Death Bonds, a úlitma fronteira

O Leitor tem na própria família uma pessoa idosa?

Olhem para ela: está velha, provavelmente com algumas doenças, não produz, só gasta a reforma.

Em definitiva: é um parasita.

Mas eis que agora a Deutsche Bank encontra a maneira de rentabilizar estas pessoas inúteis. Como? Com os Death Bonds.

Não são uma novidade absoluta, no sentido que nos Estados Unidos existem há mais de uma década (sempre muito à frente o Tio Sam); é que agora a Alemanha importa este artigo inovador que, verdade seja dita, fazia falta.


Nos EUA, noventa milhões de pessoas têm um seguro de vida: muitos deles já não conseguem pagar as mensalidades (é a crise) ou precisam de retirar o dinheiro. É nesta altura que intervêm os especuladores. Ops, desculpem: investidores.

Que faz o investidor? Oferece aos idosos com seguro um “acordo de vida” (life settlement): adquire o seguro deles em troca de metade da compensação esperada (em média: 400 mil Dólares por cada milhão), depois continuam a pagar as mensalidades e esperam.
Esperam o quê? Esperam que o velhote morra para poder receber a compensação prevista pelo contrato do seguro.

Por isso: quanto mais cedo morrer o velhote, tanto melhor.
É ou não é genial?
Sem dúvida, é.

Os Death Bonds conheceram o primeiro sucesso nos anos 80, com os doentes de Sida: empobrecidos pela doença e com necessidade de dinheiro a qualquer custo (os medicamentos são caros), este parasitas sociais adoentados tiveram a sorte de encontrar os investidores que ofereceram o life settlement. O paciente morria? Ganhava a sociedade e ganhava o investidor. Que, não podemos esquecer, fazia uma boa acção em fornecer dinheiro para quem mais precisava dele.
Praticamente uma Teresa de Calcutá.

Infelizmente a ciência secou esta legitima fonte de ganhos com novos medicamentos que ajudavam os parasitas seropositivos; mas eis que a saudável imaginação dos investidores conseguia encontrar novos mercados.

Os pretos da Baixa de Los Angeles, por exemplo: morrem mais cedo do que o cidadão médio americano. Então porque não projectar um seguro específico, embrulha-lo com um nome atractivo e depois vender  . tudo com a promessa que “os pretos de Los Angeles morrem mais cedo” (é o mesmo mecanismo dos geniais subprimes, diga-se)? É só comprar o seguro e esperar que o preto fique esfaqueado ou morra de overdose. Pelo menos, o parasita preto conseguirá fazer algo de útil com a própria morte que, caso contrário, seria totalmente inútil.

Este alegre (e ético) mercado nunca parou nos Estados Unidos, até cresceu: o rendimento médio é hoje de 8%, porque se existir uma coisa segura, esta é a morte.

E agora, finalmente, um banco alemão (tinha que ser, não é?) lança no Velho Continente o tão desejado produto. Claro, na Europa somos mais delicados, por isso foi inventado um nome novo e “neutral”: Life Settlement Backed Securities (LSBS), bem melhor de que “Morres Cedo Ganho Mais”.
Pelo contrário, há palavras como securities, life: são coisas que inspiram confiança.

E confiança é coisa da qual precisamos aqui na velha Europa, onde a vaga de cortes nos salários, nas reformas e nos serviços prometem encurtar as vidas. De quem? Dos parasitas, óbvio. Este produto é uma injecção de confiança porque parece dizer: “Vêem? As coisas nunca são tão más como podem parecer, é possível ganhar até com o sofrimento e a desgraça dos outros”. Sem dúvida, uma mensagem positiva e cheia de esperança.

Como positiva é a mensagem do chefe supremo da Deutsche Bank, Josef Ackerman, que declarou há alguns dias:

Como líder de mercado na Alemanha e um dos principais bancos do Mundo, sentimos uma responsabilidade especial acerca dos nossos objectivos económicos honestos e da maneira moralmente aceitável para alcança-los.

E acerca da honestidade e da moralidade do Deutsche Bank, acho que ninguém possa objectar alguma coisa.

Por isso já sabem: peguem no vosso avô e dirijam-se para a mais próxima agência da Deutsche Bank. E aproveitem para recolher uns drogados, alguns pobres e doentes em fase terminal ao longo do percurso, pois podem sempre dar jeito.

Ipse dixit.

Fonte: Rischio Calcolato, Berliner Zeitung

One Reply to “Death Bonds, a úlitma fronteira”

  1. Olá Max: uma das coisas que me deixava besta nos EUA, quando tive um contato maior com cidadãos comuns naquela sociedade, é como os matrimônios são vistos como uma associação comercial onde, se um dos sócios caí em desgraça (perde o emprego por exemplo), automaticamente a sociedade matrimonial descamba. Ao ponto de seguros de vida fazerem parte do planejamento familiar, prevendo-se o que se vai comprar assim que o cônjuge ou a cônjuge baixar a sepultura. Vocês podem não acreditar em mim, mas eu vi como é verdade.De forma que isto que te surpreende Max, descrito no post,é perfeitamente normal para a maioria dos norte americanos. Estou falando de 30 anos atrás…nem quero imaginar como a coisa estará neste momento. Abraços

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