Coronavirus: alguém raciocina, apesar de tudo

Acabo de receber o link de Pablo (muuuuuito obrigado!) e publico já. É um artigo de André Dias, doutorado em modelação de doenças pulmonares, no Departamento de informática, pela Universidade de Tromso (Noruega). Copio e colo do site onde foi publicado em origem sem nenhuma alteração.

Leiam tudo, aconselho.

Um século de epidemiologia diz-nos outra coisa

Os dados iniciais de surtos infecciosos são essencialmente ruído, com muito pouco para tirar de sinal. Primeiro, porque durante algumas semanas não há agente identificado, depois, não há teste especifico para o agente, depois, só há testes virológicos (onde estamos agora) e, só bastante mais tarde, aparecem testes serológicos/ anticorpos.

Os testes virológicos só podem ser feitos numa janela temporal muito curta ou dão negativo, daí induzirem um ruído gigantesco. Os serológicos indicam se alguma vez houve contacto com o vírus, logo podem ser feitos em amostragem populacional e permitem dados estatisticamente significativos.

Neste momento (escrito a 23 de Março), não há nenhuns dados fiáveis para estimar a letalidade da covid19, pode ser 0,001% ou 5%. Tudo isso é ruído. O número de infectados pode ser o que conhecemos ou dez mil vezes maior (sim, dez mil vezes).

Só com chegada de testes serológicos se começa a ter real imagem da doença na sociedade. A Holanda anunciou ter conseguido um teste marcador de anticorpos, mas são desconhecidos quaisquer resultados até agora.

Por exemplo, a gripe Suína começou com estimativas de 30% — literalmente extinção humana em poucos meses — e acabou abaixo de 1%, abaixo da gripe sazonal e não fez dano nenhum.

Este é o tipo de ruído com que estamos a lidar.

Os únicos dados minimamente fiáveis que temos de testes virológicos são do cruzeiro Diamond Princess, porque toda a gente foi testada num intervalo relativamente curto. Indicam 1% de letalidade numa população muito envelhecida, em ambiente confinado e a partilhar cantina. Podemos ter certeza estatística de que o mundo fora do cruzeiro terá taxas bem mais baixas. Adicionalmente, menos de 20% das pessoas foram infectadas e não há ainda explicação para tal.

Como não se pode sequer estimar no início a letalidade, todo o medo e pânico são irracionais.

É preciso um cuidado extremo, extremo, paranoico, com a divulgação de dados iniciais de surtos em particular com a letalidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) devia responder criminalmente por não controlar esses dados e não assegurar que indica a ordem de grandeza do ruído. Foi só e apenas isso que fez este “surto”.

Olhando para http://www.euromomo.eu algo é imediatamente visível: A temporada de gripe 2018/19 foi incrivelmente leve e a de 2010/20 ainda mais leve, até agora.

Também digno de nota nos gráficos detalhados dos países é que todos os picos anteriores, causados principalmente pela gripe sazonal, estão encerrados na semana 19 do ano (primeira semana de Maio) e atingem o pico máximo antes da semana 12. A linha de base da mortalidade cruza a média nessa altura e representa o impacto inicial da mortalidade de doenças pulmonares no Inverno.

Há quase uma certeza de que a covid19 terá o mesmo comportamento e deixará de ter relevância em breve, pelo menos até ao próximo Outono/ Inverno.

As pessoas mais vulneráveis, que morriam em casa, lares, cuidados paliativos, são agora enviados para hospitais centrais por medo de os cuidadores se infectarem e porque, sendo uma doença de notificação obrigatória, têm de ir para hospitais de referência.

O Serviço Nacional de Saúde colapsa todos os Invernos com a gripe, a covid 19 é clinicamente mais complicada e ocupa as camas de cuidados intensivos mais tempo, mas o medo e os processos burocráticos associados à doença explicam parte relevante da sobrecarga dos serviços.

Foi o mesmo medo que fez colapsar os serviços funerários em Bergamo e Madrid e agora Nova Iorque. Os corpos têm de ser cremados por ser doença formalmente contagiosa de notificação, e os funcionários são obrigados a medidas de protecção total que diminuem a produtividade.

