A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte II

Continuemos com as notas para uma próxima Revolução. Que, para já, fica marcada para a próxima Terça-feira, pode ser? Segunda não porque tenho o dentista.

O grande, enorme problema encontra-se agora: porque é simples destruir, muito mais complicado construir. Neste caso: se já “abater” a nossa actual sociedade pode ser difícil, imaginemos quando o assunto for substitui-la por outra.

Qual Revolução?

A nossa sociedade é injusta, é má, está cheia de defeitos, é exploradora, é tudo e mais alguma coisa. Concordo: é uma missão quase impossível defender o que este planeta se tornou, em particular nas últimas décadas. Mas onde estão as alternativas?

Porque uma Revolução, para ter um mínimo de sentido, tem que mirar substituir o presente com algo melhor. E onde fica este “algo melhor”?

Não fiz uma pesquisa exaustiva na internet, mesmo assim sinto-me de afirmar que na grande maioria dos casos estamos perante boas ideias, boas intenções, até dignas de louvor e respeito, mas nada mais do que isso. “Um mundo sem guerra”, “Uma sociedade onde ninguém passe a fome”, “Uma sociedade onde mande o Amor”: tudo muito, muito bonito. E perfeitamente inútil.

Porque uma sociedade tem que ter pernas para andar, deve funcionar de qualquer forma: e como funciona uma sociedade baseada no Amor, por exemplo? Do ponto de vista prático, entendo: fazemos funcionar os hospitais com o Amor? Criamos a electricidade com o Amor?

É óbvio que se o objectivo for uma Revolução, é indispensável ter bem claros alguns mecanismos de base com os quais a nova sociedade irá funcionar, caso contrário estaremos ainda no campo dos bons propósitos e nada mais.

Por enquanto, vamos ver quais as alternativas disponíveis hoje em dia.

A Revolução que substitui

Primeira opção: fazer uma Revolução para retirar do cargo os actuais políticos e substitui-los com pessoas “sérias”. Acho que não vale a pena falar disso, não é? A ideia não é mudar as pessoas, a ideia é uma sociedade melhor, governada por regras diferentes, algo que represente um passo em frente, não apenas um “giro de valsa”.
Vamos em frente.

Comunismo/Socialismo

Retiramos desde já a ideia duma sociedade comunista ou socialista também. O que fazemos: passamos dum fascismo para um totalitarismo? Então ficamos assim como estamos, obrigado, pelo menos como blogueiro não vou para um gulag (não já, entendo).

Não foi suficiente a experiência da União Soviética? Da Cambodja, da Coreia do Norte, da China de Mao, do Laos? Querem mais? Eu não, dispenso. E, por favor, não venham com o exemplo da Venezuela; se acham que a Venezuela seja um País socialista, então acreditem: vocês gostam do actual sistema assim como está, pensem bem antes de querer mudar.

Objecção: mas aquelas experiências do passado não eram sociedades autenticamente comunistas/socialistas. A verdade é que nunca houve uma sociedade realmente comunista ou socialista no planeta.

Correcto: a única coisa que conseguiu aproximar-se ao modelo socialista foi a Comuna de Paris, que sobreviveu um par de meses na capital francesa. Mas o facto das sucessivas experiências terem rapidamente descarrilado em favor dum Capitalismo de Estado ou dum culto da personalidade, deveria dizer algo: talvez (o condicional é obrigatório) haja bugs, falhas estruturais na arquitectura comunista/socialista, que tornaram impossível até hoje a implementação dum tal modelo. Talvez o bug seja o Homem (e eu penso isso), que não é capaz de adequar-se aos ideais comunistas/socialistas. Ou talvez estivesse certa Rosa Luxemburg ao afirmar que o Comunismo só pode ser implementado com sucesso quando houver um levantamento global da classe trabalhadora.
Não sei, tenho as minhas dúvidas.

Seja como for: vale a pena insistir? E se correr mal, tal como correu até hoje? O que vamos fazer? “Desculpem, foi um engano, voltemos para trás”? Quantos mortos custou o Capitalismo? Quantos o Comunismo? Quantos mortos no total serão precisos antes de entender que chegou a altura de sepultar o passado e envergar para algo que seja realmente “novo”?

