– Arriba! Arriba!
– Oh não…
– Mira: el patán!
– Pois…
– Olha Max, fiz acomodar o Excelentísimo Señor Professor Pedro Juan de Castilla y Suabia y Danmartín, Señor de Marchena y Zuheros, Pepe para os amigos, pois disse que hoje é o Dia dos Dias!
– Que dia?
– Dos Dias.
– Sim, mas que significa isso?
– Significa que hoje vai ser revelada a Grande Verdade!
– Nada menos…
– Pois, nada menos: e imagina, este é a última aula do Professor antes do regresso para o México. Uma aula só para nós!
– Uma honra, sem dúvida…quando acaba? Ahiahiahiaaaa….
– Professor, quando puder largar o tornozelo do atordoado e desejar começar…
– Bueno, diz-me patán: viste o telejornal?
– Sim, vejo sempre o telejornal.
– E porquê?
– Para manter-me informado.
– O que é agora?
– Ainda não aprendeste…os que mandam, os que contam, não aparecem na televisão. Os que mandam no governo são pessoas que não é costume ver no ecrã ou nos jornais. Pode cair o governo, pode mudar a maioria, mas para nós não muda nada. Os políticos não contam, as ordens que recebem sim.
– Então? Era esta a Grande Verdade? Grande coisa…
– Grrrrrrrrrrrr….
– Shhht!
– Ok, ok, fico calado…
– O teu cerebrinho de patán já deveria ter perguntado: “Excelentísimo Señor Professor Pedro Juan de Castilla y Suabia y Danmartín, Señor de Marchena y Zuheros, mas qual a vantagem das elites tornarem todos mais pobres? O que ganham eles se nós ficarmos arruinados?”. Isso deverias ter perguntado. Perguntaste?
– Não.
– Pois não, claro que não, caramba! Mas agora ouve com atenção.
– Ouviste? Com atenção Max.
– Sim, sim já percebi…
– A maioria das pessoas duvida destas palavras porque não entendem: o que ganham eles a arruinar inteiras economias? Mas é isso mesmo. Pensa: como funciona a economia tradicional? Nobre Leonardo, podes ajudar-me?
– Claro Professor. A economia tradicional funciona assim: vende-se um produto para o qual há clientes, ou oferece-se um serviço que muitos desejam. Desta forma é possível ganhar e obter lucros.
– Muito bem Leonardo. E tu, patán, podes fazer uns exemplos?
– Eu? Bah, assim, de repente…boh, agora nem lembro…
– Que figura, que figura triste ter um dono assim…digo eu, Professor: um exemplo de produto pode ser a Coca Cola, um exemplo de serviço pode ser a recarga do telemóvel.
– Exacto Leo! Falamos de muito dinheiro, grandes lucros, grandes capitais. Uma vez as coisas funcionavam assim, os Capitalistas, os verdadeiros Capitalistas, acumulavam fortunas ao oferecer produtos e serviços: carros, casas, aço, turismo, publicidade. Isso enquanto a maioria dos serviços essenciais eram geridos pelo Estado. Mais ou menos as coisas funcionavam desta forma até 20 anos atrás. Mas agora pensem nisso: imaginem ser um Super-Capitalista, donos duma fortuna imensa, e isso graças à venda de carros. O que pensa este Super-Capitalista?
– Pensa de vender cada vez mais carros.
– Errado. Respondo eu Professor. Pensa: “Quantos clientes tenho na Europa? Os Europeus são quase 500 milhões de bípedes, mas Chineses e Indianos juntos são mais de 2 biliões”.
– Muy biem, Leo! E depois há outro Super Capitalista que pensa: “Olha quantos clientes tem o Estado com os serviços, ah se eu pudesse ter aqueles clientes garantidos…”. Porque é assim, uma pessoa pode decidir se comprar uma tortilla ou um poncho, mas quem abdica de água, saúde, telefone ou electricidade? Então o Super-Capitalista pensa: “Tenho que encontrar a maneira de pôr as mãos naqueles serviços”. E temos um Super-Capitalista que quer vender nos mercados menos desenvolvidos e para fazer isso tem que ter preços mais competitivos, enquanto o outro Super-Capitalista quer os serviços actualmente do Estado para ter clientes garantidos. E não é tudo!
– Ah não?
– Shhht!
– Não, porque além dos dois Super-Capitalistas há também os especuladores e os bancos. Os especuladores pensam: “Ao convencer os governos a eliminar as leis que limitam o nosso poder, podemos criar truques matemáticos muito complicados, que ninguém entenderá, e que permitirão conseguir lucros particularmente elevados”. E os bancos? O que pensam os bancos, patán?
– Ehhhhh…pensam em ganhar dinheiro, cada vez mais…
– Não, errado. Respondo eu, Professor. Os bancos pensam: “Se conseguirmos endividar milhões de trabalhadores com a ilusão de multiplicar o dinheiro deles, será possível implementar os mesmos truques dos especuladores e ganhar rios de dinheiro”.
– Exacto Leo! Resumen: os Super-Capitalistas decidiram vender onde há mais potenciais clientes; os grandes investidores perceberam que ao comprar os serviços essenciais do Estado os clientes eram garantidos; os especuladores inventaram complexas fórmulas matemáticas com as quais apostar no azar dos Estados; os bancos utilizaram os mesmos truques para multiplicar de forma fictícia o dinheiro e endividar trabalhadores e empresas. Isso significa que a economia tradicional mudou completamente de cara!
– Sim, tá bom, mas que tem isso a ver com o facto de ficarmos todos mais pobres?
– Minha Nossa Senhora dos Ossos, mas porque a mim um dono assim? Tudo é preciso explicar…
– Calma Leo, calma, o patán é bípede, não entende depressa…tenta seguir mi pensamiento: como foi possível para os grandes empresários reduzir o custo da mão de obra? Era precisa uma crise, uma grave crise que tornasse mais pobres inteiros Países, assim com a desculpa da crise podem dizer: “Há crise, não há vendas, temos que despedir e reduzir os salários”. É isso que se passa agora, têm massas enormes de desempregados que aceitam salários míseros para poder trabalhar. E este era o objectivo. Como era possível obrigar o Estado a vender os serviços essenciais? Era precisa uma crise económica, para que os Estados ficassem sem um tostão e poder dizer: “Há crise, o Estado ficou endividado cada vez mais, não há dinheiro, tem que vender os serviços públicos”. É isso que está a acontecer. Como foi possível para os especuladores saber que as economias teriam fracassado? Simples: precisavam duma crise económica que tornasse aquelas economias mais pobres. E eles ganharam e continuam a ganhar com as apostas. Apostaram contra a Grécia e ganharam, apostaram contra Portugal e ganharam, apostaram contra Italia e começam a ganhar. É isso que acontece. Como puderam os bancos tornar milhões de pessoas endividadas e usar estas dívidas para especular e ganhar ainda mais? Era precisa uma crise económica para tornar inteiros Países pobres, de forma que os cidadãos fossem obrigados a endividar-se ainda mais para sobreviver. É isso que acontece nos Estados Unidos e na França, por exemplo, mas não só.
– Professor Chihauhua, mas afinal esta gente consegue todas estas riquezas ou não?
– Se conseguem? Madre de Dios y de Jesús y la Santísima Trinidad de Guadalupe se conseguem! Os ricos “nacionais” são mortos de fome em comparação. Falamos de operações de 12 mil milhões de Dólares por vez. E sabes quantos são esta “gente” como tu dizes?
– Bah…alguns milhares?
– Ahahah, é mesmo atordoado!
– Não, patán, não: são algumas dezenas, poucas dezenas. Eles poucas dezenas, vocês dezenas de milhões de bípedes, lo entiendes? Tinham necessidade de criar uma série de crises, que juntas formavam uma grande crise. Por isso fizeram circular os pregadores deles, com as teorias deles, aqueles que hoje os políticos ouvem como se fossem o Evangelho, com as receitas económicas que são as mesmas que levaram até a crise. Porque continuam a criar crise acima da crise.
– Mas que podemos fazer?
– Coragem, caro patán, coragem! É preciso estudar, entender, perceber. Não chega gritar frases pré-confeccionadas uma vez por ano, não é assim que os bons bípedes podem derrotar os maus bípedes. O meu dono, ahi que saudade, a geração dele lutava, até pegava nas armas se necessário. Mas agora, o que vês?
– Que vejo?
– Nada vês. Os jovens nada fazem, demasiado difícil, demasiada fadiga. E eu, viejo perro já na Avenida do Pôr-do-Sol, tenho de ver os bípedes arruinados pelos irmãos deles…
– Quais irmãos?
– Shhhht!
– Voy a poner mis cansados huesos en la patria: adelante!
– Que disse?
– Que és atordoado.
Nota final
Toda a “saga” das “coisas que este cão sabe”, inclusive as partes fortemente criticadas em fóruns alheios, nasce duma iniciativa de Paolo Barnard, jornalista italiano que, entre as outras coisas, escreve para Il Sole 24 Ore, principal diário económico italiano.
Barnard é o autor de importantes investigações jornalísticas no mundo financeiros, acerca das lobbies, da globalização, da new economy, do Fundo Monetário Internacional, das empresas farmacêuticas
Por minha parte, transformei os escritos dele num dialogo com a participação do fiel Leo e do convidado Prof. Chihuahua, com o fim de tornar a leitura mais “leve”. Espero ter conseguido.
O meu pessoal agradecimento a Paolo Barnard, com votos de bom trabalho.
Ipse dixit.
