Atómicas e água (e Chineses)

Um Paquistão estável e tranquilo é o ideal para o Ocidente, empenhado em “pacificar” o vizinho Afeganistão (que em paz já estava antes da chegada do Ocidente, mas este é outro discurso).

Só que o Paquistão tem uma verdadeira obsessão: a Índia.
Desde que os dois Países foram divididos, em 1947, os Islamabad e Nova Dheli travaram quatro conflitos: em 1947, 1965, 1971 e em 1999. Todos (com a excepção da guerra de 1971) com um único objectivo: o controle da região do Kashmir (Caxemira).

Mas agora um novo factor de discórdia ameaça o futuro de Paquistão e Índia: a água.

É um problema nada mal, por duas razões:
1. ambos os Países são potências nucleares
2. elemento central da disputa é um dos bens mais preciosos, talvez “o” bem por excelência.

No último Domingo, o jornal The Nation de Lahore (Paquistão) publicou um editorial intitulado “Nizami: a guerra com a Índia é inevitável”. Majid Nizami, editor do jornal e presidente do Fundo Nazari-i-Paquistão Trust, disse aos seus concidadãos para preparar-se: haverá uma guerra com a Índia sobre a questão da água.

Durante o encontro intitulado “Relacionamentos Paquistão-Índia: os novos desejos dos nossos líderes”, realizado na Aiwan-e-Karkunan Tehrik-e-Pakistan, Nizami afirmou que “as hostilidades e as conspirações indianas contra o País não vão acabar até que não aprendam a lição”.

The Nation é um jornal conservador, do grupo editorial Nawa-i-Waqt, com uma tiragem de 20.000 exemplares, um site na internet e ligações estreitas com altos círculos militares do Paquistão, portanto os comentários de Nizami não podem ser subestimados.

Além disso, o público Nizami inclui alguns altos funcionários paquistaneses, homens-chave do regime.

Os pontos em questão são as preocupações do Paquistão acerca dos projectos indianos: a construção de duas barragens hidroeléctricas no rio Induo. Islamabad teme que os projectos, que envolvem a construção da barragem Bazgo-Nimoo de 57 metros de altura e da barragem de 44 mega watts de Chutak, possam reduzir o fluxo do rio Indo, em violação do acordo bilateral de 1960.

O Indo, que começa na porção da Caxemira controlada pela Índia, é crucial para ambos os Países, mas de momento já apresenta um fluxo diminuído, quase 30% abaixo do nível normal. O Indo é a fonte primária de água fresca para o Paquistão, cuja agricultura depende em boa parte (90%) daquele rio.

De acordo com uma série de especialistas em agricultura, ao longo dos próximos dois anos o Paquistão enfrentará uma enorme escassez de água devido a práticas inadequadas na gestão de água e a capacidade de armazenamento: um cenário que pode ser rapidamente agravado pelo duplo projecto hidroeléctrico da Índia , que diminuirá ainda mais o fluxo do rio.

Assim, no pior dos casos, quem vai salvar o Paquistão?
A China.

Durante o Fórum Boao 2012, realizada na ilha de Hanian em 1 de Abril, o Paquistão e a China concordaram a recíproca ajuda “em todas as circunstâncias” e comprometeram-se a manter a própria integridade territorial e soberania a todo o custo.

O primeiro-ministro paquistanês Syed Yousuf Raza Gilani disse ao vice-premier chinês Li Keqiang que “os amigos da China são os nossos amigos e os seus inimigos são os nossos inimigos”, acrescentando que o Paquistão considera a segurança da China como se fosse a própria e que apoia a posição o País nas questões de Taiwan, Tibete e Xinqiang.

Por sua vez, o vice-premier Li disse que a China vai apoiar a soberania e a integridade territorial do Paquistão em qualquer situação, independentemente das alterações a nível internacional.

Enfim, um verdadeiro casamento.

Doutro lado, em Outubro de 1962, na crise dos mísseis de Cuba, China e Índia já tinham travado um breve porém amargo conflito na disputada fronteira do Himalaia.

Cinquenta anos depois, China e Índia ainda têm de resolver os seus problemas na fronteira da Caxemira e na China continua a reclamar o Estado indiano de Arunachal Pradesh, no sopé do Himalaia, na ausência de qualquer tratado definitivo sobre a fronteira.

A Caxemira continua a ser o local da disputa maior e a mais militarizada região do mundo, com partes sob a administração da China (Chin Aksai), da Índia (Jammu e Kshmir) e do Paquistão (Azad Kashmir e Áreas do Norte). Uma zona montanhosa dividida entre três potências nucleares.

