Exclusivo: a terceira não-entrevista!

Sentado na minha nova vivenda em Abbottabad, aprecio o panorama e penso nos pequenos trabalhos que ainda estão para fazer: apagar as manchas de ketchup, mandar retirar a cauda do helicóptero (mas porque raio enfiar a cauda dum helicóptero numa vivenda?), dar uma demão de branco no interior…ainda bem que deixaram a antena parabólica, dá jeito para seguir as minha novelas favoritas.

Mas foi um bom negócio, sem dúvida.
“Vivenda remodelada e fortificada, zona turística do Paquistão, poucos quilómetros da capital, perto das lojas e do quartel, ocasião. Tel. +1-202-465-1414, perguntar por Barack”, dizia o anuncio.
E não foi “gato por lebre”, foi uma ocasião mesmo.

– كنت ماكس معلومات غير صحيحة؟
– Eh? Desculpe, não falo árabe, no arab, sorry…
– Maaaaaaaax! Sou eu, a tua jornalista favorita!
– Em nome de Allah e de Maomé…até aqui?!?
– Ah pois, como a nova enviada especial do National Geographic, não é brincadeira!
– Fogo…
– Mas agora: tá-taaaaam! Vamos com a entrevista: o Grande Max, do Enorme Informação Incorrecta, desvenda outro aspecto exclusivo e misterioso do mundo económico-financista.
– “Financeiro”…sim, mas olha, não achas que os leitores começam a ficar fartos destas coisas? Que dizer, sempre tu e eu, sempre as mesma coisas…
– Fartos? Fartooooooooos? Mas tu sabes que encontrei uma folha de jornal com a nossa última entrevista a ser utilizada como prato para a comida das galinhas em Nova Delhi? Na Índia, Max, na Índia!!! Então fala, fala Grande Max.
– Falo o quê?
– Sei lá, fala.
– Ok, ok , falo…olha, posso contar uma história?
– Um história! Uma história!!! Sabes que adoro históriaaaaaaas!
– Sim, mas pode deixar de gritar? Bom, estava pensar publicar isso no blog.
– Uma antevisão mundiaaaaaaaaaal!
– E não gritar!
– Desculpa Max. Continua.
– Dizia: estava a pensar publicar isso. Sabes o que é?

– Sei.
– Sabes? Sério?
– Sim, sério. É uma análise que sobrepõe os gráficos do crash de 1907 com os dados do Dow Jones dos últimos três anos.
– Inacreditável.
– É isso que está escrito por cima do gráfico.
– Ah, pois.
– Ás vezes este homem é esquisito mesmo. Como todos os génios.
– Tá bom. Sim, de facto é mesmo isso, é um comparação. E as duas linhas, a verde e a laranja, são muitos semelhantes. Mas o que aconteceu em 1907? Pouco lembram disso hoje em dia, mas na altura foi um verdadeiro choque. Interessante porque foi naquela ocasião que a figura de JP Morgan ficou esculpida para sempre na História e porque foi a ocasião desfrutada para favorecer o nascimento da Federal Reserve. Até então, os Estados Unidos não tinham tido um banco central…Angelina?
– …zzzzzzzz…eh? que foi? Eu sei, eu sei, é um dado que sobrepõe o Dow Jones com os últimos três anos de 1907!
– Sim, isso mesmo…dizia: em Outubro de 1907 o fracasso duma especulação lançou o pânico entre os pequenos investidores que correram a retirar o próprio dinheiro dos bancos americanos. Em poucas semanas, o sistema financeiro e, portanto, a produção industrial, foram paralisados, levando a economia dos Estados Unidos à beira do colapso.
– Ohhh…
– Pois. A crise foi interrompida pela intervenção dum banqueiro, JP Morgan, que recolheu os fundos necessários para o funcionamento do sistema nacional e internacional.
– Ohhh…

A sede da  Knickerbocker

 E tudo começou na Knickerbocker Trust Company, uma instituição famosa na América do tempo. Estamos no início do ourada Idade, a idade de ouro do início do século XX.
– Ohhh…
– Já disseste isso três vezes.
– Sério? Ohhh…
– Pois. Naqueles anos tumultuosos, com um desenvolvimento económico acelerado, muitas famílias da classe média de Nova York tinham entregue as poupanças para financiar a tal Knickerbocker, empresa de prestígio, sediada na esquina da Quinta Avenida com a 34th Street, em frente ao hotel Waldorf Astoria.
– Como se escreve “Ualdfor”?
– W, A, L…olha, escreve “Astória” que chega.
– “…Astoria Que Chega”. E depois?
– No topo da Knickerbocker estava Charles Tracy Barney, casado com uma das senhoras Whitney, a família do museu.
– Que museu?
– O museu Whitney.
– Ahhhh. Tudo sabe este homem.
– E o mesmo Tracy Barney tinha amizades importantes e participações em negócios de primeiro plano. Tudo corria bem, pois com uma economia em crescimento com taxas de 7% a cada ano, os lucros dos investidores eram generosos.
– Que história magnifica!
– Espera, pois começam os problemas. No mês de Outubro, o índice das ações em Wall Street perdeu trinta e sete por cento do valor, em toda a América começou a corrida aos bancos: as pessoas entravam nos bancos para retirar o próprio dinheiro das contas, com cenas de desespero e de violência.
– Mas que brutos!
– E o sistema de crédito ficou paralisado durante várias semanas. No dia 14 de Novembro, sempre de 1907, a esposa Lily encontrou Charles Barney ao pé da cama, na mão o revólver que ainda fumava, no apartamento de Park Avenue.
– Não percebo Max: que fazia este Charles ao pé da cama com uma pistola que fumava?
– Tinha-se suicidado.
– Coitadiiiiiiiiiiiiiho! Que horrooooooooor!
– De facto, a Knickerbocker tinha deixado de existir.
– Knickerbocker tinha-se suicidado também?
– Angelina, Charles era o dono da Knickerbocker.
– Ahhhh, que história empolgante…
– Mas quais as causas do desastre?
– Pois é: quais as causas?
– Os pesquisadores, já em 1908, tinham encontrado três razões: 1. O excesso de investimento no mercado imobiliário 2. O crédito fácil 3. A manipulação da alta finança. Fazem-te lembrar algo?
– Não, porquê?
– São as mesmas causas da recente crise económica começada em 2008.
– Quando?

