O Massacre de Paris e as amnésias do Papa Fofinho

É fofinho Papa Bergoglio, não é? Vive num pequeno apartamento em Roma, vai de autocarro, entende os pobres. São os pobres que não entendem ele, mas este é outro discurso (dica do bom blogueiro: para pronunciar o nome de forma correcta, imaginem que esteja escrito “Bergólho”).

A família Bergoglio é originária da província de Asti, terra que conheço bem: terra de vinhos, de trufas, de campos, de agricultores. Terra do Piemonte. E como se diz em bom piemontês: Piemontèis, faus e cortèis (“Piemonteses, falsos e corteses”).

O simpático Bergoglio acaba de beatificar o bispo francês Pierre Claverie com sete monges trapistas, todos abatidos, ao que parece, pelos guerrilheiros islâmicos na Argélia durante a abominável guerra civil entre 1991 e 2002. Fofinho Bergoglio: não se esqueceu dos mártires mortos na África.

Esquisito o facto do fofinho Bergoglio não se ter lembrado de outros episódios, estritamente relacionados com a morte dos novos beatos. Um passo atrás, s.f.f.

Paris, 1961

Hoje é o 17 de Outubro de 1961: a Argélia é uma colónia francesa, 150 mil cidadãos argelinos vivem em Paris. Na Argélia há a guerra pela independência. Em Paris há uma organização armada de direita, a OAS (Organisation de l’Armée Secrète), que mata os argelinos e tem um forte apoio entre as forças armadas e a polícia. Atrás da calma aparente, a situação é explosiva.

Nessas últimas semanas, todas as manhãs há cadáveres nos campos e nos bosques dos subúrbios. Em 5 de Outubro o Prefeito de Paris, Murice Papon (um antigo colaborador dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial), ordenou o recolher obrigatório entre as 8 e as 6 da manhã. Mas apenas para os “muçulmanos argelinos”. Os outros podem circular livremente.

A organização independentista argelina FLN convoca uma manifestação contra o recolher; aparecem cerca de 30 mil pessoas. É uma demonstração pacífica, mas para o governo francês a manifestação é um acto de guerra: Papon quer evitá-la. Quando é formada a primeira marcha, a polícia abre o fogo.

À noite 15 mil argelinos são presos e levados para os centros de detenção: aí os espancamentos continuam por mais dois
dias sem a presença de olhos curiosos. Nas ruas os mortos são logo numerosos.

No centro de Paris, perto da Ponte Saint Michel, no bairro onde vivem centenas de argelinos, os manifestantes são atacados pela polícia. A cena, descrita por testemunhas, é aterradora: sob as janelas da Prefeitura de Paris, os argelinos são massacrados, dezenas de corpos de mortos ou de moribundos são atirados para o rio Sena, os restantes são levados para a Prefeitura e espancados de novo (fala-se de 50 mortos apenas nesse local).

Dezenas e dezenas de argelinos “desaparecem”, com os cadáveres devolvidos pelo Sena nos dias seguintes.

No final, os mortos são 200 ou 300, não sabemos. A polícia afirma ter sido atacada por pessoas armadas e nos seguintes confrontos houve três vítimas. É esta a versão aceite e difundida pela imprensa.

Passaram 56 anos desde aquela noite: o actual Presidente da Câmara fez pôr uma placa comemorativa na Ponte Saint Michel. Mas o número oficial de mortos ainda é de três e nunca houve condenações. 

Em 1961, Bergoglio O Fofinho tinha 25 anos. Demasiado jovem para lembrar?

Argélia, 1991

Hoje o Vaticano é o que sabemos: mais de 7 bilhões de Dólares em investimentos financeiros, ninguém sabe quantos bilhões de imóveis de luxo no mundo, excelentes relações com os ultra-neoliberais do Fundo Monetário Internacional em Washington. Para os pobres: apenas as migalhas e a boa vontade dos poucos que estão no terreno, arriscando em primeira pessoa.

E é nestes moldes que o Papa Fofinho lembra as oito vítimas francesas: oito desgraçados presos no meio duma guerra totalmente criada e apoiada por França, Estados Unidos, União Europeia, África do Sul.

Nada de “guerra de religião” aqui: quando, em 1991, a Frente de Salvação Islâmica argelina ganha as eleições na Argélia de forma pacífica e democrática, o regime de Chadii Bendjedid deixa o campo nas mãos dos militares, que começam a massacrar, sob a cuidadosa supervisão de Paris e aliados. A Frente tinha ganho as eleições, mas aos olhos do Ocidente tratava-se duma vitória “errada”.

Resultado: 10 anos de guerra civil (1991 – 2002), entre 44 mil e 150 mil mortos.

Em 2002, Bergoglio O Fofinho tinha 66 anos. Demasiado velho para lembrar?

Seja como for o massacre de Paris de 1961 e a vergonha “democrática” de 1991 estão completamente ausentes do cerimonial do Vaticano. E não é que Wikipedia esteja melhor: não há uma página acerca do massacre de Paris em português, nem em italiano.

Mas Wikipedia só nasceu em 2001: demasiado jovem?

Ipse dixit.

3 Replies to “O Massacre de Paris e as amnésias do Papa Fofinho”

  1. Não é atoa que o Santo Papa vive uma vida doméstica singela. deve estar a penitenciar-se. Eu estou quase tão velha quanto o Francisco, mas minha memória para certos acontecimentos é perfeita…na verdade há memórias inesquecíveis para quem as vivenciou na pele de amigos/as queridos. E na Argentina, aqui bem pertinho de mim, o venerando Francisco, então bispo, foi a mão da igreja católica, apostólica, romana que apoiou, sustentou e compartilhou com as mais atrozes torturas e assassinatos dos então chamados terroristas e agitadores ateus,comunistas e anarquistas imorais, inclusive o conhecido desaparecimento de 30 mil pessoas entre 1976 e 83.Terá Francisco recebido uma anunciação dos céus, quem sabe de deus em santidade, ou quem sabe a doação de migalhas seja mais um pano de fundo para polpudos rendimentos para o Vaticano? Talvez uma questão de fé a resposta. Abraços

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