Assim um Leitor Anónimo comenta a primeira parte do artigo:
Perguntam-se vocês de onde apareceu esta gente assim com tanta força que nem exercitos regulares os conseguem derrotar? Onde obtêm o dinheiro? Sim como já foi noticiado ate na BBC da venda do petroleo e gas avaliado em 757 mil euros por dia, a 30 dólares por barril em vez de 100 é muito petroleo.
E quem o compra? Turquia e Israel, aliados de Washington. Então temos todo o mundo ocidental em estado de alerta com estes terroristas e bico calado em relação a 2 aliados que negoceiam e assim financiam perigosos terroristas seus inimigos?
O Leitor não anda nada longe da verdade. O petróleo é a chave, em dois sentidos:
- porque o mundo ocidental precisa de petróleo (mas também a China) e no Iraque há petróleo.
- porque já sabemos que um dos maiores produtores do precioso líquido (a Arábia Saudita) financia os grupos terroristas radicais.
Isso significa que:
- nós, todos nós somos responsáveis, pois o nosso estilo de vida, a sociedade na qual vivemos, o nosso automóvel, o nosso telemóvel, tudo isso precisa que haja Países explorados (muitos) para que outros (poucos) possam prosperar. Um País do Oriente Médio com reservas naturais de petróleo é um País condenado. E, que se goste ou não, os EUA fazem o trabalho sujo sem o qual a nossa sociedade ruiria no prazo de poucos dias (nota: longe de mim a ideia de defender as escolhas imperialistas de Washington; mas não podemos repetir sempre e só “é culpa dos outros”).
- há aliados dos EUA (e do mundo ocidental no geral) que fazem o duplo jogo. O caso da Arábia é o mais gritante, mas não é o único.
E, especificamente, no caso do Iraque: qual o futuro? O que quer o alegado “Califado” (ou Isis)?
O Isis é um grupo fundamentalista sunita, que oficialmente visa a criação de um Estado islâmico, o tal Califado, que compreende os territórios da Síria e do Iraque para realizar a Jihad contra os xiitas (que depois sempre muçulmanos são) e contra os infiéis no geral (o resto do mundo). Por isso: gente enervada.
O terreno fértil para a sua expansão foi criada pela intervenção militar no Iraque em 2003: a derrubada de Saddam foi um golpe de mestre na óptica americana. Dum lado eliminava-se um ditador na posse de armas de destruição maciça (aquelas que nunca existiram), do outro fazia-se ruir um regime que treinava os perigosos terroristas radicais islâmicos (o que, como vimos na primeira parte do artigo, não fazia sentido nenhum), tudo em nome da Guerra ao terror.
Na verdade, os objectivos eram dois, um imediato e o segundo de médio prazo.
O imediato era pôr as mãos nas reservas de petróleo do Iraque. O de médio prazo era precipitar a região no caos. O berço do Isis está aí, na queda dum dos poucos Estados na região que permitia o crítico equilíbrio entre a maioria xiita e a minoria sunita.
No meio do caos e da anarquia que se seguiu, o Islão político foi capaz de retomar o trabalho, à luz do sol, com espaço para manobra que antes não tinha. Os grupos islâmicos conseguiram em pouco tempo recolher um amplo consenso dentro da minoria sunita, num Iraque predominantemente xiita: com uma situação interna desastrosa, sem trabalho, sem infraestruturas, o governo xiita de Al-Maliki (o ainda em carga presidente) não conseguiu travar a hemorragia de quem está farto de viver na pobreza e vê no Ocidente (e nos xiitas que com o Ocidente dialogam) as causas de todos os males.
A partir de 2011, este quadro cruza-se com o cenário de guerra civil na Síria, com em primeiro plano a milícia infame Isis, um “monstro”, que cresce e se desenvolve graças ao apoio financeiro, diplomático e militar de Washington, espalhando-se como fogo na palha no Iraque.
Ganha rapidamente o apoio substancial da população sunita e começa uma guerrilha contra o governo do presidente Al-Maliki. Neste ponto é importante lembrar que na área existe um outro País com maioria xiita. Qual? O Irão.
Agora, imagine o Leitor uma eixo xiita formado entre Irão e Iraque: assustador do ponto de vista de Washington, não é? Eis a utilidade do Isis: desestabilizar a Síria (aliado histórico de Teherão) e o Iraque também, cujo governo dialoga com o Ocidente mas sempre xiita é.
Irão, Síria, Iraque…ah, também os Hezbollah do Líbano são xiitas. Pelo que, também israel agradece os serviços do Isis.
Qual o futuro? Haverá um Califado islâmico? O Iraque conseguirá a paz?
Começamos pelo fim: o Iraque não terá paz nenhuma. O futuro de Baghdad é algo parecido com o que aconteceu na ex-Jugoslávia: três áreas, uma sunita, uma xiitas e uma curda (quando torna cómodo também Washington se lembra da tragédia das minorias étnicas).
