Banco da Inglaterra: toda a verdade (não tem efeito)

Na passada Terça-feira, o diário inglês The Guardian publicou um artigo que vale a pena ler.

Assunto: bancos e dinheiro. Um artigo fantástico. Que, enquanto tal, passou absolutamente (e não casualmente) despercebido.

Tudo nasce dum relatório do Banco da Inglaterra, Money creation in the modern economy (“A criação do dinheiro na economia moderna”). O The Guardian pegou nas 14 páginas do estudo e explicou de forma simples o que isso significa.

Nada daquilo que segue é novidade para os Leitores deste blog. Mas atenção: este é o The Guardian cuja versão online, só para ter uma ideia, é a terceira mais lida do mundo (9 milhões de visitas diárias).

Vamos ler.

 A verdade desvendada: o dinheiro é apenas uma promessa de pagamento, e os bancos aproveitam

Na década de 1930, Henry Ford é suposto ter observado que era uma coisa boa que a maioria dos americanos não soubesse como o sistema bancário realmente funcionava, porque se o soubessem “haveria uma revolução antes de amanhã de manhã”.

Na semana passada, algo notável aconteceu. O Banco da Inglaterra falou. Num artigo chamado “A criação do dinheiro na economia moderna”, co-autoria de três economistas da Direcção de Análise Monetária do Banco, declara abertamente que as ideias mais comuns de como funciona o banco estão simplesmente erradas, e que os as posições populistas, heterodoxas, mais normalmente associadas a grupos como Occupy Wall Street estão correctas. Ao fazê-lo, o Banco efectivamente atira toda a base teórica da austeridade para fora da janela.

Para ter uma noção de quanto radical seja a posição do Banco, considerarmos o ponto de vista convencional, que continua a ser a base de todo o debate sobre a política pública. As pessoas colocam o dinheiro delas nos bancos. Os bancos emprestam esse dinheiro com juros (aos consumidores, ou aos empresários dispostos a investir). É verdade, o sistema da reserva fraccionária não permite que os bancos emprestem muito mais do que mantêm em reserva, e se as poupanças não forem suficientes, os bancos privados podem procurar empréstimos do banco central.

O banco central pode imprimir tanto dinheiro quanto desejar. Mas também tem o cuidado de não imprimir muito. Na verdade, é dito com frequência que é por isso que existem os bancos centrais independentes. Se os governos pudessem imprimir dinheiro, certamente imprimiriam demais e a inflação resultante atiraria a economia para o caos. Instituições como o Banco da Inglaterra ou a Federal Reserve foram criadas para regular cuidadosamente a oferta de dinheiro para evitar a inflação. É por isso que estão proibidos de financiar directamente o governo, por exemplo, através da compra de Títulos do Estado, mas financiam a actividade económica privada que o governo simplesmente taxa.

É esse conceito que permite continuar a falar de dinheiro como se fosse um recurso limitado, tal como a bauxita ou o petróleo, e dizer “não há dinheiro suficiente” para financiar programas sociais, falar da imoralidade da dívida pública ou da despesa pública.

O que o Banco da Inglaterra admitiu esta semana é que nada disso é verdade. Para citar um dos seus próprios resumos iniciais: “Ao invés de receber os depósitos das famílias que poupam e, em seguida, empresta-los, os empréstimos bancários criam depósitos” […] “Em tempos normais, o banco central não fixa a quantidade de dinheiro em circulação”.

Em outras palavras, tudo o que sabemos não está apenas errado, é o contrário. Quando os bancos fazem empréstimos, criam dinheiro. Isso ocorre porque o dinheiro é realmente apenas uma promessa de pagamento. O papel do banco central é presidir uma ordem jurídica que concede efectivamente aos bancos o direito exclusivo de criar notas promissórias, aquelas que o governo vai reconhecer com curso legal e aceitá-las no pagamento de impostos. Não há realmente nenhum limite ao quanto os bancos poderiam criar, desde que possam encontrar alguém disposto a contrair um empréstimo.

