A vingança da poeira

Diz a Siempre Muy Nobre Maria:

Mas o que aconteceu nos EUA para que, na primeira metade do
século XX, a prosperidade atingisse tão boa parcela da população nativa
norte americana que o mundo todo pasmou ante The way of life? Aquela
economia de produção (ao invés da especulação)não terá nenhuma chance de
retornar, me parece. Uma grande, muito total guerra, permitiria fazer
retornar os bons tempos aos nativos predadores? Então, salvo melhor
juízo, o U vira um gancho até que essa sociedade predadora se auto
fagocita.

Acho (isso é: se alguém tiver uma teoria diferente, faça o favor de sugerir, eu agradeço desde já…mas não comecem com Illuminati & C., obrigado!) que o truque, como sempre, é olhar para a História como se do futuro se tratasse.

No meio da poeira
As primeiras três décadas do século XX não foram nada simpáticas do ponto de vista dos Estados Unidos. Uma vez gasta a mola da expansão territorial (à custa dos habitantes originários também), houve a segunda fase, a do assentamento, e aqui começaram os problemas: foram deitadas as bases para a Grande Depressão, algo que os EUA conseguiram ultrapassar só com o esforço bélico (e não só) da Segunda Guerra Mundial.
Neste aspecto, acho ser importante realçar algo: o Capitalismo de matriz liberalista é um organismo que não consegue encontrar um equilíbrio duradouro. Contrariamente ao que afirmam as teorias da “mão invisível” (um processo de auto-regulamentação que seria intrínseco ao Capitalismo), é quando “a poeira assenta” que o livre mercado sem limites começa o processo de auto-destruição.
A “poeira” era aquela dos carros dos colonos que abandonavam a costa Leste para encontrar fortuna
no Oeste selvagem.

Enquanto a colonização estava ainda em andamento, as estruturas Capitalistas ficavam limitadas àquela parte dos Estados Unidos há muito ocupada, antes pelos Ingleses, depois pelos americanos independentes; no Oeste a vida corria longe das regras do mundo “civilizado” e cada um (após ter massacrado alguns habitantes que molestavam) era livre de escolher um rumo para a sua própria vida.

De facto, a maior parte dos colonos tinha como sonho uma quinta com um pouco de terra que fornecesse sustentamento para a família dele.

Um erro cometido muitas vezes é atribuir esta conduta a um livre “espírito” empreendedor ainda hoje lembrado com saudade pelos políticos Republicanos. Isso é falso: uma casa com um pedaço de terreno foi a regra ao longo de milhares de anos e nada tem a ver com o Capitalismo. Os soldados romanos, uma vez reformados, recebiam mesmo isso: um terreno no qual construir uma casa e poder assim dedicar-se a uma tranquila vida de agricultor.
O Capitalismo chega depois, quando a parte suja do trabalho já está despachada: eliminados ou limitados os habitantes originários, estabelecidas as primeiras e básicas rotas de comunicação, atraída uma mão de obra de baixo custo (nem todos querem ser agricultores afinal ou têm jeito para isso), eis que aparece o Capitalismo, que viaja comodamente num vagão da Central Pacific Railroad ou da Union Pacific. É desta forma que a colonização é concluída e é nesta altura que começam a aparecer os Astor, os Rockefeller, os Carnegie, os Morgan, os Vanderbilt, os Westinghouse, os Fulton, os Du Pont.
O Modelo T e o seu sucesso são o símbolo desta era que, todavia, dura pouco: a primeira Ford T sai da fábrica em 1908, passam vinte anos e os Estados Unidos precipitam no inferno da Grande Depressão. O que tinha acontecido? Nada de especial: o Capitalismo era agora o padrão absoluto dos EUA e começava a apresentar a conta.

Seis décadas
Algumas datas.
A construção da primeira ligação transcontinental ferroviária acaba em 1869; até a Grande Depressão (1929) são poucos mais de 60 anos.
A Segunda Guerra Mundial acaba em 1945, a actual crise começa em 2008, com a falência Lehman Brothers. São 63 anos.
Parece, portanto, que o Capitalismo consegue funcionar de maneira decente ao longo de 60 anos,
mais ou menos, passados os quais entra irremediavelmente em crise.

Ao mesmo tempo, não podemos não realçar outro facto: na Europa, onde sobretudo a partir do século XX o Capitalismo foi limitado por algumas normas locais (fascistas e/ou socialistas), ambas as crises (Grande Depressão e crise de 2008) foram sofridas “por reflexo”. Não que o sistema capitalista europeu tivesse feito maravilhas: mas nunca foi o berço da crise, cujas origens sempre foi possível individuar do outro lado do Atlântico.

Provavelmente as medidas limitativas locais teriam conseguido não evitar mas sim adiar uma eventual crise europeia.

O que significa tudo isso? Se aplicarmos o passado para tentar descortinar o futuro, então podemos avançar com algumas considerações.

  • os Estados Unidos antecipam as tendências que o resto do planeta poderá seguir. Esta não é uma grande novidade, mas faz sempre bem lembra-la. Se o desejo for saber o que se passará nos próximos tempos em matéria não apenas económica mas também social, temos que olhar para Washington e arredores, porque o Capitalismo é por sua natureza totalitarista: não admite a existência de alternativas e sempre trabalhará para destronar e substituir outros tipos de regimes.
  • o Capitalismo sem regras funciona só quando não for aplicado, isso é, quando numa fase de expansão as pessoas ou as empresas podem actuar de forma livre e sem os condicionamentos que o Capitalismo inevitavelmente introduz sob forma duma Finança extremista, do aparecimento de monopólios não-estatais, da introdução de leis que favorecem a oligarquia capitalista. Não há nenhuma “mão invisível”: a única mão é aquela do Capitalismo, é bem visível e até parece ter tendências suicidas.
  • o fim duma crise gerada pelo Capitalismo coincidiu com um evento fortemente traumático: significa isso que a guerra é a única solução? Sim e não. Seria errado ver a Segunda Guerra Mundial como a solução da Grande Depressão. Na verdade, os Estados Unidos chegaram ao final da guerra em péssimas condições: muitos ignoram o facto de que a utilização das bombas atómicas não foi uma livre escolha mas uma absoluta necessidade, pois Washington não tinha a capacidade de sustentar o esforço bélico ainda por muito tempo e os Japoneses teimavam em resistir. A guerra tinha significado grandes lucros apenas para um restrito grupo de pessoas, não tinha coincidido com o fim da Depressão: só as sucessivas escolhas (exemplo: o Plano Marshall) tornaram os EUA o American Dream e isso em concomitância com um evidente “passo atrás” da oligarquia capitalista (o ponto mais baixo do tal “U” citado por Maria e no artigo anterior).

Isso significa que teremos uma guerra no futuro de grandes proporções?
Por tudo aquilo que foi dito até aqui, é inevitável: mais uma vez, trata-se duma questão de sobrevivência, desta vez do sistema capitalista.

Se a actual tendência não for interrompida ou mudada, serão criadas as condições para que uma parte cada vez mais consistente da população americana (ocidental – e não apenas isso – mais no geral) tome consciência duma realidade que empobrece cada vez mais, em prol dum restrito grupo de pessoas (a tal oligarquia capitalista).

Emergências
Retomamos quanto afirmado em 2011 por Warren Buffett, o terceiro homem mais rico
dos Estados Unidos:

Nos últimos vinte anos, neste
país, tivemos a luta de classes, e minha classe ganhou.

O que Warren Buffett deveria ter acrescentado é a expressão “por enquanto”, pois estamos perante dinâmicas que não prevêem um capítulo final: a vitória representa apenas o fim dum ciclo e o começo duma nova luta.

Nesta óptica, o sucesso da classe oligárquica tem determinado o começo duma nova fase (que pessoalmente julgo durar uns 30/40 anos) que tem o potencial para subverter o actual equilíbrio.

Os meios de persuasão de massa (televisão, diários, etc.) funcionam muito bem até quando houver elementos que consigam disfarçar a disparidade entre os vários níveis de vida ou, em alternativa, quando houver acontecimentos (criados ad hoc) que consigam determinar uma união (fictícia) entre as várias classes sociais e reforçar o papel centralista (e autoritário) do Estado.


Os ataques do 11 de Setembro e a consequente “luta ao terrorismo” tiveram este objectivo, além de proporcionar novas possibilidades comerciais: a mesma mola da “conquista do Oeste”, mas obrigatoriamente de forma mais reduzida e com vantagens só para a oligarquia. Ao mesmo tempo, não pode ser negado como esta “emergência” tenha funcionado também para apertar o controle que o Estado impõe aos cidadãos (Patriot Act). Se a luta de classe tivesse sido ganha de forma definitiva, não teria havido necessidade nenhuma deste último elemento: foi introduzido simplesmente porque os responsáveis (políticos, oligárquicos) bem conhecem as dinâmicas das sociedades.