As coisas que este cão sabe… – Parte I
As coisas que este cão sabe… – Parte II
As coisas que este cão sabe… – Parte III
As coisas que este cão sabe… – Parte IV
As coisas que este cão sabe… – Parte V
As coisas que este cão sabe… – Parte VI
As coisas que este cão sabe… – Parte VII
As coisas que este cão sabe… – Parte VIII
Fonte: Paolo Barnard
ihihih e os Estados vendem por tuta e meia… Grécia esperava fazer 5MM€ parece que se fica pelos 1.3MM€ nas privatizações… o negócio ainda está a correr melhor que o esperado… mas como já comentei: Basta rebentar com 1 dúzia de data-centers e seus backups que puf cai o castelo de cartas!
Olá Max e todos: da minha parte agradeço o curso ABC da economia, a idéia ótima que tivestes de envolver os nossos amigos cães, e por extensão ao Paolo Barnard, que de certa forma responde a questão que fiz ao Leo sobre os economistas da "contra corrente".
Ao mesmo tempo aproveito para esclarecer a todos que, de agora em diante, verão ao lado dos meus pitacos aqui, a foto de uma das marias de TerraÃncora com Alfa, parente de BURGOS e Leonardo, recentemente re-batizado Alfa-Gadafi, em homenagem ao lider assassinado da Libia. Alfa-Gadafi nos chegou quase morto de fome, doença e abandono, faz mais ou menos um ano, está aprendendo a ser guardião-segurança de T.Â., mas já merece de nós respeito e admiração, tal como tenho de longa data por Muamar Gadafi. Abraços
Max aqui no Brasil nosso "querido" ex presidente FHC privatizou tudo que pôde, deve ter levado uma bolada por isso, provavelmente virão em breve para cá para poderem colocar a mão no que sobrou.
Agora podemos entender também o que se passou na Líbia, agora certamente o povo líbio verá o que é privatização e terão que pagar absolutamente tudo.
Quanto mais leio, mais indignado fico com isso tudo.
O que me entristece é pensar como vai estar este mundo daqui a 15 ou 20 anos.
Maria, adorei o Alfa-Gadafi, que bom que ele te encontrou.
Abraços
Parabéns pela série!
Tenha certeza que deixou todos os textos com uma leitura leve e agradável.
Missão cumprida! 🙂
Particularmente, gostei muito da parte II.
Abraços.
Max e todos,
vejam isto aqui:
CRIANÇAS DA GUERRA:
http://obviousmag.org/archives/2009/10/criancas_guerra_estaline.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29
Pelo menos para mim é novidade, me chocou bastante. É difícil de acreditar que chegaram a este ponto. Malditos.
Muito bom
Gostei bastante de toda esta sequência. Obrigado por tentar deixar informações tão valiosas da forma mais clara de entender.
Parabéns
Tenso… acabou… ótimo texto… porém… e aí? Já era? Temos que aceitar esse estupro de nossas vidas? Não existe um lugar ao sol que podemos fugir disso? Fugir, pois enfrentar não é possível…
Tudo que será feito, para mentes destreinadas, é sutil… não irá assustar… não será visto como a sociedade desabando… são pequenas crises… uma "pequena" redução da qualidade de vida… pois estávamos abusando… ninguém irá lutar contra… será assim e ponto final… isso é um ultraje…
Os teóricos da conspiração adoram pregar algo brusco, catastrófico… guerra… revolução… fim de mundo… todos nós gostamos da idéia pois, é à partir de uma grande crise que teremos as maiores mudanças… porém será tudo em doses homeopáticas… nenhuma mudança… vão aos poucos apertando mais e nós sem ter para onde fugir…
É triste… temos que aceitar isso? As pessoas tem filhos… esses filhos terão filhos… e aí?
olá Ricardo: aceita quem quiser. Quem não é ainda cidadão de segunda categoria, ou seja, idiotizado, arranja uma linha de fuga, e segue por ela. Mas principalmente compreende que linhas de fuga bem pensadas e interligadas são uma das resistências possíveis, nunca apenas uma linha de fuga somente. Então, tu que tens filhos, e já te preocupa com os netos, mãos a obra, inventa alguma alternativa prática, e se achares conveniente, nos conta.
Abraços
Esse Chihuahua, sabe quem são THEY. Vai pegar o avião sem nos contar.
Max, você criou monstros na minha caraminhola. Você pôs nossa patota numa sala, todos discutindo, matraqueando, eis que você abre a porta da sala, fala um palavrão, bate a porta, passa a chave e bate em retirada. Dentro todos ficam a se olhar, sem nada entender. Vá lá Max, desembucha: quem foi Mayer Amschel, o primeiro Rothshild? Em todo lugar só encontro indicações de que se tratava de um judeu, como o próprio nome indica. Vamos lá, abre o jogo.
Um abraço.
Walner.
O primeiro Rothshild era um Anunnaki!!!
Belíssimo ABC da Economia. 😀
Obrigado Max.
nota: O último anónimo a comentar antes de mim é um Anunnaki. 🙂
Abraço,
—
R. Saraiva