UE, Polónia, Bielorrússia e migrantes: memória curta

Resumo dos acontecimentos: os migrantes partem do Médio Oriente e chegam à Bielorrússia com o favor do governo, que concede vistos. Em seguida, são transportados para a fronteira polaca. E aí ficam, ao frio.

Só em Novembro, foram feitas 5.000 tentativas para forçar a fronteira polaca por parte de migrantes em fuga que se tinham reunido na Bielorrússia, em comparação com apenas algumas dezenas em todo o ano de 2020. Nos últimos dias, a situação agravou-se com o Ministério da Defesa de Varsóvia a informar que um agente foi ferido enquanto os guardas bielorrussos ficavam à espera e observavam. “Os migrantes atacaram os nossos oficiais com pedras e tentaram destruir a cerca, e foi utilizado gás lacrimogéneo para impedir esta agressão”, disse ele.

A Polónia está a utilizar canhões de gás lacrimogéneo e de água para deter os migrantes. Minsk acusa a Polónia de querer “agravar ainda mais a situação e abafar qualquer progresso no sentido de um acordo” para pôr fim à crise. Entretanto, Moscovo, que apoia a Bielorrússia, chamou à utilização de gás lacrimogéneo “absolutamente inaceitável”.

A Polónia, por seu lado, anunciou que começará a construir um muro na fronteira com a Bielorrússia em Dezembro (um muro ao longo da fronteira para afastar os imigrantes? Onde é que já ouvimos isso? Tranquilos: trata-se duma decisão permitida pelos tratados da UE).

A acusação do lado da União Europeia é que Minsk está a empurrar os refugiados para a fronteira com a intenção de colocar a UE em apuros, portanto por razões geopolíticas. A UE mobilizou 700.000 Euros para alimentos, cobertores e kits de primeiros socorros, mas o presidente da Comissão acusa: “O regime bielorrusso deve deixar de atrair as pessoas e de pôr as suas vidas em risco”. Há alguns dias, o Conselho da UE aprovou o quinto pacote de sanções contra Minsk, explicando através do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, que “esta decisão reflecte a determinação da União Europeia em resistir à instrumentalização dos migrantes para fins políticos. Estamos a rejeitar esta prática desumana e ilegal”.

Memória curta

Até aqui os factos. Mas, a bem ver, se existe alguém responsável pela crise migratória nas fronteiras da Bielorrússia e da Polónia, não há dúvida de que é a mesma União Europeia. Que agora acusa os outros (Bielorrússia e Rússia): mas é a mesma UE que, com o seu laxismo e servilismo para com o dono americano, tem sido a causa directa das catástrofes.

Hoje vemos os euro-bureaucratas agitarem-se em acusações contra Lukashenko, o “mau ditador” de Minsk que chantageia a Europa com os imigrantes, e depois contra Putin, considerado o instigador da crise e o apoiante de Lukashenko. Ambos, segundo Bruxelas, gostariam de sobrecarregar a Europa com imigrantes. Na realidade, os factos são bastante claros. Vamos enumerá-los por ordem.

Primeiro ponto: donde os migrantes estão a fugir. Isto é imediatamente visível nos rostos destas populações desesperadas, iraquianos, curdos, afegãos e sírios em fuga dos seus Países, que foram bombardeados e desestabilizados pelas guerras que o Ocidente, os EUA, a NATO e os Países europeus exportaram para as suas terras para os interesses geopolíticos do Império dos EUA. As guerras dos vários Bush, Obama e Clinton.

Os europeus, e em particular franceses, polacos, britânicos, dinamarqueses, lituanos, romenos, letões, espanhóis e húngaros, desempenharam o seu papel na coligação internacional que bombardeou e devastou os Países dos quais agora aquelas pessoas fogem.

A União Europeia partilhou plenamente com os Estados Unidos a responsabilidade pelo caos que se instalou no Médio Oriente e no Afeganistão. Se essas guerras não tivessem sido travadas, as pessoas não teriam fugido, como não fugiam antes. Basta pensar em Países como a Líbia, a Síria ou o Iraque que, antes das intervenções ocidentais, tinham alcançado grandes progressos e um melhor nível de vida para as suas populações.

A União Europeia é cúmplice nessa destruição e na consequente crise humanitária criada nos territórios desde Tripoli até Kabul.

Ponto segundo: a União Europeia, que sempre falou dos direitos humanos e instou os Países mediterrânicos como Itália e Grécia a acolherem sozinhos a vaga de migrantes, agora justifica a recusa da Polónia e acusa a Bielorrússia de chantagem, deixando que pessoas infelizes com mulheres grávidas e crianças  congelem na fronteira polaca. Não há simpatia humanitária, mas os euro-burocratas são surdos e impassíveis perante o sofrimento destas pessoas, gritando para que Lukashenko se apresse e ameaçando com sanções sobre sanções.

Vice-versa, em Italia temos um ex-Ministro do Interior (Salvini) agora em tribunal porque, quando ocupava o cargo, tinha ousado travar um navio (de Soros, comandado por uma capitã alemã) que tentava introduzir ilegalmente centenas de imigrantes no País. Obviamente, aquele antigo Ministro não pertencia à asa “progressista” do Parlamento.

Terceiro ponto: ainda mais grave é o facto da Alemanha de Merkel, que fez com que o Erdogan da Turquia ficasse submergido por milhares de milhões de Euros pela mesma razão, ou seja, para travar os imigrantes da Síria, recuse agora a prestar ajuda à Bielorrússia, que é atingida pela vaga de migrantes. Dois ditadores da mesma laia mas um tratamento diferente.

Mas há mais uma culpa da União Europeia: numa tentativa de estrangular a Bielorrússia, Bruxelas está pronta a sacrificar as vidas de pessoas infelizes, deixando-las morrer se necessário. Um verdadeiro triunfo da hipocrisia.

Pode-se compreender porque é que o tratamento da UE, por um lado, favorece as organizações mafiosas e as ONGs financiadas por Soros que gerem o tráfico no Mediterrâneo, enquanto por outro lado se torna rígida e cínica com as pessoas que chegaram às fronteiras da Polónia. É necessário agradar, também desta vez, ao dono americano e colocar uma cara má contra Lukashenko e Putin. Isso custa vidas de pobres desgraçados? Olhem a novidade…

 

Ipse dixit.

Imagem: Reuters/SocialMedia via BBC

2 Replies to “UE, Polónia, Bielorrússia e migrantes: memória curta”

  1. Olá Max e todos: é a guerra, são os resultados da guerra permanente que mata a maioria e enriquece a minoria.
    A guerra acaba, quando os imperiais acabam. E aí não são necessários muros de tijolos, arame ou polícia para conter as hordas de imigrantes.
    Acabando a miséria da maioria, acabam os imigrantes.
    Enquanto se permitir que os imperiais façam o que quiserem, eles continuarão matando porque para existirem precisam diminuir a população.
    Eu os compreendo perfeitamente. Compreender não é aceitar.
    Vocês já pensaram o quanto de gente existiria, não fora as guerras, a escassez provocada de alimentos, as pestes, a ignorância generalizada, o clima desestabilizado, a terra e a água envenenadas, a indústria farmacêutica corporativa, etc ?

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