Guerra no Irão: fase de preparação – III

Luiz realça um post que aparece no blog Redecastorphoto (obrigado Luiz!).

É um mail distribuído pelo autor, Uri Avnery, escritor e pacifista israelita, fundador do movimento Gush Shalom.
Sendo Hebreu e trabalhando activamente nas questões da Paz do Médio Oriente, as palavras deles não podem ser ignoradas; aliás, quem melhor dum israelita pode saber o que se passa com israel?

Sendo o texto bastante comprido, vamos tentar resumir.

As dúvidas de Avnery

Segundo Avnery, israel não atacará o Irão porque:

Depois da aventura de 1956 em Suez – que acabou por ordem do presidente Dwight D. Eisenhower – Israel nunca mais se envolveu em nenhum tipo de operação militar importante, sem a expressa autorização dos EUA. Os EUA são hoje o mais confiável apoiador com que Israel ainda conta (além das ilhas Fiji, da Micronesia, das ilhas Marshall e de Palau). Destruir essas relações será como cortar a mangueira de ar do escafandro. Para chegar a esse ponto, é preciso ser mais do que meio maluco: é preciso ser doido furioso.

Além do mais, Israel não pode entrar em guerras sem o apoio dos EUA, porque todas as bombas e todos os aviões de Israel vêm dos EUA. Em guerra, é preciso receber suprimentos, peças de reposição, todos os tipos de materiais. Durante a guerra do Yom Kippur, Henry Kissinger manteve uma linha de suprimentos, por avião, que operava 24 horas por dia. E a guerra do Yom Kippur foi piquenique, comparada com o que seria uma guerra contra o Irão.

A seguir:

A primeira coisa que chama a atenção é o muito estreito Estreito de Ormuz, por onde passa 1/3 de todo o suprimento de petróleo transportado por petroleiros, para todo o mundo. Passa por aquela garganta praticamente todo o petróleo produzido na Arábia Saudita, Estados do Golfo, Iraque e Irão.
O mundo já está balançando, à beira do abismo. A pequena Grécia oscila, ameaçando cair e levar com ela grossas fatias da economia mundial. Ormuz fechado, e cortado o suprimento de quase 1/5 de todo o petróleo que as nações industriais do planeta consomem, é catástrofe difícil de imaginar.
Para reabrir o estreito à força, seria necessária grande operação militar (com muitos “coturnos no solo”, inclusive), maior que todas as dificuldades que os EUA enfrentam hoje no Iraque e no Afeganistão. Os EUA têm dinheiro para tudo isso? Ou a OTAN? Israel não compete nessa liga “de cima”. Mas, mesmo assim, estará terrivelmente envolvido na acção, no mínimo, na condição de alvo.

A seguir:

O Irão é país de grande território, quase do tamanho do Alasca; as instalações nucleares estão dispersas por todo o território e, muitas delas, são subterrâneas. Ainda que se usassem bombas de penetração profunda, que explodem sob o chão, fornecidas pelos EUA, toda essa gigantesca operação só conseguiria conter os esforços iranianos por alguns poucos meses. Israel pagaria preço altíssimo, por resultados magros.

E, para acabar:

E há também o preço político. O mundo islâmico fervilha. O Irão não é exatamente muito popular em parte do mundo islâmico. Mas, se Israel atacar o Irão, o ataque contra um dos principais países do mundo muçulmano unirá instantaneamente sunitas e xiitas, do Egito e Turquia ao Paquistão e mais. Israel estaria correndo o risco de converter-se em mansão de luxo, numa selva em fogo.

Faz sentido, tudo.
E, como já lembrado, Uri Avnery não é uma pessoa qualquer: dedicou a vida à causa da Paz, o que significa conhecer as razões da Guerra também. O facto duma pessoa como Avnery achar que não haverá guerra é necessariamente uma óptima notícia.

Todavia…

O inimigo comum

Todavia, israel não é o único País que deseja a destruição do regime de Teheran. Há pelo menos outros País com o mesmo o objectivo, e este País tem um nome: Estados Unidos. Se para Tel Avive uma guerra contra o Irão seria uma questão de predominância local, os desenhos de Washington são bem maiores.

Ocupar o Irão (ou implementar nele um regime “amigo”) significaria entrar na posse do petróleo iraniano e, sobretudo, do gás, ainda mais importante em perspectiva futura.

Ocupar o Irão significaria acabar com os gasodutos existentes e em fase de construção; dito de outra forma, significaria evitar uma maior independência energética da Europa e criar graves problemas na China, principal cliente iraniano nesta altura.

Ocupar o Irão significaria entrar no quintal de Moscovo, operação falida no Afeganistão mas importante objectivo em chave futura.

São razões fortes, bem mais fortes daquelas israelitas.
Se no caso de Tel Avive uma guerra contra o Irão é uma questão de controle local, no caso de Washington falamos do tabuleiro mundial. Falamos de petróleo, de gás. Falamos de economia. E não é preciso acrescentar mais nada.

A posição do Irão é fundamental do ponto de vista estratégico. Infinitamente mais importante dum Iraque ou dum Afeganistão. É uma aposta muito alta, mas cujos ganhos podem bem compensar o risco. Sempre na óptica de Washington, claro.

E se é verdade que israel uiva contra Teheran agora, sabemos que em Washington a ideia não é tão nova. E nada tem a ver com o “espaço vital” israelita: esta é uma questão do Império.

Tel Avive, a “lebre”

Num panorama inédito, podemos estar perante dum israel que catalisa as atenções para justificar uma sucessiva intervenção americana: israel não como causa mas como pretexto. Neste sentido as palavras de Avnery fazem ainda mais sentido.

Neste caso, não haveria nenhuma destruição das relações entre os dois Países, mas, pelo contrário, uma ajuda reciproca na preparação do ataque final.

E israel não entraria numa guerra contra o Irão sem o apoio dos EUA, ideia esta que ninguém toma em séria consideração. Mas israel não tem medo de lutar contra o inteiro mundo islâmico se for necessário: já fez isso no segundo pós-guerra, nem seria uma novidade.

Com o Irão está muito em jogo, algo que vai bem além dos problemas de vizinhança. E uma derrota de Teheran beneficiaria Tel Avive e Washington. Por isso acho que o destino do Irão esta escrito. Pode não ser este ano, pode até nem ser o próximo: mas é apenas uma questão de tempo, pois o Irão é uma pedra demasiado grande no caminho do Império para que possa ser ignorada.

E os eventuais revés temporários (como o fecho do Estreito de Ormuz) podem ser bem absorvidos tendo em conta que uma grande guerra funciona sim como fonte de despesa mas também como enorme estimulação económica (ver Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial em caso de dúvida).

Não podemos esquecer que os Estados Unidos estão a retirar as próprias tropas do Afeganistão; ao mesmo tempo, redistribuem as forças no Médio Oriente.

Agora, eu torço para que Avnery tenha razão; mas a verdade é que os Estados Unidos sem uma guerra nem pareceriam os mesmos…

Ipse dixit.

Fonte: Redecastorphoto 

3 Replies to “Guerra no Irão: fase de preparação – III”

  1. olá Max: pelo pouco que sei, concordo inteiramente contigo neste post. Não fora assim, não se estaria preparando uma agressão (guerra declarada ou não) desde 1979 contra o Irã. Isso não implica necessariamente implosão do nosso mundo, não implica necessariamente em reação (atômica)da Russia, ou militar da China, até porque a China tenta preparar-se para ser o próximo império de outra maneira. Abraços

  2. Max,
    não tenho certeza perante tudo isso…

    Procure artigos e informações na internet sobre o "Plano Eurasiano"

    abraço

  3. Pela primeira vez sem viajar, vou direto aos fatos:
    Os EUA gostam de guerra.
    Nas suas ultimas depressões realizou guerras de nível mundial.
    No atual período está em depressão.
    Todo o cenário está montado, suas tropas estão sendo posicionadas estrategicamente.
    Não realizou sequer um único corte nas forças armadas.
    Pela minha observação pelo menos, é guerra o que eles querem e será guerra que nós teremos.

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