Mas, como afirmado, tudo isso funciona até um certo ponto, além do qual ou é inventada uma nova “emergência” (que para ter sucesso deverá ser ainda mais grave do que a anterior), ou são tomadas medidas radicais e “regeneradoras” (a guerra), ou o Capitalismo prossegue o seu caminho, exacerbando as diferenças entre os grupos dos cidadãos (ricos e pobres) e chegando até o ponto de ruptura.

É difícil imaginar uma nova “emergência” tão grave que possa entreter o povo sem prejudicar ao mesmo tempo os interesses da oligarquia também. E até hoje, a oligarquia tem sabido evitar cuidadosamente o ponto de ruptura: nada deixa pensar que no futuro as coisas possam ser diferentes.

Por esta razão, parece sobrar apenas uma solução: o Novo Século Americano passar obrigatoriamente no meio duma nova guerra. Não algo limitado e, tudo somado, quase inútil (Afeganistão, Iraque, etc.), mas um conflito que consinta recriar as condições para um expansionismo de grande alcance, tais como existidas após a Segunda Guerra Mundial.

Resumindo, melhor repor Marx e o pacifismo na gaveta: porque o que o filósofo-historiador-economista não tinha tido em conta foi a capacidade que as oligarquias têm em evitar o choque frontal (bem melhor o choque entre pobres: a guerra); e o pacifismo nada pode contra aquele que já se tornou um hábito (a guerra como solução) e os instrumentos de quem pode decidir um grande conflito.

O impossível regresso do Terceiro Estado

Quando? Difícil fazer previsões.

Os EUA não podem esperar muito tempo, pena ver os adversários crescer ainda mais, o que implicaria não o desaparecimento do Capitalismo mas uma profunda revisão dos planos.

Doutro lado, sempre tendo a História como ponto de referência, Washington ainda não tem começado o seu próprio New Deal: as estruturas existentes e o funcionamento delas são ainda aquelas que determinaram o surgimento da crise de 2008.

Por isso, de momento, os Estados Unidos têm escolhido não exacerbar o discurso na Síria (que depois significa pôr-se em rota de colisão com Irão, Rússia e China) e prosseguir com avanços parciais na Eurásia (ver caso Ucrânia). É uma situação temporária, um dispor as peças no tabuleiro antes que o verdadeiro jogo comece.

Sem uma guerra, as diferenças entre as classes são destinadas a aumentar: e não apenas nos Estados Unidos. Um processo parecido (sem atingir os mesmos excessos) está já em curso na Europa também (esta é uma das funções da União Europeia) e nem podemos esquecer o que se passa “do outro lado”: na China e na Rússia o desenvolvimento já cria uma classe de ricos e super-ricos ainda antes de ter uma classe média implementada.

É normal: estes Países entraram no universo Capitalista numa altura em que as oligarquias ocidentais já estavam a utilizar os instrumentos extremos do turbo-Capitalismo (como a hiper-Finança), por isso o resultado só pode ser o mesmo do (ou, no máximo, muito parecido com o do) Ocidente.

Mas diferenças cada vez mais acentuadas significam apenas uma coisa: a criação duma oligarquia cada vez mais “aristocrática” (um grupo fechado, afastado da produção, ocupado apenas na manutenção do poder) e, como contra-parte, o crescimento dum “Terceiro Estado” feito de pessoas (a maioria da população mundial) que vêem as suas próprias condições de vida só piorar.

Seria esta é uma situação muito arriscada, caracterizada por um equilíbrio particularmente precário e com desfechos duvidosos. Paradoxalmente, seria esta uma situação de grande esperança, pois nesta condição uma mudança real seria algo viável.

É por isso que não vamos chegar lá.

Ipse dixit.

12 Replies to “A vingança da poeira”

  1. Olá N.!

    Não entendi, se calhar percebi mal o sentido do comentário.
    Não gosta do desfecho? Ok, então mudamos, a mim não custa nada, ora essa.

    Nova versão:

    "Esqueçam a História, o futuro será diferente, será encontrada uma solução. Vai tudo correr bem. Fiquem descansados, aliás, nem pensem em certa coisas, deixem que sejam os outros a pensar nisso e decidir. E sorriam, sempre".

    De facto, assim é um pouco menos triste. Não quero deixar nenhum Leitor insatisfeito!! 🙂

    Só uma ressalva: o que descrevi neste artigo é uma possibilidade, o que acho ser a mais provável nesta altura, mas é claro que posso estar redondamente enganado. Aliás, espero estar enganado: nunca vivi uma guerra e não tenho vontade nenhuma de experimentar.

    Mas acho que quando temos um problema, o mais lógico é procurar uma solução entre todas as disponíveis, boas e más: depois olhar em redor e tentar encontrar aquela solução que parece e mais condizente com a realidade.

    Não fazer isso, limitar-se a olhar só para as possibilidades boas, significa nunca ter a capacidade de fazer previsões.

    E fazer previsões pode não ser apenas uma simples curiosidade: é com base nas previsões que são tomadas as decisões, todas elas.

    Se o desejo for entender a razão de muitas decisões (tomadas por outros) que afectam directamente a nossa vida (e, eventualmente, se desejarmos tentar mudar isso) temos que ter a coragem de ter em contas todas as possibilidades, sem excluir algo porque "imoral" ou "feio".

    Acreditem: o tal 1% não sabe o que fazer de termos como "imoral", "feio", injusto", etc.

    Nota:
    Mas fiquei curioso porque, se interpretei de forma correcta o seu ponto de vista, este é algo muito longe do meu. Não estou a julgar: digo só que é muito afastado da minha maneira de pensar.

    Posso pedir para que gaste um pouco do seu tempo para ampliar o comentário? Agradeço desde já.

    Abraço!!!

  2. Foi um desabafo Max, nada mais que isso 😉
    Como é lógico estou também neste barco, como todos(a maioria)
    É que custa ver sempre os mesmos a pagar a factura, a história repete-se ciclicamente, sacrificado sempre os mesmos e agora praticamente todos (o declínio da classe média) em proveito de uma minoria que nem 1% é.
    Concordo com o ultimo parágrafo é claro.
    O que custa é ver a minha volta "cegos" que acham tudo normal e acreditar em tudo o que lhes metem na molécula sem um mínimo raciocínio e espírito crítico. Felizmente nem todos.
    Vejo é que cada vez se torna mais difícil mudar o que qualquer pessoa com um mínimo de inteligência vê que está errado. É assim porque é assim e pronto! E nem faças perguntas, pois a resposta é sempre a mesma.
    Acho que já chega. Poço ser ingénuo mas não gosto que me façam ainda mais burro do que o já sou
    E pronto desabafei…e nada acrescentei.

    Abraço

    Nuno

  3. 'Os ciclos longos de Kondratiev representam o ciclo de ascensão e recesso do regime capitalista. Nicolai Kondratiev definiu o capitalismo sob uma ótica independente e acabou desagradando tanto os comunistas, que não queriam acreditar em ascensão pós crise do capitalismo e os capitalistas não se agradaram por acreditarem ser capazes de impedir que as mesmas ocorressem.'

    Pegando na frase acima, que não é minha, e sendo o período cíclico definido por Kondratiev de cerca de 60 anos, parece-me pouco provável pensar-se numa inversão para uma nova fase de crescimento sem o recurso à guerra.

    Sabemos hoje que este ultimo ciclo não conheceu a tal inversão, que deveria ter ocorrido com a era da informática. Isto demonstra uma total incapacidade do sistema em auto regenerar-se.
    Este capitalismo especulativo ganhou tal dimensão ao ponto de hoje, qualquer factor económico que poderia lançar o modelo para uma nova fase de crescimento, ser completamente anulado.

    O mundo da finança vive como se isto tudo fosse acabar amanhã.

    abraço
    Krowler

  4. Olá Nuno!

    "não gosto que me façam ainda mais burro"

    Mas qual burrice? Quem falou em burrice? Nada disso! Como disse, fiquei curioso, pois tinha interpretado o comentário anterior de forma diferente daquilo que na realidade era.

    É como com a religião: de vez em quando espero que apareça alguém capaz de dizer algo que possa tornar-me cheio de fé.

    Da mesma forma, espero encontrar uma pessoa com uma visão "optimista" (mas sem exageros), capaz de apresentar-me uma alternativa melhor.