Quanto a mim a resposta é: não, obrigado, a História está aí para ensinar, não para ser burlada. Se é para mudar, que mudança real seja, tendo como direcção o futuro, não um passo atrás.   

Por isso, vamos ver quais as outras possibilidades.

A sociedade ecológica

E quem é o indivíduo que pode ser contrário a uma sociedade ecológica? É claro, todos desejamos mais Natureza, mais ambiente, mais verde. Mas há um par de problemas:

  1. a sociedade ecológica é sustentável?
  2. porque continuamos a sonhar uma sociedade ecológica e viver de forma anti-ecológica?

Dos dois, o primeiro é o ponto fundamental. Eu estou convencido que o Homem possa viver de forma mais “verde”, de modo a integrar-se no meio-ambiente. Não integrar-se totalmente talvez, pode ser impossível pela natureza e pelo número dos seres humanos: mas limitar os danos, isso sim, seria possível.

Todavia há um ponto que muitas vezes é descuidado pelos promotores desta teoria: qual tipo de sociedade seria esta? Porque dizer “verde” ou “ecológica” não significa nada: estes termos indicam uma atitude do Homem em relação ao ambiente, mas nada dizem acerca dos relacionamentos entre os seres humanos e as eventuais comunidades deles. Podemos não gostar do termo “política”; mas é disso que estamos a falar. E a política, entendida como o ordenamento duma comunidade, a discussão dos problemas, a partilha de recursos, é algo que não pode ser evitado.
É mesmo aqui que é possível encontrar um grande vazio.

Fala-se de “voltar para a terra”, isso é, trabalhar para o nosso próprio sustentamento ou o sustentamento da comunidade na qual vivemos. Justo. Mas como funciona esta comunidade? Quem toma as decisões? São tomadas democraticamente? Votação directa, sem representantes? Pois se é para eleger representantes, então melhor ficar assim como estamos, nas democracias representativas.

Portanto: uma sociedade baseada em pequenas comunidades, onde manda a tirania da maioria (esta é a Democracia). E subindo para um nível superior: como são regulados os relacionamentos entre as várias comunidades? E entre os conjuntos de comunidades? Quem gere as universidades ou uma forma equivalente de transmitir as bases culturais? Os professores? Mas se ensinam, não podem cultivar, devem ser mantidos. O mesmo se passa com os médicos, por exemplo. Deve existir um organismo central que gere estas actividades, a não ser que a ideia seja viver numa Nova Idade da Pedra, sem médicos, sem universidade, sem nada.

Com certeza haverá pessoas que gostariam de voltar para as cavernas, mas (para boa sorte) representam uma minoria. Aqui o assunto central é estabelecer as bases para uma Revolução que, como tal (e para ter sucesso) deve atrair a maioria da população, não apresentar um mundo onde uma gripe pode ser fatal.

E nem vale a pena pensar “mas tanto é assim que a nossa sociedade acabará” (que depois significa “não vale a pena mexer-se”), porque a ideia é imaginar algo que consiga conciliar a nossa vida de seres humanos com os recursos do mundo no qual vivemos, evitar o tal Armageddon provocado pela falta de recursos.

As alternativas apresentadas (e que é possível encontrar na internet, com tanto de vídeos explicativos em alguns casos) são bastante assustadoras. Fazem lembrar alguns dos episódios da velha série de Star Trek, quando a Enterprise acabava em planetas lindíssimos, geridos por uma sociedade aparentemente perfeita, mas que depois revelava ser uma atrocidade.

Parece-me (mas posso estar errado) que estas pulsões ecologistas (particularmente nobres, que fique claro) falhem na vertente prática. Mas repito, posso muito bem estar errado: se alguém entre os Leitores conhecer uma sociedade “verde” viável, um projecto que não descuide aquele “pormenores” que depois fazem a vida de todos os dias, faça o favor de enviar-me um link, ficam desde já os agradecimentos.

