– Problemas de amor? Dinheiro? Saúde? Em encontrar o estacionamento para o carro? Ligue agora mesmo, pois eu, Madame Taroth, estou aqui para você: onde estou eu, a Luz está comigo. Olhem, toca o telefone… estou? Quem liga?
– Boa noite Madame Taroth.
– Boa noite querido, quem fala?
– Sou E.M e ligo de Paris.
– Ohhh, um parisienne, muito bem. E ligas para quê? Linha da saúde, dinheiro, amor?
– Ligo para saber acerca da minha linha política.
– Com certeza: a tua data de nascimento?
– 21 de Dezembro de 1977
– Portanto tu és um Sagitário ascendente Servo.
– Sim.
– Muito bem, então vamos ver o que dizem as cartas. Olha, saiu a carta “Gilet Amarelo”, diz-te algo?
– Ehhh, sim, infelizmente sim… são uns desgraçados que querem que me demita…
– Entendo. Então estes Gilet Amarelos não gostam de ti?
– Não apenas eles, praticamente toda a França odeia-me.
– Estou a ver. Olha E.M., aqui saíram também outras três cartas: o “Árabe Enervado”, o “Atentado Previsível” e o “Israelita Escondido nas Sombras”.
– Oh Deus…o que significa isso?
– São boas e más notícias: a boa notícia é que tens amigos entre os banqueiros mais potentes que, ao mesmo tempo, são sionistas.
– É verdade!
– A má notícia é que para acalmar o povo terá que haver um atentado.
– Ohhhhh….
– Calma, meu amigo: não é preciso um massacre, alguns disparos num lugar simbólico podem ser suficientes. Mas aos menos que haja alguns mortos.
– É mesmo preciso?
– Sim, sem dúvida: isso é importante porque sem cadáveres o público não fica tão impressionado, entendes?
– Entendo…mas o “Árabe Enervado”?
– Ora bem: este será o terrorista. Deves utilizar uns árabes ou alguém daqueles grupos: fanáticos islâmicos, radicais muçulmanos, estás a ver? Sabes que estão sempre enervados e costumam ter boas ligações com os serviços secretos, pelo que não deve ser difícil arranjar alguém já conhecido e suficientemente estúpido. O papel dele não tão complicado, deve só disparar contra indefesos, gritar “Allah Akbar” e fugir. É isso mesmo: um bonito atentado no coração duma cidade como… como…
– Como?
– Vamos ver o que dizem as cartas: saiu-me a carta “Mercado Típico perto da Sede do Parlamento Europeu”. Cá está: Estrasburgo.
– Mas porquê Estrasburgo?
– Por duas razões: em primeiro lugar há aquele típico mercadito de Natal, lembras? A Época do Amor, as prendas, as crianças… faz um óptimo contraste com a maldade árabe. Haverá muitas pessoas e isso cria pânico, o que é sempre bom. Depois porque é a sede do Parlamento Europeu: na prática envias uma mensagem que pode ser interpretada de várias formas, percebes?
– Sim, entendo, muito inteligente… Mas Madame Taroth, que tipo de atentado seria melhor? É que estes árabes são gente estranha…
– Vamos misturar as cartas… “Fuga de carro”. Portanto deve haver o atentado e uma fuga de carro, que depois é o atentado padrão aí na França, correcto?
– Sim, é verdade, costumamos organizar as coisas sempre assim e resulta. Olhe, Madame Taroth, vou arranjar logo tudo, aviso os serviços secretos, o que acha?
– Ótimo, eu fico em linha, faz com cómodo. Ah, faz preparar também a reivindicação. Fala com uma amiga minha, Rita Katz.
– É de confiança?
– Vais tranquilo, também ela é da família.
– Já está, mas…
– Sim?
– Os serviços secretos arranjaram um gajo, tal Sherif.
– Então?
– Bom, este é um radical conhecido, o ficheiro dele está marcado como “perigoso para a segurança do Estado”.
– Óptimo.
– Mas depois as pessoas poderiam desconfiar, sempre atentadores conhecidos, sempre sem vigilância, com tanta facilidade em arranjar armas, explosivos…
– “Terrorista”, não “atentador”, lembra-te disso. Mas se estiveres preocupado podes fazer o seguinte: manda a Polícia a fazer uma rusga de manhã na casa dele, para mostrar que vocês já estavam a segui-lo. Ele foge, vai comer algo e, com mais calma, à tarde faz o atentado. O que achas?
– Mah… não sei, não faz muito sentido: de manhã foge, à tarde atrai toda a polícia da cidade…
– Sim, mas olha meu querido, as pessoas são bastante estúpidas e de qualquer forma não têm memória. Pode haver alguém que faça dois mais dois mas depois tudo se arranja.
– Olhe Madame Taroth, chegou um pedido do jornalista israelita Amichai Stein: quer ser o primeiro a publicar a foto do terrorista, o que acha?
– Amichai Stein? O correspondente diplomático da Corporação Israelita de Radiodifusão Pública, o militante pró-Netanyahu, aquele que tem ligações com o Mossad, o primeiro a relatar o massacre de Charlie Hebdo?
– Sim, ele.
– Espera: misturamos as cartas… “Povo que dorme”. Perfeito: ninguém vai reparar nisso, avança. Amichai é outro da família, pessoa de bem.
– Mah…Madame Taroth, não é que duvide de si ou das suas cartas…
– Então?
– …mas são coincidência a mais, entende? O árabe tonto, o israelita sempre presente…
– Percebo, mas podes ficar descansado. Olha, vou fazer-te uns exemplo. No atentado de Nice praticamente o único a gravar algo foi Richard Gutjar, que fez uma pipa de massa com aquelas imagens. Sabes quem é a esposa dele?
– Não.
– Einat Wilf, a política israelita que tinha sido tenente da Unidade 8200, que é a inteligência militar de israel. Ele gravou tudo a partir duma varanda por cima da avenida enquanto o camião matava as pessoas, na boa. E uma semana depois o mesmo jornalista estava em Mónaco da Baviera para gravar o ataque dum iraniano. Achas que alguém reparou nisso?
– Estou a ver.
– Ou ainda: o Bataclan. As primeiras fotografias do interior do local, alguns minutos após o massacre, com dezenas de corpos desmembrados e uma enorme poça de sangue na pista de dança, foram distribuídas por “Israel News Feed”, uma ONG de paramédicos que colabora com o exército de israel. Repito: fica totalmente descansado e deixa os jornalistas trabalhar, eles sabem do que não devem falar.
– Sim, mas voltando ao atentado de Estrasburgo: e o atentador? Pardon: o terrorista? O que faço com ele?
– “Terrorista”, habitua-te a usar este termo: “terrorista”, não atentador.
– “Terrorista”, sim, corrigi-me logo. Como me comporto?
– Olha, não é um grande problema. Estes fulanos costumam ser mortos durante a perseguição. Sabes como é: os mortos não falam muito. Mas pode haver testemunhas, então, se não conseguem mata-lo na altura, que fique numa prisão sem contactos com o exterior e espera. O tempo é um senhor que costuma resolver tudo.
– Sim, percebo… Mas, Madame Taroth, eu teria mais um problemito…
– Mais um? Ahi rapaz, estás mesmos em sarilhos, não é? Tranquilo, fala comigo.
– Pois, como digo, ninguém já me atura, nem a minha esposa… É assim: há dois dias chegou-me uma carta assinada por treze generais do exército. Até as forças armadas estão a abandonar-me, já viu?!?
– Calma, não chore. O que diz esta carta?
– Vou ler algumas passagens: “Sr. Presidente, Você está prestes a assinar, em 19 de Dezembro, o “Pacto Global sobre migração segura, ordenada e regular”, que estabelece um efectivo direito à migração. Este poderá sobrepor-se à nossa legislação nacional”
– Sim, e depois?
– Continua: “Você não pode ceder a este novo corte na soberania nacional sem um debate público, dado que 80% da população francesa acredita que a imigração deve ser bloqueada ou regulada drasticamente. Ao decidir assinar este pacto sozinho, Você acrescentará uma razão para uma revolta adicional à ira de um povo já maltratado. Você seria culpado de negação da democracia, para não dizer de traição da nação”. Traição, entende? Desgraçados…
– Calma, continua.
– “Além disso, as finanças do nosso país estão anémicas e o nosso endividamento cresce. Então Você não pode correr o risco de um apelo à migração sem antes ter demonstrado que não será forçado a recorrer a novos impostos para alcançar os objectivos do pacto”. […] “O Estado francês entende em atraso que é impossível integrar populações demasiado numerosas, de culturas totalmente diferentes, que foram agrupadas nos últimos 40 anos em áreas que não já não estão sob o controle das leis da República. Você não pode mais, sozinho, decidir cancelar as nossas referências de civilização e nos privar da nossa pátria. Por isso, pedimos que você adie a assinatura deste pacto e chame os franceses para decidir sobre o assunto com um referendo. A Sua eleição não foi um cheque em branco”. Delinquentes, mas eu despeço todos!
– Calma, E.M, calma. Não estás a ver? A solução é sempre a mesma: um bonito atentado.
– Acha?
– Mas claro! Qual militar poderá atacar-te se o País chora o sangue dos seus mártires? Olha, avança como estabelecido: árabe, rusga matinal, atentado no mercadito, fuga. Depois deixa que os media tratem disso. E deixa passar pelo menos 24 horas. Depois apareces na televisão com uma carinha triste e um vestido escuro: lembra-te que estás de luto. Diz as coisas do costume.
– Como o “O País está sob ataque”, “Este é um atentado contra toda a Democracia”, “Temos que ficar unidos”, “Vamos reagir”, etc.?
– Exacto, sempre com carinha triste. Ah, não esqueças de distinguir entre árabes bons e árabes maus, caso contrário vais perder o voto dos imigrantes. Que a Luz esteja contigo, meu filho.
– Obrigado Madame Taroth, foi o Céu que a enviou!
– Melhor, meu caro, melhor do que o Céu: foi um banqueiro.
Ipse dixit.
Max, este diálogo está genial. Está lá tudo, tudinho mesmo.
Krowler
Muito bom mas é tudo assim às abertas!?
Nuno
Olá Max: vou pedir aos pais da Mariazinha que proíbam esta menina de ler II. Se ela me inventa de levar este post para a escola para discutir a historinha anual do 11 de setembro Torres Gêmeas, aí sim que estaremos todos encrencados em Terra Âncora, e internacionalmente !