Crescimento vs. Progresso

O Leitor não consegue dormir. Agita-se na cama, não prega olho, mexe-se transpirado entre os lençóis o tempo todo com um só pensamento: crescimento ou descrescimento? A nossa sociedade tem que continuar a perseguir o dogma do eterno crescimento ou pode descansar num decrescimento feliz? O Leitor já visitou muitos blogs e sites na internet, mas parecem todos confusos, aliás, são estes que fazem confusão: como pode o decrescimento ser feliz? Um mundo que vai para trás pode trazer a felicidade?

Calma Leitor, está aqui Informação Incorrecta para dissipar todas as dúvidas: esta é a sagrada missão do blog. No final deste curto artigo terá as ideias claras. Finalmente. Siga-me se faz favor.

O crescimento

A Natureza ensina que o tempo é cíclico: as estações são repetidas, o dia após a noite e a noite após o dia. A Natureza ensina que nada é criado e nada é destruído e que a existência é um jogo contínuo entre os opostos: não há ganho sem perda, não há alegria sem dor, não há criação sem destruição. Tudo isso parece uma espécie de filosofia domingueira? E é, de facto: são aquelas coisas que é simpático ouvir mas que não mudam as nossas vida dum só milímetro. Uma pena, porque são coisas verdadeiras, esquecidas numa sociedade totalmente votada ao crescimento.

O que é afinal o crescimento? É aquela crença que diz que o melhor ainda está por vir, que a história é uma linha recta que continua sempre a subir, que a esperança é a última a morrer, que amanhã será um dia melhor, que a luta traz a revolução e a revolução traz um mundo perfeito. Basicamente a ideia de crescimento é a crença de que a felicidade será encontrada no futuro.

Não apenas o Leitor acha que a felicidade está no futuro, mas está convencido de que é o próprio crescimento que um dia lhe trará felicidade. E sem pensar nisso, o Leitor permite que em nome do crescimento seja feita qualquer coisa, independentemente do que ou do como: o importante é a promessa de felicidade (sempre futura).

O crescimento é caracterizado por um aumento do desenvolvimento da sociedade a médio-longo prazo, com um aumento generalizado do nível das variáveis como riqueza, consumo, produção de bens, prestação de serviços, emprego, capital, investigação científica e inovação tecnológica.

Agora, eis a dúvida: mas é possível travar o desenvolvimento-crescimento? Não é isso algo que pertence geneticamente ao homem e a todas as sociedades humanas? Não é uma característica intrinsecamente nossa? Como travar algo que é parte de nós, desde sempre, desde que o primeiro homem decidiu utilizar o fogo para iluminar a sua gruta? E mais: a nossa sociedade está longe de ser perfeita. Pelo que: parar agora faz sentido? Não seria mais correcto continuar o crescimento para melhorar as condições de vida nossas e, sobretudo, aquelas dos nossos filhos?

Caro Leitor, há aqui algo que não bate certo. Se, como vimos, o crescimento é caracterizado por um aumento do desenvolvimento da sociedade, um aumento generalizado de riqueza, consumo, emprego, investigação científica e inovação tecnológica, então qualquer ideia de decrescimento feliz seria puramente idiota. Mas… há um “mas”: a definição que foi dada antes de crescimento (extraída da Wikipedia versão italiana) é falsa, pois mistura dois aspectos que não estão directamente relacionados entre eles. E aqui temos que introduzir um novo termo, absolutamente fundamental: “progresso”.