Depois há o segundo ponto (tinham esquecido, não é?): porque continuamos a sonhar uma sociedade ecológica e, ao mesmo tempo, continuamos a viver de forma anti-ecológica? Porque é bem ser muito claros: a sociedade verde? “Uhi, maravilha, vou já pôr o link no Facebook”. É isso que acontece.

Uma sociedade verdadeiramente ecologista, fundada no respeito do ambiente, significa (entre as outras coisas): nada de computadores, telemóveis, smartphone, tablet, automóveis (não na medida actual), boa parte dos electrodomésticos. E muitas outras privações. Privações que ninguém está disposto a fazer: claro, há sempre aquele grupo que sonha a Nova Idade da Pedra, mas a maioria das pessoas não quer abdicar de coisas que facilitam a vida, em alguns casos até são úteis. Mas realmente achamos simples convencer as pessoas a baixar os seus níveis de vida?

Depois pode ser que amanhã seja descoberta uma fonte de energia alternativa, limpa e infinita, então todo este discurso muda de forma radical (por favor: não me enviem links acerca deste assunto, estou farto de “magos” da energia que dizem ter encontrado isso ou aquilo e depois desaparecem). Mas, por enquanto, o que temos é o petróleo, o gás e uma série de fontes energéticas alternativas que não sabemos ao certo até a que ponto permitiriam a manutenção da sociedade nos actuais moldes se não houvesse os combustíveis fósseis.

Mas voltando à segunda pergunta: qual direito temos nós de criticar os que não vivem de forma “ecológica” se depois somos os primeiros a percorrer o mesmo caminho? Que raio de exemplo somos (isso dito sempre na óptica de promotores duma sociedade ecologista, óbvio)?

Sociedade anárquica

No imaginário colectivo, a Anarquia é sinónimo de confusão, caos. Nada de mais errado: a ideia de
Anarquia de confusão não tem nada. Pelo contrário: é a ideia duma sociedade muito bem organizada, só de forma diferente, onde não há o poder do homem sobre outro homem.

Interessante realçar como os poucos exemplos de Anarquia aplicada (Machnovščina, Ucrânia: 1918-1921; Kronštadt, Rússia: 1921; Catalunha e Aragonês, Espanha: anos ´30), não faliram por causa de mau funcionamento e não descarrilaram para um poder absoluto nas mãos de poucos ou cultos da personalidade, tal como aconteceu com o Comunismo: foram sempre suprimidas com o uso da força.

Na Rússia e na Ucrânia foi a Armada Vermelha que pôs fim à experiência anarquista, em Espanha foram o exército de Franco e as brigadas estalinistas (em luta entre elas mas com um inimigo comum: o Anarquismo).

Não vamos aqui tentar descrever o Anarquismo nem as falhas dele (infelizmente existem): a verdade é que se já seria complicado convencer as pessoas a envolver-se numa sociedade comunista, por exemplo, convence-las acerca duma sociedade anarquista seria uma empresa desesperada.

Tentamos não fazer o mesmo erro da maior parte das ideologias: ficamos ligados à realidade, observamos o capital humano existente, os seus desejos, as suas aspirações mas também as verdadeiras capacidades, os limites, sem esquecer o que somos: animais, racionais mas sempre animais, com uma parte de nós que não responde apenas à lógica mas é conduzida por paixões, como a ganância.

O Anarquismo assusta, ainda mais do que um Comunismo ou um Socialismo. E uma sociedade ecológica, mesmo que não viável, resultará sempre bem mais atractiva.

Sociedade sem dinheiro

Na internet circula esta
também, uma sociedade sem moeda. De todas as sociedades, esta é sem dúvida a mais idiota. Primeiro, porque individua como causa dos nossos
males o dinheiro. Depois porque gostaria de perceber como funciona.

O dinheiro não é mau. O
dinheiro é neutro, não pode ser mau pela simples razão que é um
instrumento, nada mais do que isso. Uma faca é má? Se é para cortar o
pão é boa, torna-se má quando for utilizada para esfaquear alguém. Com o
dinheiro é a mesma coisa.

