Porque é que G20 e Cop26 fracassaram?

Antes foi o G20 em Roma, concentrado nas Alterações Climáticas, no Ambiente e no Desenvolvimento Sustentável. Depois foi a vez do Cop26 em Glasgow, organizado nada menos que pelas Nações Unidas sobre as alterações climáticas. Pano de fundo: dum lado os chamados “Grandes da Terra”, preocupados com o ambientalismo, que descobriram os termos “bio” e “verde”, do outro lado os manifestantes nas ruas, os que seguem a estrela polar Greta Thunberg.

Claro que nem o G20 e nem o Cop26, mesmo de acordo com os comentadores mais benevolentes, conseguiram algo. Nem poderiam: nenhum País desenvolvido está disposto a renunciar aos padrões de vida que no mundo ocidental continuamos a considerar não negociáveis; nenhum País está disposto a travar o crescimento económico tal como o entendemos hoje. Estamos portanto, como de costume, confrontados com um conto criado apenas para manter calmos os jovens inocentes mas ignorantes (antes que alguém fique ofendido: do Latim ignorante, “que ignora”) que manifestam pelo mundo fora.

Não é possível elogiar o ambientalismo e, ao mesmo tempo, o crescimento do PIB: sabemos serem duas coisas incompatíveis. No futuro não sabemos, mas hoje é assim. A energia “renovável”, seja eólica ou solar, também não pode resolver a questão porque a energia, qualquer energia, precisa de outra energia para ser accionada. Demócrito dizia “nada é criado e nada é destruído”, Empédocles repetia o idêntico conceito e ao longo dos séculos todos os cientistas chegaram à mesma conclusão, condensada no segunda lei da termodinâmica. Vamos assumir isso duma vez por todas: não há energia “de borla”, caída do céu.

A única coisa sensata seria reduzir o consumo e, consequentemente, a produção. Dito de outra forma: teríamos de inverter o actual modelo de desenvolvimento. E aqui encontramos aqueles que provavelmente são os pontos mais interessantes saídos das reuniões dos “Grandes”.

Um: os bons e os maus

O primeiro ponto é a individuação dos culpados: China e Índia. Os encontros acabaram mal porque, segundo a narrativa oficial, estes dois grandes poluidores recusam adoptar desde já medidas para travar as emissões de dióxido de carbono. A teoria é simples: após ter poluído com CO2 mais tudo o que foi possível despejar em terra, água e mar, os Países mais desenvolvidos descobriram que poluir é mau e querem que as duas principais potências económicas emergentes travem o seu desenvolvimento, aceitando uma redução das emissões e, como resultado, limitando o crescimento. Obviamente, tanto Pequim quanto Nova Deli responderam “Sim, sim, lá para 2050, 2080… comecem a contar”. Ninguém realçou como os EUA do “verde” Joe Biden aumentaram brutalmente a exportação de carvão para que a China possa alimentar as suas centrais.

É correcto pensar que quem poluiu ao longo deste tempo todo agora possa exigir que os outros não poluam? Qual moral podem apresentar? Sobretudo: faz sentido que os principais culpados agora imponham a solução também, tendo em consideração que continuaram a poluir também quando já era claro o efeito negativo das emissões industriais (todas elas, não apenas o CO2)?

Doutro lado temos que considerar o argumento contrário. Assumindo que a poluição é má (com o sem Aquecimento Climático), é lícito permitir que outros continuem a poluir só porque não tiveram ocasião de poluir antes? Imaginem um tribunal onde o arguido seja absolvido só porque antes dele houve outros que roubaram e que não foram apanhados.

O nosso sistema cria este tipo de situações. Não é simpático.

Dois: políticos, eleitores, empresas

O segundo ponto é muito mais interessante. Nenhum Primeiro Ministro quer apresentar-se aos cidadãos prometendo menos bens materiais, menos viagens, carros mais caros, energia mais cara. Seria abatido na praça principal tanto pelos consumidores como pelos produtores. Mas é isso que está a acontecer: o preço de energia eléctrica e combustíveis está a aumentar enquanto as multinacionais estão a implementar escolhas que irão reduzir tanto a produção quanto os consumos.

A Renault, por exemplo, está a substituir o modelo campeão de venda Megane com a nova versão 100% eléctrica. A actual Megane tem preços a partir de 25 mil Euros, a nova versão inteiramente eléctrica (disponível desde Março de 2022) não custará menos de 30/35 mil Euros na configuração de base (os preços definitivos serão conhecidos na altura do lançamentos). Obviamente, dos catálogos desaparecerão as versões diesel, actualmente as mais procuradas. Ou seja: a multinacional francesa está conscientemente a programar uma drástica redução das suas próprias vendas, porque é evidente que aqueles 5 mil/10 mil Euros de diferença e a falta duma versão a gasóleo irão afastar boa parte dos clientes.

Mesmas escolhas estão a ser feitas por parte de quase todos os produtores de automóveis, decididos a substituir os actuais modelos com versões “verdes”, isso é, mais caras e com menor autonomia (futura consequência directa: casas automobilísticas com problemas económicos, fusões/adquisições, concentração da capacidade produtiva em poucas mãos).

Portanto, há uma aparente fractura entre a classe política, receosa das reacções dos eleitores e de parte dos produtores (os mais conservadores), e o comparto industrial mais avançado e poderoso, que segue um seu percurso bem definido e cuja origem não é difícil identificar (Forum Económico de Davos e arredores). Dado que quem manda não é a classe política, o desfecho é claro. O problema é conjugar as declarações e as exigências políticas com as decisões pseudo-ambientalistas.

Provavelmente o quadro geral pode ser entendido apenas ao considerar uma maciça transferência de poder entre as velhas gerações de produtores (petroleiros, por exemplo) e as novas (hi-tech): nesta altura, os políticos ficam presos no meio, incapazes de escolher um percurso claro para não irritar o eleitorado e para manter os bons (e profícuos) relacionamentos com a geração conservadora, ainda suficientemente poderosa. Daí o fracasso das sucessivas reuniões e a individuação dos bodes expiatórios (Índia e China em primeiro lugar).

Supérfluo mas necessário

Pena porque na verdade a solução seria bastante simples, até elementar. Vamos pôr de lado a questão da CO2 e do Aquecimento Climático: a realidade é feita de 8 biliões de pessoas num planeta com recursos limitados. Pelo que, a única coisa séria que podemos fazer é reduzir o supérfluo. Simples, não é? Não, não é.

Porque aqui surge um outro problema: precisamos de compreender o que consideramos supérfluo e o que é necessário. Para mim, talvez, sejam necessários os livros; para outros, alguns dos infinitos bens que são oferecidos. A área das superficialidades tem crescido imensamente desde que a terrível lei da “oferta que cria a procura” foi estabelecida com a Revolução Industrial: a modernidade criou necessidades que antes não existiam porque hoje somos antes consumidores e só depois homens e mulheres.

Exemplo: nos EUA foram criadas as Tiktoker Houses, que agora chegam na Europa também. O que é uma Tiktoker House? Simples: uma escola onde os influencers (“influenciadores”) ensinam outros acerca de como influenciar o mercado. Traduzindo: gente que nada sabe sobre nada, que ensina a gente que sabe ainda menos do que eles sobre como influenciar as escolhas dos consumidores (nós) para favorecer esta ou aquela empresa.

Um disparate? Claro que sim. Mas há pessoas que fazem disso um trabalho, que vivem deste “nada”. Para eles, a profissão de influencer assim como a relativa escola são uma necessidade imprescindível. Então, quem decide o que for supérfluo e o que não for? (resposta: os mesmos que decidiram a viragem green)

 

Ipse dixit.

Imagem: Wikimedia

5 Replies to “Porque é que G20 e Cop26 fracassaram?”

  1. E Portugal fecha agora a central do Pego.
    E, passa a importar mais LNG, proveniente da Nigéria e mais além.
    E quem paga o custo adicional em cima do custo inflacionado é…
    E, o consequente aumento da poluição dos oceanos pelos meios de transporte que mais gasóleo usam, inclusive menos refinado (mais poluente), entrou na equação ambiental?
    Resposta: Claro que não, nem tão pouco interessa aos “decisores”.
    Frustante é ver que nem passa pelo blábláblá dos novos “green”.
    Será ignorância, será incompetência, ou algo bem pior…
    Se o ocorrido com o Greenpeace e o Seawatch for exemplo.

    1. Errata… Sea Shepherd.
      Não mencionei o WWF, nem era preciso pois não?
      As (piores) razões, espero sejam já por muitos de vós conhecidas.

  2. Olá Max e todos: tudo uma pantomina nojenta.
    Esta gente que enche os bolsos a custa da ignorância vigente saberia muito bem o que normatizar:
    Uso intensivo do papel para envolver mercadoria e lixo. Claro que mais árvores seriam sacrificadas, mas no balanço geral, árvores podem ser replantadas, garantida a manutenção das espécies. Já a vida no mar desaparece.
    Uso intensivo do vidro para líquidos de qualquer espécie. O vidro é feito com areia, se quebra e se mói e tem utilidade como material de construção.
    O controle total dos transportadores marítimos de petróleo e congêneres, bem como das empresas que extraem e refinam tais produtos, ou seja, multas astronômicas para os desvios para o oceano, revertendo os lucros das multas para a manutenção da vida marinha.
    A limitação de aviões particulares. Ricos, empresários e burocratas de alto escalão podem dispor da primeira classe para não sentirem o odor das demais classes.
    O estímulo ao uso do transporte público, melhorando substancialmente as frotas e a frequência. Para os ricos não ficarem deprimidos há o transporte público especial com mais privilégios
    Reciclagem do todo lixo urbano, premiando-se domicílios e cidades que produzissem menos lixo por indivíduo e incentivando empresas recicladoras.
    Multas agressivas para quem jogassem qualquer tipo de dejeto em rios, córregos e mares.
    Imediato tratamento de água e esgotos em cidades, bairros, vilas e lugares onde não houvesse esse tratamento
    Enfim, poder-se-ia nomear 500 mil providências imediatas e passíveis de realização evitando desvio de verbas e potenciando o recebimento de multas para os delinquentes (ricos e pobres) que não sabem viver no ambiente natural e societário.
    Como fazer isso? Usar a inteligência e a verba utilizada para controlar a vida dos indivíduos e consequentemente sua liberdade.
    Arrancar os párias das instituições nacionais e globais e substituí-los por gente com valores reais de conservação do planeta.
    Como? Me perguntem pessoalmente.

  3. Olá, está escrito: . . . a realidade é feita de 8 biliões de pessoas num planeta com recursos limitados. Pelo que, a única coisa séria que podemos fazer é reduzir o supérfluo. Simples, não é? Não, não é.
    Acho que depende do que é considerado supérfluo, 8 bilhões de pessoas é um número bem alto, é muita gente, e uma parte É supérflua, no sentido literal, por isso a campanha de vacinação foi tão persistente, em alguns anos esse número vai reduzir e o problema estará resolvido. Os muito poderosos, estarão a festejar a saída da humanidade da rota da destruição, digam sim as vaxinas.

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