Quem lucra com a emigração?

Pergunta: mas onde encontra o dinheiro um pobre desgraçado que mora no Bangladesh (ou Paquistão, Nigéria, Chad… a escolha é ampla) e que deseja emigrar para o Ocidente?

Resposta: simples, pede um empréstimo a uma das ONG’s especializadas em lucrar com as desgraçadas alheias. 

Num País de emigrantes miseráveis (no sentido que nem o dinheiro para sobreviver têm), o “empréstimo de migração” representa um negócio que acontece em plena luz do dia, com ONG’s tipo a BRAC: pessoas que são consideradas às margens do desenvolvimento, ficam totalmente integradas no sistema destes serviços financeiros.

Vamos ver mais de perto este exemplo, a BRAC, lembrando de que é apenas uma (provavelmente a mais popular) das ONG’s que lucram com o azar das pessoas.

BRAC!

 BRAC tem feito o que
poucos outros fizeram.
Conseguiram alcançar sucesso em grande escala,
 trazendo programas de saúde salva-vidas
para os milhões dos mais pobres
do mundo.
Bill Gates

BRAC é uma ONG que actua em várias frentes, entre as quais o microcrédito para a emigração.
Originária do Bangladesh, hoje opera não só na Ásia mas também na África, onde, obviamente, faz um óptimo trabalho considerada a vaga de africanos que conseguem chegar até as costas da Líbia e daí à Europa.

Obviamente, a BRAC é uma organização não-governamental que ostenta fins humanitários: na prática, antes das ONG’s que transportam os migrantes pelo Mediterrâneo, há a BRAC que fornece o dinheiro para chegar até à beira daquele mar.

Quem é a BRAC?
Na verdade, o pessoal que gere a organização não passa duma série de piões envolvidos num enorme negócio lucrativo, mas mesmo assim é interessante observar donde provêm.

  • Faruque Ahmed, Director Executivo da BRAC International: licenciado na Johns Hopkins University (Maryland, EUA), operativo senior do Banco Mundial.
  • SN Kairy, Chefe do Departamento Financeiro: Chief Financial Officer, é também Director de BRAC Bank Limited, BRAC EPL Investment Limited, BRAC EPL Stock Brokerage Limited, BRAC Tea Company Limited, BRAC Services Limited e BRAC Industries Limited. Tanto para perceber qual o tamanho desta organização.
  • Asif Saleh, Director Senior de Estratégia e Comunicação: ex director da Goldman Sachs, trabalhou também na GlaxoWellcome, NorTel e IBM. Eleito Jovem Líder Global pelo World Economic Forum em 2013.
  • Tamara Hasan Abed, Director Senior, sector para as empresas: ex Goldman Sachs de New York, formada na London School of Economics, com master na Columbia Business School (EUA), eleita Jovem Líder Global pelo World Economic Forum em 2010.

Digam a verdade: esperavam encontrar pobres desgraçados que, uma vez unidos e com muitos esforços, conseguiram construir algo em prol dos seus concidadãos? Nada disso: estes são profissionais do sector, indivíduos habituados a manusear dinheiro, a fazê-lo render. E a ganhar bem.

Donde chega o dinheiro do BRAC? Eis uma lista parcial dos benfeitores:

  • União Europeia
  • Bill e Melinda Gates Foundation (óbvio…)
  • AusAID: agência do governo australiano para o desenvolvimento internacional
  • UkAID: agência do governo britânico para o desenvolvimento internacional 
  • Governo do Canada 
  • Unicef
  • International Labour Organization (ILO): agência da ONU
  • International Food Policy Research Institute: Banco Mundial, Multinacionais para os Organismos Geneticamente Modificados, governos ocidentais
  • The Global Fund: Bill e Melissa Gates Foundation, AXA, Bono dos U2, Bill Clinton, Ban Ki-Moon, Tony Blair, Jeffrey Sachs, etc.
  • FHI 360: Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, Bill e Melinda Gates Foundation, Global Fund
  • Columbia University (New York, EUA)
  • The George Washington University (Washington, EUA)
  • Aberdeen University (Reino Unido) 
  • Centro Internacional de la Papa, parte do projecto CGIAR: Rockefeller, governos (USA, Canada, Reino Unido, Alemanha), Ford Foundation, ONU, Banco Mundial, Comissão Europeia, OPEC… falta alguém? Ah, sim: Bill e Melinda Foundation.

