casa

Tudo isso após uma pesquisa na internet de 5 minutos, não mais.
Ou seja: não há desculpas.

Banco do Tempo

Gostava também de realçar um particular tipo de troca que está a ter um bom sucesso em Italia: é o baby sitter, jardinagem, electricidade, informática, etc.). Obviamente, há também a vertente da troca, que integra-se muito bem neste conceito.

Banco do Tempo. Nele, os inscritos põem à disposição dos outros algumas horas com uma certa competência. As horas são acumuladas na conta e podem ser convertidas em outros serviços, não existindo limites quanto à tipologia (cozinha,

Por enquanto, em Italia existem mais de uma centenas de Bancos do Tempo reunidos numa associação nacional, algumas reunidas também no portal Tempomat (onde há também um manual para a criação dum Banco do Tempo: se alguém entre os Leitores estiver interessado, peça de forma que eu possa fornecer-lhe gratuitamente o link para o Tradutor de Google….lololol….dizia: peça que vou enviar uma tradução).

Em Portugal encontrei o Banco do Tempo, mas os últimos sinais de vida do site são de 2012…
No Brasil há o Equilibrium e o Bliive.

Do Equilibrium eis o vídeo de apresentação que bem explica como funcionam as coisas:

Uma boa rede de nível mundial é o TimeRepublik, um projecto com 30.000 inscritos em 85 Países. Presente em Portugal e no Brasil também.

Também existe uma organização que mete a disposição espaço internet para criar a nossa própria página de Banco do Tempo local. É só clicar no link de Comunitats e começar. O site está em inglês e em espanhol mas, pelo que percebi, o projecto não está limitado geograficamente, dado que fala dum global network.

E se o Leitor for dos Estados Unidos? Coitado! Mas fique descansado: pode clicar no directório dos Bancos do Tempo dos EUA.

E se o Leitor for da Bielorrússia? Desculpe: é da Bielorrússia e está a ler um blog em português? Mas está a gozar comigo ou quê? Saia já, tenha juízo.

Outra moeda?

E porque não utilizar uma outra moeda? Não muitos sabem que em Portugal há dois projectos cujos nomes são Estrela Community Exchange e Dar A Volta.

O primeiro é dedicado aos que vivem na zona da Beira e encontra-se ainda na fase beta, mas já está activo.

O segundo, da Covilhã, está bem activo e integra-se na iniciativa Covilhã em Transição, que por sua vez faz parte do Transition Network, um projecto de nível mundial: temos assim Coimbra em Transição, Cascais em Transição, Gaia em Transição, etc.

No Brasil o projecto encontra-se numa fase inicial, como toda a América do Sul, mas já existem alguns pontos de referência. Particularmente difundido é o Transition Network no Reino Unido e nos Estados Unidos.

No geral, as moedas locais são muito menos difundidas, também porque o conceito “assusta”: existe o medo de pôr-se em concorrência com a moeda nacional, o que é ilegal como é óbvio, e há dificuldades objectivas, pois uma moeda alternativa implica uma estrutura muito mais complexa do que um simples troca.

Todavia algo há e se houver alguma coisa na zona de residência do Leitor, sugiro informar-se.
E não seria justo fechar este capítulo sem antes citar o banco Jak, o banco que não cobra juros.
Sim, existe um banco que não cobra juros. Aliás, já aprendemos que nenhum banco islâmico cobra juros, mas no ocidente encontramos o Jak.

E se o Jak não estiver disponível na área de residência do Leitor?
Neste caso, tente evitar na mesma os grandes bancos: não caiam com os chamariz, as super-ofertas, lembrem que não há almoços grátis. Melhor uma instituição local, uma cooperativa, algo assim.

Ecotudo & Internet

Coisas que não faltam na internet são páginas dedicadas aos assuntos “eco”, onde encontrar dicas e sugestões. Até é difícil escolher e nem vou fazer uma lista pois ficaria velho antes de tê-la publicada.

Podemos considerar o seguinte: sites e blogues ecologistas de carácter “geral”, podem ser uma boa fonte de recursos, como soluções que possam ser implementadas no local e também para saber o que se passa no resto do mundo na vertente “eco”. Mas para o dia-a-dia o melhor é algo com uma ligação ao território onde vivemos, também para encontrar soluções mais específicas e para poder entrar em contacto com pessoas com as quais “construir” algo, que não fiquem apenas como nicknames do mundo virtual.

