Desemprego: 200 milhões em 2012

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), no seu relatório anual sobre a situação do mercado do trabalho no mundo, divulgado na Segunda-feira, afirma que haverá mais de 200 milhões de desempregados em 2012.

A agência da ONU estima que 50 milhões de empregos foram eliminados pela crise financeira de 2008, sem qualquer tipo de recuperação ao longo de pelo menos outros cinco anos, em todo o mundo.

O World of Work Report 2012 fornece uma taxa global de desemprego de 6,1 % em 2012, com um aumento do desemprego total no mundo de 196 milhões em 2011 para 202 milhões em 2012.

O desemprego total aumentará de outros cinco milhões em 2013, com uma taxa de 6,2 %.
As percentagens são artificialmente baixas, pois a OIT usa os dados oficiais do desemprego em cada País, embora as percentagens reais sejam bem maiores. Nos EUA, por exemplo, a taxa oficial é de 8,3 %, mas considerados aqueles que são forçados a trabalhar a tempo parcial ou deixaram de procurar trabalho, a percentagem real está mais próxima de 14 %.

Espera-se que o desemprego continue a aumentar até atingir os 210 milhões de pessoas no final de 2016, e o relatório acrescenta:

É improvável que a economia mundial possa crescer a uma taxa suficiente pelos próximos dois anos para fechar o deficit existente de empregos e para dar emprego às mais de 80 milhões de pessoas que entrarão no mercado de trabalho.

O relatório condena as políticas de austeridade adoptadas nos Países mais industrializados, particularmente na Europa e nos Estados Unidos, realçando que os cortes nos programas sociais têm produzido “consequências devastadoras” para o emprego, enquanto os défices orçamentais cresceram e as medidas de austeridade exacerbaram a crise económica.

O relatório constata que dezenas de Países, particularmente na Europa, introduziram medidas para “reformar” o mercado do trabalho, tornando mais fácil para os empregadores despedir funcionários ou reduzir os salários e os benefícios. Em quase todos os casos, o resultado foi “reduzir a estabilidade do trabalho e exasperar as desigualdades, sem ser capaz de aumentar os níveis de emprego”.

O que foi alcançado foi o crescimento de um enorme exército de desempregados de longa duração: 40 por cento das pessoas que procuram emprego nos Países desenvolvidos, com idades entre 25 e 49 anos, são pessoas cronicamente desempregadas, que não trabalham há mais de um ano.

Algumas das principais conclusões do relatório da OIT também merecem ser citadas:

1. A natureza “sem precedentes” e prolongada da crise:

Esta não é uma desaceleração normal do emprego. Depois de quatro anos após a crise global, os desequilíbrios no mercado de trabalho estão a tornar-se mais estruturados e, portanto, mais difícil de erradicar. Alguns grupos, como os desempregados de longa duração, estão em risco de exclusão do mercado de trabalho. Isso significa que não seriam capazes de conseguir um novo emprego, mesmo se houvesse uma forte recuperação.

2. As derrotadas políticas de austeridade:

Naqueles Países que em maior medida têm seguido a austeridade e a desregulamentação, especialmente na Europa do Sul, o crescimento económico e o emprego continuam a deteriorar-se. Além disso, em muitos casos, as medidas têm falhado em estabilizar a questão fiscal.

3. O crescimento dos empregos a tempo parcial, temporários e precários:

Além disso, para uma percentagem crescente de pessoas que trabalham, o emprego tornou-se mais instável e precário. Nas economias avançadas, os trabalhadores temporários ou a tempo parcial aumentaram respectivamente em dois terços e mais da metade.

4. O impacto catastrófico sobre os jovens:

O desemprego dos jovens aumentou cerca de 80 por cento nas economias avançadas e dois terços nas economias em desenvolvimento. Em média, mais de 36 por cento dos desempregados à procura de trabalho nas economias avançadas são desempregados há mais de um ano.

5. O aumento da pobreza e da desigualdade:

A crise levou a um aumento nas taxas de pobreza em metade das economias avançadas e dum terço nas economias em desenvolvimento. Da mesma forma, a desigualdade cresceu metade nas economias avançadas e um quarto nas economias emergentes. As desigualdades também aumentaram em relação ao acesso à disponibilidade da educação, da terra, dos alimentos e do crédito.

6. O crescimento do descontentamento popular e agitação social:

Em mais de 106 Países com dados disponíveis, 54 por cento relataram em 2011 um aumento do índice da agitação social (Social Unrest Index) em comparação com o ano de 2010: quanto maior for a pontuação, maior será o risco percebido. As duas regiões que apresentam o maior risco de agitação são a África Sub-saariana e Médio Oriente – Norte de África, mas há também aumentos significativos nas economias avançadas, na Europa Central e Oriental.

Estes, repetimos, dados da OIT, uma agência das Nações Unidas.
Só quem não quer perceber é que não percebe.

Ipse dixit.

Fontes: World of Work Report 2012 (relatório completo, em Inglês), Summary of World of Work Report 2012 (Inglês, Espanhol)

4 Replies to “Desemprego: 200 milhões em 2012”

  1. Olá Max: é interessante que faz uns 30 anos, alguns futuristas previam desemprego em massa em função, afirmavam eles, dos desenvolvimentos de tecnologias físicas, ou seja,a mecanização, robotização e outros ãos tornariam dispensáveis mãos e cérebros humanos, as pessoas trabalhariam muito menos, o ócio criativo afinal seria possível.
    Passados 30 anos, os desenvolvimentos de tecnologias políticas (exacerbação do capitalismo e da democracia econômica, com financeirização das economias)tornou realidade os números do desemprego, com uma diferença substantiva: os escravos assalariados continuam trabalhando muito, e o ócio criativo longe de se tornar um ideal, realiza-se como uma desgraça para os escravos que só sabem subsistir, mediante empregos assalariados, varreram da memória outras formas de subsistência. Abraços

  2. Li algures hà um tempo atrás que o desemprego tecnológico é responsável por cerca de 25% do total de desempregados existentes na actualidade. Estes postos de trabalho foram perdidos definitivamente para as máquinas. A tendencia natural é para que o numero continue sempre a aumentar.

    Sendo cada um de nós um consumidor, como hoje em dia somos vulgarmente conhecidos, ou melhor reduzidos ( alerto o Bruno António que esta simples palavra que é usada para nos caracterizar a todos, não é da minha autoria)significa que o futuro, por força do desemprego, não augura nada de bom.

    Krowler

  3. O desemprego tecnológico que a Maria referiu acima, pelo que li há pouco tempo, representa actualmente cerca de 25% do total de desempregados. Estes empregos não voltarão a ser recuperados.

    Sempre com vista à redução de custos por parte das empresas, a tendência é para que esta percentagem continue a aumentar. É o 'progresso'.

    Isto levanta a questão: ' No meio disto tudo onde ficam os consumidores?' Mais desemprego, menos consumidores. Se agora vivemos num equilibrio dentro do desequilibrio, brevememente podemos chegar a uma situação paradoxal.

    abraço
    Krowler

  4. Numa economia que tem por base unicamente o lucro, é óbvio que quanto menos salários se pagar, melhor. Como diz Anselm Jappe, as pessoas já nem para serem exploradas servem. Em vez de tempo livre, como propunham os idealistas dos anos 60, a mecanização trouxe desemprego. Mas não se pode negar que nisto actua, implacável, a lógica do capitalismo. O próximo passo, também óbvio, será meter na cadeia (ou exterminar) todos os "inúteis". É o que tem vindo a ser feito nos EUA: do estado-providência ao estado-penitência, como diz L. Wacquant.

    JMS

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