O dinheiro foi uma das primeiras coisas
inventadas pelo homem: não era feito de moedas, era feito de conchas, de
trigo, de qualquer material que permitisse a acumulação e a aquisição
de outros bens. Mas sempre dinheiro era e facilitava o comércio.

Uma sociedade que abolisse o dinheiro seria obrigada a implementar uma moeda alternativa: porque, caso contrário, seriam possíveis apenas trocas muito limitadas e, em alguns casos, as mesmas trocas seriam impossíveis.

Se o meu desejo for trocar três galinhas por uma ovelha, não há grandes problemas: é só falar com as galinhas e convence-las a trocar de casa. Mas pensemos em algo um pouco maior: a aquisição dum sistema fotovoltaico para sustentar a nossa comunidade.

Quanto custa um sistema fotovoltaico completo? Actualmente, entre 4.000 e 10.000 Euros. São muitas galinhas para convencer, sem dúvida. E a nossa comunidade deve ter não mais de que quatro pessoas, caso contrário o sistema tem que ser maior (e o custo também, como é óbvio).

Imaginemos uma comunidade de 400 pessoas (na prática, uma pequena aldeia) e uns sistemas fotovoltaicos em troca do melhor preço, os tais 4.000 Euros (eliminamos as transições – as lojas – para simplificar, directamente do produtor para o consumidor): 100 sistemas fotovoltaicos, total 400.000 Euros em galinhas. Dado que uma galinha custa 3.5 Euros (procurei na internet), serão precisas 114.285 galinhas. Sempre que a empresa aceite encher a fábrica de galinhas.

Admitimos: não é muito cómodo. É por esta razão que surgiu o dinheiro: este representa a galinha, mas é muito mais prático, não envelhece, não morre, pode ser trocado com facilidade. Só não faz ovos.

Uma sociedade sem dinheiro requer um nível de desenvolvimento muito elevado, onde determinados problemas já foram solucionados. E não é este o nosso caso. A troca a nível pessoal é excelente, como sociedade é (por enquanto) impraticável.

A sociedade do Decrescimento

Ao assunto Decrescimento o blog dedicou alguns artigos no passado (a lista está em baixo).
O problema é que em muitos casos o Decrescimento é apresentado como fosse uma espécie de penitência, uma espécie de Idade Média forçada, pensado e gerido por comunistas fartos de levar pancadas da História.

E é uma pena. Se conseguíssemos ver o Decrescimento não como forma de espiar os nossos pecados ou como movimento que tem de ter obrigatoriamente ideias de Esquerda (ainda com esta história da Esquerda e da Direita…), então algo de bom poderia ser retirado.

É disso que vamos falar no próximo artigo, sempre lembrando o que, do meu ponto de vista, é absolutamente fundamental: ninguém trocará
voluntariamente o seu actual nível de vida por outro inferior. Por isso o Decrescimento, tal como é apresentado na maioria dos casos, é destinado ao fracasso. Tentamos ir além disso?

Ipse dixit.

Relacionados:
Informação Incorrecta: O Decrescimento
Informação Incorrecta: O Decrescimento – Parte II
Informação Incorrecta: O Decrescimento – Parte III
Decrescimento: poucas ideias mas bem confusas

