Cuba: a História não pára

Outro pedaço de História que desaparece.

Mesmo não compartilhando os ideais políticos (é o caso deste blog), é preciso reconhecer o importante papel desenvolvido por Cuba ao longo das décadas. A ilha conseguiu ser um ponto de referência para todos aqueles que tentavam procurar um farol que conseguisse distinguir-se no meio da normalização “democrática” e liberal em parte imposta e em parte escolhida pela nossa sociedade. Foi positivo até ter durado.

Mas o tempo passa, Cuba tinha atingido os seus objectivos e agora arriscava ficar como um corpo estranho na actualidade, aquela feita do choque entre os novos sistemas. Lógico, portanto, iniciar o processo de reabsorção, que demorará anos, mas que uma vez começado não pode ser travado.

Obama encaixa um ponto importante na luta contra a Rússia e, uma vez ultrapassada a vazia e cenográfica oposição dos Republicanos, poderá apresentar-se ao resto do planeta como “homem de paz” (o único a ganhar o Nobel por méritos futuros) em contraposição com os representantes de Moscovo e Pequim.

Só tenho pena do Che, que nesta altura estará a revoltar-se no caixão; talvez a luta dele teria merecido um outro desfecho.

Ipse dixit.

12 Replies to “Cuba: a História não pára”

  1. Nunca e sempre não existem. Táticas e estratégias de sobrevivência entre as casas grandes e suas senzalas. Cuba sabe jogar bem o jogo. Estou certo que o admirável Che não concordaria com sua condolência.

    Gostei do que li. Sou grato.

  2. depois que dilma subsidiou o porto cubano Obama ficou com medo de Putin mandar navios cargueiros com misseis e resolveu ficar de bem de Cuba para desgraçar com os Bric's. E já que o petroleo esta caindo junta-se a fome com a vontade de comer. Alias um bom artigo seria sobre a queda do preço do petroleo, logo agora que a Russia parece que virou a esquina da rua da amargura, que a Petrobras quebrou e a Unasul inaugurou sua sede no Equador….o que sera que a OPEP esta planejando?

    João Sem Braço

  3. Uma das justificativas dos revolucionários foi acreditarem que Cuba se transformaria numa ilha casino dos norte americanos.
    Deixando de lado as questões ideológicas, acredito que a revolução não foi nada proveitosa para seu povo.

  4. Passeando pela internet hoje li as coisas mais curiosas: "Vitória de Cuba", "Os EUA não reconheceram as razões da Revolução mas hoje dobraram-se perante a dignidade do povo cubano", "Após meio século da política de isolamento que falhou", etc. etc.

    Começamos com o dizer que hoje Cuba fez um grande favor aos Estados Unidos: escolheu normalizar os relacionamento numa altura complicada na óptica de Moscovo. Na partida de xadrez entre EUA e Rússia, hoje Washington ganhou um ponto. E seria interessante reflectir acerca das razões que levaram Cuba a apoiar os EUA.

    Quanto o resto: difícil ver um "desdobramento" dos EUA perante Cuba. A ilha teve um papel histórico, muito bem definido em particular a partir da crise dos mísseis. Mas hoje aquele papel está fora de jogo: já não serve. Não serve aos EUA, que já não querem jogar ao "olha o Comunista " (pois as prioridades são outras), não serve à Rússia (que há muito tirou a camisola vermelha), não serve aos BRICS (que precisam do livre mercado para crescer, não dum museu da cera).

    Paradoxalmente, servia apenas à Cuba, que desta forma conservava e reiterava diariamente a primogenitura moral do anti-imperialismo. Mas Havana hoje decidiu ao mesmo tempo ajudar os EUA e abrir (pouco, por enquanto) a porta ao inimigo histórico, o centro daquele imperialismo que sempre afirmou combater.

    Não tenham ilusões: este é o início do fim de Cuba. Demorará alguns tempos, como é óbvio, mas uma vez deixada entrar a célula capitalista, esta multiplica-se como um cancro, começando o seu meticuloso trabalho até o corpo todo estar pronto para ser devorado. Os EUA não deixarão fugir uma ocasião como esta.

    Pena. Mesmo não partilhando os ideais de Cuba, como escrito no artigo, sei que a ilha representava um ponto firme para muitos. Mas sobretudo era a prova de que é possível existir fora dos dois esquemas que agora imperam e que cedo ou tarde (mais cedo do que tarde) terão que resolver a questão duma vez por toda: um Capitalismo à moda dos EUA ou um Capitalismo à moda da China?

