Peak Oil: Carta aberta

Nestes dias as autoridades regionais e distritais italianas recebem uma carta aberta da ASPO, enviada com o fim de focalizar a atenção na alta probabilidade de um crash petrolífero iminente,  e de aumentar a informação pública sobre a estreita relação entre crise económica e disponibilidade geológica de hidrocarbonetos.

Este é um resumo de tudo que já sabemos. Mas nós sabemos que os nossos funcionários públicos muitas vezes desconhecem totalmente o problema.

Que tal difundir as notícias?

Carta aberta enviada a todos os administradores das regiões e províncias, ao fim de contribuir para a melhoria dos conhecimentos sobre as questões energéticas, com particular referência à disponibilidade de combustíveis fósseis.

Assunto: – Petróleo, Economia e Sociedade

Sr. Presidente,

Gostaríamos de apresentar à sua análise a presente comunicação, com o objectivo de contribuir ao quadro de conhecimentos no sector da energia, que constitui matéria compartilhada entre Estado, Autarquias locais e Regionais.

Disponibilidade de petróleo de baixo custo em declínio

Há muitas fundadas razões para crer que a crise financeira, que começou em 2007 e evoluiu em 2008 num verdadeiro redimensionamento da economia global, deriva em grande parte a sua origem da incapacidade de extrair petróleo em quantidades suficientes, e com custos suficientemente baixos, tais de poder sustentar o crescimento da economia no mercado aberto agora estabelecida em todo o mundo.
A mesma crise e a consequente diminuição dos consumos, sem dúvida, teve o efeito, muito temporário, de diminuir o incipiente deficit de petróleo, obviamente com o custo dum relativo empobrecimento de muitos Países e das faixas mais desfavorecidas das relativas (e crescentes ) populações: a actual estabilização dos preços do barril de petróleo, para além dos US $ 80, testemunha no entanto que os fundamentais desencadeados não mudaram.

A relativa e modesta recuperação em andamento agravará a altura em que a oferta de petróleo não poderá mais atender à demanda mínima suficiente para sustentar o crescimento necessário para um desenvolvimento harmonioso e a prosperidade generalizada.
A mesma Agência Internacional de Energia e o governo EUA enviaram pela primeira vez um aviso de que, se devidamente interpretado e seguido por uma acção adequada, poderá pelo menos ajudar a atenuar os efeitos do próximo “crash” petrolífero.

A nossa associação pode sugerir uma atenção especial não só para o citado evento, mas também para a sua colocação temporal, que é muito próxima (dentro de 2-3 anos) e que de fato torna difícil propor programas de conversão  do sistema de energia e tecnologia a curto prazo.
Há alguns elementos positivos  de aparente esperança, pelo menos para o nosso País, representado, a título de exemplo, pelo verdadeiro “boom” do fotovoltaico, passado nos últimos anos de um nicho insignificante até mais de 1.200 MW de potência instalada, e da energia eólica, cuja capacidade instalada em breve atingirá 5.000 MW, contribuindo com um total de quase 5% a demanda nacional de electricidade.

A saída é, no entanto, estreita e comprida e deve ser atravessada depressa! É necessário um forte apoio de todos os níveis de governo e administração no que diz respeito à produção de energia proveniente de fontes renováveis, à poupança e à eficiência energética e aos transportes sustentáveis.

Alguns dados acerca do Peak Oil

O gráfico abaixo foi produzido pelo Departamento de Energia (DOE) do governo dos Estados Unidos de América a partir dos dados da Agência Internacional de Energia (IEA), agência intergovernamental dos países da OCDE, dedicada ao estudo e previsão sobre o futuro da energia mundial.

A imagem sugere um futuro energético muito preocupante, que se caracteriza pelo pico da produção de combustíveis líquidos.

 Nota: é o mesmo gráfico que os leitores de Informação Incorrecta já tiveram oportunidade de observar no artigo “Zero Time” de Abril

Este é um evento histórico já em andamento, cujo momento crítico pode ser colocado, segundo a AIE, entre cerca de 18 meses, com um valor de cerca de 87 milhões de barris por dia.