A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte I

13 Replies to “A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte II”

  1. Olha Max, não sei onde vais chegar, apenas suspeito, mas já adianto meu parecer porque nessas coisas não consigo deixar de pensar. Em tese, sem dúvida, uma sociedade anárquica me pareceria a ideal e, envolveria a ecológica, supostamente. Tanto é que, como afirmas, as iniciativas do gênero sempre foram massacradas, tanto aquelas que partiram de revoluções sociais/políticas, como as que citastes, como as pequenas iniciativas de grupos (só para exemplificar a Colônia Cecília, de imigrantes italianos no Brasil, a similar Florida, na Argentina), como também a vida de povos considerados primitivos ou rebeldes (tantos negros e índios fujões de todas formas de escravatura nas Américas), que sem nenhuma teoria sócio/política, viveram anárquicamente enquanto não foram dizimados, e ainda alguns grupos, também considerados primitivos, que todavia persistem nos confins mais isolados do planeta (até que os erradiquem totalmente).Então, basta o que disse para se saber que, no atual estado da arte, qualquer coisa decente que envolva mais de duas pessoas e que se torne conhecida, é fagocitada pelo sistema. Afinal, que fazer!? Viva cada um a sua anarquia do jeito que puder ( se souber realmente do que se está falando, quando se diz anarquia), e trate de fazer isso o mais discretamente possível, envolvendo sempre um número muito pequeno de amigos/as solidários no pensamento e na ação, e tente permanecer vivo, se possível, servindo de exemplo para uns e outros. Posso estar totalmente errada, mas ao longo do tempo cheguei até aqui, depois de ter acreditado e lutado pela revolução político/ econômica, inicialmente, depois por uma revolução social de índole anárquica e, finalmente por uma revolução molecular, individual ou de um grupo diminuto, revolução esta de mentalidade, costumes e usos, de cunho prático, ocupando os pequenos espaços de liberdade que o sistema vai perdendo aqui e alí, encontrando felicidade enquanto me é dado viver embarcada nas linhas de fuga de tudo que está aí. Abraços

  2. Que modelo social para o qual deveríamos evoluir, é um tema que tem ocupado muitas e boas mentes, e propostas não faltam.

    Diversos modelos já foram testados com resultados também diversos. Nenhum se mostrou ideal, sendo que, aqueles em que a sociedades estão organizadas localmente, sejam os mais interessantes. Aquí, a Anarquia tem pontos positivos. Seria interessante analisar-se a utilidade do poder central. Hoje é sabido que o poder central funciona mais como meio de repressão e menos como meio de suporte/apoio dos cidadãos.

    A teoria do Decrescimento, que em tempos já foi debatida aqui no blog, com um record de participações (nem os gays lá chegaram), tem pontos muito fortes. Na altura, manifestei a minha simpatia com vários aspectos que caracterizam esta teoria, e cujo tema deve ser repescado, como aliás prometido pelo Max.

    No entanto, estou cada vez mais céptico relativamente a uma 'revolução' social que nos permita transitar para um modelo melhor. O único obstáculo é o homem.
    Acredito sim, que esta sociedade irá continuar a evoluir e nem sei sequer se nos devemos preocupar muito com o caminho que ela vai tomar.
    Os dias continuarão a ter 24 horas, a força da gravidade continuará a fazer-se sentir, o homem continuará a ser explorado pelo homem … e por aí fora.

    Seja no modelo capitalista, comunista ou mesmo no modelo utópico do Jacque Fresco, há coisas que nunca mudam.

    abraço
    Krowler

  3. Pelo que percebo, a raiz da questão está na forma como as sociedades se estruturaram, ou seja – uma Estrutura Vertical, hierarquizante, centralizadora, competitiva. Parece-me que, fundamentalmente, as propostas/alternativas apresentadas no texto falharam/falham, basicamente, por permanecerem com esta mesma configuração estrutural/organizacional.

    Daí, permitam-me aqui, evocar outro conceito ou tipologia estrutural/organizacional – o conceito de Estrutura Horizontal e/ou em Redes Distribuídas.

    Para tanto insiro trechos, de forma aleatória, do artigo de Augusto de Franco (Escola-de-Redes): 'Cada Um No Seu Quadrado' – Algumas notas sobre o difícil aprendizado das redes sociais nas organizações hierárquicas…

    Eis a concepção de mundo que foi produzida.
    No limite, o mercadocentrismo (não o mercado, mas a ideologia que foi construída sobre o mercado), como qualquer ideologia de raiz hobbesiana, é sempre hierarquizante(!!) e autocratizante(!!) e, assim, está longe de ser um liberalismo em termos sócio-políticos.

    Tudo isso contaminou a cultura empresarial, sobretudo das grandes empresas (invariavelmente mancomunadas com o Estado para gerar isso que chamamos de capitalismo), na medida em que essa ideologia foi disseminada pelos novos sacerdotes da modernidade – os economistas – que, ademais, adquiriram status científico e trabalham sempre no complexo Estado-Empresa, legitimados pela Universidade.

