Líbia: a Resistência

Abram um diário de hoje e procurem notícias da Grécia ou da Líbia. Não há. Ao que parece, nada acontece naqueles lugares.

Como é óbvio, a verdade é um pouco diferente. O facto é que, num caso e no outro, estamos perante um fracasso: na Líbia do movimento “democrático” implementado com as bombas da Nato, na Grécia da política suicida da Zona Euro.

Enquanto em Atenas há mulheres grávidas que vão de hospital em hospital, suplicando para poder dar à luz lá apesar de estar sem cuidados de saúde e sem dinheiro; enquanto há pessoas que antes pertenciam à classe média e que agora vasculham no que sobrar das vendas de fruta e legumes, vamos ver o que se passa ano País da África do Norte.

Líbia: o McDonald’s não chega

Os media mainstream ignoram a situação, mas na Líbia o regime “democrático” enfrenta graves problemas. E os graves problemas aumentam cada vez mais.
A estabilidade política é uma quimera, e como se não fosse suficiente, o movimento de resistência ganha adeptos.

Símbolo desta recusa é a cidade de Bani Walid. Desde a queda do Coronel Khadafi, os cidadãos formaram um Conselhos dos Anciaõs que desde então governa a cidade. Apesar do governo de Tripoli (um dos muitos) ter emitido um decreto com o qual foram entregues ao exército poderes excepcionais para resolver a questão, Bani Walid continua como cidade autónoma.

Ao longo de semanas, soldados governamentais e irregulares têm atacado a cidade com bombardeios (testemunhos falam de bombas ao fósforo e de gás), raptos, massacres, bloqueando comida e medicamentos.
Afirma u habitante, entrevistado pela emissora Russian Today (dia 7 de Outubro de 2012):

Muitos grupos armados chegaram ao pé da cidade para pedir a evacuação da cidade. Decidimos não fazê-lo porque queremos defender os nossos direitos e as nossas famílias.

A presença de milícias irregulares não deve surpreender: utilizadas desde a invasão da Nato, têm ganhou importância perante a ineficácia do exercito regular. Uma das facções mais conhecida, o Escudo da Líbia, tem sido seguida com interesse por Washington, como explica The Independent (11 de Novembro de 2012):

[uma delegação da CIA e da embaixada] foi para Bengasi para encontrar e recrutar combatentes do Escudo da Líbia, uma potente organização da milícias. O ministro da defesa do governo-marioneta denunciava que “Washington tem só desrespeito pelo governo e o exercito oficial dele; esperam, pelo contrário, combater as forças da resistência com os mercenários”.

O facto é que a resistência aumenta. Apesar das declarações oficiais (ultrapassadas as divisões tribais, a morte do filho do Khadafi, Khamis, e mais ainda), o Pentágono não consegue controlar um País de pouco mais de 6 milhões de habitantes. Os ataques da resistência multiplicaram-se a partir do último Verão, e isso apesar da repressão:
  • No dia 10 de Agosto, oito combatentes da resistência foram libertados da prisão de al-Fornaj, em Trípoli, depois de um ataque coordenado, o terceiro desse tipo desde a queda de Khadafi.
  • Em 18 de Agosto, a resistência detonou um carro-bomba em frente dum hotel em Trípoli, sendo o alvo um veículo utilizado pelo pessoal da segurança em Benghazi.
  • Em 19 de Agosto, outro carro-bomba em Trípoli atingiu o Ministério do Interior e o centro dos interrogatórios.
  • Em 23 de Agosto, Abdelmenom al-Hur, porta-voz do Comitê Supremo de Segurança, disse aos jornalistas que a resistência conseguiu infiltrar-se entre vários oficiais das unidades de segurança e tomou posse dum quartel cheio de armas pesadas.
  • Em Setembro, o aeroporto de Benghazi, que os Estados Unidos usavam como base para os drones, foi obrigado a fechar desde que a resistência começou a a disparar contra os mesmos drones.
E agora existe até um site internet que actualiza, em inglês, acerca das últimas operações da resistência, enquanto outro blog desenvolve a mesma tarefa em italiano e inglês.
O discurso Líbia está tudo menos que fechado. Ou em Washington achavam que abrir o primeiro McDonald’s teria resolvido os problemas?
Ipse dixit.

Fontes: Libya Against Superpower Media, Red Anti Liberation Army, Russian Today, The Independent, Libyan Free Press (versão italiana e inglesa), Libya Business News

2 Replies to “Líbia: a Resistência”

  1. Olá Max: já tinha me dado conta que a Grécia desaparecera dos noticiários.O mundo parece um queijo suíço com enormes buracos, ocos de tempo, no espaço geopolítico. Alguém ouviu falar da ex União Soviética, nos dez anos que se seguiram ao sucesso do ataque capitalista? Eu, não, não sei porque, já que a cortina de ferro descortinara-se.Alguma notícia do Paraguai, antes ou depois que mandaram o Lugo passear noutra freguesia? E dentro de cada país, ouve-se falar dos diferentes tipos de emigrados? Buracos dentro de outros buracos, muitas vezes, que quase sempre coincidem com a existência constante ou o aparecimento súbito das multidões tão invisíveis quanto miseráveis.Abraços

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