Biden: provas técnicas de…?

Com as últimas declarações do Presidente Joe Biden sobre a Crimeia, os Estados Unidos desenterraram o machado de guerra contra a Rússia. ZomBiden declarou que a península foi invadida pela Rússia e que os EUA apoiam o direito da Ucrânia a recuperar a posse da Crimeia.

Estas declarações são suficientes para aumentar o estado de tensão com a Rússia, dado que o Presidente Putin há muito declarou que a Crimeia é uma questão fechada: é parte integrante da Federação Russa.

Crimeia

ZomBiden mente sabendo que está a mentir: a Crimeia não estava “na posse” da Ucrânia. Após o colapso da União Soviética, em Dezembro de 1991, a Crimeia proclamou o auto-governo a 5 de Maio de 1992; mais tarde concordou em fazer parte da Ucrânia independente mas como uma república autónoma. Em 1995 foi criada a República Autónoma da Crimeia, acto com o qual Kiev concedia uma ainda maior autonomia à península que, de facto, era governada por um Parlamento local. Ainda mais particular era o caso de Sebastopol que, enquanto sede histórica da frota russa no Mar Negro, gozava dum estatuto especial.

O que houve, isso sim, foi um golpe na Ucrânia, em 2014, durante o qual foi derrubado um governo eleito e foi concluída a mudança de regime que Washington desejava. Vice-versa, na Crimeia houve um referendo, no dia 16 de Março do mesmo ano, com o qual a maioria da população votou em favor da anexação à Rússia. Um referendo suspeito pois os Russos já encontravam-se no País? Com certeza. Mas não esquecemos que a maioria da população da península é de etnia russa, não ucraniana; e na altura a escolha era entre o caos de Kiev, com as suas milícias neonazistas, e a “protecção” de Moscovo.

Onde fica a China?

Estas declarações de ZomBiden e o aparecimento de uma maciça força naval da NATO perto da costa da Crimeia tornam claro que as provocações militares irão resultar num choque. Não sabemos ainda de que nível. As intenções da nova Administração dos EUA demonstram a atitude agressiva de Washington contra a Rússia, o Irão e também a China.

A China? Sim, exacto: o tom utilizado na política é diferente daquele na economia. É evidente que a Administração americana quer mais: quer que Pequim tome “oficialmente” uma decisão, não pode continuar a ir mão na mão com Wall Street e ao mesmo tempo piscar o olho a Moscovo. Sobretudo agora que em Washington foi eliminado o principal obstáculo, Donald Trump. A China está nas melhores condições para escolher o eixo norte-americano duma vez por todas, caso contrário será considerada mais um obstáculo à hegemonia unilateral dos EUA no Pacífico.

O último indicador neste sentido: a França enviou um submarino de ataque nuclear no Mar do Sul da China, em “patrulha”. O submarino SNA Emeraude junta-se assim ao porta-aviões HMS Queen Elizabeth, ao HMS Diamond, ao HMS Defender, às fragatas HMS Northumberland e HMS Kentdo do Reino Unido. Todos no Mar do Sul da China, em conjunto com as forças dos EUA, da Austrália e do Japão. Mas todo este movimento perto da fronteira marina chinesa revela algo mais: a inclusão dos franceses e dos britânicos na estratégia Indo-Pacífico de Washington é necessária porque os Países da região, particularmente no Sudeste Asiático, têm pouco interesse em provocar a China.

Altamente improvável que Pequim escolha: a estratégia é ganhar tempo, porque quem tem pressa nesta altura são os Estados Unidos. A China pode tranquilamente continuar a jogar no “livre” mercado fingindo ser comunista, sabendo também que um eventual atrito com Washington prejudicaria em primeiro lugar os EUA.

