E fechamos este fim de semana dedicado à Grécia com as palavras de Manolis Glezos, o guerrilheiro
que em ’41 retirou a bandeira nazista do Parthenon, começando assim a revoltar-se contra Hitler.
Diz Glezos:
Um erro o acordo com Eurogrupo, temos que reagir, não pode haver compromissos com aqueles que nos oprimem.
Palavras claras e directas, com um só destinatário: Alexis Tsipras, o líder de Syriza que traiu o povo grego. A mesma Syriza da qual Glezos era o ícone até hoje.
O acordo com o Eurogrupo é uma vergonha, tínhamos feito promessas e não as mantivemos: temos que pedir desculpa ao povo grego. Temos que reagir e imediatamente. E entre liberdade e opressão, eu escolho a liberdade.
Tem 91 anos Glezos, mas a coragem e o orgulho ainda estão intactos. Ficou envolvido em vários confrontos com a polícia entre 2010 e 2014, durante as manifestações contra a austeridade. A carta escrita hoje aos militantes não trai aqueles que admiram a sua sinceridade e seu estilo:
Peço aos militantes de Syriza para reagir antes que seja tarde demais Vamos nos reunir em sessão extraordinária e discutir. Eu bem sei quando é necessário fazer concessões. Mas isso é demais para mim. Não pode haver compromisso entre escravo e senhor, nem entre opressores e oprimidos.
São cinco dedos que ficam imprimidos na cara de Tsipras. Porque a voz de Glezos não está isolada.
Panagiotis Lafazanis, ministro do desenvolvimento económico e líder da Plataforma da Esquerda, a ala mais radical do Syriza, disse que “as linhas vermelhas traçadas antes das negociações não podem ser superadas, caso contrário não seriam chamadas de vermelhas”.
Um subsecretário da Economia disse que está pronto a demitir-se se as propostas de reforma que o governo tem que apresentar não irão conter as medidas humanitárias propostas aos eleitores.
Isso enquanto os Gregos esperam: as promessas da campanha eleitoral eram muitas, agora seria a altura de começar a fazer algo…
Conclui Glezos:
É um mês que esperamos a execução das promessas do nosso programa, é uma verdadeira vergonha. De minha parte, peço desculpa ao povo grego, porque eu participei nessa ilusão.
Chapéu.
Chapéu a quem luta sem olhar para a idade.
Chapéu a quem tiver a coragem de admitir as próprias derrotas.
Chapéu a quem é ainda capaz de mudar.
Ipse dixit.
Fonte: La Repubblica, Il Fatto Quotidiano
Este acordo é mesmo uma vergonha. Ainda tive uma leve esperança que houvesse uma pedrada no charco mas, nada.
De qualquer modo, alguma coisa ainda pode sair deste circo. Não sei pela mão de quem.
Há que manter a esperança.
Krowler
Inexistem revoluções feitas pelo povo, e sim equalizações de poder entre elites, que usam ,invariavelmente, os povos para tanto. Como uma boiada, o povo, pode se rebelar sem ter o real entendimento das relações de poder e dominância? Impossível. As palavras chaves são: condicionamento e entendimento. Sem essa condição não há qualquer possibilidade de revertermos essas questões. Mas para o blog é interessante, porque terás muito assunto para discorrer…
Eps Krowler ainda tenho mas já li em foruns gregos em inglês, se nem estes ou os de extrema direita e os de extrema esquerda, a vontade é a mesma desse senhor aí em cima. Pela vontade popular, o meu irmão que comunica com vários gregos a vontade é sair já do Neuro…escravos não. Vale tudo estão fartos…vamos ver…
Nuno
Nuno, tambem já vi a versão que o Syriza fez este acordo só para ganhar algum tempo.
Vamos ver.
Krowler
Realmente este governo grego está a mostrar-se uma desilusão, vamos ver se ainda há espaço para recuperarem qualquer coisa.
Max queria deixar o pedido de um post sobre estas últimas 3 mortes em dias seguidos de referências jornalísticas nos EUA: Bob Simon, Ned Colt e David Carr. Especula-se que juntamente com Brian Williams (que também foi recentemente envolvido num escândalo que o retirou da TV) estariam a preparar um documentário sobre o 11 de Setembro através de documentos secretos proveniente do Kremlin.
Continua o bom trabalho
Pedro
Tambem li isso este fim de semana.
EXP001
25 de Janeiro de 2015 ficará na história do processo da construção europeia como um marco decisivo.
Não se sabe ainda se a ruptura do eleitorado grego com os partidos do status quo foi a origem do aprofundamento da construção da UE em bases sólidas, justas e democraticas ou se foi o ponto de mudança para a desintegração do Euro e da própria UE.
Sabe-se que não se tinha notícia de um debate europeu e até mundial sobre a UE tão amplamente difundido como o que teve origem a 25 de Janeiro, com a derrota dos partidos da austeridade punitiva na Grécia.
Leva um mês este debate e quase nada, de substantivo, foi alterado. Já no plano da reflexão e da construção intlectal muita coisa mudou neste revistar do modelo da construção europeia em vigor.
Ficou provado que a “fadiga social” existe e que se transforma em ruptura política.
Ficou a descoberto que quem vive quotidianamente, lá no ninho secreto do poder, os problemas da relação entre os diferentes países da UE tem consciência da humilhação de uns por outros, do pecado da indignidade praticado por uns contra outros.
Ficou claro que o poder da UE segue tão à distância as consequências dos atos que pratica ao ponto de se surpreender com as rupturas sociais e políticas que produz com a imposição de políticas cujos resultados nas vidas das pessoas não controla.
Ficou claro o pavor dos centros de poder europeus à transparência dos atos que pratica. Nunca se soube tanto de como se forma a decisão na UE como neste mês e também nunca se viu tanta repulsa por essa transparência, ainda muito baça, ter ocorrido com todos a participar no folclore.
Nunca se viu tanto pavor pelo desconhecido ser verbalizado, refletido e escrito por individualidades experientes que na hora da verdade se incomodam com a gravata ou a falta dela, o farda de domingo ou de cotio.
Nunca se viu uma tal unidade de todos os membros da família a isolar, amordaçar, calar o familiar que se queixa de maus tratos.
Nunca se viu tanto resabiamento tanto ódio para com um povo irmão que ousou dizer: parem de bater que estamos a morrer.
O processo continua e a UE não será a mesma daqui para a frente. Tem espaço para arrepiar caminho ou para ensimesmar no sectarismo e arruinar a construção da união e a própria Europa.