Charles Tracy Barney

– Ok, deixa. O que ficou claro foi o seguinte: a Knickerbocker tinha utilizado dois especuladores sem escrúpulos, oficialmente não ligados à empresa, para adquirir uma exploração de cobre: mas a tentativa acabou mal. Havia algo de podre no sistema bancário dos Estados Unidos e quando ficou claro que atrás dos dois especuladores havia a Charles Barney, começo a corrida dos investidores para retirar o dinheiro depositado na empresa dele. Dezoito mil clientes retiram em poucas horas 8 milhões de Dólares da altura.
– Imagina as filas…
– É um montante importante hoje e ainda mais em 1907. Mas é como uma bola de neve que em breve investe todo o sistema do credito. As pessoas têm medo de perder o próprio dinheiro e começam a retirar quanto depositado nas contas dos vários bancos. E a Bolsa de Valores entra em colapso.
– Coitadiiiiiiinha!
– É uma metáfora.
– Ah.
– E de New York, o pânico chega até a Europa.
– De barco?
– Mais ou menos.
– Mas quando acaba esta história?
– Falta pouco.
– Ainda bem.
– Em poucos dias os clientes retiram 350 milhões de Dólares e alguns Estados começam a criar leis para que cada cliente não possa retirar mais de 10 Dólares por dia. Ninguém pedia empréstimos e ninguém podia conceder empréstimos.
– Então, qual o problema? Se ninguém pede empréstimos porque alguém deveria conceder empréstimos? Realmente, Max, tu às vezes…
– É para descrever a terrível situação da economia americana.
– Sim, sim , boa desculpa…
– Pensa que Milton Friedman, anos mais tardes, definiu isso como a prova geral da Grande Depressão de 1929.
– Sim, estou mesmo ver, Morgan Freeman, essa agora…
– Milton Friedman, não Morgan Freeman. Seja como for, enquanto a crise assume contornos cada vez mais graves, no dia 21 de Outubro os principais operadores da Bolsa tentam falar com JP Morgan, já na altura uma das figuras mais emblemáticas da finança dos EUA. “Mr. Morgam, temos que fechar a Bolsa” sugerem. Mas a resposta é perentória: “Vão fechar como todos os dias, na altura de costume: às três da tarde, nem um minuto antes”. E logo a seguir começa a preencher pessoalmente cheques para que os vários operadores possam ter dinheiro para trabalhar.
– Que homem! Não como tu, com as tuas histórias de Morgan Freeman!
– Ahe? Entretanto as vozes chegam até John Rockefeller o qual pensa: se atrás da operação de salvamento estiver JP Morgan, então vou enviar 50 milhões do meu património pessoal. Tudo em poucas horas.
-Sim, mas esta história nunca acaba…
– Está quase. Morgan telegrafa até a City de Londres para descrever a terrível situação, e em resposta parte da Inglaterra um navio com uma carga única: a maior quantia de barras de ouro que alguma vez foram transportadas no Oceano Atlântico.
– Uffff, grande aborrecimento…
– Em poucas horas o pânico desaparece. Mas a crise de 1907 deixa destroços: o sistema económico-financeiro do jovem País tem agora uma credibilidade em pedaços.
– Pois, muito interessante…
– E mais:
– Ainda???
– No ano da morte de JP Morgan é fundada a Federal Reserve, o primeiro banco central dos Estados Unidos. Em teoria uma maneira para separar o mundo dos banqueiros comerciais do mundo dos banqueiros de jogam na finança. Mas isso apenas em teoria, pois na prática as coisas ficaram de forma bem diferente.
– Acabaste?
– Sim, mas não sem antes ter realçado um pormenor:
– Bem me parecia…
– Antes para resolver as crises criavam-se cargas de ouro, hoje cargas de dívida. Não e a mesma coisa.  
– Mas que grande seca. Olha, da próxima vez vou entrevistar o Bin Laden, que no mínimo oferece um chazinho quente. Tu e o teu raio de blogue…
– Mas Angelina, olha que Bin Laden morreu.
– Bin? O querido Bin? Não!!! Coitadiiiiiiiiiiiiiinhoooooo!!!

Nota: caso o leitor não tenha mesmo nada melhor para fazer na vida (mas nada mesmo), pode gastar o próprio tempo com a leitura das outras Não-Entrevistas:
A primeira não-entrevista
A segunda não-entrevista

Não aceito reclamações.
 

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta, Arianna Editrice,

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