O projecto de sempre

Mas ZomBiden tem pressa, quer resultados e com uma certa rapidez. A razão é simples: Washington decidiu apertar o cerco e o jogo está outra vez baseado na “contenção” da Rússia ao longo do seu perímetro. Na Ucrânia, na Geórgia, na Moldávia e na Ásia Central. Os EUA estão a tentar criar um faixa de Países hostis à Rússia, ligados à NATO e pontilhados de bases militares americanas. O próprio Putin disse numa reunião do Serviço Federal de Segurança que “a política dos EUA visa interromper o nosso desenvolvimento, abrandá-lo, criar problemas ao longo do perímetro externo, desencadear instabilidade interna”.

A nova Administração dos EUA tem como principal objectivo o regresso a um mundo dominado pelos EUA a nível económico, militar e político: o velho esquema da conquista da Eurásia, o antigo pesadelo americano, a táctica do defunto Zbigniew Brzezinski. Portanto, não pode tolerar que a Rússia e a China contrariem a sua hegemonia ou que o Irão, a Síria, a Venezuela ou Cuba “transgridam” a Ordem Mundial. A estratégia de contenção de Washington é implementada por todos os meios possíveis: sanções económicas, propaganda difamatória, medidas de cerco militar. Os primatas progressistas retomaram o mesmo rumo de sempre, interrompido pelo “acidente” Trump.

Os meios são os mesmos porque a lógica que move a super-potência americana é a mesma: em Washington prevalece a corrente evangélica e sionista, segundo a qual os EUA, a qualquer custo, devem regressar a ser “o farol do mundo”. Só que entretanto algo mudou, e não para melhor: caso alguém não tenha reparado, as multinacionais assumiram o total controle da instituição americana e estão agora a remodelar o sistema de acordo com as suas próprias prioridades. O aparelho industrial militar ainda está em primeiro lugar, mas está cada vez mais ligado aos potentados financeiros de Wall Street. Pelo que: este não é o clima típico da Guerra Fria, não há a “defesa da Democracia”, não há uma ideologia política, esta é a implementação de algo novo. Fala-se aqui, é claro, da nova ordem sugerida em Davos pelo World Economic Forum.

No entanto, assegurar a estabilidade do sistema exige a expansão máxima, provavelmente além dos seus limites. Ou seja, a ocupação política e económica da União Europeia e de todas as outras antigas zonas de dominação americana, que continuam a ser incertas: como o Médio Oriente, que ocupa o segundo lugar na lista. É preciso um grande esforço para trazer de volta um gigante que demasiadas vezes nas últimas décadas teve que engolir derrotas disfarçadas de sucessos. Um esforço necessário para que, ao mesmo tempo, sejam acalmadas as tensões internas também.

A solução ou o bluff

Solução? A de sempre: uma guerra. A nova elite progressista (de nome: na verdade terrivelmente conservadora) americana precisa de uma nova guerra para expandir o seu domínio, os seus negócios e pôr em ordem os Países não cumpridores. No entanto, não pode ser um segundo Vietname, Afeganistão ou Iraque. A nova guerra será uma aposta, provavelmente a mais arriscada de todas, com sabor à última praia. Deve ser ganha, custe o que custar, pena o começo também oficial do declínio da potência americana.

Nesta altura há dois possíveis palcos: a Ucrânia e o Médio Oriente. Que não são propriamente novidades. Mas ambos envolvem a Rússia e este é um problema porque um conflito com Moscovo traz demasiadas incógnitas. Pegamos no caso do Irão: israel adoraria aniquilar Teheran e de certeza que não poucos em Washington empurram para que esta seja a próxima jogada. Mas atrás do Irão há a Rússia. Têm os EUA a capacidade para sustentar uma guerra como esta? O que faria a China? Como reagiriam as massas islâmicas? E como seria o “depois”?

Seja como for: é apenas uma questão de tempo, pois os EUA têm de agir antes que a Rússia se torne ainda mais forte, têm de desarmar o Irão antes que Teheran entre na posse da atómica, têm que satisfazer os desejos israelitas, têm que impor a sua lei no Médio Oriente, têm que atrair de forma definitiva a China do seu lado, têm que passar para fora a ideia do que o poder continua a ser apenas um, o deles. Portanto: vamos pôr de lado o supérfluo, como a inteligência, para resolver isso à boa maneira norte-americana? Ou tudo não passa dum bluff?

