O caminho para a Pérsia

Conspirações? Esqueçam.

Os cenários mais assustadores são contidos nos documentos, nas imagens e nas declarações oficiais.
Por exemplo: a Síria, o Irão, a Líbia, Al-Quaeda…seria possível passar horas e horas para imaginar planos que envolvam estes nomes.

Tempo desperdiçado: é só consultar as fontes oficiais.
E não é um exercício inútil, pelo contrário: permite prever quais os próximos acontecimentos, quais os protagonistas, quais as tácticas e as razões. São chaves de leitura que o “conspiracionismo” não permite.

Primeiro ponto: do Irão

No terceiro capítulo do relatório Which Path to Persia? Options for a New American Strategy Toward Iran (Qual o caminho para a Pérsia? Opções para uma nova estratégia americana para o Irão) podemos encontrar:

Uma insurreição é muitas vezes mais fácil de incentivar e apoiar a partir do exterior […] Promover uma insurreição exige um compromisso financeiro pouco oneroso […] Apoiar secretamente a insurreição permitiria que os Estados Unidos negassem ter feito isso, reduzir as repercussões sobre a diplomacia e a política […] ao contrário do que aconteceria se os Estados Unidos trabalhassem para organizar uma acção militar directa […] Depois do governo ter sofrido alguns revés, haverá também o pretexto para agir.

Assinado: Brookings Institution (um think tank sem fins lucrativos, sede em Washington), datado ano 2009.
Fundado com a ajuda da família Rockefeller, estes os principais financiadores: Ford Foundation, Bill Gates Foundation, Bank of America, ExxonMobil, MacArthur Foundation, Carnegie Corporation; governos dos Estados Unidos, Japão, Qatar, Taipei, Reino Unido.  

Segundo ponto: do Irão e da Síria

Os jornais anunciam nas primeiras páginas: “Atingir o Irão: o cenário divide Estados Unidos e Israel” (Le Monde, 13 de Fevereiro).
Entretanto, o International Herald Tribune (11e12 de Fevereiro) coloca na página de abertura uma grande foto do acto terrorista que fez explodir a sede da polícia em Aleppo, Síria. Porque a revolta contra o regime de Assad é muito pacífica.

Ponto três: da Síria e de Al Qaeda.

O jornal conservador espanhol ABC do dia 17 de Dezembro publica uma reportagem especial do fotógrafo Daniel Iriarte (seguidor do Free Sirian Army, FSA, o exército sírio que quer abater o regime de Assad), enviado em território turco perto da fronteira com a Síria: “Os islamistas líbios movem-se para a Síria em ajuda da revolução”. Relata que o FSA tem cerca de 2.000 soldados.

Entre eles, afirma Iriarte, existem três líbios muito interessantes.
Dum não revela o nome, mas os outros dois são Mahdi al-Herati e Adem Kikli.

Mahdi al-Herati: Comandante da Brigada de Tripoli e depois o n º 2 do Conselho Militar de Tripoli. Durante a batalha de Tripoli, Mahdi al-Herati liderou um pelotão de Al-Qaeda que atacou o Hotel Rixos.

Adem Kikli: tenente de Abdelhakim Belkai, chefe do Conselho Militar de Tripoli, lidera a brigada de cerca de 600 membros de Al Qaeda que servem no Free Sirian Army.

Quarto ponto: de Al Qaeda.

O ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar,convidado no blog da CNBC no dia 9 de Novembro de 2011, revela que Abdelhakim Belhaj era suspeito de envolvimento nos atentados de Madrid de 11 de Março de 2004.

Sim, exacto: o mesmo Abdelhakim Belhaj chefe do Concelho Militar de Tripoli que agora intervém na insurreição da Síria. O mesmo Abdelhakim Belhaj que tinha sido preso no aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, pelos homens da CIA, transferido numa prisão secreta em Bangkok. E depois libertado.

Preso pela CIA e depois libertado? Sim porque uma vez saído da prisão, Belhaj foi para a Líbia. E sabemos o que aconteceu a seguir na Líbia. Assim como sabemos o que acontece agora na Síria.

Agora, como sempre, é só unir os pontinhos…

Ipse dixit.

Fontes: Le Monde, ABC, Wikipedia, Which Path to Persia? (ficheiro Pdf, em língua inglesa), Megachip

4 Replies to “O caminho para a Pérsia”

  1. No meu ponto de vista que não conta muito, para confrontar o Iran os EUA devem também estar dispostos a enfrentar os interesses Russos e Chineses relacionados ao Iran, o que torna esse capricho de Israel bem mais complicado de ser concedido.

  2. Olá Max: ninguém pode dizer que a verdade seja segredo. As coisas são escritas, descritas e faladas. Só não são espalhadas.Esse ótimo post mostra bem isso. E no lugar do não espalhado nunca fica um vazio a reclamar preenchimento. Antes disso, a mentira conveniente alastra-se, e entope olhos, ouvidos e cérebros, tomando o lugar da verdade. Parece que existem dispositivos que realizam, a perfeição, a função do preenchimento com mentiras. Também são dispositivos de fala, escrita e imagens. Manifestam-se nos discursos religiosos, dos meios de comunicação de massa, meios de entretenimento como jogos, cinema e literatura, e no discurso acadêmico/escolar. É tudo muito bem integrado, um refletindo o outro,como se fora um jogo de espelhos, inculcando as mesmas mensagens, emburrecendo, neutralizando e paralizando, na medida dos interesses dos poderosos, a maioria dos humanos. Na contra mão deste estado de coisas, os mesmos dispositivos, levando mensagens diferentes das majoritárias, e de cunho alternativos a elas (olha nós aí, gente, como o II !)É necessário,extremamente importante, penso eu, mas será suficiente neste exato momento? Seríamos capazes de imaginar dispositivos novos, inéditos, que fizessem funcionar outra coisa além do discurso esvaziado de mentiras, ou seja, do contra discurso? Acho que o sucesso e o alcance das nossas iniciativas de contra discurso implica em pormos em prática iniciativas práticas que, pelos seus resultados, desmascarem as mentiras que convencem o mundo diariamente. Abraços

  3. Conspirações? Esqueçam.

    Entendo que as notícias que nos chegam e que nos permite fazer alguma avaliação são somente a ponta do iceberg, já que os fatos não acontecem por puro acaso e que os seus perpetradores tenham conhecimento de todo o pano de fundo que os envolvem. Assim como no nosso cotidiano existem diversos níveis de informação, assim creio também na alta política internacional e quiçá supra-nacional. Então só podemos vislumbrar as primeiras e segundas intenções da estratégia do jogo político da dominação, as terceiras intenções como tudo na vida fica escondida pelos diversos níveis de acesso e de filtros que são impostos, fazer as ligações dos pontinhos é permitido, mas infelizmente não sabemos quem foi que pos os pontinhos lá.

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