O caso das Taxas Libor: sempre os mesmos

London Interbank Offered Rate, Libor para os amigos. 
E em Tóquio? Tibor.
E na Europa? Euribor.
E em Hollywood? Zsa Zsa Gabor.

Tá bom, esqueçam o último exemplo. Mas os outros são importantes, pois são taxas de referência: indicam o custo dos empréstimos no mercado interbancário.
Na prática, quanto custa aos bancos encontrar dinheiro. Pois o dinheiro custa, em todo o mundo.

São importantes? Claro que sim.
São uma importante referência para muitas transacções de mercado.

Porque são importantes

Por exemplo: Toninho entra no banco para pedir um empréstimo.
– Bom dia, sou um jovem recém-licenciado, fui muito louvado por causa dos meus estudos sobre como resolver a fome no mundo, agora procuro um emprego e queria um empréstimo para comprar uma casa.
– Mas o senhor é doido varrido, saia já desta respeitável instituição bancária!

De facto, Toninho enfrentou o problema duma perspectiva errada.
Outro exemplo: Zé Pedro entra no banco para pedir um empréstimo:
– Bom dia, acabei de sair da prisão por causa de uma certa história de drogas, tenho 3 casas no Algarve, 1 nas Maldivas, uma pipa de massa na Suíça, um Porsche 911 estacionado cá fora, quero um empréstimo para comprar uma nova casa.
– Com certeza, seja bem vindo, faça o favor, deseja um café? Só uma coisa: com o empréstimo costumamos cobrar também o spread, que é o nosso ganho, mais a taxa Euribor, que é o custo do dinheiro, a coisa não incomoda, pois não?
– Imagine, entre colegas…


Este é o exemplo que interessa: o banco cobra o spread, que é a margem de lucro, mais o Euribor (na Europa, pois fora do Velho Continente tem outros nomes, como vimos), que é o custo do dinheiro.

Bom, dito assim parece tudo normal: o Euribor é quanto o banco paga para encontrar o dinheiro no mercado, é um custo que justamente deve ser sustentado por quem procura o dinheiro. E seria lógico pensar que, como o custo do dinheiro é determinado pelo Banco Central Europeu (na Europa; nos Estados Unidos é a Federal Reserve, nos outros Países os respectivos bancos centrais), o Euribor reflectisse as decisões do BCE. Mas assim não é.

O banco e o medo

Em 2008, por exemplo, enquanto o custo do dinheiro segundo Federal Reserve era próximo do zero e segundo o BCE era cerca de 1%, as outras taxas (Euribor, Tibor…) eram muito mais elevadas. Porquê?
Simples: porque os bancos tinham medo. Pegavam no dinheiro (que provinha do banco central) e depositavam o mesmo dinheiro nas suas contas do banco central. Absurdo, não é?

Na verdade, os bancos desconfiavam dos outros bancos. Preferiam deixar que o dinheiro maturasse juros ridiculamente baixos (1% ou quase zero) nas contas dos bancos centrais em vez que emprestá-lo a outros bancos. E quando emprestavam, cobravam muito: este “muito” eram as taxas como o Euribor, mais elevadas do que o custo do dinheiro estabelecidos pelos bancos centrais.

Tudo isso em 2008. Mas agora? Mesma coisa, no sentido que a desconfiança entre as instituições bancárias é sempre forte. No entanto, Euribor e companhia baixaram. Um bom sinal? Nem por isso, é o sinal que algo não bate certo: se as condições não mudaram (mercado fraco, bancos em risco de insolvência, desconfiança…), porque as várias taxas Libor diminuíram?.

Tom Kirchmaier, da London School of Economics:

Toda a história é muito embaraçosa para os bancos, não sei como será possível resolve-la. Os reguladores têm de repensar a forma como são determinadas as Libor.

A suspeita: que “alguém” tenha trabalhado para manter estas taxas forçosamente baixas.
Mas porquê? Afinal os bancos desconfiam uns dos outros, o empréstimo de dinheiro entre eles é extremamente reduzido, quem ganharia com um Euribor baixo? Resposta: os bancos. Porque com um Euribor baixo, as obrigações (que pagam Euribor + spread) ficam mais baratas: geram um custo menor para o emissor. E o emissor é o banco.

Complicado? Não, e pode ser resumido desta forma: a suspeita é que alguns bancos trabalharam para manter as taxas Libor baixas para ganhar mais com as obrigações. Fizeram aquilo que é chamado dumping, manter um valor mais baixo do real valor de mercado. Tudo, obviamente, para ganhar mais. Simplificando ao máximo é isso que se passou.

Sim, mas “quem”? Afinal no mundo dos bancos também há regras: e as regras ditam que as áreas dos bancos que contribuem para a formação do valor da taxa em questão deveriam ser “impermeáveis”, rigorosamente separadas e não em contacto entre elas. Isso dizem as regras. E a prática o que diz? Diz que os funcionários dos vários bancos trabalhavam lado a lado, sentados à mesma mesa.

Os bons

E aqui entram em cena os “bons”, os que querem saber qual a verdade. Eles são: a inglesa FSA (Financial Services Authority), em colaboração com o Canadian Competition Bureau, a agência Securities and Exchange Commission (SEC), a Commodity Futures Trading Commission, o Departamento de Justiça dos EUA, a Comissão da UE, a Japan Financial Supervisory Agency.
Falta só Batman, os outros estão lá todos.

Os maus, sem surpresa

E agora vamos ver quais os culpados. Os Leitores mais antigos deste blog podem tranquilamente saltar o próximo parágrafo, pois não é preciso nenhum esforço para imaginar “quem”: são sempre os mesmos, as organizações criminais de costume.
Os restantes Leitores podem espantar-se com os seguintes nomes, os “maus” (os bancos sob investigação): JPMorgan Chase, Deutsche Bank, HSBC, Barclays, UBS, Bank of America e Citigroup.

O que está em causa não é pouco: milhares de transacções falseadas (obrigações, mútuos, derivativos…) com uma taxa Euribor manipulada. E, por isso, virtualmente nulas. Sanções administrativas (para os bancos) e penais (para os traders) são o esperado.

Mas já há uma reacção: UBS, o banco suíço, confessou nos últimos dias ter tomado parte nesta actividade ilícita, de ser parte dum cartel de bancos que formaram as taxas interbancárias fora dos moldes previstos pela lei. E porque confessou? Porque a lei prevê uma mitigação da pena (-30%) para o primeiro que saia dum cartel. Desta forma, UBS deixa os outros bancos em águas muito agitadas.

O julgamento? Não antes de 2013. E até lá muitas coisas podem acontecer…

Ipse dixit.

Fontes: Bimbo Alieno

One Reply to “O caso das Taxas Libor: sempre os mesmos”

  1. Amendoins… Como andam por aí a flutuar no espaço cibernético mais de $35.000.000.000.000 de CDS para quê perder tempo com amendoins!!! Já para nem referir a hyper-hypothecation que em 2011 ficou-se nuns meros +- 1.160.000.000.000… Quem quer amendoins?

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