Como? Não há nada disso na zona do Leitor? Magnífico! Eis a ocasião perfeita para começar já a vossa página internet. Não é preciso muito, graças à simplicidade das ferramentas que podemos encontrar na internet. Olhem para mim: praticamente analfabeta, com uma inteligência abaixo da média, moro em Portugal (este é outro handicap, sempre) e apesar disso consigo ter um blog há quatro anos, pois acreditem: ter uma página internet que possa tornar-se um ponto de encontro é muito mais simples do que muitos poderiam imaginar.

O Leitor não confia nas suas capacidades? Até há tutorias gratuitos para construir algo à medida e esta aqui Informação Incorrecta: se precisar de ajuda, pergunte. Pense nas possíveis vantagens: criação dum círculo de amizades (não apenas virtuais mas reais!), partilha de experiências, actividades ao ar livre, troca de produtos ou serviços…o limite é a sua imaginação. E tudo sem gastar um tostão, o Leitor já tem tudo o que for preciso: computador, ligação internet e cérebro.
Nada mais é preciso.

Voltando ao assunto “Eco”. É óbvio que as grandes “marcas” (como o WWF) estão actualizadas acerca dos últimos acontecimentos de nível mundial, podem contar com conjuntos de seguidores não indiferente e promover campanhas. Todavia o Leitor tem que perguntar a si mesmo: quem está atrás delas? É lícito supor que multinacionais como estas (apesar de serem “verdes”) sejam independentes dos poderes fortes? Ou tentarão direccionar os seus membros para argumentos que favorecem uma certa política? É normal que o Presidente Emérito do WWF seja um maçónico? Que Greenpeace apoie firmemente a luta contra o Aquecimento Global sem considerar as outras hipóteses?

O tamanho conta: e neste caso pequeno é melhor. E melhor ainda: local, ou pelo menos regional. Uma estrutura “eco” básica, que trate de assuntos relacionados com a nossa realidade, algo onde até nós podemos intervir de forma activa e concreta.

É claro que todos estamos preocupados com as baleias do Oceano Pacífico: mas alguns dos Leitores deslocou-se até lá para ralhar com os pescadores? Suponho que não e é normal. Para este tipo de assunto, bem venham as campanhas internacionais, as petições on-line e tudo o resto: para problemas locais, intervenções e soluções locais (nossas).

Animais

Nunca irei tentar convencer alguém a tornar-se vegetariano, sendo esta uma escolha pessoal. Mas sempre irei convidar para fazer algo em favor do animais, pois este é um dever.

Então aproveito para sugerir a participação em actividades para a protecção dos animais.
Pedem pouco e dão muito. São fiéis. Não cobram juros. O que o Leitor quer mais?

Não conheço ninguém que tenha dedicado tempo aos animais e ficasse arrependido.

Círculos

Se o Leitor estiver aqui, significa que entende o facto de internet poder ser um ponto de encontro acerca de vários assuntos, um lugar de debate, de troca de ideias e de informação.
Então pergunto: porque limitar esta potencialidade ao virtual? Porque não pensar internet como o primeiro passo para a criação duma comunidade real?

Como já dito, hoje em dia abrir um blog é algo muito simples. Agora, imagine que o Leitor goste de trocas, bancos do tempo, ecologia; ou que seja sensível perante certas temáticas, como a possibilidade de mudar a nossa sociedade. Então abra um blog, direccionado para a sua cidade ou região. Encontre pessoas, discuta, bebam uma cervejola, façam um churrasco, convivam e tentem implementar algo.

Provavelmente não irão mudar o mundo, mas podem sempre fazer algo para salvar aquele monumento que tem 300 anos de história e que está abandonado.

Porque digo isso? Porque aconteceu comigo, na altura do liceu. O meu professor de Arte era uma
pessoa especial, soube duma igreja no centro histórico de Genova onde entrava água pelo telhado, uma igreja de 1645. Então a turma foi aí, começou a tirar fotografias, esboços, desenhos, falar com os vizinhos, até com alguns responsáveis da Câmara. Conseguimos chamara a atenção. E os fundos apareceram.