Aliado a essa descida da capacidade dos crematórios, os doentes são concentrados nas cidades e as famílias não os podem levar, uma vez mais por ser doença contagiosa, dando origem ao colapso.

Bergamo é uma das cidades mais envelhecidas da Itália, dois anos acima da média. Na região de influência do hospital central há 300 000 pessoas. Em picos de gripe, morrem em média cinquenta pessoas por semana por cada 100 000 habitantes. É normal esperar 100 mortos por dia em alguns dias de pico. As notícias referiam que o crematório só conseguia lidar com 24. Há muito que teria entrado em colapso ou foi a necessidade de cremar todos com a lentidão inerente às normas para esta doença que obrigou aos camiões, não foi uma mortalidade excepcional actual. A gripe também tem epicentros.

A comparação com anos anteriores em janelas apertadas como agora circula “quatro vezes mais mortalidade em Março, em Madrid e Bergamo” apenas indica que os surtos de gripe deslizam muito dentro da época gripal. São maioritariamente em Dezembro e Fevereiro. Haver um surto em Março deste ano, com a covid19, não tem significado nenhum.

É banal um aumento de 140% de mortalidade, em Bergamo, em relação ao ano passado, dada a época amena de gripe. Provavelmente a mortalidade ficará várias vezes ainda abaixo de 2014 quando morreram 54 000 em excesso por todas causas em Itália, um aumento de três vezes mesmo em relação a picos de gripe. Nesse pico de 54 000 mortos não se fechou uma única escola, nem na verdade houve investigação relevante para determinar as causas.

As estimativas actuais (1 de Abril) da letalidade colocam a covid19 no nível da gripe. O número de mortos por infectados, IFR (infected fatility rate), de 0,26% é perfeitamente banal para picos de gripe. Os números que tem circulado são de médias da letalidade de gripe de muitas décadas que esbatem os picos, sendo banais picos com letalidades de 1%.

Não faltam epidemiologistas a vir a público, desde o primeiro dia, a dizer que isto é uma loucura. Alguns falam em nome do Helmholtz Gesellschaft, um colosso de ciência médica, onde cerca de 20 000 pessoas fazem epidemiologia. A maioria foi insultada.

A equipa do Imperial College que fez previsões catastrofistas tem um historial macabro de indicação para abate de centenas de milhares de animais por causa da ‘foot and mouth disease’. Verificou-se na altura que o modelo estava errado, sendo, no essencial, o mesmo usado agora. Numa audição parlamentar, Neil Ferguson reviu as estimativas do Imperial College, sem qualquer justificação plausível além de “medidas” que não especificou, passando de 500 000 para 20 000 mortos!

As medidas de contenção não demonstram a mais remota efectividade. Todos os países, com excepção da Coreia do Sul agora, apresentam curvas teóricas perfeitas com 12 a 15 dias até ao pico de casos novos, depois de entrar em exponencial, que é o padrão representativo de infecções pulmonares sem controlo.

Em Portugal, há muito que passaram quinze dias de estado de emergência, a propósito de uma doença que tem 14 dias da infecção até ao diagnóstico e só abrandou com o mesmo padrão de todos os outros países.

Há indicadores de que a taxa de infectados é muito superior ao que se julga. Se assim for, não só o confinamento não ajudou o sistema de saúde como acelerou a infecção — sem importância, mas irónico.

As escolas nunca deveriam ter sido fechadas. As crianças correm um risco praticamente nulo com esta infecção, e ficam imunes rapidamente, sem sintomas na maioria. Transformam-se em vassouras de vírus a recolher vírus das superfícies que nada lhe fazem e que deixam de estar disponíveis para infectar pessoas vulneráveis.

Seria razoável pedir o distanciamento crianças-avós durante uma semana para evitar a fase mais activa de contágio. Eventualmente poderia ser razoável enviar os funcionários e professores em grupos de risco para casa e reduzir a carga lectiva com actividades de maior contacto físico.

Provavelmente terá sido a qualidade do ar em Wuhan que terá espoletado os alertas de surto da OMS e o governo chinês entrou à bruta. As imagens criaram pânico no mundo… depois, há novo alerta no vale do Pó, também com uma qualidade do ar miserável.

