As très gaiolas

Difícil rotular Salvatore Brizzi.

Pode ser considerado um filósofo, um escritor, um divulgador.
Brizzi trabalha para uma nova sociedade, para que o Homem não continue a seguir ídolos. Para que possa ser um monge-guerreiro numa sociedade tradicional, onde o Sagrado (não em termos religiosos) volte a acompanhar o desenvolvimento cultural e tecnológico do planeta.

Brizzi é várias vezes hospede do Blog de Beppe Grillo, o mesmo Grillo que está na base do Movimento Cinque Stelle, o mesmo que abalou o castelo de papel partidário nas últimas eleições italianas.

As Três Gaiolas do Homem

O Homem vem ao mundo com uma expressão surpreendida. logo aprende a gostar desta nova realidade: mas nós sabemos, desde a infância.

Acontece que lhe será negada esta grande obra-prima da Natureza, este espantoso mistério que é o ser humano: será implacavelmente, violentamente desmantelado e reduzido a um papel, será apenas um contabilista, um estudante, um marido, um funcionário, um Papa, um presidente, na procissão dos papéis que mantêm prisioneiros todos os seres humanos.

Deve ser dito que é por isso que este homem ainda não foi capaz de habitar o planeta. É importante que todos saibam quais são as gaiolas mortais que todas as formas de poder construíram para conseguir demolir este enorme mistério que é o ser humano.

A primeira gaiola é cresce-lo num espaço pequeno, numa pequena prisão que é o apartamento, a casa.

A segunda gaiola é exigir, quando ele teria apenas necessidade de correr, de brincar, de ser ele mesmo, que se sente para aprender nada menos do que escrever. Porquê? Porque aprender a escrever com 5 ou 6 anos?

Normalmente, os humanos aprenderiam a escrever de forma perfeita uma vez atingidos os 11/12 anos: mas o que importa é mantê-lo bloqueado, para que não brinque, não corra, porque se ele jogar, correr até aos 18 anos depois já não iria parar e teria uma vida de jogo, de criação, demonstraria a sua singularidade, pois cada ser é único e irreplicável, não apenas no DNA, não apenas nas impressões digitais, mas numa criatividade que se pudesse exercer que daria a cada vez uma nova versão da realidade.

A terceira gaiola, talvez a mais mortal, é o trabalho, cuja obsessão começa aos 13 anos de idade, quando o menino diz: “Mas eu não gosto de escola, eu não quero ir …” e depois começa a ouvir “Olha que sem diploma depois não consegues encontrar trabalho, olhar que sem a faculdade é difícil encontrar trabalho”.

Mas o que significa encontrar trabalho? O ser humano não precisa de trabalhar, precisa de boa comida, um lugar seco para dormir. Poderia dar como presente uma casa para cada uma dos 7 biliões de pessoas com apenas 1/5 do que é gasto a cada ano para as forças armadas, as despesas militares, para não mencionar as coisas maravilhosas que seria possível fazer com todos os investimentos que são feitos nas drogas, nas prisões, nos hospitais.
Esta gaiola do trabalho lentamente convence todos de que, infelizmente, não resulta sem trabalhar 8/9 horas por dia, não é possível, e aqueles que trabalham 8/9 horas por dia bem sabem que conseguem existir, mas certamente não viver.

O interessante é que os sistemas de poder, que forçam nos seres humanos estas ideias absolutamente insana, que é inevitável trabalhar 8/9 horas por dia, mesmo agora que as máquinas estão a substituir cada vez mais o esforço e o ser humano poderia, finalmente, livrar-se de boa parte do trabalho, sabem que especialmente aqueles que trabalham 3 horas por dia e ainda têm 21 para viver, têm uma capacidade produtiva muito, muito mais forte daqueles que são forçados a trabalhar 8/9 horas por dia, todos os dias.

Têm”? Teriam, pois são realmente poucos os que podem trabalhar apenas 3 horas por dia. Mas quem conseguir sabe que com um trabalho de 3 horas por dia sobram 21 horas nas quais são inventadas tantas coisas que tornam mais produtivas aquelas 3 horas.

Por exemplo, é possível finalmente conhecer os próprios filhos, porque se consegue não ficar presos na terceira gaiola-bis: a coexistência ou seja, o facto de ser forçados a viver na mesma casa, pequena ou grande tanto faz, com as pessoas que amamos, sem ter a possibilidade de conhece-las verdadeiramente, sem ter a possibilidade de ficar um pouco connosco, apenas connosco, sem perceber, principalmente no caso das mulheres, que ficar na mesma casa com o parceiro não nasce apenas duma necessidade de afecto mas duma necessidade “de construção”.

E isso talvez explique porque 70% dos assassinatos e das violências ocorrem na gaiola três-bis, na convivência dentro da mesma casa.

Não confundir a existência com a vida

Vimos anteriormente que seria suficiente reduzir em 1/5 os gastos militares para dar uma casa a todos os 7 biliões de pessoas e até mesmo duas refeições quentes por dia, mas há uma gaiola que é ainda mais feroz: é vender, sem sequer reparar nisso, a própria criatividade, incluída a própria visão de mundo.

Um pode pensar “Mas para que presta uma visão de mundo?”.
Como assim? A humanidade teria 7 mil milhões de pontos de vista diferentes acerca da realidade, uma imagem poderosa, algo extraordinário, pode até dizer-se: divino.