    Compreender e aceitar a possibilidade da organização em Rede Distribuída(!) é um processo de aprendizagem mais árduo do que pensam aqueles que agora estão aderindo à moda meio ligeiramente. É um processo que exige uma varrição no subsolo onde estão fundeados os nossos pré-conceitos. Quero dizer com isso que as principais resistências às redes não estão propriamente no terreno das idéias que comparecem nos debates, senão naquelas que em geral não se explicitam e a partir das quais formamos nossas concepções. A resistência está nos pressupostos não-declarados!

    Os pressupostos não-declarados:

    Em qualquer lista tentativa desses pressupostos, comparecerão, pelo menos os quatro seguintes:
    – O ser humano é inerentemente (ou por natureza) competitivo.
    – As pessoas sempre fazem escolhas tentando maximizar a satisfação de seus próprios interesses materiais (egotistas).
    – Nada pode funcionar sem um mínimo de hierarquia(!!).
    – Sem líderes destacados não é possível mobilizar e organizar a ação coletiva.

    (continua)

    Beto

    1. O ser humano não é competitivo,essa afirmação não tem nenhuma base científica,o ser humano se torna competitivo a partir do momento em que há escassez que faz com que o mesmo use seus instintos e busque sua sobrevivência,no entanto,mesmo tendo mais do que o necessário ele não coopera pois ele sempre lutou por sua sobrevivência e não aprendeu dividir,a ajudar…

    2. Quanto a hierarquia,você diz que ela é necessária para organizar a ação coletiva,mas tudo que não é organizado por todos não é uma ação coletiva pois foi organizada pela coerção,pela violência dos tais líderes,ou seja é uma ação individual e egoísta para forçar os outros a submeterem a certas coisas.

  4. (continuação)

    Quanto mais distribuídas e densas forem as redes sociais, mais elas terão capacidade de converter competição em cooperação, como resultado de sua dinâmica.

    Hoje, como o tema virou moda, as pessoas gostam de falar em redes, no mínimo para não parecerem ultrapassadas. Mas quando falam em redes, em geral, elas falam da conexão em rede de estruturas centralizadas(!). Os nodos não são redes. No seu próprio nodo não querem saber dessa conversa. E, para falar a verdade, nem se importam muito com a maneira como os outros nodos se organizam internamente, desde que…fique lá "cada um no seu quadrado".

    Só muito recentemente, algumas empresas começaram a se dar conta de que um padrão de organização mais favorável à cooperação – tanto internamente, quanto no âmbito dos seus 'stakeholders' – pode ter alguma coisa a ver com sua capacidade de se adaptar tempestivamente às mudanças do meio em que estão inseridas. Colocou-se então, para além da questão da competitividade (e da qualidade e da produtividade como atributos conexos), a questão da sustentabilidade(!).

    Mas tal não foi suficiente para alterar os 'drives' dos agentes empresariais. Mesmo os mais avançados, que já foram capazes de perceber que tudo que é sustentável tem o padrão de Rede e, assim, conseguiram entender a necessidade da transição de sua forma de organização hierárquico-vertical ou centralizada para formas mais horizontais(!) ou distribuídas, mesmo estes, não conseguem mudar seu “código-fonte”. E não conseguem fazê-lo simplesmente porque continuam se organizando de forma hierárquica. Eis o ponto!

    Os dirigentes hierárquicos têm seu ego fortalecido e obtêm mais um argumento de peso para justificar seus processos discricionários de tomada de decisões. E ficam motivados para comprar serviços e metodologias baseados nessa metafísica. Mas caminha em direção contrária aos ventos da mudança da sociedade hierárquica para a sociedade em rede. E constitui um obstáculo à necessária transição do padrão de organização das empresas e de outras instituições.