Para que as coisas aconteçam, às vezes é só preciso dar o primeiro passo: depois, como por inércia, outras coisas surgem. Falta um poço? Há terra abandonada? A rede eléctrica está uma desgraça? E ninguém faz nada? Então fale com as pessoas. Não está sozinho no mundo com problemas únicos, há outras pessoas, com os mesmos problemas; algumas são estúpidas, outras não. É só escolher.

Não deixem que internet seja apenas um meio de controle. Explorem este meio, tornem a coisa útil para vocês e para a vossa comunidade, como forma de agregação e intervenção.

Com este sistema, o meu tio formou uma cooperativa: reuniu um grupo de pessoas (via internet), formaram uma cooperativa e agora fazem compras directamente nos fornecedores, não nas lojas, poupando muito dinheiro. Claro, depois têm que comer caixas de atum para um ano, pois o fornecedor não vende pequenas quantias. Mas poupam…

Ok, acaba aqui a saga da Revolução. Achei bem concluir com algo prático: nada daquilo que encontram nesta última parte ultrapassa as nossas capacidades; não há investimentos aqui; não há fórmulas misteriosas ou arcanos enigmas; quis manter tudo no nível da simplicidade, porque é com coisas simples que tem de ser combatida a nossa sociedade.

Talvez seja impossível mudar o mundo, mas alterar algo no nosso pequeno universo, isso sim, pode ser feito. Não haverá entre nós o próximo Che Guevara, mas eu troco de bom grau um herói para um grupo de pessoas que decidem o rumo das suas vidas, sem ser apenas engrenagens do sistema. É que os heróis acabam mal, cedo ou tarde, as pessoas, pelo contrário, aqui ainda estão.

Além disso, não se muda a sociedade sem antes mudar a nossa maneira de pensar. Shanerrai diz que para mudar é preciso mudar  a nossa espiritualidade. Chamem-a espiritualidade, chamem-a como quiser: mas temos que ser nós a mudar, só depois mudará o resto. Este é um processo que demora tempo e nem é simples. Mas prometo uma coisa: o blog vai estar atente nesta vertente. Notícias que podem ir no sentido duma mudança, grande ou pequena que seja, começarão a encontrar espaço aqui.

Agora, como é claro, espero para as Vossas sugestões.
Obrigado.

Ipse dixit.

Para os masoquistas que desejassem ler os capítulos anteriores:
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte I
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte II
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte III
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte IV

8 Replies to “A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte V”

  1. Para se mudar um sistema, naquilo que ele tem de errado, há que reduzir ao máximo as dependências desse sistema. Foi pena os aspectos positivos do Decrescimento não terem sido abordados, no entanto esta última parte dás umas boas dicas nesse campo.

    Muitas vezes mudar o estilo de vida não é fácil, de tal forma os costumes estão enraizados, mas começando por uma pequena coisa, talvez vejamos aí motivação para o passo seguinte.

    No filme Matrix havia um personagem, Cypher, que preferia viver na escravidão à dureza da realidade. Caberá a cada um decidir aquilo que mais lhe interessa.
    A nossa sociedade jamais será perfeita pois nunca agradará a todos ao mesmo tempo.
    Aquilo que alguns gostaria de mudar, para outros está bem assim.
    Talvez neste equilíbrio de forças muitas coisas negativas possam ser melhoradas.

    Vão surgindo por todo o lado pequenos focos de 'resistência' a este modelo consumista e usurpador.
    No horizonte, nem todo o fumo é negro.

    Krowler

  2. Todas sugestões aqui mencionadas são, em última análise, ações isoladas cujos efeitos se limitarão a segmentos "ilhas", e que, com o passar do tempo serão engolidos pelo sistema de poder imposto pela elite econômica globalizada. Exemplifiquemos: Tenho terras com matas. Opto pelo respeito a ecologia , preservando o equilíbrio ambiental. Mas pelo fato das terras no entorno não dispensarem o mesmo tratamento, será inevitável que, cedo ou tarde, esses efeitos serão transferidos para a terra "ilha", com migração da fauna por fuga, entre outros. Amigos, o pessimismo é a única verdadeira e honesta salvação dos predadores humanos! Não que não possamos fazer o "papel" do passarinho apagando o incêndio na floresta…que acabou incendiada inclusive com a ave citada…Mas para nossas vidinhas é o que resta. Abraços

  3. "Amigos, o pessimismo é a única verdadeira e honesta salvação dos predadores humanos! […] Mas para nossas vidinhas é o que resta".

    Minha nossa senhora, Chaplin!
    O que se ganha com o pessimismo?
    O pessimismo é entregar-se alma e corpo ao sistema, render-se, retirar o cérebro e apoia-lo na mesa de cabeceira. Qual a vantagem?

    É nos tempos duros que o desafio faz sentido. Ser contra quando tudo o mundo estiver contra é demasiado simples.

    Não há incêndio nenhum: pelo contrário, há uma calma arrepiante e são as pessoas que pensam "contra" que preservam a chama. Manter a chama ligada é o dever de todos os que não seguem a lei da maioria letárgica e conformista.

    Não concordo: eu respeito a minha pessoa e quero continuar a fazê-lo. Se decidisse render-me, perderia este respeito. E isso para mim é suficiente para continuar a pensar com a minha cabeça, mesmo errando (e erro muitas vezes!).

    Não vou ver um mundo melhor? Provavelmente não. Mas por qual razão teria que piorar as coisas com o pessimismo?

    Abraço!

  4. Chaplin

    Você considera que agir sobre o mais próximo é equivocado. Podemos entender então que o ideal seria o oposto, ou seja, trabalhar diretamente no âmbito da consciência maior de grupo? Mas isso já é o que está sendo feito pelo sistema. Essa via já tem um dominante bem paramentado.
    O embate e o êxito só serão possíveis pelo caminho oposto, completamente livre. Não há lógica em não fazê-lo.

  5. Infelizmente tenho de concordar com a visão pessimista do Chaplin, ainda que simpatize com a perspectiva positiva do Max.

    Esta humanidade como um todo, já não tem remédio.

    A degradação, decadência, degeneração, desvalorização total de todos os princípios .

    Não nego que existam e nasçam pessoas belas (interiormente falando).

    Mas uma sociedade que só emana valores degradantes, acaba por denegerar a grande maioria dessas pessoas, acabando assim por deixar-se arrastar na corrente de perversidades.

    Quando uma humanidade já só produz abominações e não dá qualquer sinal de redenção, já não serve para os propósitos que foi criada. Tem de ser destruída.

    Esta multiplicação da perversidade tem de ter um fim, que tudo indica estar em acção…

    Mas temos sempre de defender o que deve ser defendido.

  6. Caro Max! Meu conceito de pessimismo parece ser diferente do seu. A impossibilidade de sermos honestos intelectualmente é o problema. O primeiro confronto é justamente sabermos disso. Mas acho extremamente importante para si próprio, toda e qualquer tentativa, mesmo sendo burgueses, mercenários e acima de tudo, escravos doutrinados para tal condição. Primeiro a capacidade de desacreditar (eis o "pessimismo")para posteriormente, e remotamente, acreditar nas ações , então depuradas das amarras outrora concebidas. Abraço

  7. Interessante constar neste tema:

    Surpresa: uma tecnologia contra o capitalismo?

    "Multiplicam-se ferramentas que libertam seres humanos das empresas, ao permitir que produzam em colaboração direta. Quais são? Como sistema tenta sabotá-las?"

    " a produção de massas dará lugar à produção pelas massas, numa espécie de recuperação dos ideais ghandianos de autoprodução e independência, mas sob condições técnicas que permitem competir com o que, até aqui, só era possível em virtude da grande indústria e da gigantesca concentração de poder que lhe é correlativa. Os prossumidores serão protagonistas decisivos não só na oferta de informação e de energia, mas também de bens materiais. É o que forma a infraestrutura de uma sociedade orientada pela produção e pelo uso de bens comuns.

    "…o imenso poder hoje em mãos dos gigantes que dominam a própria revolução digital. Mas a cultura do acesso aberto a inovações e a velocidade do avanço da tríade em que se apoia a internet das coisas abrem vias tão novas e promissoras para a cooperação social direta e para a valorização dos bens comuns que tornam persuasiva a ideia de que o capitalismo possa estar a caminho de seu eclipse."

    Matéria: http://bit.ly/1kakb95

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: