Bíblia: um livro de guerra

O Código de Leninegrado

O Antigo Testamento (A.T.) é um livro de guerra. Não de paz e amor (para isso foi feito o Novo Testamento), mas mesmo guerra. Todo o A.T. descreve as tentativas de aliança entre os Elohim e as várias tribos com as sucessivas batalhas.

Há inúmeras passagens que demonstram esta afirmação, por isso vamos escolher uma que aparentemente nada tem a ver com o assunto.

A bênção

Isaque, em ponto de morte, foi enganado por Jacob que, com um truque, fez-se passar pelo irmão Esaú obtendo assim a bênção (Génesis, 27:1,9). A seguir Esaú volta e pede a bênção do pai (pois ele era o favorecido de Isaque, não Jacob): nesta altura, Jacob entende ter sido enganado.

Eis o diálogo (Génesis, 27: 34-37):

34 Esaú, ouvindo as palavras de seu pai, bradou com grande e mui amargo brado, e disse a seu pai: Abençoa-me também a mim, meu pai.
35 E ele disse: Veio teu irmão com subtileza, e tomou a tua bênção.
36 Então
disse ele: Não é o seu nome justamente Jacob, tanto que já duas vezes me
enganou? A minha primogenitura me tomou, e eis que agora me tomou a
minha bênção. E perguntou: Não reservaste, pois, para mim nenhuma
bênção?
37 Então respondeu Isaque a Esaú dizendo: Eis que o tenho posto
por senhor sobre ti, e todos os seus irmãos lhe tenho dado por servos; e
de trigo e de mosto o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora, meu
filho?

Aparentemente esta conversa não faz sentido. Esaú pergunta “Pai, não tens um pouco de bênção para mim também?” e a resposta é “Não, dei toda a bênção ao teu irmão”. Como pode acabar-se uma “bênção”?

Imaginem chegar atrasados numa igreja e pedir ao padre “Desculpe, atrasei-me, pode abençoar-me?” e obter como resposta “Lamento, mas já dei toda a bênção aos que estavam presentes, já não há mais”. Não faz sentido. A não ser que a “bênção” não seja o que entendemos hoje. E de facto não é.

A “bênção” actual é uma elaboração fantasiosa teológica surgida mais tarde: a bênção do A.T. era dar bens materiais. Abençoar um branco significava dar-lhe acesso às fontes de água e aos pastos. Da mesma forma, abençoar um exército significava dota-lo dos meios militares para ganhar: esta é um tipo de bênção que encontramos muitas vezes no A.T. No caso do Isaque, eis explicada a falta de mais “bênção”: ficou esgotada porque foi entregue na totalidade a Jacob, o qual recebeu a herança (os tais bens materiais) que eram destinados a Esaú.

Mas continuemos com Jacob, porque as suas aventuras ajudam a perceber muito acerca da natureza do A.T. e dos Elohim.

Os dois Elohim garantes

Numa certa altura, Jacob decide procurar uma esposa e por este motivo começa uma viagem até a
Mesopotâmia.

Isso acontece porque estas tribos adoptavam os mesmos critérios dinásticos dos Elohim (assunto acerca do qual teremos que falar) e das tradições sumero-acádicas, estas mais bem conhecidas: a ideia era casar uma parente porque através da união com uma parente filha do mesmo pai (mas de mãe diferente) era preservada uma linhagem genética que conservava todas as riquezas.

É algo que continuou ao longo de milénios entre a realeza e a classe aristocrata, até bem depois de Cristo, com resultados muitas vezes exasperantes: hoje bem sabemos quais os problemas da união entre consanguíneos.

Mesmo assim, Jacob segue a tradição, encontra a esposa (em verdade duas) e volta para casa; mas o pai das duas esposas, Labão, fica zangado com Jacob (que também se tinha aproveitado dele: o A.T. acerca da moralidade deixa muito a desejar…) e decide persegui-lo até aquela zona que hoje conhecemos como Cisjordânia. Aqui acontece o encontro entre os dois que, em vez de confrontar-se, decidem estabelecer um pacto: fixam uma marca no chão e juram. Juram várias coisas, entre as quais o facto de nunca ultrapassar o marco com intenções hostis contra o outro. E como garantia (Génesis 31: 53) invocam os Elohim:

53 Que o Deus de Abraão, o Deus de Naor, o Deus do pai deles, julgue entre nós. 

Mais uma vez, a tradução presente nas Bíblias familiares está errada: deixa entender que os dois juraram sobre “Deus”, o mesmo de Abraão, de Naor (que era o irmão de Abraão), o Deus do pais dos dois. Portanto, o único Deus. Mas no original hebraico as coisas são bem diferentes: Jacob e Labão juram sobre o Elohim de Abraão e sobre o Elohim de Naor. Não é o mesmo Elohim: o Elohim que garante Jacob é aquele que dominava a terra de Jacob, enquanto o Elohim de Naor dominava na Mesopotâmia.