A produção de petróleo convencional, na pratica todo o petróleo que alimentou o metabolismo social e económico mundial nos últimos 50 anos, ultrapassou um pico de capacidade em 2008 e espera-se que decline com uma taxa anual de 4% .

A contribuição do óleo não-convencional, principalmente areias betuminosas e outros projectos semelhantes, não irá cobrir que uma pequena parte do deficit aberta entre a oferta e a procura.[…]
Em outras palavras, a parte colorida da figura representa a realidade, a branca a imaginação.
Esta quantidade de petróleo “imaginário” seria, em 2030, de 60 milhões de barris por dia, cifra estratosférica equivalente à produção actual de seis produtores como a Arábia Saudita.

Os problemas, entretanto, começarão mais cedo, quando a demanda começar a exceder a oferta.
Infelizmente, a descoberta de novas reservas, longe de repetir as façanhas dos tempos em que foram identificados os campos de petróleo que generosamente serviram por várias décadas, após um pico em meados dos anos sessenta do século passado, foi irregularmente mas constantemente em queda e agora representa cerca de um quinto do consumo. Estes resultados também são compostos principalmente por projectos petrolíferos de alta complexidade em termos de geologia e engenharia (por exemplo, em alto mar, em áreas permanentemente coberta pelo gelo, quilómetros de profundidade, petróleo de má qualidade, contendo substâncias perigosas ou tratado com processos complicados que requerem enormes quantidades de areia ou rocha).

Essa complexidade reflecte-se, evidentemente e sobretudo, nos custos económicos maiores e retornos energéticos menores (menos extracção de petróleo por unidade de energia despendida para extraí-lo), aspecto este último que, independentemente da quantidade de óleo ainda presente, define a “vantagem” através do qual a estrutura sócio-económica-produtiva pode continuar a crescer.
Nos anos trinta do século passado, usava-se a energia equivalente a um barril de petróleo para extrair cem, com um barril hoje se extrair entre dez e quinze, mesmo tendo em conta os enormes avanços tecnológicos que ocorreram no entretanto!
A mesma complexidade crescente de pesquisa e extracção de petróleo também se reflecte, como demonstrado, infelizmente, pelas notícias recentes do Golfo do México, num aumento do risco de acidentes particularmente graves e de consequências duradouras.
Desde muito a nossa associação tem divulgado a todos os níveis da sociedade, desde as escolas básicas até os órgãos de Governo do Estado, autarquias locais e regionais, a magnitude, o calendário e as possíveis consequências do pico do petróleo, que agora são confirmados pelo documento do Departamento de Energia do Governo dos Estados Unidos.

O metabolismo social e económica do nosso País, das suas regiões e cidades ainda é totalmente dependente da disponibilidade de combustíveis líquidos baratos.
A paisagem de declínio previsível na disponibilidade desses combustíveis é caracterizada pelo aumento dos custos que irão arrastar custos crescentes da energia e matérias-primas em geral (como observado no período 2004-2008).
Todos os sectores produtivos, transportes, agricultura, bem como todo o sistema económico e social sofrerão – de forma imprevisível no tempo – causando uma redução na disponibilidade de bens, serviços e do trabalho como nós os concebemos hoje.

Note-se que a substituição dos actuais combustíveis líquidos de origem petrolífera com o gás natural só pode aliviar um pouco os problemas no sector dos transportes.
A presente Associação destaca a necessidade para uma acção política e administrativa que trate o mais rapidamente possível para garantir a manutenção dos serviços essenciais, evitar o êxodo para o desnecessário e focalizar-se no desenvolvimento, tanto material quanto cultural, duma comunidade informada e consciente, que tem que enfrentar um período de declínio no fluxo de bens e de serviços sem por isso colapsar ou transformar-se em algo diferente e certamente menos agradável.
Este quadro também evidencia o carácter contraproducente do actual projecto de revitalização do paradigma existente, representada pela hipótese de uma maior utilização do carvão e do retorno à energia nuclear, ideia subjacente ao crescimento infinito mas insustentável.

Grato pela sua consideração, ficamos a disposição para qualquer esclarecimento.

Com os melhores cumprimentos,

ASPO, Associação para o Estudo do pico do petróleo.

Fonte: Petrolio
Tradução: Massimo De Maria

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