O caso da Europa é paradigmático: enquanto a União Europeia enfrenta o problema da imigração (obviamente com o dinheiro dos contribuintes europeus), do outro lado financia estas empresas financeiras que enviam mais emigrantes e lucram com isso. Palavras para quê?

Tudo isso permite que a BRAC possa ter concedido mais de 195 milhões de Dólares de empréstimos (microcrédito) só em 2015.

Os biliões de Dólares
em microcréditos
que a BRAC concede a cada ano a milhões de pessoas
pobres
é só o início da história desta notável organização.
George Soros

O microcrédito da BRAC não é um serviço financeiro para aqueles que querem migrar, mas é um verdadeiro impulso à migração: um daqueles negócios “pobres” em que estão envolvidas grandes corporações financeiras, governos, instituições internacionais. Porque no Capitalismo nada se deita fora e tudo poder ser aproveitados, pobreza incluída. Aliás: quanta mais pobreza houver, melhor será porque enquanto um cidadão ocidental deve ter convencido com publicidade ou telemarketing, os famintos esperam só que alguém reparem neles.

É também um negócio financeiro de baixo risco, uma vez que consiste de milhões de pequenos empréstimos; mesmo em casos de insolvência, a perda é mínima. Em caso de sucesso, pelo contrário, chegam os lucros. Porque não podemos esquecer que a BRAC não fornece doações mas verdadeiros empréstimos: que devem ser reembolsados.

E aqui aparecem os problemas: o migrante gastou boa parte do dinheiro na viagem, finalmente vê as costas da Europa…e agora? Agora tem que arranjar um emprego para, no mínimo, sobreviver e reembolsar a dívida.

O círculo da dívida

Em 2013 (por isso bem antes da actual vaga migratória) o Fórum Internacional e Europeu de Pesquisa sobre a Imigração (FIERI) conduziu uma investigação focada na questão do endividamento dos imigrantes, concentrando-se na comunidade filipina da Itália (portanto: nem a mais desgraçada das comunidades), descobrindo que a situação é dramática: depois de ter contraído a dívida para emigrar, os imigrantes continuam a pedir dinheiro emprestado para cobrir as dívidas anteriores e para manter a família que ficou no País de origem.

A BRAC afirma que no prazo de dois anos o crédito pode ser reembolsado: isso partindo do princípio que o imigrante arranje um trabalho que lhe forneça dinheiro suficiente para manter-se e reembolsar as prestações da dívida. Mas se for um trabalho mal pago  ou precário? Não há crise (por assim dizer): há sempre o passo seguinte.

O passo seguinte consiste em encontrar mais dinheiro: mas quem pode conceder um novo empréstimo a um emigrante, que pode oferecer bem poucas garantias?

A primeira escolha é a BRAC, que assim reza:

Temos opções de “reescalonamento” e “refinanciamento” que oferecem flexibilidade para os devedores que pretendem reembolsar empréstimos mas não conseguem devido a circunstâncias inevitáveis.

Tão simples, não é?

Mas há outras soluções. Voltemos ao estudo da FIERI: na sondagem conduzida, em mais de 50% dos casos a escolha é uma instituição financeira, depois há os bancos (15%) e nem faltam os usurários (quase 10%).

Através da aplicação de taxas de juros no limite sancionado como taxa de usura, a agência financeira encontra terra fértil entre os imigrantes, oferecendo dinheiro rápido e pedindo requisitos mínimos de garantias.

Tudo com taxas de juros particularmente elevadas. Mas este não é um problema: estamos a falar de pessoas desesperadas, que vivem num País estrangeiro do qual mal conhecem a língua, com as famílias à milhares de quilómetros, com um trabalho (quando houver trabalho) cansativo e mal pago (porque esta é a realidade dos imigrantes). Pessoas que agarram a primeira das já escassas possibilidade: e paciência se o custo será elevado. Mais uma vez: quanta mais pobreza houver, melhor será. 

O que interessa aqui é realçar como uma vez entrados no círculo do crédito, é muito difícil conseguir sair dele: o migrante paga o empréstimos da BRAC e, uma vez chegado ao destino, cai nos braços de outras agências que concedem dinheiro “fácil”. Desespero dum lado, lucros do outro.

Ipse dixit.

Relacionados: O moderno comércio de carne humana

Fontes: FIERI – Sovraindebitamento e migrazione internazionale: il caso dei lavoratori e delle lavoratrici filippine in Italia, BRAC, Anarchismo Comidad

6 Replies to “Quem lucra com a emigração?”

  1. Aí está o objetivo: tornar nos todos endividados. Pode-se dizer que não é uma estratégia nova de manter populações inteiras no cabresto. O latifúndio brasileiro nem precisa de Ong para fazer isso. Basta a caderneta do capataz.O escravo moderno começa se endividando com o deslocamento (que é uma contingência – ou vai ou morre de fome, de bombardeio, de envenenamento). E continua com a sobrevivência física, pagando a comida e o teto cujo custo supera o que ganha sempre.A classe média e média alta também vive de administrar dívidas, esgotando boa parte do ordenado para pagar juros e mais juros de empréstimos que tentam mascarar um padrão de vida que não podem ter nem manter seus filhotes. E o comércio da imigração como envolve gentes de todos os lados em guerra, exploração e miséria tem de se organizar via Ongs. è a sociedade de controle em funcionamento.

  2. A coisa é ainda pior! Dependendo do contexto, emigrações são provocadas para cumprir outras funções no destino. Todas elas à serviço do grande capital. Vejam o exemplo de Nova York, que se desenvolveu à partir de irlandeses e depois italianos altamente empobrecidos e presas fáceis para toda sorte de manipulação, bairros inteiros e pobres se sujeitavam desde o crime organizado até governantes oportunistas. Na base dessas ONGs estão as Fundações sem fins lucrativos dos bilionários, que simplesmente não estão sujeitas a qualquer auditoria e isentas de impostos, por uma legislação elaborada justamente para tal efeito. Todo bilionário filantropo é bandido travestido de mocinho, sem exceção. Mas, tenho pesquisado a história dos domínios territoriais na Europa e as relações entre a Igreja Ortodoxa Cristã e os judeus. É assunto palpitante, se puderes me ajudar…abraço

  3. Como referido pela maria e Chaplin, este processo das migrações serve um propósito a montante com o endividamento daqueles que querem emigrar e não tẽm dinheiro, lucro fácil e a consequente escravidão pela divida, e a jusante, pressionando para baixo os salários dos trabalhadores dos países de destino com a introdução de mão-de-obra barata.
    O sistema no seu melhor, e a funcionar em pleno.

  4. Obrigado por mais um excelente artigo.
    Até agora ninguém, que eu tenha lido, tinha sequer abordado este tema correctamente.
    Mas o que me continua a intrigar é o porquê de inundar o velho continente com imigração? Esta "gente que manda" tem sempre mais do que um objectivo e um deles pode ser o de ganhar dinheiro e provocar o endividamento, mas não é o principal. Eu penso que o principal motivo será destruir os estados nacionais, onde eles estão mais enraizados, que é na Europa, no propósito de um novo governo mundial. Mas é só uma hipótese.
    Um grande abraço e muito obrigado.

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