De facto, o final da frase não é “julgue entre nós”, mas “julguem entre nós”: verbo plural e portanto, como já sabemos, ou se fala de Deus ou de Juízes. Mas a Bíblia é clara neste aspecto: nada de juízes aqui, fala-se mesmo de Elohim, de “Deuses”. É um trecho que não deixa dúvidas: o A.T. apresenta aqui dois Deuses: o Deus de Abraão (que sabemos ser Jahweh) e o Deus de Naor (aquele que protegia a região da Mesopotâmia).

Dois Elohim, um como garantia de Jacob e outro como garantia de Labão. Interessante, porque demonstra como os Deuses envolvidos (isso é, os Elohim) têm a mesma importância: ambos protegem as respectivas zonas e não há aqui um Elohim (um “Deus”) mais forte do que o outro.

Os Anjos

Mas continuemos. No dia seguinte, Jacob retoma a viagem (Génesis 32) e encontra os “anjos de Deus” (na versão original מלאך, os Mal’akim dos Elohim), que são mensageiros.

O termo “anjo” deriva do latim angelus, por sua vez derivado do grego ἄγγελος (pronuncia: ánghelos), presente no dialecto miceneio do XIV/XII século a.C. come akero, que significa isso mesmo: mensageiro.

É importante realçar como estes Mal’akim (chamados também Malahim) sejam seres em carne e osso: no A.T. há vários trechos que demonstram tal afirmação, mas como exemplo podemos tomar também o livro acerca da estrutura cabalista dos mundos Panim Meirot Umasbirot escrito pelo Rav Yehuda Ashlag Baal Hasulam. Nomeadamente, aqui podemos encontrar o mundo do Homem, formado por quatro níveis:

  1. nível: Imóvel Eichalot  (Templos)
  2. nível: Vegetal Levushim (Roupa)
  3. nível: Animal Malahim (Anjos)
  4. nível: Falante Neshamot (Almas, entendida como tendência caracterial de cada homem)

(nota: a estrutura cabalista é de tipo piramidal e nesta o Homem ocupa um lugar até superior aos restantes níveis: mas isso é um discurso diferente e não se aplica no caso do A.T.).

Pelo que, como vimos, não há dúvida de que os “anjos” sejam na verdade seres materiais não apenas “presenças celestiais”. Para ser mais precisos, os anjos são seres que desenvolvem a função de mensageiro ou de executores de ordens, portanto ficam num nível hierárquico mais baixo em relação aos Elohim.

As tendas de Deus

Prosseguimos com Jacob. Genesis 32: 2:

Quan­do Jacob os avis­tou, disse: “Este é o exército ­de Deus!” Por isso deu àquele lugar o nome de Maanaim.  

Jacob não disse nada disso. O que disse, como testemunha o original hebraico, foi o seguinte: “Mas este é um acampamento dos Elohim!”. Esta é a razão pela qual deu ao local um nome que acaba em -im (plural): em hebraico Maanaim significa “dois acampamentos”. Claro que traduzir como “Este é o exército ­de Deus!” simplifica muito a tarefa da Igreja, mas se o desejo for entender temos que ler a análise de Rashi ben Eliezer (1040 – 1105 d.C.), o máximo entre os exegeses hebraicos (o seu trabalho permanece ainda como peça central no estudo judaico contemporâneo): aí entendemos como de facto Jacob viu não um mas dois acampamentos de Elohim.

Mas estes acampamentos eram o quê? A resposta é simples: eram os Elohim que tinham sido invocados por Jacob e Labão como garantia do pacto. Em outras palavras: eram as tropas que defendiam os confins estabelecidos pelo juramento de Jacob e Labão, um acampamento dum lado, outro do lado oposto da fronteira.

Mais claro é impossível: estas eram tropas militares. E o “aparecimento” dos Malahim faz mudar o percurso de Jacob. É tudo duma simplicidade extrema na versão original, aquela em hebraico: havia dois acampamentos, um por cada lado do confim. Qual o sentido no caso dum só Deus? Dormia uma noite numa tenda e na noite seguinte mudava-se para a outra? Porque, Deus precisava de dormir numa tenda? Obviamente não: como explica a versão original do A.T., havia vários Elohim e Jacob encontrou as tropas deles.

Claro está: esta interpretação é contrária a tudo quanto explicado pela Igreja, tanto Católica quanto as outras variantes cristãs. Mas o que esta série de artigos faz é duma estupidez extrema: simplesmente mostra o que está escrito na Bíblia original, sem interpretações ou interpolações. É um pouco como pegar num livro qualquer e lê-lo em duas versões: uma original, tal como foi escrita pelo autor, e outra que é a interpretação da primeira escrita segundo as ideias dum comentarista.

A escolha é do Leitor: prefere saber quais as ideias e os factos descritos na versão original ou prefere limitar-se às interpretações? Para responder é preciso ter em conta também as consequência que a “interpretação” até hoje apresentada provocou ao longo dos séculos.

O verdadeiro nome de Jesus

Tanto para ter uma ideia da importância das coisas acerca das quais estamos a falar: por qual razão hoje se fala de “Cristianismo”? Porque o termo deriva do nome Jesus Cristo, parece resposta óbvia. Mas há dois pormenores: em primeiro lugar Cristo não era o nome Dele. Cristo é um adjectivo que deriva da palavra grega Χριστός (Khristós) que significa Ungido.

E o segundo pormenor? É relativo ao nome de Jesus. Cujo nome não era Jesus mas Josué (יהושע בן נון).

Porque os Pais da Bíblia decidiram mudar até o nome do Messias? Por uma razão de marketing: Josué era um nome demasiado comum na Galileia da altura, era preciso distinguir o Messias. Então Josué foi definitivamente apagado e substituído com a sua versão latinizada Jesus, nome que em Roma ninguém utilizava. Escolha inteligente, sem dúvida, mas que apaga a realidade até do Messias.

“…quer no céu, quer na terra”.

S. Paulo

E já que falamos de Novo Testamento, vamos espreitar o que escreve S. Paulo em Coríntios (1:8, 5-6):

5 Pois, mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra (como de facto há muitos “deuses” e muitos “senhores”),

6 para nós, porém, há um único Deus […]

Paulo utiliza aqui o termo theoi (Θεοί) que é o correlativo do hebraico Elohim. E Paulo utiliza mesmo o plural, “Deuses”. Pelo que, Paulo afirma que “de facto há muitos Elohim”. Não é um acaso.

Paulo era um fariseu, tinha uma sólida formação cultural e religiosa, conhecendo os livros da Tanakh (o equivalente ao nosso A.T.), a tradição oral depois confluída no Talmud e os 5 livros da Torah. Portanto, Paulo bem sabia como interpretar o termo Elohim presente nas Escrituras originais, conhecia o verdadeiro significado do termo: mesmo assim, decidiu afirmar que há muitos “Deuses”.

A Igreja explica que o sentido das palavras de Paulo é outro: ele entendia dizer que há muitos alegados “Deuses”, ídolos, mas que na verdade apenas um é original. Explicação que choca com as mesmas palavras de Paulo: se ele tivesse desejado referir-se aos falsos Deuses, portanto aos ídolos, nunca teria afirmado “quer no céu, quer na terra”: um falso Deus não pode estar no Céu, mas só na terra, sendo criação exclusiva do Homem. Repetimos: Paulo tinha uma sólida preparação religiosa, conhecia os antigos textos e o significados dos termos utilizados.

E lembramos que este é o Novo Testamento, o livro sagrado inspirado por excelência, do qual os fieis não podem contestar nem uma vírgula. Um pouco como com os 10 Mandamentos, que qualquer bom Cristão tem que respeitar. Ok, na verdade os originais não eram 10 mas um pouco mais. Quantos mais? 613. Nada de importante, pequenas imprecisões como veremos no próximo artigo desta série.

Nota final:
Não respondo aos comentários provocatórios de quem ignora e quer continuar a ignorar. Se o Leitor é um fanático, ao ponto de recusar tomar em consideração a versão daquele que considera ser “o” livro sagrado, de aceitar a visão alternativa do próximo, e se assim deseja continuar a ser, o problema é dele, não meu. Viva na ignorância e seja feliz, pois eu tenho coisas mais importantes para fazer.

Mas há algo que cada Leitor interessado e legitimamente duvidoso pode fazer: procurar alguém que conheça o antigo hebraico e
fazer perguntas. Ou, coisa talvez um pouco mais complicada, tentar
encontrar uma Bíblia original em hebraico, possivelmente comentada por
alguém capaz de entender o significado do antigo idioma. O que
encontrará? As mesmas coisas que encontra aqui, mas será sempre mais uma confirmação. O que é muito importante.

Ipse dixit.

Bíblia: os Elohim
Bíblia: o livro do qual nada se sabe 
Bíblia: a cópia de Gilgamesh

21 Replies to “Bíblia: um livro de guerra”

  1. Gosto e aprecio a maioria de suas postagens. Obrigado, de verdade, pelo seu trabalho e pesquisa. Mas … em relação à Bíblia você não apresenta a mínima capacidade de entendê-la. Claro, você pode falar o que quiser mas compreendê-la é outra situação.

    A Bíblia é um livro espiritual, é composta de milagres, do início ao fim.

    Seja honesto, você não tem o mais mínimo desejo de compreendê-la, se estou certo, também estou certo de que você não tem as condições de compreendê-la. Suas ferramentas são precárias, voltemos para as análises onde suas ferramentas tem alcance mais eficiente.

    Abraço.

    1. "Suas ferramentas são precárias, voltemos para as análises onde suas ferramentas tem alcance mais eficiente"

      Típico de quem não quer entender as coisas,…. de fanático.

      Primeiro, quem lhe disse que a interpretação de Max esta errada e a sua correcta? Você é Jesus?

      Max não esta a dizer que é, esta a dar a sua opinião com base nas suas investigações. O que o senhor tem que fazer não é tornar a opinião do Max na sua opinião nem desrespeita-la porque o diferente da sua. O que o senhor tem que fazer é usar a opinião dos outros, seja igual, diferente ou semelhante para construir a sua própria opinião. Só lendo diferentes opiniões é que aprendemos e entendemos como o mundo funciona.

    2. Maquiavel,

      Desculpe-me, mas, você me faz lembrar os ateus que costumava discutir.

      Chamar as pessoas de fanático. Pode até parecer um argumento para você, mas não é de forma alguma. Até parece um ato de desespero, tipo quando as crianças não sabem mais o que dizer e diz "você é feio!".

      No caso deste artigo o Max não fez qualquer (mais precisamente, pinçou partes desconectadas) investigação, definir a Bíblia como um "livro de guerra" é tão simplório quanto dizer, por exemplo, que o mundo é controlado por um bando de famílias.

      Abraços.

    3. Não sou ateu, ser ateu hoje em dia é quase como ser de uma religião.

      Gosto de viver a pensar que a religião não existe mas, respeito quem a segue e acredita, seja ela qual for….afinal, não tenho nada com a vida dos outros, cada um faz o que quer.

      Chamei-lhe fanático apenas por esta frase sua:

      "Suas ferramentas são precárias, voltemos para as análises onde suas ferramentas tem alcance mais eficiente"

      Isto sim, é um ato de desespero.

  2. Obrigado Max, considero estes textos sobre a biblia fantásticos.

    Como é natural, muitos leitores não vão nunca aceitar uma visão alternativa quando o assunto toca a religião. Caros leitores deste grupo, é muito simples, basta não lerem os posts. Vão ver que a vossa fé continuará inabalável.

    Porque a natureza humana já não me surpreende muito, é sempre interessante conhecer versões diferentes da história.

    Krowler

  3. Johnny, que a bíblia é um livro diferenciado, não temos dúvida. Ela é a base de uma religião de milhões de adeptos, só por isso , já a torna especial.
    Mas, que ela foi adaptada a mercê de quem detinha o poder e usada para manipular civilizações, também é outro fato inegável. Não aceitar isto , como disse o Max, é viver na ignorância, o que não nos impede de ser feliz.
    O que eu ( humildemente falando ) considero de importante na bíblia, é o seu código ético contido nas supostas palavras de Jesus ( ou Josué , ou qualquer outro nome ). Porque outras religiões não cristãs, também compartilham das mesmas definições de valores de conduta humana desejável, tais como: amor, caridade, benevolência,indulgência,tolerância…etc
    Essa sim, é a essência da bíblia. Ela não é um manual para enriquecimento de aproveitadores, às custas das fragilidades físicas e emocionais das pessoas como vemos nas igrejas neo-pentecostais brasileiras. Certa vez perguntei a um destes "crentes" , que me mostrasse em que versículo Jesus mandou as pessoas pagarem o dízimo e em que passagem Ele associou a felicidade humana às riquezas materiais. Estou esperando pela resposta até hoje.
    Alguém sabe me disser ?

