Ucrânia: a guerra e as sanções

Chego em casa e espreito as páginas do costume da informação alternativa, que não são poucas. Impressionantes acrobacias semânticas para não utilizar o único termo que serve: “invasão”.

Podemos discutir tudo: as motivações, as culpas, os álibis… mas não é possível negar que esta seja uma invasão perpetrada contra um Estado soberano. Fascista, sem dúvida, mas soberano. Qualquer outra interpretação neste sentido é ridícula.

Acerca das motivações: guerra é guerra. E não consigo defende-la, lamento. Entendo as razões, entendo tudo, mas sempre guerra é. O que até ontem estava limitado a confrontos fronteiriços entre a Ucrânia e as duas Repúblicas do Donbass, hoje envolve um País que é maior que Alemanha e Reino Unido juntos, com uma população de quase 50 milhões de habitantes.

Não é que de repente descobri ser “pacifista”, pois não sou: a guerra é legítima quando a necessidade for libertar a nossa terra. Mas defender o ataque das forças russas significaria agora não ser coerente com quanto sempre afirmado nestas páginas: não há guerras de invasão “boas” e “más”. Seria possível passar horas a discutir mas a realidade não muda: hoje os cidadãos da Ucrânia estão a viver o mesmo que já viveram os homólogos iraquianos, sírios, afeganistanos, iemenitas… é isto que interessa. Pensamos nisso antes de falar de “guerra justa”, pensamos nas pessoas, nas famílias.

Isso, obviamente, não valida toda a retórica de regime que agora enche os meios de comunicação ocidentais, as comparações entre Putin e Hitler e outras amenidades. Recusar a guerra não significa tomar a defesa duma das partes em causa: significa simplesmente recusar a guerra.

Guerra que não era inevitável: em 2022 já não temos apenas os canhões para resolver os conflictos. Só um exemplo: fechar as torneiras do gás e do petróleo teria obrigado a Europa dialogar e não apenas ela. A propósito: esta agora deverá ser a próxima manobra de Moscovo perante novas sanções ocidentais. Para falar de coerência: não é possível acusar o inimigo, mover uma guerra e depois continuar a fornecer energia, permitindo que a frente adversa continue como se nada fosse.

Caso as torneiras não sejam fechadas teremos que começar a fazer umas perguntas e incluir outro tipo de hipóteses. A não ser que as sanções sejam coisa pouca…

Sanções

Uma intervenção “decepcionante” aquela do Presidente americano Biden. Sanções?

Encontrei-me com os meus homólogos do G7 para discutir o ataque não provocado do Presidente Putin à Ucrânia e decidimos avançar com pacotes devastadores de sanções e outras medidas económicas para responsabilizar a Rússia.

Portanto: sanções. Mas quais? Haverá sanções contra indivíduos russos, mas não Putin. Sem comentário.

E não haverá a expulsão da Rússia do sistema de pagamentos SWIFT. A razão? Biden não explica mas é provável que a Administração dos EUA não quer fazer disparar os preços da energia. Ou seja: a Rússia fez bem as suas contas.

O discurso de Biden continuou com a tralha do costume: “Estamos com o corajoso povo da Ucrânia”, “Putin do lado errado da História”, “grave ameaça à ordem internacional”, “a NATO vai reunir-se”, etc. Tudo isso não evitará ao Presidente americano as críticas dos Republicanos perante uma resposta até agora bastante fraca. A montanha pariu o rato. Ou melhor: o sistema pariu algo que agora é difícil de gerir sem efeitos-boomerang.

Vamos esperar para ver quais estas medidas “devastadoras” (e a eventual reacção russa): mas até agora a intervenção de Zombiden faz deslumbrar um Ocidente que não tem condições para levantar muito a voz e/ou que tacitamente aceita o restabelecimento da “zona de segurança” russa.

 

Ipse dixit.

7 Replies to “Ucrânia: a guerra e as sanções”

  1. Cabe iniciar a abordagem desses assuntos com uma simples perginta: quem faz as guerras? Certamente não são e n7nca foram os povos, que envolvidos por algum tipo de propaganda ideológica, atiram seus próprios filhos aos leões.
    Me vem a mente uma velha máxima: o verdadeiro poder é aquele de que não se fala. Quem pode garantir de que o Vlad não passa de mais um fantoche nas mãos desse poder?
    Para quem acompanha o desenrolar da condução diplomática desde 2014 sabe muito bem que tudo apontava para o desiderato atual. E aí csbe uma outra pergunta. Será mesmo que esses diplomatas teriam algum interesse em evitar o grande negócio que resulta de uma guerra de grandes proporções?