Toda a monitorização de epidemias é feita computacionalmente, com recolha de dados. Até haver esse alerta, a OMS não foi procurar nada.

Os políticos foram apenas atrás da população com medo. A grande excepção é Marke Rutte, da Holanda, que faz um discurso exemplar de estadista, metade do tempo a falar do medo ser real e reconhecer que não se pode negar esse medo, mas que a vida vai continuar como se nada fosse.

Mesmo que fosse muito mau, os vírus pulmonares são sempre lentos, nunca infectam mais de 30% das pessoas por ano, não importa o “como” e “onde”. Os vírus rápidos são os vírus que estão disponíveis na pele ou secreções, que têm proteção do ambiente até ao momento de infectar um novo hospedeiro.

Os vírus pulmonares têm de estar expostos ao ambiente hostil algum ou muito tempo, que lhes reduz dramaticamente a capacidade de infecção — por exemplo são destruídos pelos raios ultravioleta – o que os torna muito mais lentos e muito influenciados pelos pequenos aumentos de imunidade de grupo.

Havia muito tempo para tomar decisões, observar como evoluía a epidemia e decidir de acordo com essa evolução, racionalmente e em conta peso e medida.

A gripe tem sempre estirpes com imunização zero. A OMS faz previsão das estirpes e falha muitas vezes, ficando uma ou duas estirpes de fora da vacina para as quais a imunidade é zero.

Seria tempo de usar o conhecimento de cem anos de epidemiologia na gestão desta epidemia, em vez de adoptar medidas extremas, que nunca foram testadas em lado nenhum, e que seguramente terão um grande impacto negativo na nossa vida.

Ainda por cima não escreve segundo o novo acordo ortográfico. Alguém dê uma medalha à André Dias, s.f.f.

 

Ipse dixit.

 

8 Replies to “Coronavirus: alguém raciocina, apesar de tudo”

  1. Quem diria que o jornal Eco viesse a publicar um artigo, um verdadeiro artigo de opinião e pesquisa; afinal pode ser que se comece a fazer uma frente contra a desinformação e de resistência a este golpe de Estado em curso que ocorre no nosso país.

    Divulguem esta publicação por todo o lado, porque é realmente assustador a estupidez e a ignorância da maioria da população portuguesa relativamente às infundadas medidas de estado de emergência, isolamento social, distanciamento social, e quarentena, que a presidência da República e o governo com a conivência dos partidos que estão na Assembleia da República (AR), impuseram aos cidadãos portugueses.

  2. Boa tarde, Max.

    Atenção a estas fontes. Cair na preguiça de não se investigar não é apanágio deste blog.
    Existe contraditório à análise do Sr. André Dias que deve também ser divulgado.
    O raciocínio não é característica exclusiva dos que defendem os nossos pontos de vista.

    Com isto, boa leitura:
    http://blog.scheeko.org/2020/04/alto-debito-pouco-substrato/
    https://www.linkedin.com/pulse/erros-na-análise-de-andré-dias-sobre-pandemia-hugo-penedones/

    1. Olá Anónimo!

      Fui logo espreitar porque aqui podem ser hospedadas tanto as ideias “prós” quanto as “contras”. Só que estes “contras” são muito fracos.

      Exemplo:

      “Antes de entrarmos pelo conteúdo, tomemos esta afirmação que o autor, a certa altura, proclama:

      «Mesmo que fosse muito mau, os vírus pulmonares são sempre lentos, nunca infectam mais de 30% das pessoas por ano, não importa o “como” e “onde”.»

      O autor faz uma proclamação autoritária e definida. Atentemos à seguinte passagem.

      As Ilhas Faroé são pequenas formações vulcânicas que emergem da água no extremo norte do Oceano Atlântico. Na periferia da Europa, são isoladas e frias; em 1846 eram um dos locais mais saudáveis do mundo. Mas nesse ano, um carpinteiro nativo da ilha regressou de Copenhaga com uma tosse intensa. Tinha sarampo. O vírus havia estado ausente das Ilhas Faroé por mais de 60 anos e, numa altura em que ainda não existia vacina, poucos habitantes da ilha tinham imunidade à doença. Durante os cinco meses seguintes, 6 100 dos 7 900 habitantes da ilha ficaram doentes. Mais de uma centena morreram.