Nunca ficarão sem dinheiro, pela simples razão de que os que contraem empréstimos, de modo geral, não guardam o dinheiro debaixo do colchão, assim, em última análise, todo o dinheiro dos empréstimos bancários vai acabar de volta em algum banco. Assim, para o sistema bancário no complexo, cada empréstimo efectuado só se torna um outro depósito. Além de mais, na medida em que os bancos precisam de adquirir fundos do banco central, podem pedir emprestado tanto dinheiro quanto gostam, tudo o que é feito é definir uma taxa de juros, o custo do dinheiro, e não a sua quantidade. Desde o início da recessão, os bancos centrais dos EUA e do Reino Unido reduziram esse custo a quase nada. Na verdade, com o “Quantitative Easing” efectivamente bombearam o máximo de dinheiro possível nos bancos, sem produzir quaisquer efeitos inflaccionários.

O que isto significa é que o limite real da quantidade de dinheiro em circulação não é o quanto o banco central está disposto a emprestar, mas quanto o governo, as empresas e os cidadãos comuns estão dispostos a pedir em empréstimo. Os gastos do governo são o principal motor de tudo isto (e o relatório admite, ao lê-lo com cuidado, que o banco central financia o governo). Então, os gastos públicos não limitam o investimento privado. É exactamente o oposto.

Porque o Banco da Inglaterra de repente admite tudo isso? Bom, uma das razões é porque é obviamente verdadeiro. O trabalho do Banco é analisar o sistema e, ultimamente, o sistema não tem funcionado particularmente bem. É possível que tenha decidido que a manutenção da fantasiosa versão da economia, que se tem mostrado tão conveniente para os ricos, é simplesmente um luxo que não é possível pagar.

Mas, politicamente, está a assumir um risco enorme. Basta considerar o que poderia acontecer se os detentores das hipotecas percebessem que o dinheiro emprestado pelo banco não é, na verdade, as poupanças duma vida de alguns reformados, mas algo que o banco só tem criado por meio da varinha mágica que nós, o público, lhe demos.

Historicamente, o Banco da Inglaterra tende a ser um termómetro, demarcando posições radicais que, afinal, tornam-se novas ortodoxias. Se isso é o que está a acontecer aqui, podemos em breve estar numa posição para saber se Henry Ford estava certo.


Como o Leitor terá percebido, este é um daqueles artigos que devem ser imprimidos, emoldurados e
pendurados perto da mesa de cabaceira.

Porque aqui está toda a mentira na qual vivemos: o nosso tornou-se um sistema que existe para alimentar os bancos. A compra duma casa, dum carro, o cartão de crédito, de dívida: tudo permite que o banco crie mais dinheiro a partir do nada, dinheiro que será outra vez emprestado, criando juros e lucro para o banco, num círculo que parece não ter limites.

Deveria haver por aqui um pouco de satisfação por parte de quem escreve: quanto afirmado pelo The Guardian (que fez o resumo) e pelo Banco da Inglaterra (que publicou o relatório) é exactamente quanto repetido nestas páginas ao longo dos últimos três anos e meio. Mas, em vez de satisfação, há amargura. E perceber a razão é simples.
Este relatório apareceu na metade deste mês, enquanto o artigo do The Guardian é da semana passada. O que aconteceu desde então?
Viram especialistas na televisão discutindo acerca do assunto? Reportagens? Aprofundamentos? Artigos nos jornais nacionais, tão solícitos em traduzir as últimas novidades quando estas estiverem relacionadas com o último bebé da casa real?
Não houve nada. O que é fantasticamente deprimente: um banco (e não um banco qualquer) afirma que somos burlados, todos, indistintamente, repetidamente, e o nada absoluto é a resposta.
“Porque o Banco da Inglaterra de repente admite tudo isso?” pergunta o jornalista.
A minha resposta é: porque sabe que é verdade e que não há nenhum risco em revela-la. Não vai haver manifestações de protestos, nenhuma questão levantada nos vários parlamentos nacionais, nenhum Leitor escandalizado que escreve ao redactor do diário local.
Não vai haver nada.
Se o Banco da Inglaterra tivesse escrito que José Mourinho (o português treinador de Chelsea) é um parvo, em Portugal teria explodido uma meia revolução. Pelo contrário, o Banco afirma que somos constantemente enganados e a nossa indignação consiste em ficar preocupados com um avião desaparecido do outro lado do planeta.
“Historicamente,” conclui o jornalista, “o Banco da Inglaterra tende a ser um termómetro, demarcando posições radicais que, afinal, tornam-se novas ortodoxias”.

Esta é uma observação que temos de ter em conta. O discurso arrisca ser demasiado comprido, mas não podemos esquecer a quem pertence o Banco da Inglaterra (e não, não é da Rainha…). Um relatório como este não é algo que inocentemente foi publicado num anónimo dia de Março: porque, na verdade, as mesmas coisas poderiam ter sido escritas há um, cinco ou dez anos atrás. Se apareceu agora, é porque existe um motivo.

Qual? Mudanças no horizonte.
Nenhuma revolução como preconizado por Henry Ford. Mas alguém decidiu ter chegado o tempo duma mudança. Que será lenta, pouco visível e que não sabemos até que ponto poderá trazer algo de bom. Mas o relatório do Banco da Inglaterra é o apito inicial.

Ipse dixit.

28 Replies to “Banco da Inglaterra: toda a verdade (não tem efeito)”

  1. "Porque o Banco da Inglaterra de repente admite tudo isso?"

    Bem, talvez porque eles queiram avisar que o dinheiro que a população tem, não tem lastro! E que isto precisa ser mudado, ou seja, estão todos falidos, endividados e terão que dar um jeito para pagar suas contas! :/

    Bob

  2. Sagaz você.
    Eu achava que esse tipo de revelação era pra buscar um tipo de "aprovação popular" similar as revelações sobre espionagem, mas vendo outras movimentações monetárias e sociais que estão a ocorrer, vem bomba!
    Então como disse Jesus (o da bíblia) "Ao que tem será dado e do que não tem será tirado"

  3. A criação de dinheiro é um processo tão simples e fraudulento para com a sociedade e as pessoas em proveito da banca, que as pessoas rejeitam a ideia.

    Isto é mais ou menos assim:

    "Um banco concede crédito a uma família no valor de 100.000€ para a compra de uma casa, creditando a conta de depósitos à ordem dessa família no montante de 100.000€.

    Para essa operação, um funcionário do banco altera os números que estão registados informaticamente na conta à ordem da família, somando 100.000€ ao valor que lá se encontrava anteriormente.

    Esse dinheiro não existia antes em lado nenhum. O banco cria-o a partir do nada digitando essa quantia no teclado de um computador.

    Como resultado desta «operação de crédito», passam a existir na economia mais 100.000€ de depósitos à ordem. Uma vez que os depósitos à ordem fazem parte da massa monetária, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda existente na economia.

    Ao fim de 30 anos, a uma taxa de juro de 5%, a família pagou ao banco um total de cerca de 255.000€, dos quais 155.000€ são juros.

    Resumindo, o banco inventou 100.000€ que emprestou com juros a uma família, e esta, ao fim de 30 anos, entrega os 100.000€ inventados pelo banco mais 155.000€ em juros, estes bem reais. A família foi espoliada pelo banco em 155.000€ de juros sobre um capital que o banco inventou e lhe «emprestou».

    Esta fraude sem nome acontece quotidianamente em todos os empréstimos dos bancos comerciais às famílias, às empresas e ao Estado. Haverá roubo maior na história da civilização? "

    Quando os bancos estão a conceder crédito, não o fazem com o seu capital, como pensam a generalidade das pessoas, ( ou burros como nos chama esse tal rabino) , o dinheiro concedido num empréstimo bancário é criado (acrescentado ao sistema monetário) pelo banco.

    È um direito que as pessoas não conhecem, mas que a sociedade concede á banca, fazer dinheiro do nada, multiplicar o capital á custa de um valor que é de todos (o dinheiro que circula na economia) em benefício dos Bancos.

  4. Óbviamente que sendo a Banca privada ( e de quem,geralmente?), já se sabe quem fica com a esmagadora fatia.

    A criação de dinheiro deveria ser em benefício da sociedade, por intermédio de um organismo ou banco do Estado.

    Mais uma vez repito:
    Toda a gente devia conhecer este documentário:
    "O dinheiro como dívida"
    São 5 capítulos que vale a pena conhecer.

    No final da cadeia da finança Mundial está a Banca.

    É uma cadeia parasitária descarada.

    E actua em conjunto.

    Sentem-se no o direito de explorar a humanidade sem qualquer constrangimento moral…

    http://www.haaretz.com/jewish-world/adl-slams-shas-spiritual-leader-for-saying-non-jews-were-born-to-serve-jews-1.320235

    “Por que os gentios são necessários? Eles vão trabalhar, irão arar, colher. Nós sentaremos como um efêndi e comeremos”, disse ele rindo.

  5. "O que isto significa é que o limite real da quantidade de dinheiro em circulação não é o quanto o banco central está disposto a emprestar, mas quanto o governo, as empresas e os cidadãos comuns estão dispostos a pedir em empréstimo."

    Isto é apenas verdade se se assumir que o banco central faz targets de taxa de juro, o que não é o caso, pelo menos para o BCE e Fed. O banco central faz targets de inflação, algo que atinge estabelecendo targets para taxas de juro no curto prazo.

    "Então, os gastos públicos não limitam o investimento privado."

    O efeito crowding-out não deixa de existir, mesmo que os bancos centrais façam target de taxas de juro no longo prazo. Os preços numa economia não são fixos, algo que me parece estar a ser assumido nestes debates. De facto, uma economia tem uma quantidade limitada de fatores de produção com uma quantidade finita de horas e produtividade/hora. Portanto, se o PIB estiver dentro do seu potencial e o Estado intervir vai estar, sim, a retirar recursos ao privado, pois vai usar os fatores de produção limitados para os seus fins. Isto não é verdade se a economia estiver abaixo do potencial (desemprego acima do estrutural, baixa utilização de capital), o que parece ser o caso na Europa e EUA. E digo parece ser, porque no cálculo do PIB potencial assume-se tipicamente que grandes choques não o afetam, o que pode não ser o caso.

    Por último, não estou a ver como é que o BoE "have effectively thrown the entire theoretical basis for austerity out of the window."

  6. Mais:

    A Banca conseguiu convencer os governos de que seria melhor que não tomassem mais empréstimos junto ao seu banco central (o que na prática significava tomar emprestado sem juros) e, ao invés disso, tomar emprestado junto a bancos comerciais, portanto com juros. Em todos os países que aceitaram isso a dívida pública cresceu exponencialmente. Não porque estes governos fizessem mais dívidas, mas devido a juros sobre juros sobre a dívida existente.

  7. A fraude que o sistema bancário e financeiro faz ás pessoas que produzem e vivem da "economia real" é bastante linear e simples de detectar.

    Mas os seus beneficiários sempre a escondem do cidadão comum, por trás de um jargão complicado e complexos e enredados mecanismos, com que mascaram o roubo institucionalizado feito a toda a Humanidade.

  8. Max, para quem frequenta e/ou lê o blog isto não é ou será surpresa nenhuma.
    Mas como li os dois primeiros posts e em poucas palavras disseram tudo. Porquê só agora? O timing é claro importante…
    Maioria das pessoas não tem absolutamente ideia nenhuma do que se passa e digo mais se calhar e mesmo que os meios de comunicação explicarem (lol) acham que não é bem assim (estado de negação). Isto é brutal demais para cabecinhas formatadas. Por isso seja o que for convenha que seja feito lentamente…mas paguem.
    Resumindo e como dizem aqui em Portugal: Quem se lixa é sempre o mexilhão.
    Nuno

  9. Esta notícia me chegou hoje à noitinha, e não pude me conter, lembrei-me de ti e cá estou a compartilhar o link sobre essa dona: http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/408-direitos-nacionais-e-imperialismo/46766-ex-jurista-do-banco-mundial-revela-como-a-elite-domina-o-mundo.html

    Uma ex-jurista que trabalhou por 20 anos no Banco Mundial e não aguentou mais calar o que sabe…
    guardes esse nome: "KAREN HUGES (foto no link), graduada pela escola de Direito de Yale, trabalhou no departamento jurídico do Banco Mundial durante 20 anos. Na qualidade de 'assessora jurídica superior', teve suficiente informação para obter uma visão global de como a elite domina o mundo. …"

  10. Olá Max: não sei não, mas sempre aconteceu de quando a elite começa a "contar a realidade" é porque a dita cuja já é outra. Abraços

  11. Acho que é apenas para minimização/contenção de danos. O que eles disseram não é novidade para ninguém, por isso, se deram uma imagem normalizada do assunto, talvez contenham/suavizem a reação de quem se opõe.

  12. Essa notícia do GI.Cves. é bem reveladora da fraude que nos domina.

    Mas a estupidificação/brutalização das massas, anestesia as pessoas.

    Faz parte da agenda secreta.

    Isto vê-se muito nos EUA, um país desenvolvido mas em que as massas estão embrutecidas, estupidificadas, degeneradas como convém a quem domina o Status-quo.

    A generalidade das pessoas acreditará em qualquer mentira, desde que legitimada por uma imprensa dominada pelos que detêm o poder

  13. Exactamente.

    "Uma Mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade."

    "Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito"

    "A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela. A propaganda quer impregnar as pessoas com suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito NEM O PERCEBAM."

    Gobbels

    Já era assim à mais de 60 anos, acho que só está ligeiramente aperfeiçoado.
    Funciona? Claro que funciona e tem funcionado.
    Nuno

  14. Leio sempre com muita atenção os comentários e, gostava que o Nemo utilizasse uma linguagem mais simplificada. Isto, para quem está menos familiarizado com a terminologia técnica, poder entender o seu ponto de vista.

    Krowler

  15. Observem senhores. A configuração do poder acontece através de concessões feitas para grupos previamente escolhidos. A história mostra o quanto isso aconteceu com terras,e mais recentemente com os próprios bancos e empresas de comunicações. Sendo assim, a elite controla a propriedade, a economia e a propaganda, não sobrando absolutamente nada a perpetuação de sua dominação. O mundo poderia começar a mudar a partir dos gentios(goins) enxergarem os judeus da mesma forma que são vistos por eles.

  16. Se está tudo no ar sem lastro sólido a solução padrão para se resolver isso ao longo dos séculos é uma guerra sendo o problema mundial a solução do problema terá que ser aplicada mundialmente. Oremos na esperança de um mundo melhor mas se preparem principalmente em espírito para o pior.

  17. Pelo menos alguém contestou o texto: O peixinho Nemo. Usou algumas palavras de efeito que economistas usam, rodeou, rodeou e não explicou.

    Gosto muito de contra-argumentos… mas quando são colocados com o intuito real de debater e não brincar com "tecnês" e rodear sem chegar ao ponto…

  18. Ah sim. Eu moro em Londres. E já visitei mais de uma vez o Museu do Banco da Inglaterra. Ele explica claramente como implantaram o imposto de renda e para quê. Explica algumas tecnisses, como as de Nemo. Mostra como a Inglaterra financiava o Império com "dinheiro" sem lastro e sem juros, antes dos Judeus (por diversas vezes expulsos da Inglaterra por tentar instaurar a usura) e Lombardos (esses malditos Milaneses) implantarem o sistema de banco central lá.

    E você ainda pode passar a mão em £ 500000 em ouro…

    Ou seja, as "relações públicas" do Banco da Inglaterra, não é de agora que costuma falara tudo às claras. Ninguém se importa.

    Eu sou a única pessoa que conheço que foi no Banco da Inglaterra. Mandei o artigo do The Guardian para algumas dezenas pessoas por aqui. Postei também no meu facebook…

    É isso… ninguém liga…

  19. Desculpe atropelar a postagem, mas creio que seja por boa causa.

    O diálogo entre terrorista e globalista e o jovem soldado assistindo, me remeteu ao "Evangelho segundo Jesus Cristo" do Saramago e a conversa entre Deus e o Diabo assistido por Jesus dentro do barco. Como no livro, o difícil é saber quem é quem.

  20. Vou tentar reescrever o meu comentário, simplificando a linguagem, assumindo menos conhecimento sobre aquilo que falo e sacrificando algum rigor:

    "O que isto significa é que o limite real da quantidade de dinheiro em circulação não é o quanto o banco central está disposto a emprestar, mas quanto o governo, as empresas e os cidadãos comuns estão dispostos a pedir em empréstimo."

    O que este excerto efetivamente significa é que a quantidade de moeda na economia é totalmente determinada pela sua procura. Quando a procura por moeda aumenta, existe um aumento da procura por empréstimos. Os bancos comerciais têm de cumprir requisitos de reservas mínimas e de capital (que vou ignorar aqui). Pode pensar-se nas reservas como o dinheiro que o banco tem de ter efetivamente. O requisito de reservas mínimas é um rácio – reservas/depósitos de curto prazo – definido pela maioria dos bancos centrais em operação. Isto significa que os bancos têm um teto máximo sobre os empréstimos que podem fazer. Se estiverem próximos desse teto (o que, tirando os últimos anos, tem sido o caso), então a taxa de juro irá aumentar por haver muita procura de empréstimos para pouca oferta.

    O que Graeber defende é a teoria de “endogenous money”, que nega a última frase do parágrafo da frase anterior. A teoria alega que o banco central irá sempre fornecer reservas aos bancos, com o objetivo de impedir aumentos na taxa de juro, pois deixa de haver muita procura de empréstimos para pouca oferta. A isto chama-se fazer targeting das taxas de juro.

    Ora, isto é verdade no curto prazo. Por exemplo, o horizonte temporal de targeting da taxa de juro do BCE é de 1 mês. No entanto, no médio e longo prazo, a taxa de juro fixada pelo BCE vai-se alterando, porque na realidade o banco central está a tentar controlar a inflação.

  21. Para explicar esta parte, preciso de fazer uma digressão ao tema do meu segundo comentário.

    Uma economia, num dado momento, tem um dado conjunto de bens de capital (coisas para produzir mais coisas) e de trabalhadores. À capacidade de uma economia de combinar os fatores de produção dá-se o nome de tecnologia, que varia de país para país. Cada um dos fatores de produção pode funcionar, no máximo, durante 24h num dia, sendo que este ritmo não é minimamente sustentável para os trabalhadores, por motivos óbvios, e acelera a depreciação dos bens de capital. Quando estão todos os fatores de produção a produzir a um nível considerando sustentável no longo prazo, a economia diz-se estar no seu potencial.

    Com isto, a única forma de se aumentar a produção, quando o PIB está no seu potencial, é:
    – Utilizando os fatores de produção a níveis insustentáveis, sendo que os seus detentores vão exigir remuneração acrescida (horas extraordinárias, por exemplo), que em termos macro significa inflação;
    – Aumentando a capacidade tecnológica, algo que normalmente exige recursos, sendo nesse caso algo produzido;
    – Aumentando a quantidade de capital e mantendo-a, algo que também exige recursos, a não ser que sejam bens de capitais “parados”, a tal baixa utilização de capital (mas nesta situação o PIB não está no potencial).
    – Aumentando a quantidade de trabalhadores, o que é complicado por restrições populacionais. Novamente, os custos deste ponto são mínimos se o PIB não estiver no potencial, situação em que há um desemprego elevado.

    Voltando à questão do targeting, quando o banco central faz targeting de inflação está a tentar manter um determinado balanço entre a quantidade de moeda e o PIB.

    Se o PIB está a superar o potencial, a inflação começa a aumentar (níveis de produção insustentáveis exigem remuneração extra) que tipicamente é alimentada pelo crédito concedido pelos bancos comerciais. Por isto, o banco central começa a tentar desacelerar a concessão de crédito, fixando uma taxa de juro mais elevada, efetivamente limitando a capacidade de concessão de crédito dos bancos comerciais, obrigando-os a aumentar a taxa de juro dos seus empréstimos.

    Caso o PIB esteja demasiado abaixo do potencial, existe inflação baixa ou deflação, pelo que o banco central diminui a taxa de juro de referência para diminuir a taxa de juro dos empréstimos e acelerar a concessão de crédito. O problema aqui é que a procura é importante e, se ela está muito deprimida, baixar taxas de juro pode não chegar.

  22. Para o segundo excerto que comentei, dizer crowding-out é o mesmo que dizer “os gastos públicos limitam o investimento privado”. Existem dois tipos de crowding-out, um que atua pela via de transações e outro pela via de preços.

    O primeiro tipo, das transações, consiste na ideia de que o Estado ao pedir emprestado absorve reservas do sistema. O rácio reservas/depósitos de curto prazo tem de ser respeitado. Quando um Estado pede dinheiro emprestado, os depósitos aumentam e as reservas mantêm-se. Assim, ficámos mais próximos do teto, pelo que há menos recursos disponíveis para os privados, caso estes necessitem. Se já estivermos próximos do teto, as taxas de juro aumentam. Ainda assim, se o banco central fixar uma única taxa de juro, aquilo que Graeber diz que faz, este crowding-out não existe.

    Porém, existe o crowding-out via preços. Fixar uma única taxa de juro implica que o banco central não está a fixar uma taxa de inflação, como explicado acima. Assim, os preços vão variar conforme o crédito concedido (moeda criada). Como não há limites para a criação de moeda, se o PIB estiver próximo do potencial e os bancos comerciais aceitarem emprestar ao Estado cria-se uma pressão inflacionária na economia. O Estado tem à sua disposição a moeda que conseguiu por empréstimo, sendo que os fatores de produção estão já a ser utilizados. Para o Estado aumentar os seus gastos, terá de pô-los a produzir mais, puxando-os para níveis insustentáveis. Isto acontece, porque a quantidade de trabalhadores e capital ou capacidade tecnológica não aumentaram subitamente pela intervenção do Estado. Assim, retira poder de compra à economia privada, diminuindo a sua capacidade de utilizar recursos e, consequentemente, o investimento privado.

    Note-se que os efeitos crowding-out nada explicam o que se passa hoje na Europa ou EUA.

    É difícil explicar estes assuntos de forma simples, porque conseguem ser bastante complicados. No entanto, espero que tenha ajudado. Se consideram que houve uma parte menos bem explicitada, digam. A verdade é que quase certo que me tenha esquecido de qualquer coisa.

  23. “Nosso sistema monetário, dominado por bancos, juros e inflação, já existia quando nascemos. Ele faz parte da nossa envolvente natural. É por isso que é difícil ver que influência tem na nossa vida e na nossa sociedade. Tudo o que pudéssemos dizer acerca disto poderia ser facilmente julgado como normal. Não conhecemos melhor. Os efeitos do sistema estão por toda a parte, mesmo na nossa forma de pensar e nas nossas convicções”

    O Diabo costuma estar nos pormenores, neste caso não é bem assim. Esconde-se oculta-se com os pormenores.

    Na Economia o “diabo” é a própria estrutura do sistema financeiro e monetário.

    Quando falo no “Diabo” falo da legitimação de um sistema financeiro e monetário que em vez de servir a economia real das pessoas que produzem, serve-se delas e por meio de mecanismos enviesados, absorve toda a riqueza e poder, retirando-a das mãos da generalidade das pessoas e pondo-a nas mãos de um punhado de privilegiados.

    Basta perceber como funciona o sistema monetário e respectiva criação de dinheiro pela dívida através dos Bancos.

    Ou forma como os governos (isto vê-se na UE muito claramente) deixam de se financiar na criação da sua própria moeda pelos Bancos Centrais (sem juros) e deixam de poder defender-se dos mercados comprando dívida pública (pelos mesmos Bancos Centrais), e limitam-se a financiar-se na Banca privada com juros em cima de juros em que as populações depois ficam escravizadas e são espoliados pelos “honestos mercados”.

    “Honestos mercados” que as pessoas julgam ser constituídos pelos milhões de investidores, mas realmente, eles são compostos, na sua maioria, por um punhado de poucas centenas de grandes investidores, que facilmente manipulam os mercados e os organismos Internacionais (tais como a Organização Mundial de Comércio, Banco Mundial, FED, BCE,UE ,etc…) de acordo com os seus interesses.

    “Um relatório da ONG britânica Oxfam, mostra que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população mundial … Este fenômeno global levou a uma situação na qual 1% das famílias do mundo são donas de quase metade (46%) da riqueza do mundo", afirmou o documento.”

    Que há um personagem oculto por trás de todos estes mecanismos da Finança e dos circuitos do dinheiro e que sempre nos envolveu numa rede de falácias e sofismas ideológico/financeiros.

    Mas isso já é outra conversa… Já se falou muito disso.

  24. Nemo. Desculpe se fui desrespeitoso em meu primeiro comentário. Muito obrigado pelo comentário…

    … que me parece completo, porém não necessariamente claro… ainda preciso deglutir alguns trechos para ter certeza se compreendo seu ponto de vista. O que quero fazer. Quero ter certeza entender.

    A questão é que, os pontos levantados no texto do BoE, o livro de Paolo Barnard ou os guias econômicos do Max, são tão diretos, sem margem à dupla interpretação, seguem um raciocínio lógico (ao menos, segundo a forma que meu cérebro funciona), que são automaticamente compreendidos.

    Vou ler e reler seus comentários. Novamente, obrigado por se dar o trabalho.

    Agora, a questão é que a base (me parece) do que fala é o jogo de balancear taxas de juros. Esta é a questão: o juros por si só, não faz sentido. Inflação e deflação sim, são naturais resultados de uma economia mal administrada, não interessa qual mecanismo se use.

    Agora, só existe o juros por que o capital é privado. Por que, apesar de ser IOU, alguém atribuiu valor implícito à ele. O que não faz o menor sentido. Não é moeda de troca. É comodity.

    Como eu aprendi no Museu do Banco da Inglaterra, o Império Inglês se expandiu por quase 1000 anos usando uma moeda de madeira chamada Tally Stick. Era uma moeda de troca. Sem lastro. Sem taxas de juros.

    Durante essa era, os ourives judeus foram expulsos da Inglaterra por diversas vezes. A mesma coisas que hoje consideramos horrenda e atribuímos à Hilter, foi feita por diversos outros líderes em diversos outros países, pela simples razão que este povo X em questão entravam em qualquer país e, como parasitas, se apoderavam da economia.

    Isso tudo se aprende no Banco da Inglaterra, pois foi fundamental para a fundação do banco. É fundamental para história da Lombard Street. É fundamental onde o conteito absurdo de mercado financeiro foi estabelecido…

    Enfim… quero entender como funciona o cérebro de alguém como você, que vê no mercado financeiro algo… normal… natural… realmente uma área de conhecimento humano… algo que de alguma forma colabora com a sociedade…

    … pois um cérebro como o meu não consegue entender isso… eu vejo o mercado financeiro da mesma forma que os Ingleses viam os ourives da Lombard Street… da mesma forma que a SS viam os comerciantes judeus… da mesma forma que o Banca da Inglaterra descreve à si mesmo… da mesma forma que Paolo Barnard, o Max e vários outros descrevem a economia…

    Muito obrigado pelos seus pontos… vou tentar amanhã novamente… depois de alguma cafeína entrar no corpo! 🙂

  25. Resumindo, como os ourives ganharam os Estados? Simples… a economia livre… sem juros… sem lastro… sem valor atribuído… dinheiro como moeda de troca… tem um crescimento saudável quando se é mantido o balanço da oferta e procura. Como o bom e velho Adan Smith queria (inclusive muito antes dele nascer).

    Cada centavo investido em infra-estrutura… em mercado… em postos de trabalho… qualquer cosia que faz a economia girar… alimenta a própria economia… do nível micro-econômico ao macro-econômico.

    Porém, e quando se quer fazer algum investimento substancial, muitas vezes muito maior do que a manutenção de toda infra-estrutura do próprio país, como se faz?

    Um investimento que não trará absolutamente nenhum benefício à economia?

    Empréstimos… é aí que começa… empréstimos para quê? Guerras! Mas as guerras conquistavam territórios, ou seja, mais pessoas para consumirem… mais pessoas para produzirem…

    Porém, a ação já nascia de um débito… este que trazia a troca de favores… a corrupção… ao favorecimento… o resultado era que, gasta-se muito, e o que se ganha (à médio prazo, com certeza muito menos do que o investimento) é dividido entre alguns poucos indivíduos (privados) e não soma à economia do estado em questão…

    Bem… não devo ter sido claro pois está tarde aqui na Metrópole… boa noite colônias Brasil e Portugal! 🙂 Não se esqueçam que vocês dois pertencem ao Banco da Inglaterra. 🙂

    Cya!

  26. Finalizando…

    É como dizem alguns experts da área (notadamente os mais RESPONSÁVEIS):
    "Economia não pode ser considerada uma ciência"!

    The End

    Bob

    😉

  27. Complementando o comentário do Ricardo. Guerras são a principal fonte de dependência econômica e social sim, mas seu objetivo maior mais do que a conquista territorial é a conquista das riquezas naturais existentes nessas regiões.

Obrigado por participar na discussão!

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