    Tudo é aceitável, menos mexer no meu quadrado, que delimita o perímetro do meu reino. Sim, pode-se dizer o que se quiser, mas não se pode, honestamente, deixar de encarar o fato de que as empresas – assim como a maior parte das organizações – ainda são monárquicas(!) em um mundo que, pelo menos no que tange às sociedades consideradas mais desenvolvidas, já superou as monarquias (absolutistas) há bem mais de um século.

    O reizinho não se preocupava muito com a maneira como os outros povos (estrangeiros) se organizavam. Mas lá no seu reino, êpa! Aqui mando eu.

    Beto

  5. Para quem falou do movimento zeitgeist e do projeto venus:

    Esses jogam com a ideia de uma sociedade funcional sem dinheiro, mas que, vão vocês a ver, descamba no mesmo sistema secularista que a NWO pretende estabelecer e que John Lennon descrevia em "Imagine". E se pensam que os Beatles não tinham nada a ver com a NWO, desenganem-se. Há informação sobre isso.

  6. Quanto sequer conseguimos abordar esse tema sem diferenciar causas e consequências torna-se muito complicado. De que adianta relacionar questões como ecologia, consumismo, estruturalismo, entre outras, se a única fonte imprescindível para o comportamento consciente do animal chamado homem é o entendimento do funcionamento civilizatório, e todas as questões fundamentais que se relacionam com o poder e sua dominação. Chegar até essa verdade é a questão chave e insubstituível para a reconceituação existencial em sua real dimensão. Insisto, sem essa condição não haverá qualquer mudança significativa.

  7. Olá Max, realmente a opção Sociedade sem Dinheiro pura e simplesmente parece absurda. Mas a proposta mas proeminente, a de Jacque Fresco, que deu origem a série Zeitgeist, não propõe simplesmente acabar com o dinheiro, mas propor um novo conceito de consumo orientado pela abundância e não pela escassez. Ou seja, se produz mais do que é preciso utilizando a tecnologia atual que, segundo ele, é mais do que suficiente para que quase toda a produção fosse realizada por máquinas, robôs e computadores, deixando a pequena atividade humana aos encargos de voluntariado. E não haveria a necessidade de troca, uma vez que todos tem tudo o que precisam em abundância. Então era só ir ao supermercado, pegar o que precisa e ir para casa. E sem TER que trabalhar?! É um sonho. Evidentemente a possibilidade disto é questionável, mas aí pode existir alguns princípios que merecem atenção.

    Sobre o dinheiro, vale a pena lembrar que faz tempo que o dinheiro não é meramente um instrumento de troca: ele passou a ser a própria mercadoria através da usura, o que gera o dinheiro não associado à riqueza (produção e serviço/trabalho): um instrumento de troca em troca da simples PROMESSA dele existir. O empréstimo a juros sempre foi um remédio para uma distribuição de renda ruim: ao invés da riqueza ser distribuída, cria-se papéis que "valem dinheiro". Com isso, o dinheiro – que agora não é necessarimante riqueza – passou a ser inflacionário por natureza. Um órgão saudável não é um problema, mas quando ele está com um tumor, passa a ser parte do problema e vale o questionamento sobre continuar com ele ou não. Se o dinheiro carrega a doença inevitável da usura, a ponto de economias inteiras serem baseadas em juros, creio que chegará um dia que a humanidade terá que escolher entre prosseguir enternamente na busca para uma "cura" do dinheiro ou nas alternativas de viver ser ele.

  8. (1) Mas como funciona esta comunidade?(2) Quem toma as decisões?(3) São tomadas democraticamente?(4) Votação directa, sem representantes?(5) como são regulados os relacionamentos entre as várias comunidades?(6) E entre os conjuntos de comunidades?(7) Quem gere as universidades ou uma forma equivalente de transmitir as bases culturais? Os professores?
    1-Em democracia direta,onde todos possam propor e votar.2-Todas as pessoas.3-Sim.4-Não,haveriam representantes mas sem poder nenhum somente para organizar a democracia.5-Por meio de federações desenhadas para que não haja hierarquias.6-da mesma forma,cada federação teria seu(s)representantes.7-Sim os professores nada mais justo que isso.

Obrigado por participar na discussão!

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