Sem aviões…

A Força Aérea dos EUA anunciou um novo estudo futuros aviões, apelidado TacAir. Ao fazê-lo, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, o General Charles Q. Brown, finalmente admite o que tem sido óbvio durante anos: o programa F-35 não tem cumprido os seus objectivos. Segundo Brown, a USAF precisa não só da sexta geração de aviões de caça NGAD (Next Generation Air Dominance), mas também de um novo avião de “quinta geração ou 4.5”. Brown também sugeriu uma possível solução para o caso do F-35: pilotar a aeronave o mínimo possível.

Quero moderar a utilização desses aviões, não se conduz o Ferrari para o trabalho todos os dias, só se conduz aos Domingos.

O F-35 é “apenas” o caça multifunção supersónico furtivo (stealth) de última geração. Os EUA querem mesmo entrar em guerra sem um avião de combate?

 

Ipse dixit.

Imagem: Kevin Lamarque/Reuters em The New Yorker

5 Replies to “Biden: provas técnicas de…?”

  1. Uma Guerra de larga escala é possível ( e desejada por vários lobbies extremamente poderosos) o gatilho pode estar em vários lugares, e na ausência de um haverá sempre uma ” false flag” Os EUA continuam a ser de longe a maior máquina militar do planeta ( mesmo sem aliados) e também a mais bem preparada por via da constante utilização ( este factor é decisivo numa guerra) A maior ameaça aos interesses dos EUA é a China e não a Rússia , Rússia e China não são aliados militares. Não existe retorno econômico que justifique uma guerra contra a Rússia , a Rússia é por condição geográfica, econômica e cultural um país sobrevivencialista com várias provas dadas . China está cercada de inimigos desejosos de se libertarem da sua colonização econômica e da ocupação das suas águas territoriais contrariamente ao que a propaganda chinesa quer fazer acreditar + o factor “India” A questão da tecnologia aeronáutica é uma cortina de fumo , a tecnologia militar disponível continua no mínimo 20 anos a frente da tecnologia conhecida e é largamente detida pelos EUA. Estas parecem me ser
    ” evidencias ” tangíveis , 90% do que sai na comunicação social é apenas entretenimento e cortinas de fumo .

    1. P. Lopes, sem dúvida os Estados Unidos por enquanto ainda são a maior máquina militar.
      A China sabe disso e está a se preparar .
      Apenas a título de informação, os chineses lançarão ao mar em 2022 seu terceiro porta aviões que estará totalmente operacional em 2025. O plano é ter 6 navios desses.
      Portanto, acredito que nos próximos 10 anos os chineses irão ignorar todas as provocações. Quando eles acharem que estão em condições de “brigar”, a coisa muda.

  2. Mas é tangível proceder qualquer avaliação mais aprofundada sem que estejamos a par dos desdobramentos diplomáticos que envolvam os mais altos interesses em jogo, num mundo em impera a propaganda e não a verdade?

    1. Caro anonimo, não procuro fazer previsões mas apenas analisar probabilidades, a única coisa que me parece altamente provável é a alta probabilidade de conflitos generalizados em grandes regiões capazes de afectar seriamente a economia mundial e moldar a evolução da humanidade de acordo com a vontade dos vencedores, para isso a única coisa tangível é a preparação individual.

  3. Sinceramente não sei qual é a ideia do regime da Inglaterra, do seu Estado Profundo, das Multinacionais, e do Vaticano, em querer pôr tudo contra todos e rebentar uma guerra, sabendo que a Federação da Rússia (FR) possui armamento que mais ninguém tem e com uma capacidade destruidora nunca vista, assim como a República Popular da China (RPC).

    Isto é o típico sinal do desespero por parte do regime Inglês e do poder financeiro e clerical, que ao verem o seu corrupto e violento sistema político e económico de dominação mundial a desmoronar-se só têm um caminho – o da guerra – na velha máxima do perdido por cem perdido mil, nem que para isso tenham de levar para o genocídio os países que compõem a união europeia (ue) e outros ao redor do globo.

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