    Infelizmente, ainda nada de fé e ainda agarrado ao "realismo", tentando ficar afastado dos exageros do pessimismo e do optimismo: ambas são coisas que na internet não faltam, mas na verdade é muito mais simples encontrar o pessimismo (e até profundo!) do que o optimismo.

    Com certeza, os Leitores que frequentam I.I. também visitam outros blogues parecidos: isso significa notícias negativas atrás de notícias negativas, repetidas inúmeras vezes, dia após dia. O risco é de ficar presos a uma visão demasiado "escura", por esta razão escrevi "É tudo ruim?" recentemente: seria um erro ficar refém das sombras, porque há coisas positivas e nem são poucas no meu entender, simplesmente, dão menos nas vistas!

    Quando li o comentário de Nuno pensei "Olha, eis um ponto de vista contrário!" e fiquei genuinamente curioso: nada de burrice (se tivesse pensado "Olha que burro" não teria pedido para escrever mais, pode ter a certeza: se quero a minha dose de burrice diária, ligo a tv, é mais simples e rápido).

    Abraço para o Nuno! 🙂

  5. Olá Krowler!

    Quem é este Kondratiev? Em qual blog escreve o gajo? Desgraçado, não se pode escrever algo que logo chegam para copiar…lololol!

    Mas é verdade: Kondratiev tinha individuado o período de 60 anos e tinha acertado em cheio e sem a possibilidade de observar o que se passou após a Segunda Guerra Mundial (foi fuzilado em 1938, assim aprende a copiar-me).

    "Sabemos hoje que este ultimo ciclo não conheceu a tal inversão, que deveria ter ocorrido com a era da informática."

    Exactamente.
    Nem tinha pensado na era da informática mas está muito bem visto: foi aí que apareceram (quase "de repente") novos instrumentos que poderiam ter mudado o rumo da história. Mas a economia oligárquica (já nem sei como defini-la) conseguiu assimilar a potencial mudança e até torna-la num meio para reforçar (temporariamente) o seu poder.

    "Isto demonstra uma total incapacidade do sistema em auto regenerar-se".

    Começo a pensar que estivesse certo aquele economista espanhol (Niño Becerra) que previa o fim do Capitalismo no prazo de algumas décadas: se assim for, então teremos uma série crise cada vez mais aproximadas e de intensidade crescente. Coisa que até agora não aconteceu, diga-se: o relógio de Kondratiev marca sempre 60 anos.

    Mas isso até agora. Chegará antes este fim ou uma guerra "regeneradora"? Eu também acho a guerra: o Capitalismo não irá desaparecer sem antes ter-nos obrigado a pagar uma conta bem elevada.

    Grande abraço para Krowler e para Kondratiev também!

  6. Penso que guerra não será bem a solução… Guerra só (talvez) funcionasse se fosse em larga escala, mas no mundo actual onde os recursos não permitem a destruição em massa para posterior reconstrução, e um dos pilares motores do capitalismo que é o consumo, nada iria funcionar. Originaria fome, e quando não há pão para todos, o desespero fica por conta. Assim dá para entender o tema "zombies", come-se qualquer coisa 😀
    Resta o lado da "conspiração", cortar os humanos a um nível mais controlado e manter as estruturas intactas.
    Mas como andam todos "apinbalhado" isto vai dar tudo para o torto.

  7. A juntar ao que disse acima, basta pensar que os casais actualmente já nem pensam em ter filhos (efeitos da "crise"), e mesmo a taxa de natalidade cai a cada ano que passa, em poucas gerações menos seremos.

  8. Já aqui se disse:

    A Sociedade reflecte a qualidade dos indivíduos que a compõem.

    E assim a mecânica de todo este caos que é o Planeta Terra está estabelecida, com toda a sua série de nefastas consequências.

    E á medida que todos os valores e princípios vão sendo cada vez mais desvalorizados, mais difícil vai ser.

    Com indivíduos egoístas, cruéis, gananciosos, invejosos, depravados, etc…, será muito difícil, ou mesmo impossível, que o Mundo resolva os seus problemas e injustiças.

    Seja o totalitarismo Marxista que retira os valores espirituais intrínsecos ao homem e impede a livre iniciativa, seja o Capitalismo selvagem, que mesmo em Democracia, explora a humanidade em benefício de uns poucos.

    Tudo o que se tente fazer será sempre sabotado pelo "inimigo", que está no interior de cada um de nós.

    A mudança mais urgente é a mudança dentro do próprio homem.

  9. Anônimo Pessimista.

    "Mudança dentro do próprio homem".

    Pois bem, se esperas que um oligarca destrua este "inimigo" dentro de si, ledo engano. E não me refiro somente ao oligarca não. Temos também aqueles que como no Matrix, aceitam alegremente um filé virtual, ou o BBB, ou o carnaval, ou a novela, talvez um futebol de domingo a domingo. Quanto ao boicote às megacorporações, nossos senhores têm os meios psicológicos de não permitirem a fuga do gado. Me digam quando o homem desligará sua TV?

    Teatros apresentando o que há de mais réles em "dramaturgia(?)", cinemas repletos de blockbusters inclusive na Europa (impensável nas décadas de 1960 e 70), literatura dedicada as mais absurdas baboseiras, artes plásticas "revolucionárias", cenário musical mundial de total indigência e a difusão do diversionismo, do "distracionismo" ininterruptamente. Lixo cultural servido oceanicamente. Edward Bernays ainda e cada vez mais é praticado pelos comandantes desta banheira. Gostaria que alguém me apontasse como destruir isso.

    Outro dia numa roda de amigos, gente que sei que tem o hábito da leitura, todos foram unânimes em afirmar que hoje têm dificuldades em se concentrar na leitura. Uma suposição: é como se algo em nosso cotidiano, talvez toda conturbação do nosso dia a dia, nos tirasse a concentração necessária à leitura. Leio menos do que costumava ler. A sonolência sempre a interrompe. Outra suposição: eu e meus amigos deixamos a juventude pra trás há uns bons idos e a idade cobra repouso.

    E não há como, no meu ponto de vista, prolongar um regime que nunca oferecerá uma oportunidade ao planeta para se regenerar das suas ações. A não ser que, como bem disse um dos comentaristas, se faça uso de cortes de cabeça em massa. Daí uma espécie de totalitarismo oligarca viesse a se estabelecer, dando "bons usos" das teorias marxistas. Pois se o capitalismo nunca funcionou como preconizado por Adam Smith, tampouco o comunismo foi posto em ação em qualquer parte deste planeta. Sempre foram arremedos de regimes domados por gente que se encontra acima destes. Mesmo sofrendo reveses, ainda assim, não vejo como poderíamos sair desta hipnose coletiva para alterarmos a realidade do cotidiano.

    É. É muito pessimismo pra um dia anterior a uma 2a. feira. Talvez seja isso.

  10. É natural que as pessoas queiram derrubar aquilo que as oprime, e é bom que o façam se isso for injusto, já o método será discutível.

    Mas será que o verdadeiro causador da opressão, não está dentro de todos nós?
    Esta é a reflexão que se propõe.

    Evoluímos tecnologicamente, mas continuamos internamente iguais ou piores, a exploração era feita de uma forma, agora de outra, trocamos as lanças e espadas por armas sofisticadíssimas, substituímos as guerras do passado em que pelo menos havia uma certa bravura no combate, por armas de grande eficácia, algumas de destruição massiva, dizimando cobardemente populações inteiras, mulheres, crianças, etc…

    Temos a própria Humanidade sob o perigo de uma auto-destruição massiva.

    E chamamos a isto civilização?

    A História da Humanidade é uma sucessão de substituições de poderes, revoluções, mas sempre tudo se resume a mais do mesmo, porquê, porque se mantém o verdadeiro problema, que referi anteriormente, dentro do próprio homem.

    Não será esta, a hipnose fundamental da qual todos deveríamos "acordar" ?

    Não será esta uma das principais mensagens que os diferentes mensageiros do Eterno, tais como Buda, Cristo, Krishna etc. nos vêm tentando "despertar".
    Fica a reflexão…

    Também há reticências no que diz respeito a uma mudança colectiva.
    A mecânica já está estabelecida, com toda a sua série de nefastas consequências.

    Resta-nos talvez actuar individualmente, despertando como revolucionários independentes, do rumo catastrófico em que a humanidade se encaminha.

  11. Aprendemos a sublimar uma hierarquia baseada em valores sociais, onde cada indivíduo volta-se para o "todo mundo" e deixa de evoluir sob valores humanistas, priorizando a relação consigo mesmo, e a partir de então, obter uma condição própria minimamente sustentável, e que gere um sentido verdadeiro moral. Do contrário continuaremos sendo seres imorais, corruptos e nefastos, existencialmente falando.

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