    1. Sergio, entendo as alterações/manipulações/adulterações, também suponho alguns motivos disso, mas uma coisa não conseguiram e essa coisa é sua essência. Nesse ponto vou discordar de você, a essência da Bíblia é o milagre, o sobrenatural — Deus resgatando sua criação da morte.

      O pai da fé (Abraão) tem um filho de uma estéril (Sara) de quase 100 anos de idade.
      Ou ainda, o nascimento de Jesus a partir de uma virgem, fecundada pelo Espírito de Deus.

      E para terminar a Bíblia termina dizendo que Deus estabelece sua morada entre os homens e a metáfora ali é que haverá um casamento.

      É possível que alguma tradução/adulteração tenha corrompido essa mensagem? Não acredito.

      Quanto aos charlatães, aff, estão por toda a parte, nem merecem resposta.

    2. Só para exemplificar: a mesma palavra do hebraico que foi traduzida como "virgem" , também tem o significado de "jovem".
      "Nasceu de uma jovem mulher" poderia ser a tradução.
      O resto eu deixo para o Max.

    3. Johnny,

      Sara, mulher estéril, teve um filho de Abraão, homem com quase 100 anos de idade. E depois até podem ficar ofendido quando falo de "provocação".

      Hoje muitos acreditam que Hitler fosse apenas um "louco" e passaram apenas 70 anos. Pelo contrário, temos que tomar como autêntico algo passado há 4.000 anos, transmitido como tradição oral até 1.500 anos mais tarde, quando foi tornada livro numa versão que ninguém conhece.

      Johnny, eu acho que você pode ter a sua Fé, o que é perfeitamente legítimo e merece todo o respeito. Mas é igualmente legítimo para os outros questionar e, sobretudo, merecem o mesmo tipo de respeito, não sendo tratados como idiotas com "provas" como estas.

      E não fique ofendido, estamos só a discutir, ok? 🙂

      Abraçooo!!!!!

    4. Max,

      "Pelo contrário, temos que tomar como autêntico algo passado há 4.000 anos, transmitido como tradição oral até 1.500 anos mais tarde, quando foi tornada livro numa versão que ninguém conhece."

      Agora fiquei confuso. Por exemplo, se você escrevesse um artigo questionando a coerência na história da Mula-Sem-Cabeça, todos desconfiariam da sua inteligência.

      Não há o que criticar diante de uma história fantasiosa, simplesmente a ignoramos.

      No seu caso, você escreve um artigo criticando a Bíblia e na sequência argumenta que o livro não é digno de aceitação? Achei isso bem esquisito.

      Quando em um tribunal os advogados discutem sobre os detalhes de um crime, o pressuposto mínimo é que o crime aconteceu.

      Não me parece, portanto, que temos um caso ou uma discussão.

      Perdoem-me se fui desrespeitoso com alguém.

      Abraços.

    5. Olá Johnny!

      ohhhhhh, finalmente chegamos ao ponto central.

      Temos não um mais dois casos:
      1. a Bíblia não pode ser autêntica pois carece de fontes históricas.
      2. a Bíblia deve ser considerada autêntica tal como ela é.

      No primeiro caso nem vale a pena discutir.

      Mas o segundo caso é bem mais interessante: se for autêntica, por qual razão recusar uma leitura baseada nas versões mais antigas, no idioma original, tal como foram escritas? Porque aceitar passivamente as manipulações actuadas ao longo dos séculos (em particular depois do estabelecimento da instituição eclesiástica ocidental)? Por qual razão não aceitar uma interpretação literal de quanto foi escrito?

      Porque o ponto é este: uma interpretação literal da Bíblia original implica uma profunda revisão da que hoje é considerada como religião Cristã (e não apenas dela). Esta adquire sentido e força só com uma interpretação escatológica (e, infelizmente, não apenas com esta), negando assim a evidência literal de quanto foi escrito (que de escatológico nada tem).

      Recusa-se admitir que a Bíblia possa ser algo diferente "dum livro espiritual e de milagres". Repito: isso é lícito num óptica de Fé, mas quem Fé não tiver tem sempre o direito de procurar outras explicações.

