Aquecimento Global: curiosidades e estudos

Não um assunto, não dois assuntos, não três assuntos mas um conjunto incrível de assuntos, todos juntos! É assim que Informação Incorrecta festeja a chegada do fim de semana. Tema de base: o clima. Como está o clima? Bem, obrigado, temos sol. Este era o primeiro assunto. Vamos ver o segundo.

 

Gelo marinho: desde 1979 sempre igual

Apesar do alegado aquecimento global, em média a extensão de gelo do mar Antárctico não diminuiu desde que os dados de satélite se tornaram disponíveis em 1979. Mas as simulações dos modelos climáticos tendem a mostrar fortes tendências negativas para o mesmo período. Curioso, não é?

No artigo peer-review, com o título “politicamente correcto de Delayed Antarctic sea-ice decline in high-resolution climate change simulations (“Atraso no declínio do gelo do mar Antárctico em simulações de alterações climáticas de alta resolução”), publicado  no passado mês de Janeiro em Nature Communications, um grupo de pesquisadores apresentou projecções multi-resolução das alterações climáticas no oceanos do hemisfério sul. A configuração de alta resolução prevê uma extensão estável do gelo marinho do Antárctico e não se espera que diminua até meados do século XXI.

As razões? Há uma hipóteses: a circulação oceânica aumenta o transporte de calor para o equador. Como resultado, o oceano torna-se mais eficiente em moderar o aquecimento antropogénico em volta da Antárctida e desta forma retarda o declínio do gelo marinho.

Outra possível explicação: o aquecimento antropogénico não existe. Mas o estudo não diz isso, caso contrário nunca teria sido publicado. Todavia, o grupo sugere “uma simulação explícita dos remoinhos dos oceanos do Sul para fornecer projecções mais confiantes do gelo marinho antárctico”. O que significa: se é para fazer previsões, tentem medir algo antes…

 

Aquecimento Global: um frio desgraçado

Como sabemos:

  • está calor? É o Aquecimento Climático.
  • está frio? É o Aquecimento Climático.

Pelo que, basta espreitar as notícias para constatar que o Aquecimento Climático deste Inverno tem sido terrível.

Uma vasta tempestade  espalhou-se pelos Estados Unidos na primeira semana deste Fevereiro , levando a “situações de emergência” e “declarações de catástrofe” em muitos Estados. Explicação? Uma frente de Aquecimento Global frio árctico que continua a despejar volumes recorde de neve e gelo que vão desde o New México até o New England.

Quanto aos registos de queda de neve, a partir do dia 2 de Fevereiro:

Lansing, a capital de Michigan, recebeu 34 cm de neve. Foi o dia de Fevereiro mais nevado de sempre na cidade (dados recolhidos desde 1863), quebrando o antigo recorde de 33 cm estabelecido em 28 de Fevereiro de 1900.

A queda de neve em Wichita, no Kansas, bateu o recorde de 109 anos de idade a 2 de Fevereiro. Os 15 cm medidos no Aeroporto Nacional de Wichita Dwight D. Eisenhower bateram o recorde anterior de 13.2 cm estabelecido em 1913.

Recorde também em Oklahoma City e Indianápolis. Escolas encerradas nas principais áreas metropolitanas como Dallas e St. Louis.

A selecção nacional de futebol dos EUA jogou contra as Honduras em St. Paul, no Minnesota. O jogo, acabado com uma vitória de 3-0 para os EUA, será lembrada principalmente pelas condições extremas: ao pontapé de saída, os termómetros marcavam -16.5°C o que, acompanhado por um vento gelado, tornava a sensação térmica como se estivessem -27°C.

Obviamente nada disso consegue abalar os meteorologistas do Centro de Previsão Climática da NOAA, segundo os quais grande parte dos Estados Unidos teriam tido um Fevereiro quente.

Se nos EUA faz frio, difícil imaginar que no Canada a situação seja melhor. E, de facto, também aí o Aquecimento Climático tem sido terrível: sempre no começo de Fevereiro, foram registradas registam temperaturas anormalmente abaixo da média sazonal.

Do outro lado do planeta, Delhi (Índia) também bateu os recordes de frio também depois de ter sofrido um tempo anormalmente frio tanto em Dezembro como em Janeiro. Mas Fevereiro está a ser pior.

De facto, tem sido tão frio que a capital nacional acabou de experimentar o seu dia mais frio de Fevereiro em 19 anos: uma máxima de 14.4°C, cerca de 8°C abaixo do normal.

E no Japão, há Aquecimento Global? Tranquilos: há. Eis o vídeo:

Já agora: por qual razão esquecer a neve em Istambul no mês de Janeiro? Todos merecem um pedacinho de Aquecimento:

 

Dióxido de carbono? Há, mas pouco

Voltamos aos estudo. Kenneth Skrable, George Chabot, e Clayton French, da Universidade de Massachusetts, publicaram em Health Physics o documento World Atmospheric CO2, Its 14C Specific Activity, Non-fossil Component, Anthropogenic Fossil Component, and Emissions (1750–2018). Um título complicado? Sim, e o artigo até é pior. Mas a síntese é a seguinte:

Após 1750 e o início da revolução industrial, o componente fóssil antropogénica e o componente não fóssil na concentração atmosférica total de CO2 começaram a aumentar.

Apesar da falta de conhecimento sobre estes dois componentes, afirma-se que todo ou a maior parte do aumento desde 1800 deve-se ao componente fóssil antropogénico, que tem continuado desde o seu início em 1960 com Keeling Curve: CO2 increase from fossil fuels [a Curva de Keeling é um gráfico do acumulação de dióxido de carbono na atmosfera da Terra com base em medições contínuas feitas no Observatório Mauna Loa, na ilha das Hawai, de 1958 até os dias actuais, ndt].

[…] Todos os resultados que cobrem o período de 1750 a 2018 estão listados numa tabela e representados em números.

Estes resultados negam as alegações de que o aumento do carbono desde 1800 tem sido dominado pelo aumento do componente fóssil [combustível] antropogénico.

Determinámos que, em 2018, o CO2 fóssil antropogénico atmosférico representava 23% do total de emissões desde 1750, com os restantes 77% em reservatórios de troca.

Os nossos resultados mostram que a percentagem do CO2 total devido à utilização de combustíveis fósseis de 1750 a 2018 aumentou de 0% em 1750 para 12% em 2018, o que é demasiado baixo para ser a causa do aquecimento global.

 

Desgraças? Sim, mas o costume

Outro estudo? Tá bom, se o Leitor insistir… No The European Physical Journal Plus de Janeiro de 2022 foi publicado um outro artigo que merece atenção. Com certeza terão ouvido dizer que o maior número de desastres naturais está relacionado ao Aquecimento Global. Alguns pesquisadores da Academia Nacional das Ciência italiana e da Universidade de Milano foram controlar os dados acerca de tornados, furações, precipitações extremas, inundações e secas, reunindo tudo no artigo A critical assessment of extreme events trends in times of global warming (“Uma avaliação crítica das tendências de eventos extremos em tempos de aquecimento global”).

Síntese:

Este artigo revê a recente bibliografia sobre séries cronológicas de alguns eventos meteorológicos extremos e indicadores de resposta relacionados, a fim de compreender se um aumento na intensidade e/ou frequência for detectável.

As mudanças globais mais robustas nos extremos climáticos encontram-se em valores anuais de ondas de calor (número de dias, duração máxima e calor acumulado), enquanto que as tendências globais na intensidade das ondas de calor não são significativas.

A intensidade diária da precipitação e a frequência extrema da precipitação são estacionárias na parte principal das estações meteorológicas. A análise das tendências da série temporal de ciclones tropicais mostra uma substancial invariância temporal e o mesmo é válido para os tornados nos EUA. Ao mesmo tempo, o impacto do Aquecimento na velocidade do vento de superfície permanece pouco claro.

A análise é então alargada a alguns indicadores de resposta global de eventos meteorológicos extremos, nomeadamente catástrofes naturais, inundações, secas, produtividade dos ecossistemas e rendimentos das quatro principais culturas (milho, arroz, soja e trigo). Nenhum destes indicadores de resposta mostra uma clara tendência positiva de fenómenos extremos.

Em conclusão, com base nos dados de observação, a crise climática que, de acordo com muitas fontes, estamos hoje a viver, ainda não é evidente. No entanto, seria extremamente importante definir estratégias de mitigação e adaptação que tenham em conta as tendências actuais.

Vale a pena ler também as conclusões:

A partir da Segunda Guerra Mundial, as nossas sociedades progrediram enormemente, atingindo níveis de bem-estar (saúde, nutrição, higiene dos locais de vida e de trabalho, etc.) que as gerações anteriores não tinham sequer remotamente imaginado. Hoje, somos chamados a prosseguir na via do progresso respeitando os constrangimentos da sustentabilidade económica, social e ambiental com a severidade ditada pelo facto do planeta estar prestes a atingir 10 mil milhões de habitantes em 2050, cada vez mais urbanizado.

Desde as suas origens, a espécie humana tem sido confrontada com os efeitos negativos do clima; a climatologia histórica tem usado repetidamente o conceito de deterioração climática para explicar o efeito negativo de eventos extremos (principalmente seca, fases diluviosas e períodos de frio) sobre a civilização. Hoje, estamos perante uma fase quente e, pela primeira vez, temos capacidades de monitorização que nos permitem avaliar objectivamente os seus efeitos.

Temer uma emergência climática sem que esta seja apoiada por dados, significa alterar o quadro de prioridades com efeitos negativos que podem revelar-se prejudiciais para a nossa capacidade de enfrentar os desafios do futuro, desperdiçando recursos naturais e humanos num contexto economicamente difícil, ainda mais negativo após a emergência da Covid. Isto não significa que não devamos fazer nada quanto às alterações climáticas: devemos trabalhar para minimizar o nosso impacto no planeta e para minimizar a poluição do ar e da água. Quer consigamos ou não reduzir drasticamente as nossas emissões de dióxido de carbono nas próximas décadas, precisamos de reduzir a nossa vulnerabilidade a fenómenos climáticos e meteorológicos extremos.

Deixar o bastão aos nossos filhos sem os sobrecarregar com a ansiedade de estarem numa emergência climática permitir-lhes-ia enfrentar os vários problemas existentes (energia, alimentos agrícolas, saúde, etc.) com um espírito mais objectivo e construtivo, com o fim de chegar a uma avaliação ponderada das acções a serem tomadas sem desperdiçar os recursos limitados à nossa disposição em soluções dispendiosas e ineficazes. A forma como o clima do século XXI irá evoluir é um tema de profunda incerteza. Precisamos de aumentar a nossa resiliência ao que quer que o clima do futuro nos apresente.

Temos de nos lembrar que enfrentar a mudança climática não é um fim em si mesmo, e que a mudança climática não é o único problema que o mundo enfrenta. O objectivo deveria ser o de melhorar o bem-estar humano no século XXI, protegendo o ambiente tanto quanto possível, e seria um disparate não o fazer: seria como não cuidar da casa onde nascemos e fomos criados.

 

…e o Sol?

NetZero Watch dedica um artigo aos recentes estudos acerca da correlação Sol e clima terrestre.

As influências solares manifestam-se na subida do nível do mar, nos eventos do El Nino e nos ciclos climáticos oceânicos. A energia do Sol influencia o nosso clima, mas a sua influência é muitas vezes ignorada porque as mudanças na sua intensidade são muito pequenas. O seu efeito pode ser subtil, mas, ao longo de décadas, é significativo, como mostram vários documentos recentes.

Cientistas da Universidade da Califórnia, Irvine, da Universidade Nacional Normal de Taiwan e do Instituto de Física Atmosférica, Academia Chinesa de Ciências, Pequim, descobriram que o ciclo solar de 11 anos tem uma correlação significativa com as mudanças na temperatura da superfície do mar no Pacífico Norte Oriental. Eles acreditam que a influência do Sol seja primeiro amplificada na estratosfera inferior para depois alterar a circulação na troposfera, que depois afecta a temperatura do oceano.

Observaram que as mudanças têm uma estrutura semelhante ao que acontece no Pacífico Sul, com uma interacção entre ventos alísios e evaporação oceânica que é um importante desencadeador do El Nino-Sul (ENSO).

Parece que o ciclo solar de 11 anos modula El Niño durante a fase activa do ciclo e a  La Nina quando o ciclo solar declina.

A influência solar é também evidente noutros aspectos do fluxo de ar nos trópicos. Uma equipa da Universidade de Oxford, da Universidade de Aarhus, do Instituto Max Planck de Meteorologia, Hamburgo (Alemanha), do Imperial College London e do Instituto Gantham forneceram recentemente provas observacionais de que o ciclo solar influencia a circulação atmosférica do Pacífico em escalas de tempo de 10 anos, descobrindo que há uma redução nos gradientes de pressão ao nível do mar sobre o Oceano Indo-Pacífico durante os máximos solares e nos anos subsequentes.

Outros estudos recentes mostram uma correlação entre o fim dos ciclos solares e uma mudança das condições de El Nino para La Nina, sugerindo que a variabilidade solar pode impulsionar a variabilidade climática sazonal na Terra. Segundo Scott McIntosh, cientista do Centro Nacional de Investigação Atmosférica (NCAR):

A comunidade científica tem sido pouco clara quanto ao papel que a variabilidade solar desempenha na influência do tempo e dos eventos climáticos aqui na Terra. Este estudo mostra que há razões para acreditar que existe absolutamente e porque é que a ligação pode ter sido perdida no passado.

Os documentos não examinam qual ligação física entre o Sol e a Terra pode ser responsável pela correlação, mas realça que existem várias possibilidades, tais como a influência do campo magnético do Sol na incidência dos raios cósmicos que bombardeiam a Terra.

Mais: bom fim de semana. E agasalhem-se porque o Aquecimento Global não brinca em serviço.

 

Ipse dixit.

3 Replies to “Aquecimento Global: curiosidades e estudos”

  1. Se essa história de aquecimento global fosse verdade deveriam levar em conta a precessão dos equinócios, fato que nunca é mencionado, mas que obrigatoriamente torna o clima um pouco diferente a cada ano, no caso mais frio no norte e mais molhado no sul

  2. Não entendo porque este pessoal que se dizem cientistas e divulgadores não trocam a expressão aquecimento global por variação climática. É uma expressão mais aceitável até porque o mundo parado não existe, até as rochas se movimentam e se transformam.
    Essa ideia que sub existe que só o homem é o centro de tudo (coisa da cristandade) não funciona. Tudo se movimenta e se transforma, sofre variações, e já era assim antes da humanidade.
    Já que o homem é uma criatura que se diz inteligente, poderia, quem sabe, prever variações locais e globais para prevenir as possíveis vítimas. Isso resultaria muito útil, se executado com níveis aceitáveis de acerto.
    Já mudar o clima do planeta e suas variações é um pouco pretencioso, embora venha sendo tentado e alcançado localmente, não para benefício. mas para prejuízo de certos locais, em função dos interesses imperiais.
    Quando e se a humanidade se considerar mais uma espécie, entre espécies, apenas dotada de certos privilégios cognitivos, trabalhará em prever acontecimentos extremos do clima para beneficiar aqueles seres vivos que dependem do clima para sobreviver.
    Aves, répteis e muitos mamíferos usam uma coisa chamada instinto para se prevenirem. Nós nos achamos bons demais para buscar respostas através dos nossos instintos. De não usá-los geração traz geração, acabamos por nos prevenir de cataclismas menos que um cavalo ou uma coruja.

    1. Oi Maria! A raiz da maioria dos problemas relacionais entre Homem-natureza reside no tal “Humanismo”, cuja base conceitual colocou a espécie humana acima de todos demais seres vivos e da própria natureza. E dizer que tanto intelectual se orgulha de se dizer “humanista”…

Obrigado por participar na discussão!

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