Ébola. Uhi que medo. E que horror.
Ainda bem que a nós os africanos não interessam, nem tão pouco, porque caso contrário deveríamos ficar preocupados.
Sejamos honestos: a quem interessam alguns africanos mortos?
A disenteria provoca no Continente Negro 2.000 mortos por dia. A malária causa 627 mil mortos por anos (cerca de 1.700 por dia, a metade de quanto Ébola matou até agora). Alguém ouviu falar de emergência sanitária? Claro que não. É normal que os africanos morram e nós continuamos sem que as nossas vidas beatas sejam minimamente atingidas por isso.
Então, porque toda esta confusão por causa de Ébola? Porque existe a (muito remota) possibilidade de que o vírus decida contagiar outras regiões do planeta. A disenteria não faz isso, a malária também não. Mas Ébola, em teoria, pode. Estamos preocupados connosco, não com os africanos: tão simples como isso.
A epidemia domina os meios de comunicação, os números oficiais mostram que cerca de 2.800 pessoas já morreram, o presidente Obama ordenou o envio de 3.000 soldados (deve ser algum tipo de reflexo condicionado), enquanto a Serra Leoa tem tomado como medida extrema a “imposição de um total recolher obrigatório de três dias”. As condições higiénicas ficam alucinantes, mas o vírus é obrigado a ficar em casa três dias e morre de tédio.
Imaginem se um Ocidental ou da América Latina tivesse ficado 3 dias com o recolher obrigatório: reportagens, enviados especiais, debates, especialistas. Acontece na Sierra Leoa? Bah, é África, depois são só 6 milhões… e alguns deles se calhar doentes, mas não lhes faz, no máximo perdem um pouco de bronzeado.
Esta é a realidade da nossa relação com a África, um continente cujos habitantes são culpados pelo facto de ter nascido, um lugar onde morrer é aceitável desde que a morte não ameace o resto do mundo.
Eu sei que os Leitores se preocupam com estas coisas, sei que ficam mal ao ler as notícias. Eu
também preocupo-me e fico mal. Mas nós, todos nós, o que fazemos? Nada.
Não “pouco”, mas nada mesmo.
Os nossos governos, compostos por nossos representantes eleitos por nós, que fazem? Nada.
Tudo isso tem um nome: racismo.
Não o racismo dos salões de conversa, o centro de milhares de debates nas televisões, aquilo que faz cair os cêntimos na lata da recolha de fundo.
Este é racismo verdadeiro, o racismo que não ofende os nossos sentidos com palavras fortes mas mata.
É o racismo moderno, pós-colonialista, que rejeita a palavra que define a sua própria natureza, substituída por “insensibilidade”, “esquecimento”, “problemas logísticos” ou “não sou eu que deveria fazer algo mas quem manda”. Há mil definições e ainda mais álibis.
Eu escolho “”não sou eu que deveria fazer algo mas quem manda”, algo que me desresponsabiliza de forma completa e, ao mesmo tempo, deixa subentender um certo interesse frustrado no assunto.
E o Leitor qual escolhe?
Entretanto, os africanos poderiam parar de fazer filhos (e de ter sexo também, dado que o preservativo é pecado) e, se têm mesmo que morrer, que morram sem perturbar muito.
Para o bem deles, é claro.
Ipse dixit.
Estupefato ao ler tanta bobagem!
E eu satisfeita em ler tanta coisa dita com propriedade. Abraços
EXP001
Então pedro goulart brinde-nos com a sua sapiência, pois falar mal sem argumentar é necessidade de meninos que teem de dizer alguma coisa só para não ficarem calados como uma forma de se afirmarem.
Não podemos menorizar África nem os africanos.Eles devem saber tomar conta de si próprios.
A Europa não tem que andar a salvar o mundo.Sabe-se como os europeus são tratados em muitos países africanos.
É exatamente o contrário, 3000 soldados para certificar que o Ebola vai sair da Africa
A estratégia para Africa é desde Kissinger o despovoamento. Os soldados provavelmente contribuírão para isso, mas coisas mais subtis e poderosas como vacinas anti-fertilidade estão a ser actualmente empregues…
Agora isto é racismo? Eu não sei, mas não estou muito convencido: o massacre dos iraquianos, as consequências da globalização na Índia parecem-me no mesmo espectro de perversão…
Penso que a situação é pior: a sociedade occidental em que vivemos é vítima de um esmagamento dos mais elementares valores éticos, de forma lenta e continuada. Sem que um tiro tenha sido disparado nas nossas cidades, colaboramos com uma escalada de barbaridade que faria impalidecer qualquer conterrâneo do século XIX…