Dito isto, é preciso perceber que o destino de 7 biliões de pessoas está em mãos de um grupo muito pequeno de pessoas, um grupo de nem sei quantas pessoas, certamente abaixo de 100, que utilizam 80% de todos os bens da terra apenas para defender os seus privilégios: e quais são os seus privilégios? Jogar com o mundo, decidir a guerra, defender o comércio das armas, das drogas, da prostituição, difundir falsa informação, prejudicial.

É suficiente pensar que um rapaz de 21 anos nascido em New York terá já testemunhado 130 mil assassinatos na televisão, e esta é a pedagogia da morte, porque você pode reparar que desde a inscrição nos cigarros “este produto irá matá-lo” até a história assombrosa dos assassinato na televisão, a preocupação central do pequeno grupo de monstros que comandam o mundo é regular a mortalidade, não para produzir a vitalidade, simplesmente regular a mortalidade.

Então construíram um sistema onde 35.000 crianças morrem diariamente enquanto em Italia, por exemplo, são destruídas 400.000 toneladas de alimentos por ano porque fora do prazo.

No entanto, desde 1960 são cerca de 1.000.000.000 de crianças que morreram de fome, este peso está em todas as nossas consciências, mesmo na consciência de quem não sabe.

É preciso viver, não existir, e viver significa desfrutar a eternidade dia após dia, nascer pela manhã e morrer no sono da noite para renascer e levantar-se no dia seguinte!

Fonte: Beppe Grillo

7 Replies to “As très gaiolas”

  1. Eu diria que antes da sobrevivência vem a Existência (com E maiúsculo)…mas estou obviamente a dar um outro sentido às palavras.

  2. Max, sei que não tem haver com o post, mas acho interessante:

    Já está na Web e causando bastante polêmica o possível "DECÁLOGO" escrito pelo Revolucionário Comunista Vladimir Lênin em 1913.

    O decálogo oferece estratégias para tomada do poder. A discussão em fóruns na internet está bastante intensa, sendo que alguns historiadores dizem que o decálogo foi escrito em 1901 e outros dizem que tal decálogo nem mesmo foi escrito por Lênin.

    Diante da dúvida e da polêmica vale muito conferir o decálogo e ver se encontra qualquer semelhança com nossos dias atuais.

    1- Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual;

    2- Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação de massa;

    3- Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais;

    4- Destrua a confiança do povo em seus líderes;

    5- Fale sempre sobre Democracia e em Estado de Direito, mas, tão logo haja oportunidade, assuma o Poder sem nenhum escrúpulo;

    6- Colabore para o esbanjamento do dinheiro público; coloque em descrédito a imagem do País, especialmente no exterior e provoque o pânico e o desassossego na população por meio da inflação;

    7- Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País;

    8- Promova distúrbios e contribua para que as autoridades constituídas não as coíbam;

    9- Contribua para a derrocada dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes. Nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não-comunistas, obrigando-os, sem pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa socialista;

    10- Procure catalogar todos aqueles que possuam armas de fogo, para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência à causa…

    Eu acho que isso é o reflexo do Brasil e de outros países.

  3. olá Max: esse Grillo está despertando a minha simpatia mesmo. Texto que gostei, mas fico pensando o que fazer mais para as pessoas terem a coragem de viver um pouquinho fora das jaulas. Da minha parte, tive a sorte de enxergar as grades meio cedo, e venho roendo…roendo…roendo, uma por uma. Desvincilhei-me da crença nos poderes "mágicos" da escola e da universidade, mesmo tendo passado por elas. Tanto é que ao me aposentar, e o fiz o mais cedo possível, fui a única entre os que eu conheço, que não voltou a vida acadêmica,mesmo com todos as oportunidades que tive.
    Me desvincilhei de todo o supérfluo, para viver com o mínimo, e influenciar muito mais o meu entorno do que se apenas falasse sobre. Penso ter sido relativamente vencedora. Mas confesso que é extremamente difícil convencer alguém a desistir de parte substancial do salário, para ter tempo de fazer as coisas que pagaria para serem feitas, e ao mesmo tempo, usufruir de um bem inestimável, que é ser dona de seu próprio tempo. Enfim, continuo "pregando", e me mostrando como exemplo. Abraços

  4. Max e amigos,

    No blogue "Prezado… Cara Pálida" do amigo Tibiriça, em 19 de Fevereiro último, foi postada uma tese do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo que vem bem a calhar com este artigo. Temos também, apesar de nunca tê-lo lido, Domenico de Masi e seu "ócio criativo". Creio que todas são sementes deste mesmo jardim.

    Walner.

  5. A antitese dessas 3 gaiolas é a LIBERDADE.

    Não aquela liberdade que nos permite escolher entre o partido A ou o partido B

    Não aquela liberdade que nos permite mudar o canal da televisão ou decidir quando vamos de férias.

    Não aquela liberdade que na juventude nos coloca nas nossas mãos a opção profissional para o nosso futuro.

    Nao aquelas liberdades que não o são. Que são somente o fechar da porta dessas gaiolas em que a chave fica lá fora.

    A LIBERDADE acima de tudo é poder de ser-mos nós próprios, sem constrangimentos. Sem ter de olhar para trás. Sem ter de pensar no futuro. Não ter medo.

    Quem conseguir chegar a este estado de alma vai ter a minha inveja, e acima de tudo, a minha admiração.

  6. cont. do post anterior:

    É esse o meu objectivo, pois o ultimo modelo de carro ou televisão já não me satisfazem

    abraço
    Krowler

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: