As palavras de Berlusconi, a droga do banco

Assim, Silvio Berlusconi volta a candidatar-se para o cargo de primeiro ministro em Italia.
Melhor ele ou Mario Goldman Sachs Monti? Pouco importa.

O que importa são as declarações de Berlusconi, estas sim interessantes: em alturas como a presente, arriscamos ler grandes verdades que normalmente ficam ao abrigo do “politicamente correcto”.

Spread? Dívida pública?

Basta falar deste assunto: o que interessa quais os juros dos nossos Títulos ou daqueles dos Títulos da Alemanha? Quando aumentou o spread [o interesse sobre os Títulos italianos, ndt], contribuindo a fazer cair o governo italiano [o governo dele, ndt], Berlim tinha ordenado aos bancos para vender os Títulos italianos, com 8-9 biliões de vendas.

Os outros fundos [de investimento, ndt] pensaram: “Se a Alemanha vender, algo haverá…” e começaram a pedir juros mais elevados por causa dum risco teórico:14% no caso da Grécia, 7% em Portugal, 6% em Italia. A Alemanha explorou esta situação mas o que interessa? Interessa é que os nossos juros aumentaram 2 %, que num ano são mais de 5 biliões de Euros. Tudo o que foi inventado acerca do spread é um embuste utilizado para fazer ruir um governo.

E continua:

Eu disse “não” quando a senhora Merkel pediu que na Grécia fossem implementados os cortes que depois provocaram o que eu pensava, quase uma guerra civil.[…] Disse-lhe que a Italia não podia implementar uma redução da Dívida de 50 biliões por ano, também porque a nossa Dívida não é 125% do PIB porque o nosso PIB deve ser calculado somando aquele emerso e aquele submergido, coisa que a Europa não faz.

Verdades? Sim, verdades. Costumo seguir a política económica italiana por óbvias razões, e as palavras de Berlusconi reflectem o que se passou. Pena que sejam dita “agora”, com a intenção de recuperar o poder, e não “antes”, quando o efeito poderia ter sido diferente.

“Agora” perdem autoridade, pois são evidentemente instrumentais. Serão encaradas como um dos muitos disparates de Berlusconi e amanhã já esquecidas. E se Berlusconi tivesse que ganhar, será ele o primeiro a “corrigir” o sentido. Já fez isso muitas vezes, nenhuma surpresa.

Banco, droga, terrorismo

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, o banco HSBC aceitou pagar uma multa de 1.9 biliões de Dólares para resolver os seus problemas com os tribunais. A notícia é importante, porque desta forma o banco reconhece que as acusações eram fundamentadas.

E quais as acusações? Oh, nada de grave: reciclagem de dinheiro, acordos com os cartéis da droga do México, do Irão, coisitas assim.

Segundo a investigação do Senado americano, HSBC teria também fornecido dinheiro a um banco da Arábia Saudita, 1 bilião de Dólares para financiar o terrorismo; além disso, entre 2007 e 2008 a filial do México completou 7 biliões de Dólares de transacções por conta dos cartéis da drogas locais.

Tendo como base o acordo alcançado, o banco não será perseguido e implementará maior controles internos.
Alguém ficará preso? Não.
Não haverá um processo? Não.
Os responsáveis ficarão em liberdade? Exacto.

Mas o administrador da HSBC, Stuart Gulliver, já fez saber que “lamenta profundamente o acontecido” e que reconhece os “erros do passado”.
E isso deve chegar.

Ipse dixit.

Relacionados:
Bancos simpáticos: HSBC
Bancos e droga

Fontes: Corriere della Sera, La Repubblica, Corriere della Sera (2)

4 Replies to “As palavras de Berlusconi, a droga do banco”

  1. Olá Max: quem tem poder sempre esteve acima do bem e do mal. Só que a maior parte dos poderosos de agora (e não só)se utilizam de instituições chamadas bancos para o exercício dos seus poderes. Mas também o exercem através de governos, corporações, tribunais superiores, legislações, instituições internacionais de controle político, e mais. E os destituídos de poder acreditam piamente em todas estas instituições, e fazem questão de cerrar fileiras para tentar resolver os problemas através delas, e de acordo com as suas regras, que são instituídas justamente para privar de poder a maioria.Assim…realmente fica difícil!Abraços

  2. Olá Max,

    Acabo de assistir ao jornal do Bonner. Assunto mui en passant toca na lavagem da grana do tráfico. Como deixar de crer numa conspiração para liquidar gentios, como também, os próprios judeus? Ou os judeus não se drogam? Apenas uma citação: onde anda Amy Winehouse? É só o HSBC? Quantos mais? Segundo boca miúda outros mais. Os sionistas são ou não são as personas por trás do sistema financeiro mundial? Podem não ser os principais atores neste extermínio, mas com certeza têm papel preponderante nesta operação de liquidação total. Não sei exatamente se o HSBC está nas mãos dos sionistas, mas o sistema financeiro como um todo deles não escapa. O assunto é gravíssimo, mas ninguém dá muita bola. O dinheiro do tráfico faz parte da economia mundial e instituições ditas ilibadas fazem a ponte entre os cofres dos cartéis e o bolso do trabalhador, ou o material escolar, ou a merenda escolar, ou o aparelhamento da rede hospitalar (evidente que essa última tá fora de cogitação). Vivemos num mundo onde o cabresto só cabe na plebe ignara, as leis e seus corretivos (punições), assim como o aparato repressivo, são à ela dirigidos. Num mundo que para os senhorios globais pouco se lhes interessa a dignidade humana. À estes pouco importa o flagelo da droga, mas muito lhes importa seu consumo, pouco lhes importa a prostituição, a pedofilia, aliás, com estas até se regalam. Que porra de mundo é este?

    Mas houve um engano e alguém institucionalmente pediu perdão. Como se quisesse se desvencilhar rapidamente de ser o centro das atenções. Como se não quisesse passados vindos à tona. Um passado que quase arruinou a China. Ninguém mais se abala. Ninguém mais se incomoda. Ninguém se emputece. Amanhã estaremos depositando nosso suado cascalho no Barclays, no Wells Fargo, no Santander… Como sociedade vivemos na pasmaceira total e cada dia me convenço mais de que por nós mesmos, jamais encontraremos saída pra essa sinuca de bico em fomos nos enfiar. Se ao menos fosse convicto na divina providência teria a esperança reconfortante da salvação terceirizada, já que pela ação humana nada há o que se fazer. Na verdade sinto que a quase totalidade da nossa raça se sente plena no seu consumismo vivificante.

    Abraços.
    Walner.

  3. Olá Maria, olá Walner.

    O que mais preocupa não é a gravidade das acusações, mas o facto destas serem recebidas pela sociedade civil de forma descontraída.

    É "normal" que tudo isso aconteça. É "normal" pensar que um banco, entre os muitos negócios, tenha também algo menos limpo. Não há reacções.

    Já no blog vimos que os media "adormecem" o cérebro, mas acho não ser apenas isso. Seria bom se assim fosse: seria suficiente desligar a televisão, por exemplo, para ter de repente uma visão mais lúcida. Mas assim não é.

    Interiorizámos como normalidade o facto de determinadas coisas acontecerem.
    Um político rouba? Ah, vergonha, estas coisas não se fazem. Dois dias depois o assunto é esquecido. "Culpa da Justiça ao serviço dos poderosos" é dito. Errado: culpa nossa que não pedimos que a Justiça seja uma coisa séria.

    Marx estava errado: não é o trabalhador alienado, é toda a sociedade que fica cada vez mais indiferente.

    Diário de Notícias:
    "Banco HSBC paga multa recorde por lavagem de dinheiro" > 3 comentários

    "Cardozo 'matou' o leão e pôs o Benfica na liderança" (futebol nacional) > 101 comentários

    Perante isso, o que pode ser feito? Se por absurdo os media mudassem de rumo, alguma coisa poderia mudar? Acho que não. Acho que há algo mais profundo: uma mistura de desinformação, desconfiança, medo.

    Provavelmente os sinais duma próxima profunda mudança, este tipo de sociedade já deu o que tinha para dar. Aconteceu no passado, também o império Romano passou por uma fase em muitos aspectos idêntica antes do fim.

    Mas como surgirá e qual a direcção do novo rumo? Esta é a dúvida.

    Abraaaaaço!

  4. Efectivamente, o que choca é a indiferença das pessoas perante tantas enormidades.

    Como referiu o Max, a comparação entre as notícias sobre o HSBC e os golos do Cardozo e os comentários que cada uma delas teve, evidenciam aquilo que mais preocupa as pessoas.
    Isto é revelador da qualidade geral destas enquanto cidadãos.

    As causas para se chegar a este ponto são diversas.
    Nem tudo pode ser atribuido a meios de comunicação manipuladores. A parte de leão só pode estar num conjunto de características intrinsecas dos seres humanos.

    A inveja passou a chamar-se ambição. O exibicionismo passou a status. A vigarice passou a competitividade e por aí fora.

    abraço
    krowler

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