  2. Realmente, é uma invasão. Uma guerra totalmente desnecessária, o próprio Putin, havia dito que nao invadiria (demonstrando que além de ditador é mais um politico qualquer).

    O ocidente nao tem como reagir pois uma reação necessitaria de união, coisa que nao há, de momento.

    Essa novela vai longe e espero muito que se mantenha nesse conflito localizado.
    Nunca melhor dito, estamos em 2022! Séc 21. E Deus, que vergonha de todos nós seres humanos neste momento.

  3. Aqueles que hoje gritam “invasão”, aqueles que antes estiveram calados, aqueles que tudo fizeram para incentivar a guerra, aqueles que elevam as mão ao alto a pedir para por fim à guerra em vez de ANTES procura um caminho alternativo, aqueles que DEPOIS apelam para o bem da “humanidade”, só à uma pavavra HIPROCRITAS!
    Aqueles que por todo o mundo conhecem a democracia em forma de chuva de bombas, aqueles que conhecem as ajudas humanitárias em forma de ocupação de terras para extração de benefícios e emprobrecimento dos povos, aqueles povos que são ocupados e oprimidos a décadas com o silêncio de todos os outros por interesses, todos estes que há muito sabem o significa serem abandonados à morte. E se é a Deus que se pede ajuda, talvez Deus há muito tenha também perdido as esperanças numa espécie que mata o próximo por prazer.

  4. Os acordos de Minsk foram ignorados até a Rússia invadir a Ucrânia. Feita a invasão Biben reclama o não cumprimento dos acordos de Minsk. Se pode negociar com esse tipo de gente?
    O império em decadência só conhece um alfabeto, o da força bruta, está provado. A prova são a narrativa das sanções, e o medo de avançar, como de costume, porque o medo também impera no ocidente.
    Acredito que Putin tenha deixado o fechamento das torneiras de gás e petróleo para um segundo momento de sansões.
    Vejo nesta história o tamanho do medo do ocidente, e isso me parece bom, inclusive para não ampliar a invasão da Ucrânia.
    Acredito que neutralizados os centros de militarização da Ucrânia ( com armamento fornecido pelo ocidente, diga-se de passagem), resolve-se as invasões dos territórios do Donbass.
    Se os EUA e a UE pararem de atiçar fogo, por baixo dos panos, enviando cada vez armamento para a Ucrânia, as coisas são resolvidas, ou seja, eliminando-se as milícias nazi, anulando o golpe de estado, com novas eleições, trazendo paz tanto para o Donbass como para a Ucrânia.

    1. ” Vejo nesta história o tamanho do medo do ocidente, e isso me parece bom, ”
      No meu caso não é medo …É nojo !!! Nojo por todos aqueles que usam a força das armas para lá das suas fronteiras contra civis cuja unica ambição era sobreviver … nojo …nojo …nojo !!!

  5. Como seria diferente a percepção e a resultante avaliação sobre o continente europeu, maior difusor de violência desde tempos antigos, se buscássemos mais informações sobre como a própria Europa foi colonizada por segmentos orientais (como os lídios e outros que se ocultam na historiografia), que, em aliança com líderes tribais, acabaram por subjugar os povos nativos e reconfiguraram o estatuto original europeu. Somos levados a pensar sob uma ótica viciada, cuja narrativa historiográfica, por um lado, sobrevaloriza os detentores do poder nominal, simbólico (a ponto de alguém ser entronado ainda na barriga da mãe), representativo, pseudo heróis, mitologias fundadoras, pseudo-divindades, e que por outro, minimiza ou oculta os detentores do poder de fato, aqueles que estiveram (e estão) presentes nos processos mais importantes da civilização.
    Etruscos, vikings, mongóis, povos do mar, do próprio cristianismo, exemplos que denotam verdadeiros abismos na linha da história oficializada, e que comprometem qualquer possibilidade em um entendimento maior.

  6. Eu não sei muita coisa a respeito do assunto mas acho que esse foi o primeiro passo para o estabelecimento de um governo mundial que terá inicialmente a finalidade de evitar esses “abusos”, o futuro dirá.

Obrigado por participar na discussão!

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