O progresso

Tudo o que aumenta o bem-estar humano, contribui para a evolução do ser humano e da sua sociedade é progresso. Se houver sol, se o Leitor dormiu bem, dá um passeio perto do mar em companhia duma pessoa maravilhosa, o Produto Interno Bruto, o crescimento não aumenta. Mas o Leitor está melhor: este é progresso. Isso significa que para acabar com o crescimento e ter progresso temos todos que ir à praia? Não. Significa duas coisas:

  1. crescimento não é sinónimo de progresso
  2. pode haver progresso sem crescimento

Também eu reparei que muitas, demasiadas vezes nos discursos relativos ao decrescimento feliz é omitido este aspecto que é fundamental: e isso é péssimo porque a ideia de parar o progresso é criminosa. Mas, como vimos, progresso e crescimento são duas coisas diferentes. Além de alguns cérebros doentios que gostariam voltar a uma espécie de Idade Média moderna, ninguém pensa em parar o progresso: seria contra a natureza humana que tenta sempre melhorar as suas condições de vida. É natural que assim seja: quem poderia gostar da ideia de travar o desenvolvimento da sociedade, o emprego, a investigação científica ou a inovação tecnológica?

O Leitor dorme mal, precisa do café no bar para acordar, fica entalado no transito, respira gases, a sua tensão arterial aumenta, anda stressado… Eis querido Leitor os efeitos do crescimento económico e compulsivo, filho dum desenvolvimento que tem como único objectivo viabilizar o dito crescimento.

Imagine agora um estilo de vida que permita dormir descansadamente, uns transportes públicos que funcionam e que não poluem, uma vida menos stressada… este é progresso, filho dum desenvolvimento que não tem como objectivo o crescimento económico e compulsivo.

É aqui que temos de fazer uma pequena ginástica mental e aprender a distinguir duma vez por todas os vários termos:

  • crescimento: mau quando económico e obrigatório (como na nossa sociedade).
  • progresso: bom e necessário.

Uma vez aprendida a diferença entre crescimento e progresso, fica mais simples entender as razões pelas quais é preciso para o crescimento mas continuar (aliás: aumentar) o progresso.

Crescimento: inimigo do progresso

Nesta altura o Leitor estará a pensar: “Será possível ter crescimento e progresso ao mesmo tempo? Afinal seria bom para a economia e bom para os homens”. Seria. Mas não é possível, pela simples razão que o crescimento é o verdadeiro inimigo do progresso.

Olhamos em nossa volta: injustiças, guerras, desemprego, fome… qual a causa de tudo isso? De certeza não pode ser o progresso, porque este tem como objectivo melhorar a condição humana. Observamos mais de perto as principais distorções da nossa sociedade.

Não poucas vezes as injustiças são aquelas provocadas pela arrogância das multinacionais, que desejam manter o regime de monopólio no qual prosperam. As guerras são desencadeadas para entrar na posse das fontes energéticas, para que o crescimento não pare. O desemprego é um instrumento activo para a redução dos custos de produção. A fome poderia ser debelada se as empresas não tivessem como único objectivo o lucro. Resumindo: a causa das principais distorções da nossa sociedade é o crescimento. Não é a única causa, mas é aquela que raramente não está presente. Sem o crescimento um assinalável número de injustiças desapareceriam; boa parte das guerras (quase todas, em verdade) não teriam razão de ser; o desemprego poderia ser resolvido com uma política de pleno emprego; a fome poderia ser eliminada com o fornecimento de instrumentos, agora desligados da ideia de lucro a qualquer custo.

Mas o que é reduzir as injustiças, acabar com guerra, desemprego, fome? É melhorar as condições da vida humana. É progresso. Então nesta altura o Leitor entendeu que o crescimento compulsivo é o inimigo mortal do progresso: na verdade somos impedidos de progredir porque, se assim fosse, iriam ruir as bases do crescimento compulsivo. Actualmente qualquer progresso tem que ser limitado e permitido só quando houver a certeza de que este não irá abalar a certeza do crescimento compulsivo.

A grande tragédia do ser humano moderno é a incapacidade de viver no único momento em que a vida é real, isto é, o agora. A corrida louca para o crescimento que está a destruir o planeta e a humanidade é simplesmente a aplicação em grande escala da nossa ideia perversa de crescimento, que procura incessantemente novas gratificações irreais, incapazes de desfrutar o presente, que ansiosamente espera uma satisfação no futuro.