Ficçaõ científica? Nada disso: é quanto defende abertamente o vice-presidente Joe Biden. É por isso que até hoje o Isis foi deixado avançar, para encurralar o governo de al-Maliki. Agora, com o pretexto do avanço do “califado”, os americanos podem voltar no Iraque, ré-colocando em equilíbrio o governo do Iraque e o Estado islâmico. Uma intervenção deliberadamente atrasada, que parou o avanço enquanto permitiu que o Califado pudesse consolidar as posições que já tinha ganho.
Entretanto, eis que Washington começa a fornecer armas aos curdos também, já aliados norte-americanos durante a invasão de 2003 e animados por intenções separatistas.
O resultado de tudo isso será um Iraque basicamente dividido em três partes, como já dito: uma fração xiita (fraco e à mercê da ajuda militar americana), uma região curda e em seguida um “califado” islâmico que terá de mudar de nome, pois os EUA descem em campo mesmo para derrota-lo. Mas será uma área sunita, disso não há dúvida. E será tolerada pela simples razão que continuará a guerra contra duas regionais das quais Washington pouco gosta: a Síria e o Irão.
Para acabar, com as palavras do líder, o “califa” Al-Baghdadi, o Isis já indicou a China como “inimigo do Estado do Islão”, prometendo no futuro prestar apoio aos grupos islâmicos de Xinjiang.
Coisas esquisitas da vida: durante todo o período dos bombardeiros de israel contra Gaza, por parte do Isis nem um pio; depois, eis que se lembra que a China, por mero acaso o principal adversário geopolítico dos Estados Unidos, fica dentro dos objectivos dos islamitas.
Ipse dixit.
Fonte: Rivolti a Monza
Contente com a sua volta.
Já que o assunto são os USA, o que vc acha disto:
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/exclusivo-jornalista-e-ex-oficial-de-inteligencia-da-122442862.html
EXP001
Bem não é a opinião do Max mas espero que te de mais algumas ideias
http://blackfernando.blogspot.pt/2014/09/marina-silva.html
http://blackfernando.blogspot.pt/2014/09/porque-nao-deve-quem-e-brasileiro-votar.html
Sobre o Estado Islâmico, ainda não tinha visto as coisas sobre o aspecto étnico. Faz todo o sentido aproveitar esta divisão para reinar.
Krowler
Nazismo não é o ser 'alto e louro', bla bla bla,… mas sim… a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!
-> Para além dos hitlerianos, existem outros… um exemplo: os 'HOLOCAUSTERS' MAIS MASSIVOS DA HISTÓRIA (na América do Norte, na América do Sul, etc) são precisamente aqueles que buscaram/procuraram pretextos para negar o direito à Sobrevivência de Identidades Autóctones… nomeadamente, e em particular,… aqueles que argumentam que a sobrevivência de Identidades Autóctones prejudica a economia.
EXP001
Ola Max. Que boa surpresa tive ao ler no inicio de um artigo seu palavras minhas.
Aqui vai mais gasolina para a fogueira
"Os EUA empreenderam ataques aéreos contra as posições militares do Estado Islâmico (EI) na Síria, ignorando a opinião das autoridades sírias. Em ótica de peritos, o caráter controverso e a falta de sagacidade estratégica põe em jogo o êxito dessa campanha militar.
Os golpes já infligidos marcam um período crucial na luta do presidente Obama contra o EI, abrindo uma nova etapa arriscada da operação militar, sustentam peritos ocidentais. Antes disso, a administração dos EUA havia autorizado os bombardeios apenas do Iraque, dizendo “faltarem semanas ou até meses para o início de ataques aéreos na Síria”.
Convém notar que os EUA estão atacando as posições do EI no território sírio sem pedir autorização ao governo do país. Tal abordagem tem provocado críticas da parte de Moscou.
Uma série de analistas afirma que Washington, ao se atrever a dar tal passo, procura de novo derrubar o regime de Bashar Assad, aproveitando para o efeito essa ocasião oportuna,"
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_09_23/Paradoxos-da-politica-norte-americana-no-Oriente-Medio-0637/
Olá Max, que bom ler II de volta, obrigado.
O que tem me preocupado é exatamente isso :
"Um País do Oriente Médio com reservas naturais de petróleo é um País condenado. E, que se goste ou não, os EUA fazem o trabalho sujo sem o qual a nossa sociedade ruiria no prazo de poucos dias (nota: longe de mim a ideia de defender as escolhas imperialistas de Washington; mas não podemos repetir sempre e só "é culpa dos outros")".
Estão eu vejo a situação do lado de cá do Atlântico beirando o CAOS, e penso se essa moda não cai por aqui.
Ótimo e muito esclarecedor !!!