      A Bíblia, do meu ponto de vista, como "livro de milagres" tem o mesmo valor dum Corão: por qual razão as intervenções divinas da Bíblia deveriam ser válidas enquanto aquelas no Corão não? Onde estão as "provas"? Pessoalmente acho que as intervenções do Corão são "historicamente" mais fidedignas pela simples razão que é mais simples ler documentos contemporâneos dos alegados factos, enquanto no caso da Bíblia isso não acontece (nem no caso do N.T.).

      Voltando ao discurso inicial: a Bíblia tem valor, e muito, se lida numa óptica histórica. Mas para isso é preciso aceitar a re-leitura das versões mais antigas ainda existentes (poucas, infelizmente). E isso muda o cenário.

      Se aceitarmos a autenticidade da Bíblia, então temos que aceitar não uma "revisão histórica" da mesma, porque isso não é preciso (é suficiente esquecer as interpretações tardias), mas, por exemplo, a aplicação da gramática que regia o idioma no qual foi escrita. Isso, claro, não é nada simples: mesmo conhecendo o idioma as coisas não melhoram definitivamente, pois o mesmo é fonte de infinitas discussões (é suficiente frequentar um qualquer fórum de rabinos para perceber isso).

      Caso contrário (e esta parece-me a posição do Johnny), teremos que considerar como autêntico um livro de milagres mas recusar ao mesmo tempo a leitura de quanto efectivamente foi escrito (a leitura "literal"). Eu acho isso bastante esquisito numa óptica histórica mas normal numa óptica de Fé.

      Abraçooooo!!!!!

  4. Atenção:

    Paulo pode estar a referir-se, quando fala de falsos deuses e senhores na terra e no céu, a entidades espirituais que se fizessem passar por deuses (no céu) e a estátuas inertes dos idólatras (na terra). Mas também pode estar a referir-se a pessoas que são chamados de deuses e senhores (como os césares, os faraós, etc.). A palavra "chamados" pode ser entendida nesse sentido. A tradução que eu tenho diz: "Porque ainda que haja, também, alguns (palavra escrita em itálico) que se chamem deuses, quer no céu, quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores);"

    Jesus Cristo é a latinização de algo como Yashuah Maschiah, esta última palavra na origem da Palavra Messias, mas que significava Ungido. Mas a palavra Cristo em grego tinha um outro significado, ligado às cristas do sol, e que remete para a "colagem" posterior dos cultos pagãos aos cristãos feitos por Constantino…

    A palavra "virgem" podia ser associada ao de "jovem mulher" pelo simples facto destas só deixarem de ser consideradas como jovens mulheres após o casamento, e a sexualidade estar proibida antes do mesmo. Logo, uma coisa e outra seriam indissociadas.

    Os anjos como seres capazes de se materializarem em carne e osso está mencionado várias vezes na Bíblia, mas também aparecem em várias passagens que narram experiências espirituais (arrebatamentos de sentidos), os quais ainda hoje ocorrem.

  5. As igrejas, não só as pentecostais, estão a ser subvertidas em direção à teologia da prosperidade. Cristo e quem o seguia falavam contra os ricos.

  6. A palavra "bênção" pode ser entendida, sim, nesse sentido, como "dádiva", no sentido de parte reservada para alguém.
    Mas, quanto a Isaac enganar toda a gente, não se esqueçam da história de que Isaac ia nascer primeiro, quando Esaú, o seu gémeo peludo, lhe roubou o lugar…Isaac tratou assim de o recuperar; e quando se ia a casar com a mulher que amava, o seu sogro arranjou maneira de trocar essa mulher com a sua irmã, obrigando-o a trabalhar para ele mais sete anos se quisesse a outra…o que Isaac fez foi arranjar maneira de ter, depois, como dote do casamento, o gado malhado dentre o que ia nascer, que o seu sogro achava que ia ser raro por as ovelhas não serem malhadas, até que Isaac arranjou maneira deste ser abundante…e ficar com uma enorme quantidade de gado.

  7. É muito interessante esta leitura literal, fico mesmo particularmente surpreendido.

    Tentando ir por onde nos leva o Max, seria então a bilbia só uma história de ficção? Quem são afinal este Elhoim que até acampam na terra e estão no céu também? Seriam os UFO de Jacques Vallée?

  8. É legítimo contestar versões da bíblia, principalmente entre as vertentes cristãs, mas desprezar qualquer questionamento da dita "original", como se a mesma não tivesse sido elaborada unicamente em favor de seus autores?

Obrigado por participar na discussão!

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