    De "diferentes" sobram só o Irão (que já está a "normalizar" parte dos seus relacionamentos com o Ocidente; mas também neste caso é preciso tempo e, sobretudo, há limites intransponíveis de outra natureza) e a Coreia do Norte (que todavia não vive mas sobrevive).

    Pouco, demasiado pouco para ser unicamente optimista.

    Abraço!!!

  5. Já estive em cuba.
    Não fiz o turismo clássico. Aluguei um carro e andei por lá, dormi e comi em casas particulares, e em hotéis também algumas vezes.
    Acredito que o grande derrotado nesta história é o povo cubano. Compreensivelmente, os cubanos das novas gerações têm a avidez do consumismo ocidental. Os turistas mostram-lhes diariamente tudo aquilo que eles gostariam de ter mas que não podem comprar.
    Mas eles têm algo que nós já perdemos há muito: as relações humanas, a inocência, o valorizar o momento, o diálogo, a cultura, a salsa, etc.
    Falei com pessoal mais novo e com os mais velhos, e a visão é bem diferente. Os mais novos facilmente seduzidos pelas maquinas fotográficas, telemóveis e cª, aspiram à mudança. Já os mais velhos nem por isso. Ainda se lembram dos tempos do Fulgêncio Batista e de como era duro viver nessa altura.
    Se Cuba sucumbir ao modelo ocidental como é bem provável, no futuro os cubanos serão como nós: consumistas, egoistas, stressados, endividados, etc. etc.
    Perderão umas características mas ganharão outras.
    E termino com a minha frase favorita: E no final tudo não passará de uma piada!

    Krowler

  6. O fim do embargo seria uma resposta indireta ao vazamento de emails da Sony por um grupo de hackers, que ao que tudo indica, tem ligações com a Coreia do Norte?

    Os EUA sentindo-se pressionados por esses terroristas antecipam a liberação do embargo, numa tentativa de amenizar a situação internacional com o eixo Pequim-Moscow-Irã e Coreia do Norte e virar o jogo diplomático a seu favor?

    1. Oi Amarildo, os hackers e o vazamento de mails da sony é só o topo do icebergue. Desde à uns dias a própria net e o que está associado(telecomunicações)
      tem tido um comportamento estranho. Depende da localização geográfica. Na Suécia o principal provedor foi abaixo, o aeroporto principal de Londres ficou "cego".
      Certos serviços atm's não funcionavam ou estavam lentos.
      Para já e para não utilizar armas talvez mas talvez…pode tet começado uma guerra informática (hipótese), o grande problema é que grandes infraestruturas estão ligadas "ou mesmo sendo intranets" podem ser pirateadas desde que utilizem dados informáticos. Os ataques é uma constante 24h por 7 dias, mas agora parece que está a aumentar. O ataque de bsod a telia sonera, Heathrow, atm's.
      Isso explica até o que se passou na última sexta e parte de sábado.
      Peço desculpa pelo off topic.
      Nuno

  7. Lamento, mas Cuba não terá muito tempo para usufruir deste capitalismo decrépito. Os alicerces do capitalismo estão ruindo e o que virá só Deus sabe, mas pelo desenhar, e se permitirmos, os terafinancistas se tornarão nossos imperadores. Quero entender apenas como se sairão desta patranha nuclear que se aproxima.

  8. Nada disso, os EUA é que "ganharam" mais um fornecedor de matéria prima barata em troca de suas bugigangas, por isso o fim do bloqueio, fazem tudo por um bom fornecedor seja de petróleo, ópio, açucar, desde que haja bom preço.

  9. A Fiesp e os comunas. Estes caras seriam pitonisas? "Suspeitavam" sobre o fim do embargo. Só quem definitivamente não sabe de nada do que acontece neste mundo cão é o populacho.

  10. Já tinha lido à meses, a net é útil quando se consegue separar o trigo do joio.
    É por isso que não irá durar muito nestes parâmetros. Saudades da anarquia de à 10 anos com uma ligação actual.
    Quanto a Cuba, ainda bem que acabou este bloqueio estúpido. Agora está nas mãos deles se querem ser mais em peão estúpido ou
    muito pelo contrário uma ilha de "luz".
    Sei que é romântico ou uma visão que pouco tem a ver com a realidade. Mas desejo a segunda hipótese, existem outras vias como a Islândia, o Equador…
    Abraços
    Nuno

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