      O Governo dinamarquês, distante soberano destas pequenas ilhas, enviou ao local Peter Panum, um jovem e perceptivo médico de patilhas distintas. O seu relatório provou, sem margem para dúvidas, que a doença se propagou por contacto directo. Trata-se de um documento seminal de epidemiologia. fonte

      O vírus do sarampo é um vírus respiratório que se transmite por via aérea. Ora, 6100 / 7900 = 77%. Mais que 30%, se não estou em erro. E em 5 meses.”

      – Comentário: Mau. André Dias falou em “doenças pulmonares”, o blog responde com o sarampo que não é uma doença pulmonar: transmite-se com tosse mas também com contacto.

      Mais:

      “Os dados

      «Neste momento (escrito a 23 de Março), não há nenhuns dados fiáveis para estimar a letalidade da covid19, pode ser 0,001% ou 5%. Tudo isso é ruído. O número de infectados pode ser o que conhecemos ou dez mil vezes maior (sim, dez mil vezes).»

      Isto é verdade. Os dados são imperfeitos, incompletos, temporalmente limitados, e sobretudo, com excepção da China e da Coreia do Sul, estávamos no início do surto. Note-se ainda que ao mesmo tempo que o surto conflagra, estamos a mudar as condições de propagação do virus, por termos embarcado na maior experiência de confinamento e isolamento de que há memória. De qualquer maneira não sabemos exactamente quando é que o autor estava a olhar para os dados, uma vez que afirma tê-lo escrito a 23 de Março, mais tarde diz que está a olhar para dados de 1 de Abril e o artigo foi publicado dez dias depois.

      E no entanto, há pessoas a morrer, a entupir os hospitais, portanto havia e há que actuar. O futuro dirá se foi uma actuação desproporcionada ou não, mas mesmo no futuro as análises não vão ser triviais, como muitas análises a anteriores epidemias, ou mesmo à gripe sazonal mostram. E mesmo com melhores dados no futuro, como dizem os anglófonos, hindsight is 20/20″.

      – Comentário: A afirmação de André Dias está correcta porque a taxa de letalidade duma doença só pode ser calculada uma vez que a epidemia tenha acabado (em média dois anos depois). Que a taxa seja referida ao dia 23 de Março ou ao 1 de Abril é absolutamente indiferente: sempre errada está.

      Mais:

      ” «As estimativas actuais da letalidade colocam a covid19 no nível da gripe (..) perfeitamente banal para picos de gripe.»

      Pronto. Está o caldo entornado. Então os dados não eram só ruído? «não há nenhuns dados fiáveis para estimar a letalidade da covid19» mas afinal já se pode dizer que é perfeitamente banal para os picos de gripe?

      O autor depois fala de duas formas de se estimar a magnitude do problema, já que tudo o resto “é ruído”: usando os dados do navio Diamond Princess e os dados da rede europeia de monitorização da mortalidade (EuroMOMO)”.

      – Comentário: Os dados da Diamond Princess referem-se a um universo fechado onde a epidemia já alastrou e acabou: é portanto o possível utiliza-la como fonte de confiança porque não haverá mudanças no futuro.

      André Dias fala de “previsões”, não dos alegados dados apresentados pelos media. Os dados do EuroMOMO falam das epidemias de gripe dos anos passados (não da actual),não são previsões e o histórico é bastante fiável.

      E aqui paro porque se em três parágrafos encontro três erros não vale a pena continuar.
      Mas obrigado pela contribuição: cada ajuda conta, ninguém tem a verdade no bolso e todos temos sempre que procurar, mesmo que os resultados possam não reflectir as nossas ideias!

  3. As declarações do sr. Dias provocam o pavor no corrupto regime parido a 25 de Novembro de 1975.

    A mentira que está por de trás da doença do coronavírus covid-19, começa a ser difícil de sustentar.

Obrigado por participar na discussão!

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