Palestina: depois do massacre

Gaza? O ataque de israel? Os palestinianos?
Lamentamos, mas já são o passado. Pelo menos até o próximo massacre.

Mas agora são out, fora de moda, não fazem audiência. Para entreter o povo eis uma nova guerra (A Cruzada), que promete sangue fresco e, quem sabe?, mais vítimas ainda. 

Mas nós voltamos atrás: o ataque israelita em Gaza levou a um novo terrível massacre, um dos muitos na história do colonialismo sionista. Além da condenação moral, qual foi o verdadeiro resultado?

1. Os objetivos de guerra de israel

israel nunca se pronunciou sobre os objectivos da guerra. Oficialmente era uma punição pela morte de três jovens israelitas, mas é claro que a operação já estava planeada há tempo. Nem a destruição dos muitos sistemas de túneis convenceu como desculpa.

No geral, a ideia era enfraquecer a resistência de Hamas, numa onda de chauvinismo sionista que tomou posse duma grande maioria da sociedade israelita. Desde o início, o alvo máximo (a destruição da resistência armada) não era realista e, portanto, não foi declarado.

2. A resistência foi reforçada

A destruição em Gaza foi enorme. Houve milhares de mortos e feridos. A miséria humana é inimaginável. No entanto, a resistência militar não entrou em colapso. Pelo contrário: como era previsível, Hamas vê-se fortalecido politicamente e não apenas entre o povo palestinianos.

Um grave erro que israel continua a fazer é não considerar que Hamas hoje seja, talvez, a única ramificação do Islão sunita que ainda não cortou todos os laços com o Islão xiita. A questão da Palestina continua a unificar os Árabes e a resistência não apenas não fica dividida mas ganha com isso.

3. O embargo

O actual cessar-fogo não está baseado num acordo real. Mas, aos menos, falava-se de diminuir o bloqueio total que prende a Faixa de Gaza. Até o Ministro das Relações Exteriores dos Estados Unidos se expressou neste sentido e, como ação simbólica, foi expandida a área de pesca.

Resumindo: nenhum medida concreta e duradoura, pois as fronteiras da região estão sujeitas a mudanças muito rápidas.

Assim, no futuro, o foco do conflito será mais uma vez o bloqueio contra Gaza e, mais no geral, o reconhecimento político da resistência palestiniana, liderada por uma força islâmica.

4. Custo de Israel e ordem regional

Israel acredita ser capaz de obter o isolamento, sem compromisso, da resistência palestina. Mas uma
política de terra queimada faz subir os custos.

No longo prazo, uma contra-reação torna-se inevitável: a hostilidade total das massas palestinianas, árabes e islâmicas; a queda de crédito no meio da opinião pública ocidental; por fim, a mudança nos interesses regionais dos Estados Unidos.

É óbvio que estas mudanças graduais não são suficientes para causar uma mudança imediata no sionismo radical: ao longo das décadas, as relações EUA-Israel tornaram-se demasiado próximas, já semelhantes a uma espécie de fusão, com a lobby hebraica que trabalha duramente nos EUA neste sentido.

Mas se algo mudasse nas fileiras do maior aliado? Estas tendências existem, por enquanto mantêm um perfil baixo mas também são identificáveis​​. Um novo colapso económico global (ou dos EUA) poderia servir como gatilho para que estas tendências se tornem algo mais.

5. O fim da Primavera Árabe e do conflito sectário

O Oriente Médio encontra-se numa fase de enorme mudança. Parte deste movimento é provocado pelas intervenções ocidentais (ver caso do Isis), mas não só. Há, no fundo, um choque entre sunitas e xiitas. Não é algo novo, a história desta “rivalidade” tem séculos.

Os EUA tentam explorar este choque para os seus interesses. Mas o choque existe mesmo e entre as linhas das Primaveras Árabes era possível ler isso também.

Durante as várias Primaveras Árabes, israel manteve um perfil baixo, até tentando defender em alguns casos a velha ordem. O que, para o País que se define como “a única democracia do Oriente Médio” (!!!) pode parecer estranho. Mas estranho não é: a velha ordem permitia que israel continuasse a mesma política de sempre, sabendo que nada ou ninguém pudesse levantar um dedo para mudar os factos.

Para resumir, somos confrontados com o desaparecimento da velha ordem, incluindo até mesmo as fronteiras coloniais estabelecidas com o acordo Sykes-Picot (de 1916), o que também significa uma perda de controle ocidental.

Por enquanto, a guerra sectária entre sunitas e xiitas paralisa a resistência anti-imperialista (que é endémica em toda a área) e anti-israelita, permitindo que israel possa continuar como se nada tivesse acontecido. Mas a realidade mudou (ainda está em plena mudança) e cedo ou tarde as consequências estarão visíveis.

Na altura, continuar como se nada fosse será impossível, até em Tel Avive.

Ipse dixit.

Fonte: Anti-imperialist Camp

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