Não há dúvida, portanto, sobre quem Pequim apoiará nas tensões entre Paquistão e Índia. E no centro: bombas atómicas, fonte de destruição e água, a fonte da vida.

Ipse dixit.

Fonte: Dissident Voice
Imagem: Associated Press

4 Replies to “Atómicas e água (e Chineses)”

  1. Pois é; lutas intestinas pelo poder no cume da pirâmide, as senzalas que se danem, sobram escravos… O SISTEMA É ESCRAVAGISTA, ALIENÍGENA , INUMANO E ANTROPOFÁGICO.
    O Max vai dizer: "Lá vem o gajo…

  2. Ah, a água! Conheci figuras que quando houve muita seca em certo lugar em que me encontrava, tomavam banho com água mineral engarrafada, e de banheira. E eu, que nem serpente encarquilhada bufava: tua lagoa também há de secar, jacaré!
    A Líbia virou a desgraça que virou porque Gadaffi trouxe a água do subsolo do deserto para o país, e estava tratando de levá-la a toda região subsariana.Eis a primeira ´guerra contemporânea para privatizar a água e distribuí-la a quem paga bem.
    A luta internacional pela Amazonia, pela não construção de hidrelétricas (represamento da água sob controle estatal brasileiro) não deixa de ser uma guerra atual constante e interminável pelo gerenciamento das águas pelo estado-nação onde elas fluem.
    A guerra oculta pela não construção de via fluvial inteiramente navegável beneficiando Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil,é uma das razões pelas quais ocorre interminável insistência norte-americana em estabelecer na tríplice fronteira (Brasil-Paraguai-Argentina)mais um dos seus "corredores humanitários" para casos de desastres "naturais ou sociais". A água novamente!
    Tudo indica que este século vai se notabilizar pela corrida ao ouro azul. Abraços

  3. ihihih maria… e de construção de barragens só é mau se forem construídas aí no Brasil, e restantes países da América do Sul… de resto por cá como já deves ter lido lá no espaço de insanidade a coisa é vista com bons olhos: Cria empregos directo na fase de destruição/construção, anima a economia da região através da criação de trabalhos, generosamente criados para os pobres, abastece os bolsos dos amigos, servem para receber prémios de arquitectura e design de exteriores, criam oportunidades para criação de novos campos de golfe e hotéis de luxo e zonas de desportos aquáticos para os ricos.
    Ah! Também servem para armazenar água. Se chover bem dá para gerar energia, caso contrário fica a água parada, a encher-se dos agro-tóxicos utilizados nas culturas intensivas de regadio e pronto lá se vão uns milhares de peixes e outra bicharada que não interessa para nada!
    De resto a água… vai ser sem dúvida divertido de assistir às confusões que por aí vêm!

  4. Complementando meu sucinto comentário anterior.
    Cara Maria, aprecio muito seus comentários, lucidez e seriedade não são bem características do anonimato virtual.
    Penso que não vai haver nehuma corrida ao ouro azul. A escravagista nova ordem mundial, para "quem" TUDO É COISA, segue a agenda, vai com sua patinha de predador coisificar e chipar tudo e todos, este é o plano. A propaganda midiocrática neste momento "vende" as "vantagens" do chip em coisas e animais. Aos poucos estão chegando onde querem; chipar todos os humanos sobreviventes ao genocídio invisibilizado. Então, quem se recusar ser chipado NÃO COME NEM BEBE. Tudo lhes pertencerá, LEGALMENTE – INCLUSIVE O AR QUE RESPIRAMOS. Já estão "taxando" o CO² como se isso fosse uma verdade e a massa ignara aceitará tudo passivamente ATERRORIZADA.
    A campanha eleitoral para o senado ("lobismo") custa, por baixo, mais de onze milhões de reais, de onde aparece toda esta fortuna? Não esqueçamos jamais que a doutrina Monroe vigora hoje mais que no dia em que foi anunciada. Avançam legalmente a implantação do 4º reich… Os BANQUEIROS através dos bancos centrais de todo o mundo mandam e os políticos de todas as nações obedecem.
    O nada falado e famoso aquífero guarani é uma das grandes razões da ocupação alienígena da tríplice fronteira entre outras globalistas estratégicas teses de "defesa do planeta" na planejada escassez de tudo para a sobrevivencia da elite escravista no terceiro milenio. Esta é mais uma entre tantas canalhices como o efeito estufa, aquecimento global, pandemias e outras barbaridades do genocida império escravizador. Esta falácia da escassez de água fecha a armadilha para justificar a privatização de todos os recursos do planeta na mais feroz tirania jamais vista desde a antiguidade mais remota.
    Sinto muito, toda Paz para você e todos nós. Sou grato.

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