Decrescimento não é falta de progresso: é exactamente o contrário.

Todavia…

Todavia não há receitas simples e este é o principal problema de quem apoia o “decrescimento feliz”. E este artigo, apesar das aparências, não tenciona apoiar o decrescimento. Porquê? Porque o “decrescimento feliz” nada mais é se não uma forma de post-comunismo disfarçado de ambientalismo barato. É por isso que muito do decrescimento espalhado no mundo da informação alternativa não tem em conta aspectos que são fundamentais, porque não é possível dizer “Muito bem, a partir de hoje vamos decrescer”. Nada na nossa sociedade estaria preparado para uma decisão repentina como esta: o “decrescimento feliz” seria na verdade um “decrescimento trágico”. Em lugar do progresso, seria a causa dum retrocesso, do caos.

É por isso também que o decrescimento nunca será implementado de forma voluntária. Não é apenas demasiado distante do nosso actual estilo de pensamento e da realidade mas, sobretudo, é demasiado afastado da natureza humana.

Todavia, os pontos enumerados ao longo do artigo restam válidos. Um em particular: o crescimento é inimigo do progresso. Então eis o verdadeiro desafio: tornar o crescimento não o fim mas o instrumento privilegiado para fortalecer cada vez mais o progresso. Um progresso que tenha no centro da atenção a condição humana, as necessidade individuais, da sociedade e do planeta. O PIB ao serviço dum círculo virtuoso: ao aumentar o progresso, a sociedade toma cada vez mais consciência das distorções provocadas pelo crescimento compulsivo e fixa novos objectivos, mais progredidos. O que necessariamente levaria a um crescimento controlado: já não um “decrescimento trágico” mas o justo equilíbrio entre necessidades humanas e a máxima protecção da Natureza. Tudo isso não é “decrescimento feliz”, tem outro nome: política.

 

Ipse dixit.

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3 Replies to “Crescimento vs. Progresso”

  1. Enquanto eu ia lendo, ia pensando: mas o bem estar das populações não depende de conceitos, depende da atuação das pessoas…bom finalmente escrevestes depender de políticas. Pois é, as boas políticas põem os significados, os conceitos a favor do bem estar de todas as pessoas. As más políticas inventam sentidos para justificar que o bem estar não pode alcançar a todos, insinuam no discurso, e executam na prática, toda sorte de recursos para eliminar algumas populações, as mais pobres e que mais se multiplicam ( esterilizações forçadas, experimentos não autorizados, migrações forçadas,perseguições, guerras, hostilidades por etnias e religiões, violência urbana e policial, envenenamento alimentar, da terra e da água) porque afinal um número menor de bocas permitiria que as restantes melhor comessem. É mentira. A penúria desencadeia a multiplicação como forma de sobrevivência da variedade dos humanos constantemente ameaçados. Em condições de bem estar este fenômeno não acontece. Quanto mais os privilegiados se concentram no topo da pirâmide, mais a base humana tenta sabotar seu genocídio. Parei de fazer esta pergunta imbecil aos miseráveis do meu país (“porque vocês têm tantos filhos, se não conseguem sustentá-los?”) quando uma miserável menos estúpida do que eu, um dia me respondeu:” Por isso mesmo. Eu tive 10 filhos e 3 já morreram. Se mais dois morrerem, sobra a metade para lutar pela vida” Sim, lutar pela vida, tentar garantir o direito de existir, para quem intui que outra coisa não pode fazer. Quem tem de lutar pelas boas políticas somos nós que pelo menos conseguimos o direito de existir,(temos meios para comer, vestir e buscar a manutenção da saúde) e não precisamos nos multiplicar, a não ser pelo (egoísta) desejo de manter viva nossa genética e justificar nosso desejo de acumular riqueza para deixar nossa herança para a família. Bom…já falei demais por hoje. Abraços

  2. E aqui no Brasil, durante o governo do PT (Partido dos Trabalhadores — Lula e Dilma), nas últimas décadas foram total decrescimentos econômico, ético e moral.

    “Muito engana-me, que eu compro”

    E o PT®? Qual o poder constante de sua propaganda ininterrupta?
    Eis:
    Vive o PT© de clichês publicitários bem elaborados por marqueteiros.
    Nada espontâneo.
    Mas apenas um frio slogan (tal qual “Danoninho© Vale por Um Bifinho”/Ou: “Fiat® Touro: Brutalmente Lindo”). Não tem nada a ver com um projeto de Nação.

    Eis aqui a superficialidade do PETISMO:

    0.
    “Coração Valente©”
    1.
    “Pátria Educadora©” [Buá; Buá; Buá].
    2.
    “Controle social da mídia” (hi! hi! hi!): desejo do petismo.
    3.
    “A Copa das Copas®”
    4.
    “Fica Querida©”
    5.
    “Impeachment Sem Crime é Golpe©” [lol lol lol]
    6.
    “Foi Golpe®”
    7.
    “Fora Temer©”
    8.
    “Ocupa Tudo®”
    9.
    “Lula Livre®”
    10.
    “® eleição sem Lula é fraude” [kuá!, kuá!, kuá!].
    11.
    “O Brasil Feliz de Novo®”
    12.
    “Lula é Haddad Haddad é Lula®” [kkkk]
    13.
    “Ele não®”.
    14.
    “Haddad agora é verde-amarelo ®” [rsrsrs].
    15.
    “LUZ PARA TODOS©” (KKKKK).
    16. (…e agora…):
    “Ninguém Solta a Mão de Ninguém ©”
    17.
    “SKOL®: a Cerveja que desce RedondO”.

    PT© é vigarista e desgraçado.
    Vive de ótimos e CALCULADOS mitos publicitários.

    É o tal de: “me engana que eu compro”.

    1. Não sei se é ironia mas acho que aí estão com o merecem e mais um ano e vai ser bem pior. O tal de pt está no poder ainda?
      Vai sempre ter culpa? Então a lavagem cerebral resultou e bem, mas se querem ser enganados, sejam.
      Agora por muita doideira que o anterior temer e este que decerto pergunta para o Guedes ou outro que tal, nem falar português direito sabe. Quem orquestrou a queda do tal de pt porque incomodava o status habitual os do costume com ajuda externa: departamento de justiça norte americano com a contribuição de agentes locais treinados e do poder judicial. Ora o que se sabe (alem dos podres de Temer) houve ou haverá pelo menos 4 ou 5 juízes do supremo tribunal federal(que se sabe) estavam sob ameaça pessoal e familiar outros ainda estarão. Dois dos filhos do actual PR estão ligados a esquadrões da morte, milícias, negócios de armas e fundos estranhos, offshores etc . Dai a carta Temer que ia ser usada para desviar atenções.
      Repito como já estiveram ou estariam a nivel mundial em 5 ou até 4 lugar praticaram o hara kiri e descem até aos lugares habituais, não é nada fora do normal esse progresso e crescimento dado o tamanho e recursos do país. Não tem mistério aliás possuem tudo em sobra que muitos sonharam, ou será necessário explicar?
      Se daqui por uns meses a culpa é do pt e do lula (na prisão) é porque não existem desculpas para incompetência infinita, mas se vão nessa música o qi aí (sem generalizar existe de tudo em todo o lado) é baixíssimo, aliás é um fértil território para iurds e igreja e seitas que tudo prometem a troco de algo em retorno.
      Entregam vãs promessas.
      Ps: ao menos limpem o lixo é um cheiro nauseabundo no Rio e outros locais depois de cortarem 40% despesas man sanitária e já nem passam caminhões de contenção de pragas é mosquitos e outras coisas em todo o lado, além de estar sempre tudo a discutir(incomodam videochamadas)

      N

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